domingo, 11 de setembro de 2016

Se Nego falasse...

Se os bichos falassem, Nego teria perdido o sossego no dia da partida de Dilma Rousseff. Para deixar em Brasília o simpático cachorro que ganhou de José Dirceu em 2005, a ex-presidente alegou que um veterinário desaconselhara a viagem aérea entre a capital federal e Porto Alegre de um labrador com 14 anos de vida e saúde frágil. Abandonado pela segunda vez, o simpático Nego se transformaria imediatamente não num tristonho cão sem dono, mas na mais assediada testemunha ocular da história recente do Brasil.

Ele chegou ao coração do poder com a vitória do PT em 2002 e ali permaneceu por mais de 13 anos. Espectador privilegiado do que fizeram (longe dos olhos do povo) dois chefes da Casa Civil e de uma presidente da República, viu e ouviu coisas de que até Deus duvida. Caso abrisse o baú de segredos, e acolhesse todas as solicitações, provavelmente morreria sem ter completado a maratona de compromissos assumidos com historiadores, jornalistas, policiais, procuradores, juízes, apresentadores de programas de rádio e TV e investigadores alojados na República de Curitiba. Fora o resto.

Se contasse tudo o que sabe sobre a dupla que conheceu intimamente, Nego acrescentaria um punhado de anos à temporada na cadeia imposta a Dirceu e forçaria Dilma a desfazer a pose de mulher honrada. As revelações também engrossariam o prontuário do bando de pecadores que agiram em parceria com os donos de Nego, mas pela primeira vez todos poderiam contestar as verdades reveladas com um argumento respeitável: bastam alguns dias de convívio ininterrupto com uma dupla dessas para que qualquer ser se transforme em mentiroso compulsivo. Até um cachorro.

Neste sábado, cresceram os rumores de que Nego foi sacrificado. Na versão oficial, as injeções letais pouparam de sofrimentos um labrador idoso e doente. Os que já não se surpreendem com nada desconfiam que algum integrante do bando de incapazes capazes de tudo pode ter sido assaltado pela dúvida: e se o bicho desandasse repentinamente a falar? Justificadamente inquieto, acabou de inaugurar a queima de arquivos caninos.

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