quinta-feira, 31 de março de 2016


Nem heróis, nem redentores, nem salvadores da pátria

Um perigo ronda o Brasil, submerso em uma crise que a cada hora se revela mais profunda e sem que apareça no horizonte uma saída que possa aglutinar toda a sociedade sem que esta se deixe arrastar pela violência verbal e até física.
O perigo é que se deposite a esperança de superação da crise na chegada milagrosa, como um presente dos deuses, de um herói, um redentor ou um salvador da pátria, que de forma mágica devolva ao país o que lhe foi roubado por um mau Governo e pela corrupção sem precedentes históricos.

A preocupação de muitos cidadãos desejosos de que a crise seja superada sem maiores rupturas é que não surge no horizonte ninguém capaz de realizar esse milagre.

E se essa ausência de um feiticeiro da política fosse a maior garantia de que a crise se resolva do modo mais democrático e moderno?

Há quem não aposte na divisão, nas guerras, nem no “nós contra eles”, e menos ainda em pirotecnias incendiárias ou em manobras gattopardescas nas quais tudo muda para continuar igual.

São ainda milhões os que preferem a sensatez, o diálogo, a busca por soluções realistas, não fantasiosas. São eles os que rechaçam a política da revanche, que acaba arrastando para o pior.

O novo vocábulo “sensatez”, oposto de insensatez, começa a aparecer, temeroso, na boca de quem prefere pensar numa solução viável da crise, que implique limar arestas, juntar ideias distintas, dialogar até a exaustão.

De pouco serve para a solução de um drama lançar pedras contra os personagens. Sempre foi assim que se engendraram as guerras.

A solução das crises só aparece quando os diferentes são capazes de se sentar à mesa para procurarem juntos soluções possíveis, não milagrosas. Não existem atalhos para resolver uma crise política ou econômica. As mágicas só funcionam nos palcos da diversão.

Fariam mal os cidadãos de qualquer coloração política se ficassem à espera de um redentor. A política das grandes democracias não funciona assim. Isso é fruto dos populismos pseudorreligiosos.

O Brasil tem hoje, paradoxalmente, a oportunidade de dar ao mundo um exemplo de como se pode superar uma crise juntando as partes de sensatez que ainda existem.

O “são todos iguais”, ou seja, ladrões e corruptos, leva indevidamente à busca do santo, do mago, do salvador capaz de tirar o país do poço onde se encontra afundado.

O Brasil ainda pode ser capaz de oferecer uma solução à crise se conseguir juntar esses pedaços de sensatez e de ideias não viciadas pela paixão, que coloquem novamente o país no caminho de uma democracia mais forte, já que ele ainda conta com instituições que estão funcionando em liberdade. Se conseguir, estará dando um exemplo de maturidade democrática ao continente e ao mundo.

Antecipar, pelo contrário, por um ou outro lado, que qualquer que seja a solução da crise de Governo, venha o que vier depois, não terá como governar é não só confessar a incapacidade do sistema, como também o anúncio de um suicídio.

Se de fato é grave a responsabilidade de quem engendrou a crise que atormenta o Brasil, pior é a daqueles que, como profetas e justiceiros, já anunciam o “não passarão”, que se traduz em um “não os deixaremos governar em paz”.

A História nunca perdoa quem aposta pelos extremos.

Hoje, no mundo, existe melhor qualidade de vida, menos injustiças sociais e menos pobreza onde se governa a partir do centro, com o máximo de consenso e com a maior participação dos cidadãos na gestão e no controle de quem exerce o poder.

Sem necessidade de heróis, magos nem redentores que acabam poluindo e desvirtuando a democracia e reduzindo as liberdades.

Sete lições da Lava-Jato

Desde o julgamento pelo STF do mensalão (Ação Penal 470), de agosto de 2012 a março de 2014, acerca do esquema de corrupção na compra de votos de parlamentares, resultando na inédita prisão de líderes políticos, parlamentares e banqueiros, o Brasil passa por uma profunda transformação pautada pela independência do Judiciário e pela consolidação do Estado de Direito — e de sua máxima “ninguém está acima da lei”.

