sábado, 3 de setembro de 2016

A crise política às vésperas do Dia da Pátria

Circula, entre nós, há muitos anos, a afirmação sobre o Brasil como o país do futuro. Isso era um sopro de esperança, em meados do século XX, quando outras nações reerguiam-se, após a destruição provocada pela Segunda Grande Guerra. Enquanto a maioria atingiu, nas décadas seguintes, elevado bem-estar social, sucessivas crises políticas constituíram severo obstáculo para que não entrássemos em rota perene de prosperidade para todos. Isso aconteceu por desmandos das lideranças que travaram o desenvolvimento econômico, a modernização das instituições e a formação de cidadãos independentes, instruídos e críticos, sem viés partidário.

O impeachment de Dilma Rousseff deveria ser o fim de um período turbulento e o início de consenso para construir a governabilidade fundada nos preceitos constitucionais. Eles seriam defendidos, diuturnamente, por aliados do presidente no Congresso Nacional fiscalizados por oposição incisiva, mas serena e responsável em relação ao destino de 206 milhões de brasileiros. Parece que isso não acontecerá, porque facções da base governista solaparam a Constituição, e os ânimos do grupo destituído do poder estão acirrados. Fica para a população todo o ônus de mais uma turbulência política que repercutirá no desenvolvimento econômico e nas ações governamentais indispensáveis a todos.

Resultado de imagem para crise política

O resultado dúbio do julgamento pelo Senado do impeachment de Dilma Rousseff aconteceu às vésperas do Dia da Pátria, quando o país celebrará 194 anos de independência. Descobrimos, entretanto, que autoridades manipularam a Constituição para garantir autoproteção e blindagem de amigos, comprometendo a segurança jurídica da sociedade. Percebemos, então, que perdemos tempo demais, em relação a outras nações, enterrando o sonho de “país do futuro”, porque, além da vergonhosa interpretação da Carta Magna, ainda não atingimos patamares fundamentais do mundo moderno, como escolaridade, assistência médica, saneamento, moradia sólida, proteção plena aos vulneráveis, segurança pública e preservação ambiental.

Teremos, então, mais uma vez, apenas uma festa do Estado, em que militares desfilam diante de autoridades protegidas por forte esquema de segurança, enquanto o povo fica atrás do cordão de isolamento. Isso sempre esmaeceu a identidade do cidadão comum diante dos governantes, registrando a distância entre eles e comprometendo a percepção de cidadania, com separação entre o mundo oficial e o social.

Assistiremos, então, mais uma vez, passivamente, àquele espetáculo, sem celebrar nossa nacionalidade. Isso não nos favorece, porque as fronteiras nacionais sustentam a soberania de um povo e vão além da demarcação de território, uma vez que se referem à dimensão humana que se sobrepõe à infraestrutura material. São delineadas pelo reconhecimento de cada indivíduo como membro de um grupo que almeja convivência pacífica, autonomia política e desenvolvimento integrado, esperando bastante do futuro.

Gilda de Castro

Nenhum comentário:

Postar um comentário