domingo, 11 de dezembro de 2016

A aposta macabra e seu eterno retorno

Há alguns meses, afirmei nesta coluna que uma aposta fácil de ganhar no Brasil é contra a educação. Posso até formular uma Lei Geral da Decadência do Ensino Brasileiro (LGDEB): a avaliação de nossos estudantes sempre será pior que a anterior, não importa o passar dos anos ou dos governos. Decadência contínua. Sei que, infelizmente, é uma aposta macabra. Fácil de ganhar, no entanto. A LGDEB não tem falhado, não importa quanto eu torça contra ela.

Fiz, em seguida, a previsão fatal: quando saíssem os resultados do PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, estaríamos pior que antes. Os resultados foram divulgados anteontem. Não deu outra. No índice geral, que engloba ciências, matemática e leitura e compreensão de textos, entre 70 países e economias avaliadas, ficamos em 62º lugar. Isso mesmo. Apenas oito nações conseguiram pior resultado que o Brasil em 2015. Uma das dez maiores economias contenta-se com a rabeira da educação.

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Como se vê, a praga da LGDEB prevaleceu outra vez. Se compararmos nossos resultados atuais com os de 2009, pioramos em todos os quesitos examinados: nossos estudantes leem pior, não compreendem o que leem, não sabem contar, não possuem rudimentos básicos de ciência.

O descalabro pode ser revelado em números. Há seis níveis de avaliação no PISA. O mínimo exigido do estudante para o que a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – chama de “conhecimentos e capacidades para o envolvimento completo nas sociedades modernas” é o nível 2. Pois bem. No índice geral, Cingapura tem apenas 4,8% de seus alunos nessa péssima situação. O Japão, 5,6%. O Brasil emplacou 44,1% dos avaliados no nível 2 ou abaixo dele. Se alguém disser que o tamanho do país é um problema, a China aparece com menos de 11%. Se alguém creditar o descalabro à nossa pobreza, o Vietnam contesta a argumentação: com renda per capita muito inferior à nossa, possui somente 4,5%.

No outro lado da moeda, o da excelência, ou níveis 5 e 6, Cingapura tem 39,1%; Japão, 25,8%; Vietnam, 12%; o Brasil, apenas 2,2%. Isso diz muito da qualidade da educação que oferecemos a nossos jovens.

Nem na América Latina estamos bem. Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica, Colômbia e México nos deixaram para trás.

Observei outras coisas: os brasileiros estão entre os cinco maiores matadores de aulas do mundo; escolas com professores na direção dão melhores resultados que as supervisionadas diretamente por entidades governamentais; professores bem preparados são meio caminho andado para o bom ensino.

No Brasil, a leitura e a compreensão de textos deixaram de ser prioritárias e passaram a integrar uma vaga classificação de “linguagens”. Em outras palavras, escultura, pintura e dança, embora necessárias e admiráveis, assumiram o mesmo destaque que a língua. Não é à toa que caímos na má-língua alheia.

O governo prepara medidas para mudar o rumo da educação no país. Deveria consultar o PISA para melhor se orientar. Afinal, a LGDEB deve ser derrubada. Chega de aposta macabra. Chega de seu eterno retorno.

Luís Giffoni

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