quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Golpe do vazamento das delações é manobra desesperada contra a Lava Jato

A bancada da corrupção jamais desiste de tocar adiante a chamada Operação Abafa e esvaziar a Lava Jato, seguindo a mesma estratégia usada na década de 90 na Itália para inviabilizar a Operação Mãos Limpas, através da aprovação de leis manipuladas e da utilização de manobras judiciais ilegítimas, as chamadas “chicanas”. Aqui no Brasil, a mais nova manobra contra a Lava Jato já está em curso, através da articulação que visa a anular as delações premiadas, por causa dos vazamentos que ninguém sabe quem realiza.

Como se vê, as iniciativas escusas da bancada da corrupção vão se multiplicando, como apoio entusiástico do Planalto e de praticamente todos os partidos políticos, e não adianta citar exceções, porque apenas confirmam a regra geral que está à vista de todos.
Os articuladores pensaram que seria fácil e aplicaram inicialmente o golpe do projeto sem autoria, uma desfaçatez jamais vista na história republicana. Na Câmara, o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) se encarregou de criar a anistia ao caixa 2 e a outros crimes eleitorais. Em seguida, convocou a votação para a calada da noite, numa segunda-feira. Mas os deputados Miro Teixeira (Rede-RJ e Ivan Valente (PSOL-SP) perceberam a armação e a denunciaram no plenário, causando um constrangimento enorme, o golpe foi abortado.


No Senado, o presidente Renan Calheiros fazia o mesmo, ressuscitando um projeto sem autoria para punir abusos de autoridades. Houve uma reação fulminante por parte do Ministério Público e das associações de magistrados, o segundo golpe também foi evitado e levou de roldão a inacreditável reforma da Lei da Leniência, que anistiria empresários, empresas e corruptos envolvidos, vejam até onde vai a criatividade dessa gente.

A repercussão dessas manobras foi tão negativa que o próprio presidente Michel Temer se encarregou de reunir Renan e Maia numa inusitada entrevista coletiva, em pleno domingo, para anunciar que não haveria anistia ao caixa 2. Foi uma cena patética. Os três se exibiram arrebentados, pareciam estar participando de um velório ao vivo e a cores.

Apesar desse aparente recuo, as iniciativas contra a Lava Jato estava apenas entorpecidas e logo voltariam com força total, através do substituto do senador Roberto Requião ao projeto sobre abuso de autoridade, cujo autor até hoje é desconhecido. Conforme já mostramos aqui na Tribuna da Internet, a proposta de Requião é de um primarismo surpreendente, custa a crer que um parlamentar experiente como ele aceite um papel desse nível de infantilidade.
O fato concreto é que a bancada da corrupção é incansável e atua em várias frentes, com apoio total do Planalto. E agora surge o golpe do vazamento, com a grife do próprio presidente Temer, em parceria com a ministra Grace Mendonça, conhecida como “a esquecidinha da AGU”, porque estava precisando de um HD externo para copiar arquivos dos inquéritos sobre parlamentares corruptos (entre eles, Renan Calheiros) e esqueceu de usar um simples pendrive, assim como depois esqueceu que há 19 anos é filiada ao PSDB e disse aos jornalistas que não se lembrava.

O Planalto, os partidos políticos, governadores, prefeitos e parlamentares da ativa ou já aposentados (não vale citar exceções) apoiam ardentemente essa armação, que visa a anular as delações premiadas, deixar empresários e executivos mofando na cadeia e inocentar todos os políticos, de uma tacada só, como se fosse possível dar certo um plano maluco desse tipo. Comprova-se, assim, que sonhar ainda não é proibido.

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