Após o mensalão, a Operação Lava-Jato, em dois anos de atuação, compreendeu investigações que levaram, até o momento, a 93 condenações (por crimes de corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de ativos), 49 acordos de delação premiada, cinco acordos de leniência com empresas e à devolução aos cofres públicos de R$ 2,9 bilhões pelos investigados, bem como a repatriação de R$ 659 milhões, mediante 97 pedidos de cooperação internacional. O total de ressarcimento pedido pelo Ministério Público Federal a empreiteiras e ex-diretores da Petrobras alcança R$ 21,8 bilhões. Uma vez mais, o sucesso e a eficácia da Lava-Jato — tal como ocorreu no mensalão — estão condicionados à independência judicial e ao fortalecimento do Estado de Direito; eis que a lei passa também a incidir no — até então, intocável e impenetrável — poderio econômico e político. Note-se que, neste ano, o Brasil caiu sete posições no ranking de corrupção da Transparência Internacional, da 69ª a 76ª posição — a maior queda entre os 168 estados pesquisados.


O balanço destas profundas transformações do Brasil decorrentes do julgamento do mensalão e agora da Operação Lava-Jato lança sete lições para a necessária mudança da cultura política no Brasil:

1) Assegurar o pluralismo político, a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, o respeito e a tolerância, por meio do diálogo livre e desarmado, com pleno respeito às posições diversas, superando a temerária e nociva polarização do “eu” versus “o outro”, a compor um antagonismo binário intolerante;

2) garantir o diálogo pacífico, em que as mais diferentes vozes tenham escuta, sem o recurso à violência, lembrando que no Estado de Direito a força do direito deve sempre prevalecer em detrimento do direito da força;

3) combater a corrupção, com eficácia, não seletividade e independência institucional, com estrita observância à legalidade e aos direitos e garantias constitucionais, já que na democracia jamais os fins justificam os meios — os meios sempre importam, requerendo um componente democrático;

4) aprimorar os mecanismos de transparência e accountability como instrumentos essenciais à democracia, que demanda transparência e publicidade, não sendo compatível com a opacidade do poder;

5) fortalecer a sociedade civil e sua capacidade reivindicatória, com incessante e obstinada vigilância do regime democrático, prosseguindo com sua pauta de demandas por ética na política — há que se aprender com o insucesso do caso italiano, em que a ascensão de Berlusconi se deu justamente com a descontinuidade da Operação Mãos Limpas, cujo apoio popular teve vida curta, sob a certeza que não é sustentável apenas a “revolução dos juízes”;

6) fortalecer a institucionalidade democrática, com a capacidade de evitar que a conduta antiética de integrantes de uma instituição (como o Parlamento), ainda que em um universo expressivo, jamais comprometa a integridade da instituição — o que alimentaria a nefasta tradição caudilhista da região latino-americana, quando um único líder se vê depositário da imensa frustração popular (o que levou ao desastroso “berlusconismo” na experiência italiana, fruto do fracasso da operação anticorrupção Mãos Limpas, gerando ainda uma forma mais sofisticada de corrupção, difusa e de difícil combate);

7) lutar pela tríade Estado de Direito, democracia e direitos humanos, mediante um pacto suprapartidário republicano, com uma agenda propositiva de reformas envolvendo a necessária e tão aguardada reforma política (com a redução da influência do poderio econômico nas eleições); a maior transparência na gestão da coisa pública com o pleno direito ao acesso à informação; o controle social dos poderes públicos; o fim do foro privilegiado por ser instituto incompatível com o Estado Democrático de Direito; dentre outras relevantes medidas.

No atual momento, contudo, o maior desafio é buscar serenidade, equilíbrio e lucidez como condição, requisito e pressuposto para o amadurecimento democrático e para a necessária mudança da cultura política do Brasil, na luta por maior transparência, ética, accountability, controle público e fortalecimento das instituições democráticas.

Flávia Piovesan

O que fazer depois do grito


“Grito da Independência“; “Proclamação da Republica“; “Abaixo a ditadura”!; “Fora Collor”; “Fora Corruptos“! Até aí nós sempre conseguimos chegar. O problema tem sido o que fazer em seguida.

“Criar uma consciência política“; parir com discursos “uma consciência cidadã“; esperar que desça do céu mais “honestidade na politica“; tudo isso não passa de reza. Não existe a hipotese de fazer “a” reforma politica ou mesmo “uma” reforma politica (ou tributária, ou judicial, ou eleitoral, ou…). É ilusão acreditar que coisas como essas possam ser “resolvidas” de uma vez para sempre e por “alguém” além de nós mesmos.

