quarta-feira, 19 de outubro de 2016

As lições de vida que aprendi com Oliver Sacks


O neurologista britânico Oliver Sacks, o "Poeta da Medicina", segundo o jornal The New York Times, morreu em Nova York, de câncer, em agosto de 2015, aos 82 anos de idade.

Sacks ficou conhecido no mundo por seus vários bestsellers, entre eles, O Homem Que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu, Um Antropólogo em Marte e Tempo de Despertar (estrelado em versão para o cinema por Robert De Niro e Robin Williams).

Em novembro de 2014, poucos meses antes de ser diagnosticado com câncer em fase terminal, Oliver Sacks foi entrevistado pela repórter da BBC Brasil Mônica Vasconcelos.

A entrevista está incluída no documentário apresentado por Mônica Losing My Sight and Learning to Swim (Perdendo a Visão e Aprendendo a Nadar, em tradução livre), que será transmitido para o mundo, em inglês, pelo BBC World Service.

No depoimento a seguir, a repórter conta como foi seu encontro com Oliver Sacks - e as lições que aprendeu com ele.

Por que você está aqui? - perguntou-me Oliver Sacks, um pouco confuso.

Minha entrevista com o neurologista e escritor britânico Oliver Sacks teve um começo um pouco tenso. Ela aconteceu em novembro de 2014, no lindo apartamento onde ele vivia, em Nova York, com grandes janelas que se abriam para uma praça.

Como jornalista, minha missão era capturar a maneira única como Sacks via a diversidade da vida humana. E tentar mostrar como, ao ser confrontado com pessoas às voltas com doenças ou síndromes congênitas incuráveis, esse médico respondia de um jeito diferente.

Sim, ele percebia os enormes desafios que seus pacientes enfrentavam. Mas também se maravilhava com a inventividade, a variedade de respostas que nós, humanos, criamos quando certas portas, por uma razão ou outra, se fecham para nós.

Parece pouca coisa mas, ao descrever as experiências dos pacientes por esse prisma, Sacks ia, aos poucos, mudando a forma como nós, leitores, pensávamos as chamadas "deficiências". Vendo por aquele ângulo, não havia mais vítimas ou figuras de pena.

A Mônica jornalista queria, então, levar aos quatro cantos do mundo, por meio de um documentário de rádio do BBC World Service, o pensamento libertador desse médico.

Mas secretamente, uma outra Mônica naquela sala queria dizer a Oliver Sacks que ele tinha feito uma diferença enorme na vida dela.

Eu tenho uma distrofia degenerativa na retina chamada Retinose Pigmentar. Isso quer dizer que as células fotossensíveis na minha retina estão, aos poucos, morrendo. Não existe cura e não sei onde isso vai parar - mas minha visão já está bem ruim. E é possível que eu fique cega.

Pouco depois de ouvir esse diagnóstico, há uns 18 anos, uma pessoa colocou um livro na minha mão. Era A Ilha dos Daltônicos, de Oliver Sacks.

Esse foi o meu primeiro contato com o "olhar" do neurologista. E desde então, sigo pela vida com a voz sã e encorajadora desse homem no meu ouvido.

Sacks não entendeu, à primeira vista, por que a entrevistadora estava contando a história da família, do irmão que também tinha Retinose, do pai que sofria para aceitar a deficiência visual dos filhos.

Mas a atmosfera mudou - e a conversa passou a fluir - quando eu expliquei o efeito que A Ilha dos Daltônicos tinha tido na minha vida.

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