terça-feira, 25 de outubro de 2016

Passadas as eleições. a vigilia

As eleições que terminam no próximo domingo não vão deixar saudades. Nunca se viu, independentemente da cidade, partidos, grau de instrução dos pretendentes e idade, tanta falta de educação da quase totalidade de seus candidatos. Muitos deles, recém-engajados na atividade político-partidária, têm-se aplicado em não se confundirem com políticos militantes. O político, e nisso muito têm colaborado os desdobramentos alcançados pela operação Lava Jato, é a figura que nenhum candidato quis ser e esse mesmo perfil está renovado nesse segundo turno dessas eleições. Tudo, menos ser confundido com um político.

Os debates travados, especialmente os dos candidatos à prefeitura de BH, lavaram no ar a roupa suja de Alexandre Kalil e João Leite, que ambos, quando não negassem os defeitos que lhes foram apontados, cuidaram de denunciar sua maior de presença no adversário alvejado. Ser chamado de ladrão, frouxo, postema, marica, medroso, sonegador de impostos, burro, frangueiro, estúpido foram algumas das características elencadas.


Em algum momento, para asseverar defeitos, candidatos foram acusados de serem milionários. Não se sabe em que lugar do mundo ser rico possa significar um defeito, senão em virtude da forma ou comportamento de quem adquiriu tal característica. Ladrões, corruptos, traficantes de droga, espertalhões, são tipos que o Código Penal se incumbe de qualificar com propriedade; para esses há enquadramento próprio, extraído no justo processo legal e ao seu final a lei lhes reserva penas, quando transitadas em julgado as sentenças condenatórias dos tribunais. Mas não está nos códigos que ter motos, carros, apartamentos em Orlando, Paris ou em Codó, no Maranhão, seja crime ou que não faça merecedor do voto aquele que desses legalmente disponha.

Mais ainda, as investigações das últimas operações da Polícia Federal trouxeram à luz figuras até então pouco usuais quando a questão fosse atribuir propriedades de bens no uso de homens públicos. Apartamentos, sítios, iates, fazendas, automóveis de luxo, saldos em contas bancárias geralmente movimentadas em paraísos fiscais muitas vezes pertencem a amigos. A generosidade, o desprendimento, o desinteresse pela coisa, são atitudes louváveis e muito possíveis. Alguém, nesse mundo de Deus, tem amigos que assim mereçam ser chamados. Porque nós não os tenhamos não quer dizer que não existam; e se não têm seus nomes revelados, certamente é pelo apreço à discrição, ao anonimato, ao carinho dos apelidos, esses últimos tomados para dar titularidade às contas bancárias onde estão economias muitas vezes de uma vida. O ex-deputado Eduardo Cunha, por exemplo, que o diga.

Mas a questão, para não fugirmos das eleições, é a absoluta e incontestável falta de propostas. Elas sim, se não existirem, farão falta, para transformar o quadro de miséria em que se acham as prefeituras brasileiras, todas angustiadas pelo alto custo da máquina pública, pela falta de qualidade dos seus gastos, pela fraude, pelo despreparo quase generalizado de seus administradores. A isso sim, devemos ter atenção, sem perdermos o compromisso com a indignação e o protesto, sempre que se revelarem uma ameaça e desrespeito a nossa cidadania.

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