A politica – a arte de organizar a vida em sociedade – é jogo para ser jogado por todos e conforme vier a bola. “Falta de cultura de participação” não é causa, é efeito da doença política latina e brasileira. Participação política só vira “cultura” mediante o incentivo do efeito; só se estabelece onde participar realmente muda o resultado do jogo. Fora daí cai-se no conformismo e nas explosões esporádicas de ódio revolucionário.

No fim das contas não ha nada de tão sofisticado assim neste nosso embate. Não é de modelos econômicos que se trata. Nunca foi. Não ha projetos antogônicos em disputa nem no país, nem no mundo. Joaquim Levy ou não Joaquim Levy foi um dilema exclusivo do PT. Ninguém de fora interferiu. Por cima da corrupção e da incompetência que se vê o que está em jogo é o mesmo de todo o sempre: dinheiro ganho no mole; a força viciante do privilégio e o poder quase divino que rende distribuí-los.

Isenção de impostos, lucro sem risco, o pódio via BNDES. Mais de 12 “bolsas familia” foram distribuídas aos “empresários” do “capitalismo de compadrio” que se instalou. Emprego garantido pela eternidade, aumentos de salário sem entrega de resultado, aposentadoria de rei e “hereditária”. Só os 980 mil aposentados e pensionistas do governo federal (ponha 25 estados e 5.570 municipios de molho) geram um déficit na Previdência de quase R$ 93 bilhões por ano, mais do que custam todos os 32,7 milhões de aposentados e pensionistas do resto do Brasil inteiro. Como deter a corrupção se o estado continuar tendo a prerrogativa de distribuir (ou vender) “bens” desse valor a quem bem entender?

Um país em pane de instrumentos, sem noção do tamanho do buraco em que se meteu, segue recusando-se a encarar as fontes das suas contas apocalípticas. E, no entanto, era de alertar ou não o país para a realidade e agir antes da eleição que se tratava. Era de abrir ou não o precedente de cortar tais privilégios que Joaquim Levy tratou com Dilma. Continua sendo essa a grande questão. Mas só o que há são expedientes para salvar privilégios e comprar cumplicidades e votos que garantam a eterna delícia de viver de e para a distribuição de dinheiro descolado de trabalho.
Agrava tudo o isolamento de Brasília, essa nossa “Versalhes” que mantem toda a corte, jornalistas inclusive, irresistivelmente atraída pelos “brioches” da luta pelo poder e alheia à luta da multidão pelo “pão” de cada dia. Mas não é propriamente uma novidade. A civilização é a presença da policia. O homem será o lobo do homem sempre que puder se-lo impunemente, seja onde for, seja sob que carga cultural for. A Alemanha foi de Bach ao Holocausto essencialmente porque o Holocausto foi liberado pela polícia. Steve Jobs, o Leonardo da Vinci cibernético, foi da reinvenção da vida como ela era à exploração da miséria na China apenas porque a globalização lhe permitiu produzir para os Estados Unidos fora do alcance da polícia dos Estados Unidos. O Brasil mergulhou de cabeça na corrupção e na mentira porque o governo liberou geral a corrupção e a mentira.

Com ou sem PT, o remendo que se conseguir dar ao desastre que aí está será não mais que um remendo. A emergência é inimiga da perfeição. É preciso mudar tudo, sim. Mas terá de ser por partes. Não existe a “bala de prata” que mate o bicho de uma vez para sempre porque democracia não é um destino ao qual se possa finalmente chegar; democracia é um manual de normas de navegação para uma viagem que não termina nunca e que cada um tem o direito de fazer na direção e na velocidade que achar melhor desde que não pise nos calos dos outros. Mas existe, sim, a possibilidade de transformar reforma permanente, por ensaio e erro e ajustes sucessivos como tem de ser num mundo em constante mudança, na essência do sistema como é próprio das democracias, tambem ditas “sociedades abertas“.

A promoção da meritocracia, que impõe a busca da igualdade de oportunidade e para as quais o privilégio e a corrupção são as únicas alternativas, só entra no setor público se entrar antes na política. A impunidade só acaba se acabar para o primeiro da fila. Nos sistemas representativos em regime de maioria sob o império da lei, manda quem tem a última palavra na formulação das leis e na construção das instituições. Voto distrital com recall é a tecnologia que tira dos políticos e transfere para o povo a última palavra em tudo que afeta a vida em sociedade; que faz a participação de cada um na política fazer toda a diferença; que põe a permanência no emprego de qualquer político na dependência de fazer a reforma que seu eleitor quiser na hora que ele quiser; que os submete ao mesmo regime de incentivos e penalidades a que estamos submetidos todos nós aqui fora; que põe Brasília dançando para a mesma música que o Brasil … e que faz tudo isso sem deixar poder excessivo na mão de ninguém.

