domingo, 23 de outubro de 2016

Impunidade de Renan consegue desmoralizar Executivo, Legislativo e Judiciário

O senador Renan Calheiros é o mais perfeito exemplo da desmoralização simultânea dos três Poderes da República. Sua inexplicável impunidade é uma afronta à cidadania e depõe contra o funcionamento das instituições brasileiras. A trajetória política dele mais parece uma folha corrida. Como conseguiu ser eleito senador após ter renunciado à presidência da Mesa Diretora para evitar cassação? Somente esse fato já mostra a falência da política nacional. E logo depois ele conseguiu voltar a ser presidente do Senado e entrou de novo na linha sucessória da República, vejam a que ponto de esculhambação chegamos.


Renan foi um dos homens de ouro do então presidente Fernando Collor e desde sempre esteve envolvido em corrupção. Em 2006, ficou provado que recebia mesada da empreiteira Mendes Júnior para sustentar uma filha fora do casamento, cuja mãe virou capa da Playboy. Para se defender, o senador então apresentou notas frias de falsas venda de gado. Nada, absolutamente nada, aconteceu a Renan, e o processo está prestes a prescrever no Supremo, que coleciona inquéritos e ações contra ele.

A impunidade de Renan Calheiros é imponderável, inaceitável e inacreditável. Não há explicação. E devemos lembrar que esse personagem marginal até chegou a ser ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso, que até hoje alimenta o sonho de voltar ao poder, era só o que faltava.

E agora a Folha de S. Paulo noticia que “após irritação de Renan, Temer discute operação com ministro da Justiça”, referindo-se à prisão do diretor da Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo. Protegido de José Sarney e de Renan Calheiros, este servidor da República funciona como uma espécie de leão-de-chácara dos caciques do PMDB e de outros políticos de idêntica ideologia, digamos assim, como Gleisi Hoffmann (PT-PR), Fernando Collor (PTC-AL) e José Sarney (PMDB-AP).

Quer dizer que o presidente Michel Temer se reuniu com Alexandre de Moraes, ministro da Justiça, para criticar a operação da Polícia Federal no Senado e depois telefonar e se desculpar com Renan, que considerou abusiva a operação policial? Será que entendi bem a reportagem de Gustavo Uribe e Daniel Carvalho?
Os excelentes jornalistas da Folha revelaram também que na sexta-feira, horas depois da operação da Polícia Federal, o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) foi um dos primeiros a entrar em contato com Renan.

Noticiaram também que a reação do presidente do Senado será abrir espaço para aprovar o projeto que estabelece punições a autoridades policiais e judiciais que cometerem abusos.

Quer dizer que é assim que funcionam as instituições? O presidente do Senado protege acintosamente notórios corruptos, como Collor, Sarney e Gleisi, mas o ministro Geddel e o presidente Temer consideram que isso é normal e até dão força ao meliante?
A incompreensível impunidade de Renan e seu prestígio na política conduzem a algumas conclusões:

1) O governo de Michel Temer continua refém dos caciques do PMDB, conforme temos noticiado aqui na Tribuna da Internet;

2) O Supremo não tem a menor condição de processar parlamentares e ministros corruptos, porque é conivente, omisso ou incapaz;

3) O foro privilegiado precisa acabar, o mais rápido possível, para deixar a primeira instância florescer;

4) Os três Poderes estão apodrecidos, como diz Caetano Veloso, e precisam ser lavados e enxaguados, como diria Odorico Paraguaçu, o genial personagem da peça “O Bem Amado”, que virou uma das melhores produções da TV Globo.

5) Tentar abafar a Lava Jato não passa de ilusão, porque é mais fácil o governo ser derrubado do que parar a nova geração que toca a Justiça Federal, a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal.

6) Alguém tem alguma dúvida a respeito?

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