terça-feira, 11 de outubro de 2016

Um mês após Olimpíadas, empresas e torcedores temem calote

Mais de um mês após o fim da Olimpíada, empresas que prestaram serviços dizem aguardar o pagamento de dívidas de até R$ 10 milhões por parte do Comitê Rio-2016 - e torcedores reclamam de ainda não terem recebido o reembolso de ingressos devolvidos.

Segundo pessoas que desistiram de entradas, não há resposta por telefone, email ou na página oficial da Rio-2016 no Facebook. Há quem tema calotes de mais de R$ 5 mil.

Os torcedores afirmam que a central de atendimento não funciona mais e que o email informado na gravação e nos contratos emite somente respostas automáticas. Nas redes sociais oficiais da Rio-2016, posts, comentários e mensagens privadas são ignoradas, acrescentam.

As empresas, por outro lado, dizem que seu canal de comunicação com os organizadores continua aberto - e que os organizadores têm dado prazos para pagar e reiterado que honrará os contratos.

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Procurado pela BBC Brasil, o Comitê Rio-2016 admitiu as dívidas com as empresas e afirmou que "vai honrar todos os pagamentos até o final de outubro". Sobre os torcedores, afirmou que alguns deles interpretaram errado o prazo de pagamento do reembolso.

Além disso, informou que há dinheiro em caixa, descartando a possibilidade de calote ou de mais pedidos de resgate ao governo, como o ocorrido às vésperas da Paralimpíada.

Gerente da empresa Sunplus, que prestou serviços de limpeza em 27 instalações dos Jogos, entre elas o Parque Olímpico, Danielle Vasconcelos conta que a promessa era de receber cerca de R$ 6 milhões até a última sexta - mas isso não havia ocorrido até a publicação desta reportagem.

Na semana passada, 200 funcionários da empresa protestaram diante da sede do Comitê Rio-2016 por causa do não pagamento de salários.

"Tivemos que tirar do capital de giro da empresa para pagar esses 2,5 mil funcionários. Prometeram pagar até essa última sexta-feira. Não pagaram o que na verdade já estava atrasado. Não é justo, prestamos o serviço da melhor forma possível. E agora, o que ganhamos? O calote olímpico", diz ela.

Seus funcionários trabalharam do período anterior ao início da Olimpíada até a desmontagem das instalações, ao fim da Paralimpíada, explica.

"Enquanto havia competição, recebemos direitinho. Foi só acabar a Paralimpíada que não pagaram mais nada. Eu acho uma falta de respeito. Se não cumprirem o prazo desta semana, vamos partir para os trâmites legais."

No fim de setembro, a Justiça do Rio determinou que R$ 9,8 milhões fossem bloqueados das contas bancárias do Comitê após a empresa ucraniana Euromedia, que forneceu banners e faixas, entrar com uma ação alegando o não recebimento de valores devidos - a Rio-2016 diz tratar-se de uma disputa gerada por interpretações diferentes dos contratos.

Em outro caso, a empresa Classic Metal, do interior de São Paulo, subcontratada pela Elton Geraldo de Oliveira ME, que forneceu bancos de reserva e acessórios para competições de rúgbi, futebol, hóquei na grama e vôlei de praia, afirmou na reta final dos Jogos que ainda não tinha recebido cerca de R$ 500 mil e que temia um calote.

Procurados pela BBC Brasil, o proprietário da Classic Metal, Pedro Galhardi Neto, e da contratante, Elton de Oliveira, dizem que ainda há dinheiro a ser recebido.

Por outro lado, a empresa carioca Masan, que contratou 4 mil funcionários para fornecer serviços de alimentação e limpeza, afirmou que aguarda o pagamento de mais de R$ 20 milhões - desse valor, cerca de R$ 10 milhões já estão atrasados.

O Comitê Rio-2016 diz que os compromissos serão honrados. "O Comitê continua aqui. As pessoas ficam inseguras porque os Jogos acabaram e acham que foi tudo encerrado. Mas nosso processo de mobilização foi planejado e está sendo seguido. Se mudarmos para um lugar menor, também vamos informar."

Os organizadores argumentam que a redução de seu quadro de funcionários de cerca de 4 mil para 200 desde o término dos Jogos tem impactado a velocidade com que os pagamentos são processados.

"Mas estamos conversando com todos eles e buscando acelerar", disse o Comitê, que não especificou quantos dos 20 mil fornecedores ainda não receberam seus pagamentos.

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