Desde 2013 o Brasil vem ensaiando nas ruas a conquista da sua maioridade. Mas não tem conseguido definir um horizonte que lhe permita estabilizar esses ensaios num vôo de longo curso e com rumo definido. Para sonhar com um Brasil institucionalizado onde caiba a vitória do bem, conquistar o direito à última palavra sobre o nosso próprio destino é a única coisa adulta a fazer.

O preço, hoje, do voto contra o impeachment

Está em curso um golpe às escondidas para impedir a realização de um desejo da esmagadora maioria dos brasileiros – o de ver o governo da presidente Dilma pelas costas.

Sabe quanto custará o golpe na boca do caixa? O que está sendo oferecido a deputados para que votem contra o impeachment ou se abstenham de votar.

Os que votarem contra receberão R$ 1 milhão para a construção de obras em seus redutos eleitorais. Os que faltarem à votação, R$ 400 mil. Fora cargos. Isso era o que o governo oferecia até ontem à noite.


Mas o mercado de votos para derrotar o impeachment está com viés de alta. E é por isso que dirigentes de partidos e deputados individualmente preferem esperar para decidir na próxima semana.

Até lá, o preço do apoio ao governo ficará mais caro. O dinheiro sairá via liberação de emendas apresentadas pelos parlamentares ao Orçamento da União. O governo só libera tal dinheiro quando carece de apoio.

Nunca careceu tanto como hoje, quando se vê ameaçado de não chegar ao fim do mandato de Dilma. Dito de outra maneira: quando vê o fim do mandato se aproximar velozmente.

O governo precisa de 172 votos ou de 172 abstenções para sobreviver ao impeachment. Dilma foi dormir, ontem, imaginando contar com 130 fechados. A oposição foi dormir contando com 306.

Para aprovar o impeachment, a oposição precisa que 372 deputados, dos 513, comparecam ao plenário da Câmara no dia marcado e votem “sim”. Não vale abster-se. A meta dela é chegar lá com 380 votos.

A meta do governo é chegar no dia da votação com 290 a 300 votos ou abstenções. Nos 130 que diz já ter, estão apenas sete votos do PMDB, dono de uma bancada de 59 deputados federais.

A mais recente pesquisa nacional do IBOPE, divulgada ontem, mostrou que 69% dos brasileiros consideram o governo de Dilma péssimo ou ruim. Ótimo e bom, só 10%.

Não confiam em Dilma: 80%. E 82% desaprovam sua maneira de governar. Para 80%, o segundo governo Dilma está sendo pior do que o primeiro, e 68% acham que o restante dele será ruim ou péssimo.

Entre as pessoas que têm até a quarta série do ensino fundamental, 70% desaprovam e 24% aprovam a maneira de governar de Dilma. Entre os que têm educação superior, 87% desaprovam e 9% aprovam.

Entre dezembro último e a este mês, a desaprovação ao governo saltou de 17% para 60% entre as pessoas que ganham até um salário mínimo, justamente as mais pobres e beneficiadas pelos programais sociais do PT.

Políticos mais críticos apelidaram o Congresso de “Clube da Falsa Felicidade” Na maior parte do tempo, deputados e senadores se comportam como se Brasília fosse um local muito distante do Brasil.

Qualquer pesquisa que ouça apenas deputados e senadores registrará avaliações bastante diferentes daquelas registradas por pesquisas que ouvem os brasileiros comuns pelo país a fora.

É quase unânime no Congresso a opinião de que o governo é ruim, e Dilma pior do que ele. No entanto... Os políticos têm seus próprios interesses que nem sempre coincidem com os dos seus eleitores.

No momento, eles querem extrair de um governo débil tudo o que ele ainda tenha para dar. No dia da votação do impeachment, a depender das circunstâncias, poderão votar contra o impeachment, abster-se ou votar a favor.

Por circunstâncias, entenda-se: o clima do país nas ruas; as pressões via redes sociais; o que receberam ou não do governo para ajuda-lo; e o que esperam receber de um eventual governo Temer.

