sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Ombros com estrelas

Em 2007, o tenente-coronel Paul Yingling publicou no Armed Forces Journal contundentes críticas ao generalato dos EUA que ajudam a entender os motivos das derrotas americanas do Vietnã e no Iraque. Sua contextualização sobre o momento atual na segurança pública pode explicar o risco que enfrentamos no Brasil, em particular no Rio de Janeiro.

Derrotas não devem ser atribuídas a erros individuais, mas a uma crise nas instituições.

Se há metas pequenas, políticos podem levá-las adiante sem pedir sacrifício à sociedade. Mas é o povo que dá o sangue para as mudanças profundas esperadas. O maior erro dos políticos é envolver o povo sem ouvi-lo nem apresentar transparência nas metas.

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No Estado do Rio de Janeiro, os decretos equivocados do Executivo, como desproporcionais isenções fiscais, e o Legislativo, sem um debate público sobre o que vai ser aprovado ou rejeitado, oprimem covardemente o povo. O Judiciário também não é imune a erros, pois, se fosse, não teria corregedoria ou órgãos fiscalizadores internos.

Nossa enorme crise financeira deriva de diversos fatores, porém a corrupção e o descalabro nas contas públicas estão no DNA dessa falência múltipla de órgãos (financeira e ética). O petróleo anestesiava o estado, que vinha sendo dissecado por operadores sem jaleco branco.

Essa crise não foi criada pelos aposentados, policiais, bombeiros, professores e tantos que não têm verbas indenizatórias, recessos, férias de mais de 30 dias ou que não assinam ponto. Não há dúvida de que o grave problema da previdência precisa ser enfrentado, mas as supérfluas despesas dos três Poderes, evidentes no Portal da Transparência, devem ser revistas prioritariamente.

Os servidores públicos, com seus salários reduzidos de forma sistemática e covarde, foram às ruas e atravessaram as portas do Palácio Tiradentes. Houve confronto, envolvendo irmãos, não irmãos e agitadores.

Contra uma insurreição, a liderança no comando nas forças de segurança é fundamental. Não é um líder isolado, civil ou militar, que vem causando o atual fracasso da gestão pública. Atribuir a culpa a indivíduos é insuficiente. E, se querem um xerife do Velho Oeste que vai botar os bandidos para correr e ao mesmo tempo resolver a complexidade das manifestações, sejam elas legítimas ou não, pacíficas ou belicosas, podem tirar o cavalo da chuva.

Duas constantes nas forças armadas regulares são que os comandos de unidades não devam ultrapassar quatro anos e que antiguidade é posto, não garantia para comandar.

Substituir o comandante de uma tropa por uma questão política externa à corporação foi uma gravíssima violência na história do Rio, algo que há uma década não ocorre, e que continue assim.

As estrelas de oficiais superiores não caem em suas ombreiras vindas do céu, precisam ser conquistadas para poderem legitimar sua liderança diante da tropa.

Em função dessas tristes constatações, ofereço essas reflexões.

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