sábado, 15 de outubro de 2016

Tirando o Brasil do vermelho

Não entendi a celeuma no decorrer da semana passada para o governo aprovar sua campanha de publicidade inaugural, dando conta do estado em que encontrou as contas públicas, do déficit estimado em estratosféricos R$ 170 bilhões e das providências amargas que terá de tomar. Quando o Planalto afirma que hesitou em lançar mão da expressão “vamos tirar o Brasil do vermelho” para evitar o duplo sentido, contábil e político-ideológico, fico a me indagar por que, se o próprio eleitorado excluiu de maneira tão eloquente a cor vermelha do mapa dos resultados consolidados das eleições. É unânime a leitura de todos os analistas políticos que, diante dos escândalos de corrupção em série e da barbeiragem petista na gestão das contas públicas, o eleitorado deu uma clara guinada à direita, punindo a irresponsabilidade fiscal da esquerda governista e apoiando a continuidade da Operação Lava Jato.

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Não há o que hesitar. Se o governo quer mesmo se comprometer com o equilíbrio das contas públicas para criar condições de resgatar 12 milhões de empregos extintos e voltar a índices positivos de crescimento econômico, terá mesmo de dar demonstrações inequívocas de responsabilidade fiscal, austeridade na gestão e coragem de seguir na pauta de remédios amargos. Não se faz omelete sem quebrar ovos. A recuperação da confiança de investidores internos e externos depende desses sinais de disposição governamental. Afinal, governar com responsabilidade, como diz a assinatura do anúncio, é manter as contas públicas equilibradas. E ter a humildade de voltar à política do pão, pão, queijo, queijo. Não há mais espaço para as ambiguidades de nosso atávico gosto pelo contorcionismo mental e moral, nossa linguagem barroquista e o andar perambulante de quem não quer encarar a realidade. Se a cidadania deu um recado claro de viés centrista e conservador, não se pode admitir a dubiedade da demagogia renitente dos governantes. Temos de tirar de fato o país do vermelho, nos dois sentidos da expressão: tanto do déficit das contas públicas quanto da gestão irresponsável do esquerdismo petista dos últimos anos.

Aliás, é bom que se explicite a partir de agora o significado simbólico da adoção romântica das esquerdas à bandeira vermelha. A cor da emoção, do sangue, da animosidade revolucionária, por excelência. Da negação de “tudo isto que está aí”. A cor da revogação dos costumes e da tradição, do relativismo moral, da flexibilização dos valores e do gosto pela quebra de paradigmas. Perspectivas que produzem efeitos extraordinários no campo das artes e da cultura como costumo dizer. Mas de consequências desastrosas no campo da economia e da política. Pois a própria noção de equilíbrio é refutada pela alma romântica na mesma medida em que idealizada pela concepção classicista do mundo. O romantismo esquerdista é pura extravasão, acreditar mais do que ponderar, sonhar mais do que precaver, ousar mais do que sopesar. Mas não é só repúdio pela destemperança do vermelho que o eleitorado manifestou. É também pela estrela que quer anunciar boas-novas de todas as ideologias esquerdistas cosmovisionárias desde que o romantismo consagrou a arrogância do homem em querer determinar seu destino e se igualar a Deus. A clássica estrela de Belém, sinal divino que anunciava o Cristo, não era dos homens. Como a estrela estilizada que passou a bordar as armas e os uniformes dos sovietes russos, as bandeiras das comunas de agricultores chineses e as boinas dos guerrilheiros latino-americanos. Parece maldição, mas quando a estrela vermelha do esquerdismo, por simbolizar os cinco dedos da mão, as cinco classes sociais da vanguarda revolucionária e os cinco continentes da Terra, quer suplantar a azulada estrela de David de 12 lados, símbolo das 12 tribos de Israel, perde os anéis para não perder os dedos.

O maior problema da ambição internacionalista do comunismo, e sobre a qual se desgraçou na história, foi exatamente o de não respeitar os limites das nações, das famílias e das comunidades locais, para não falar na sagrada dignidade da pessoa humana. A aritmética cobra um preço alto nesses casos. As contas no vermelho não levam desaforo para casa, como diz a tradição. Aliás, as contas são vermelhas porque são deficitárias e os homens não toleram déficits na tradição ancestral do comércio. Pois a arte de comerciar, de trocar, que celebra a paz social, não paga tributo ao comunismo, uma vez que precisa salvaguardar o valor relativo dos preços das mercadorias, índices desprezados pelos esquerdismos, enfeitiçados pelas ilusões de mudar a natureza do homem, de criar um “novo” homem à custa de utópicas revoluções sociais ou culturais. A razão do fracasso das esquerdas é de não saber lidar com a cultura e tentar separa-lá das tradições no delírio gramsciano. De vermelho mesmo, o que o petismo conseguiu foi apenas colocar em déficit, não apenas as contas públicas, mas a renda dos próprios trabalhadores.

Por ironia do destino, o populismo tarifário da gestão petista só conseguiu mesmo decretar a bandeira vermelha nas contas de luz do trabalhador. O déficit das empresas na contratação dos empregos. O vermelho do alerta, da censura, do pare, do sacrifício, do holocausto, da suástica nazista, do radicalismo, da desmedida, do inferno e do demônio, enfim. Ao contrário da estrela azul de Israel. Porque o romantismo esquerdista despreza fazer contas, respeitar contratos ou honrar a palavra. Acha que tudo pode e brinca de Deus com a fé dos homens, sobretudo com os mais humildes na contradição irreversível de sua soberba. O momento não é para hesitações sociais-democratas, senão para o resgate do pragmatismo liberal amaldiçoado pelos socialistas. Daí a importância estratégica de se dar visibilidade aos conservadores na sua missão de temperar os liberais contra os socialistas envergonhados como os social-democratas. O momento não é para hesitações de nenhuma espécie, pois 12 milhões de desempregados têm pressa. É para tirar o Brasil do vermelho mesmo! Nos dois sentidos: tirar as contas públicas do vermelho e tirar a má gestão esquerdista dos governos. Como quer a maioria dos cidadãos que, há várias manifestações dos últimos anos, entoam o estribilho: “Nossa bandeira jamais será vermelha!”.

Jorge Maranhão

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