A esquerda decadente

É no mínimo vergonhoso, para não dizer imoral, o comportamento da Dilma depois da saída do PMDB da base do governo. A presidente mandou publicar no Diário Oficial, como medida de urgência, a decisão de liberar quase 2 bilhões de reais para alimentar as emendas parlamentares e, com isso, cooptar deputados e senadores para evitar o impeachment. Mais uma vez, a Dilma mostra que transformou o Brasil numa republiqueta de bananas e que não está a altura do cargo que exerce. Definitivamente não representa mais o povo brasileiro como mostra a mais recente pesquisa do Ibope.

Isolada no Palácio do Planalto, depois que a Justiça proibiu o Lula, seu parceiro, de exercer a função de ministro do Gabinete Civil, Dilma apela para o fisiologismo cínico e descarado comprando deputados e senadores para tentar recompor a sua base de sustentação. Joga no lixo o dinheiro do contribuinte que tanta falta vem fazendo nesses tempos de vacas magras. Mostra, com essa atitude desesperada, que entregou o país nas mãos dos ratos do seu partido e de aliados que ainda compõem o seu governo incompetente e inerte.

Já disse – e repito aqui – o governo da Dilma é esquizofrênico, estabanado, inepto. Há seis anos leva o país para o fundo do poço. Até agora ela não descobriu que virou presidente da república porque nunca esteve apta para o cargo. Surgiu do nada pelas mãos de Lula e de uma hora para outra plantou-se na cadeira de presidente, de onde começou a destroçar o país. Envergonha o Brasil lá fora com o seu pensamento truncado, ideias turvas e ideologia fragmentada. Ao saber que o PT arrancou a última de suas muletas, correu para o Tesouro Nacional para distribuir dinheiro aos parlamentares como se governasse sozinha, como um déspota desvairado e ensandecido.

Qual a diferença da Dilma para os outros presidentes fisiológico que passaram pelo país utilizando-se de métodos semelhantes? Nenhuma. No caso dela, o Brasil pelo menos esperava que não se sujasse com as práticas populistas, demagogas e despudoradas. Imaginava-se - e hoje percebe-se o engano – que como ela saíra das raízes esquerdistas, iria se diferenciar de seus antecessores, políticos profissionais e conservadores. Até que no inicio ela ensaiou uma faxina, desalojando ministros que considerava corruptos. Não aguentou a pressão petistas e, para se manter no cargo, virou um joguete, uma marionete nas mãos da cúpula do partido e do seu chefe Lula.

Como um paciente em coma que retorna da doença aprendendo o que esquecera, decora frases e palavras de ordem e as repetem insistentemente como se tivesse delirando. As vezes, por debilidade, esquece o script. E quando isso acontece, dana-se a falar bobagens, reunidas hoje em livros e catalogadas no folclore do besteirol brasileiro. Essa presidente não tem noção de estado, nem tampouco de governança. Desloca-se frequentemente no avião presidencial, algumas das vezes para convescotes de cortesia ou de solidariedade a amigos, como aconteceu com a visita que fez ao Lula em São Bernardo.

Age, a presidente, como se o Brasil fosse de brinquedo, que se quebra e se remonta. É desprovida de sentimentos humanitários, porque não se apercebe que o seu governo está levando a miséria de volta à mesa dos brasileiros desempregados e sem esperança em um Brasil que definha como uma doença ruim.

Quer passar a imagem de uma guerreira forte, valente, determinada como se fosse a única a lutar contra a ditadura. Bobagem, a resistência aos militares não foi um privilégio de poucos, mas de toda sociedade brasileira que foi às ruas dizer um basta ao regime. Como disse o Millôr, com muita propriedade, muitos dos esquerdistas que vivem hoje das milionárias aposentadorias não lutaram por uma causa, mas, sim, “por um bom investimento”.

A Dilma, o Lula e outros esquerdistas de meia-tigela, fanfarrões, diante dessa desgraça brasileira, só deixam uma certeza: a incompetência de dirigir uma nação. Ao contrário do que apregoam, também são populistas, demagogos, fisiológicos e despreparados.

