quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Boas políticas sociais no Brasil não dependem de ideologia

Confirmou-se nessas eleições municipais o movimento tectônico da política brasileira rumo à centro-direita, em harmonia com o que ocorre na América do Sul. Parece ser o início de um ciclo longo. É fácil detectar os traços organizacionais da esquerda no Brasil, conectada com o sindicalismo trabalhista nos setores público e privado, com lobbies da reforma agrária e urbana, com uma parcela do professorado das universidades públicas e com uma franja da Igreja Católica.

Menos óbvio é entender por que a luta contra a desigualdade de renda e oportunidades encontra obstáculos intransponíveis numa esquerda assim configurada.

Avanços na educação e na saúde para a maioria mal remediada da população dependem de derrotas do corporativismo encarnado pelos sindicatos. As próprias ideias econômicas da esquerda fertilizam o solo no qual vicejam grupos empresariais bem situados que parasitam o Estado.

A centro-direita e sua constelação de interesses, um pouco mais liberal na economia, tampouco é portadora necessária das melhores respostas. Busquem-se no Ceará dos irmãos Gomes ou no Pernambuco de Campos experiências de sucesso no ensino público, mas não na modorrenta administração Alckmin em São Paulo.

Direitistas e esquerdistas muitas vezes se unem nas agendas predatórias. O tucano João Doria dará sequência à caótica e perdulária política de subsídios no transporte paulistano, que o petista Fernando Haddad, pressionado por movimentos de esquerda, conseguiu a proeza de piorar.

Aqui quem faz 60 anos, faixa cuja renda já dispõe de ampla proteção no país, também ganha ônibus de graça. Talvez fosse mais eficaz lançar dinheiro de helicóptero sobre regiões carentes da cidade.

O que distingue as boas políticas igualitárias no Brasil não é a cor ideológica, mas a capacidade de, com base na melhor ciência, deslocar os grupos de pressão.

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