sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A calamidade histórica da educação de base

Inundações, terremotos, deslizamentos, filas de desempregados são calamidades visíveis que assustam, mas, felizmente, duram pouco tempo. Mas há calamidades invisíveis cujos efeitos só são percebidos quando já não há mais tempo para corrigi-las: são calamidades históricas.

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Recentemente, foi divulgado o estado de nossa educação de base no ano de 2015, conforme avaliada pelo Índice de Desenvolvimento da Educação de Base (Ideb). A catástrofe não é visível de imediato, mas indica uma tragédia anunciada e duradoura por décadas. A falência do sistema educacional impede de preparar nossas crianças para que elas enfrentem o próprio futuro e para que participem da construção do futuro do país. Há décadas pode-se perceber as consequências desse descaso. Mas, ao não ser visível, não tem sensibilizado o Brasil a dar o necessário cuidado à educação de base.

Os resultados do Ideb mostram estagnação do ensino fundamental em baixíssimas notas – 5,5 e 4,5 – em seus dois níveis e mostram o retrocesso do ensino médio, em pleno século XXI, com a vergonhosa nota 3,7. Por essas notas, o Brasil foi reprovado em 2015. Essa média é ainda mais assustadora se levarmos em conta que metade das crianças brasileiras ficam fora da avaliação por ter abandonado a escola antes do ensino médio – com a nota desse grupo, o Ideb seria muito menor. O Ideb também não reflete plenamente a gravidade de nosso problema educacional, se lembramos que ele não indica a brutal desigualdade na educação de nossas crianças conforme a renda das famílias nem mostra que outros países estão ultrapassando o Brasil, oferecendo melhor educação a suas crianças.

Essa calamidade deveria ser tão visível quanto a seca no Nordeste, a avalanche em Mariana, as filas de desempregados e a falência financeira do Estado brasileiro. Mas nossos governos têm sido cegos para percebê-la. Por isso, nossos presidentes não manifestaram até hoje horror diante dessa tragédia, não declararam calamidade histórica, não indicaram o que deve ser feito para o Brasil enfrentar a maior e mais duradoura de nossas crises.

Bastaria uma política decidida para, ao longo de alguns anos, substituirmos as deficientes escolas estaduais e municipais por escolas federais, cujos Idebs estão se aproximando da nota 7. Esse enfrentamento permitiria superar a crise social e econômica que assola o país.

O abandono da educação, que o Ideb 2015 indica, é uma das causas da crise econômica, que provém sobretudo da baixa produtividade e da irrisória capacidade de inovação; a violência, a corrupção, o populismo, a irresponsabilidade fiscal têm como uma das causas a deseducação geral.

Talvez esta seja a maior de nossas calamidades, que o Ideb tem mostrado ao longo dos últimos anos: os governos descomprometidos com a educação e, por omissão, condenando o futuro de nosso país. Pior é, no lugar de despertarmos, usando o Ideb para corrigir essa calamidade histórica, algum governo tomar a iniciativa de parar de estimar o Ideb, como um médico curando a febre ao quebrar o termômetro.

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