A democracia agredida no Congresso

Na segunda-feira, um grupo de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), incluindo o presidente de seu Conselho Federal, Claudio Lamachia, foi à Câmara dos Deputados para protocolar um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em qualquer democracia saudável, o episódio se desenrolaria da maneira mais republicana possível: os advogados teriam respeitado seu direito de transitar dentro da Casa do Povo, entregariam o documento, talvez (mas não necessariamente) posariam para algumas fotos, dado o caráter potencialmente histórico do evento, e seguiriam seu curso, enquanto os governistas se preocupariam em conhecer o teor da denúncia e preparar sua defesa.


Mas, a essa altura do campeonato, o petismo já abandonou qualquer pretensão de manter as aparências de defensor do Estado Democrático de Direito. É por isso que até mesmo parlamentares – incluindo o líder do governo no Senado, Humberto Costa – se juntaram à claque que cercou Lamachia assim que o presidente nacional da OAB chegou ao Congresso. Apenas a muito custo os representantes dos advogados conseguiram avançar e entregar a denúncia baseada não apenas nas “pedaladas fiscais”, mas também na renúncia fiscal concedida à Fifa para a Copa de 2014 e na tentativa de obstrução da Justiça com a nomeação ministerial de Lula e as supostas interferências na Lava Jato, segundo a delação do senador Delcídio do Amaral.

Na ausência de argumentos, restou aos defensores do governo tentar desmoralizar a entidade, apelando para slogans fáceis como “A verdade é dura, a OAB apoiou a ditadura” – o que, além de falsear e simplificar a história, mostra como funciona o pensamento petista, segundo o qual os critérios de certo e errado são os interesses do partido. Afinal, em 1992, quando a OAB protagonizou o pedido de impeachment de Fernando Collor, a quem o PT fazia oposição (mas que hoje defende Dilma), seria impensável que os petistas sacassem tal slogan. Além disso, hoje são justamente o PT e seus aliados ideológicos os grandes apoiadores de ditaduras, na América Latina e fora dela – apoio no qual os petistas certamente não veem inconveniente algum.

O episódio do Salão Verde já seria suficientemente grave se, a bloquear o caminho de Lamachia e dos demais representantes da OAB, estivessem apenas os suspeitos de sempre, como as entidades-satélites do petismo, aquelas que já foram comparadas a “exércitos” ou cujos líderes juraram defender Dilma “com armas na mão”. Mas também havia ali parlamentares, incluindo advogados – pessoas que assumiram, até em juramento, o compromisso de defender a democracia, mas que resolveram impedir o exercício dos direitos alheios apenas por discordar de suas posições políticas. E o fazem invocando, com a maior desfaçatez, o Estado Democrático de Direito e as garantias constitucionais. Trazem para a vida real a ficção orwelliana, em que o governo ditatorial de 1984 usava slogans como “guerra é paz”, “liberdade é escravidão” e “ignorância é força”.

“Eu sou a única pessoa que poderia incendiar o país”, bravateou Lula numa das conversas telefônicas interceptadas pela Operação Lava Jato. O ex-presidente até acrescenta que não quer “fazer como Nero”, mas a prática desmente a afirmação. O que aconteceu no Congresso mostra que até mesmo os que conhecem as leis com profundidade estão dispostos a mandá-las às favas diante de um chamado do chefe, fazendo-nos concluir que, se há no Brasil uma autêntica ameaça ao Estado Democrático de Direito, ela está entre os que manobram contra o impeachment, não entre os que o defendem.

Máximas do procurador

*Tem muita gente que está triste pela falência de um projeto, que era bonito, de inclusão social. Infelizmente, veio junto de outro projeto, de poder. Não podemos permitir que o projeto venha junto com a corrupção
*A solução é baixar essa febre que nos acomete, diminuir o custo das campanhas, da política e, vou dizer mais, diminuir a personalização da política
*Nosso sistema de coalizão exige essa distribuição de cargos, que é conscientemente dirigida à corrupção
*O mercado é muito influenciado pelas práticas corruptas, pois o grande consumidor brasileiro ainda é o Estado. Junta-se aqui a vontade de comer dos políticos com a fome das empresas
Carlos Fernando dos Santos Lima, procurador da operação Lava Jato

