terça-feira, 13 de setembro de 2016

Meio sérculo perdido?

Muitos de vocês ainda se lembram da “década perdida” vivida pelo Brasil nos anos 80 e que, na verdade, se prolongou até o início dos anos 90, quando o plano real conseguiu colocar o país no caminho do desenvolvimento sustentável.

Foram anos muito difíceis, caracterizados por inflação elevada, variação negativa do produto interno bruto, aumento do endividamento do governo e da população, paralisação do setor produtivo como um todo e escassez de crédito.

As grandes recessões, de uma forma geral, se iniciam com crises internacionais. Entretanto, elas se agravam quando o país não está preparado para enfrentá-las, algumas vezes sem o devido o lastro financeiro e outras, pela adoção de medidas equivocadas, como aconteceu nos últimos anos, quando fomos atingidos por um intervencionismo exagerado, que acabou impedindo o crescimento da economia, diminuindo a produção, aumentando o déficit público, e gerando uma grave crise na oferta do emprego.

Mesmo que o ajuste fiscal venha a ser aprovado nas condições necessárias para a retomada do desenvolvimento, levaremos anos para atingir um patamar razoável numa economia que ainda é a nona do planeta.

Mais de 95% de nossas empresas se inserem na categoria das MPE (micro e pequenas) que, para incrementarem a sua competitividade, precisam ser inseridas no fluxo de comércio internacional. Entretanto, esbarramos em dois problemas: um excessivo protecionismo e um desempenho relativamente baixo no índice de inovação das empresas, determinante para o aumento dessa competitividade.

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Adicionalmente, a situação mudou nos últimos 40 anos e a educação, ao lado da economia, da infraestrutura e da capacidade inovadora, passou a ser uma das causas principais do retrocesso no desenvolvimento de um país.

Hoje há um visível descompasso entre a oferta e a demanda da mão de obra, fruto, em parte, da histórica incapacidade de equacionarmos e solucionarmos os problemas da educação, em todos os níveis.

O desenvolvimento dependerá, inexoravelmente, de quadros técnicos suficientemente bem preparados para atender às crescentes necessidades do setor produtivo.

Recentemente, o MEC divulgou os resultados do IDEB (Índice do Desenvolvimento da Educação Básica) de 2015, e eles são decepcionantes, pois, pelo “andar da carruagem” (como dizia a minha avó), não atingiremos as metas programadas, por nós mesmos, nos prazos esperados.

O IDEB mede o desempenho e as taxas de aprovação dos alunos das redes pública (todos) e privada (por amostragem) nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Embora nas cinco primeiras séries do ensino fundamental tenha ocorrido algum avanço, verifica-se que, nas séries seguintes (da 6ª a 9ª) e no ensino médio, os resultados foram muito ruins.

No caso do ensino médio, precisaremos de décadas para alcançar a meta programada para 2021 (5,2, mas é provável que não passemos de 3,9). O fato é que os estudantes já trazem muitas deficiências, que se acumulam ao longo dos anos cursados.

Além disso, ainda insistimos numa estrutura curricular pesada, com muitas disciplinas, sem levarmos em conta as peculiaridades e vocações das regiões, das escolas, e dos estudantes.

Nossos professores não são valorizados, tanto na carreira, como na remuneração.

Os cursos de licenciatura também necessitam de mudanças urgentes, adaptando-os às novas concepções de estruturas curriculares, centradas em novos processos ensino-aprendizagem, na formação transdisciplinar e no uso das novas tecnologias de informação.

O Ministério da Educação, que considerou a situação vergonhosa, já anunciou alterações positivas para o ensino médio, que pretende, mesmo que por meio de uma medida provisória, implantar. Sem as mudanças, o país correrá o risco de ver meio século perdido.

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