sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Escândalo do petróleo é muito mais grave do que a Lava Jato mostra

O Brasil participou da última reunião da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), onde foi representado pelo engenheiro Márcio Felix, assessor do ministro Fernando Bezerra Coelho Filho. Marcio Félix, que levou um chega-pra-lá e teve que deixar de se importar com o monopólio privado dos gasodutos, já adota uma postura alinhada com o governo Temer (é possível encontrar uma linha para seguir?), que é a de não atrapalhar nenhum estrangeiro que queira ocupar posições no Brasil.

Uma dúvida óbvia: “Porque o Brasil na reunião da OPEP?” Elementar, meu caro. O Brasil é hoje um país exportador de petróleo. O Equador, membro da OPEP, exporta 500 mil barris por dia. O Brasil exporta 800 mil barris por dia (dados oficiais da ANP).

A posição que o Brasil adotou, nada diplomática, foi negar a importância da própria OPEP, discursando que o problema de mercado (preço) deve ser resolvida pelo mercado (empresas) e não há nada que deva ser feito, e que não iria reduzir a produção. Árabes chocados.


A OPEP foi criada porque o mercado só pagava 1 dólar por barril e nunca permitiria uma elevação na qualidade de vida dos exportadores, e é a antítese da entidade sobrenatural do mercado. Ninguém é obrigado a concordar com a OPEP, mas jamais se pode desprezar seu poder sobre o mercado do petróleo.

Além disso, a OPEP nunca se importou com a produção do Brasil, que ultrapassa há tempos 2 milhões de barris diários. Ela se importa com a exportação do petróleo do Brasil. E o que ela vê de fora é que o avanço da produção do pré-sal para mais de um milhão de barris por dia, com participação crescente das estrangeiras, transformou o Brasil em exportador de petróleo bruto e, como tal, um importante membro a ser angariado na organização.

A declaração do brasileiro, um balde de água fria nos árabes. Para eles, o Brasil não tem o que é necessário: vontade de regular a exportação de forma que o óleo se consuma internamente, excluindo mais uma parcela da abundância de óleo barato do mundo.

Como o índice de desenvolvimento humano dos países da OPEP não é dos mais exemplares, há uma tendência de desprezar seus conselhos, mas, olhando para o próprio umbigo, vê-se que o Brasil é um paradoxo.

O país conta com exportação em 800 mil barris por dia, dos quais 400 mil são de empresas estrangeiras parceiras da Petrobras no pré-sal. Os outros 400 mil a própria estatal exporta, por causa da irresponsável falta de refinarias no país, que obriga a Petrobras a importa 400 mil barris por dia em derivados (os números coincidem: voltamos à situação de 10 anos atrás, temos apenas a autossuficiência volumétrica – agora sem fogos de artifício).

As empresas instaladas no país exportam a um valor ridículo: 35 dólares o barril, quando o preço internacional é 50. Já os derivados, importamos a 65 dólares o barril. Isso significa que, se tivéssemos mais refinarias, teríamos 30 dólares por barril de valor agregado em cada barril, que tem mercado interno garantido, mesmo na crise atual.

O paradoxo é que nem empreendedores nem a Petrobras querem operar no refino. E ninguém vê problema nisso. O Brasil vai pagar, somente este ano, 5 bilhões de dólares para chineses refinarem o óleo. Mas outra refinaria aqui, jamais!

Voltando ao assunto, pode causar surpresa o baixo valor do óleo (pré-sal exportado pelas multinacionais “parceiras” da Petrobras). Mas não causa a menor surpresa, porque quem compra são subsidiarias estrangeiras das mesmas empresas e, surpresa menor ainda, quanto menor o valor do barril, menor o imposto arrecadado.

A Agência Nacional do Petróleo manifestou preocupação com a situação e promete que vai investigar. Mas é pizza na certa.

De concreto, o que se tem é que a conquista do pré-sal pela Petrobras é um fato consolidado pela produção de mais de 1 milhão de barris por dia e que todo óleo a que as multinacionais tiverem acesso será exportado cru, deixando de 10 a 30% de seu valor declarado em forma de imposto – algo como 3 a 12 dólares por barril.

 Enquanto isso, se aguarda o planejamento energético de longo prazo do Brasil, que determinaria se o ideal para nosso progresso é produzir agora, com excedente vendido a preço de banana, ou restringir a exportação (como fizeram os EUA por 40 anos) e equilibrar a produção, refino e consumo.

Sem este planejamento, o governo se torna alvo fácil para ser chamado de entreguista com leilões sem objetivos com resultados pífios para a nação, tão necessitada em energia e emprego.

A Operação Lava Jato mostra apenas a ponta do iceberg da Petrobras. O escândalo no setor do petróleo é muito mais grave do que se pensa. Mas quem se interessa?

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