terça-feira, 6 de setembro de 2016

A pílula da longevidade

Que a leitura distrai, informa, instrui, leva-nos ao passado e ao futuro, passando de quebra pelo presente, todos sabemos. Há tempos circula entre nós a expressão “viagem da leitura” para sintetizar essa ideia.

Poucos, no entanto, conhecem os outros benefícios da leitura, especificamente para o cérebro. Estudos feitos por neurocientistas, inclusive no Brasil, mostram que um bom livro de ficção acelera a velocidade do raciocínio e cria circuitos neuroniais duradouros.

Assim, a leitura ajuda-nos a chegar à idade avançada com menor tendência para problemas como a doença de Alzheimer. Comprove em sua própria família: seus parentes que leram e leem bastante provavelmente têm boa qualidade de vida na velhice.

Outros estudos demonstraram que quem lê raciocina melhor, pois possui maior contato com as emoções – os livros são doses maciças de emoção, muitas das quais não experimentaremos durante a vida, a não ser nas páginas de um romance ou de um conto. A emoção precede a razão. Melhor emoção, melhor razão. Palavra de estudiosos da mente.

Também se descobriu que os leitores assíduos são mais tolerantes, menos egoístas, mais chegados à chamada Teoria da Mente: conseguem colocar-se no lugar do outro, portanto percebem com maior facilidade as emoções alheias. Daí terem afirmado que os devoradores de livros são capazes de ler o pensamento alheio, o que é um exagero.

Entre os jovens, constatou-se que os bons leitores arrumam um número maior de companheiros ou companheiras. A evolução parece privilegiá-los.

Por outro lado, em nosso país a questão da leitura continua catastrófica. Para ficar apenas num escândalo: um terço dos formandos em nossos cursos superiores é analfabeto funcional, ou seja, não sabe ler nem escrever direito. Numa avaliação internacional de compreensão de textos, entre quarenta países, ficamos na vice-lanterna. Só ganhamos dos indonésios.


Na semana passada, a mídia divulgou uma notícia surpreendente, vinda da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, após o estudo de um batalhão de quase 4000 pessoas por mais de uma década: quem lê tende a viver 20% a mais que o não leitor. 20% a mais de vida! Por exemplo, quem chegaria aos 80, com bons romances tenderia a beirar os 96. Quanto mais se lê, mais se vive.

Para chegar à conclusão, os pesquisadores retiraram os fatores que poderiam influenciar o resultado e brindaram-nos com a novidade: a leitura, além de todos os benefícios citados acima, é ainda uma pílula de longevidade. Divertindo, ela aumenta nossos dias. Que tal começar a ler aquele romance, sempre adiado, ainda hoje? Você o terminará mais longevo.

Enquanto isso, nosso país não parece se importar com a questão. Na escola, cada vez lemos menos e pior. Os programas de renovação de bibliotecas do governo federal foram esfacelados. O incentivo aos alunos caiu. O ânimo dos professores despencou.

A nova descoberta tem consequências para a educação. Além de prejudicar a qualidade de vida, a falta de leitura reduz a própria vida. Não é um bom motivo a mais para cobrarmos da administração pública uma reviravolta em nosso atual padrão de leitura?

Luís Giffoni

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