Marginais em ação

Lula é o Partido dos Trabalhadores. Sem ele o PT não existe. Para os petistas, a palavra de Lula é lei, mandamento supremo que, como tal, se sobrepõe a qualquer preceito legal, inclusive os estabelecidos pela Constituição federal. Em 2012, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou por corrupção a cúpula dirigente do PT no rumoroso processo do mensalão, Lula decidiu que as sentenças foram ditadas “sem provas”, por pressão da opinião pública e da mídia. Sua palavra de ordem foi rigorosamente acatada pela manada petista, que, para compensar a “injustiça” praticada contra seus ex-dirigentes, elevou-os à categoria de “guerreiros do povo brasileiro”. A partir de então ficou estabelecido para o lulopetismo o princípio à luz do qual as leis devem ou não ser respeitadas: o interesse de Lula. A partir de então, do ponto de vista legal – e não se trata, neste caso, de nada relacionado com a Lava Jato – Luiz Inácio Lula da Silva optou claramente pela marginalidade, para a qual arrasta todo o seu séquito, inclusive a presidente da República.


Hoje, a grande questão legal em jogo é o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Vários ministros do STF já declararam que o impeachment é um instituto legal previsto pela Constituição federal. Com base nesse princípio, a própria Suprema Corte recentemente estabeleceu os procedimentos a serem observados pelo Congresso Nacional para o julgamento do impeachment da chefe do Executivo. Mas Lula, Dilma e os petistas não querem saber. Para eles, impeachment é golpe. Repetem isso incansavelmente, como um mantra. E é lamentável verificar que pessoas supostamente bem informadas, a pretexto de defender “as instituições democráticas” que Lula demoliu, não se pejam de engrossar o coro.

Em torno do interesse maior de Lula, que é sua própria sobrevivência política, e sob sua coordenação, está em curso uma ampla e agressiva campanha para combater o “golpe” e, a partir do desembarque do PMDB do governo, para tentar desmoralizar Michel Temer, sucessor natural da presidente, cujo mandato está agora por um fio. Essa campanha tem dois focos distintos. No âmbito do Congresso, destina-se a comprar, literalmente, o apoio de parlamentares em número suficiente para barrar o processo de impeachment. Trata-se de uma compra pura e simples, porque a mercadoria à venda é o cargo público a ser pago com um voto contra o impeachment.

No âmbito mais amplo da opinião pública, a estratégia cumprida por determinação de Lula envolve ações que variam das ameaças verbais a investidas no melhor estilo black bloc, como a realizada na segunda-feira na Câmara dos Deputados, e ainda a mobilização dos movimentos sociais que giram na órbita lulista para manifestações de rua, como as programadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O episódio de guerrilha urbana promovido na Câmara dos Deputados teve o patrocínio de juristas e advogados militantes ou simpatizantes do PT e destinava-se a impedir – o termo, por absurdo que pareça, é exatamente este – que o presidente e outros membros da direção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) protocolassem o pedido de impeachment de Dilma Rousseff que foi aprovado por 26 votos contra 2 pelo Conselho Federal da entidade. Aos berros, empurrões e tapas, os quadrilheiros de Lula procuraram, em vão, impedir que o documento da OAB fosse entregue. É assim que a turma de Lula defende a democracia.

No plenário do Senado, o líder do PT, Humberto Costa, ameaçou Michel Temer de ser “o próximo a cair” depois de Dilma e garantiu: “Não haverá trégua a esse movimento golpista, nem antes, nem depois, caso ele venha, vergonhosamente, a se materializar”. Por sua vez, um dos coordenadores do MST, Alexandre Conceição, em ato pró-Dilma na Câmara repetiu a palavra de ordem ditada por Lula: “Está ocorrendo uma manobra inconstitucional, um golpe”. E acrescentou que Eduardo Cunha e Michel Temer doravante “não vão ter paz”, para concluir com uma proclamação de enorme alienação: “Para manter os ganhos sociais só há uma saída: manter Dilma na Presidência”. Alguém precisa explicar ao moço quem é que está pondo a perder os “ganhos sociais”
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Maria da tempestade

Quer dizer, então, que estando o País sob essa inércia desmesurada e, tirando os corajosos sob a mira redentora da Lava a Jato, ninguém mais vai pagar por isso?

Entra Governo, passa Governo, sai Governo e o imbróglio do Brasil, à falta de reformas institucionais consistentes para serem encaradas a sério, só aumenta.

E quando se imagina que alguma coisa vai mudar, vais conferir - é casuísmo. Tudo imaginado para alcançar, por tabela, os mesmos.

A Constituição Portuguesa, promulgada após a queda da ditadura cinquentã instaurada por Salazar, passou por duas longas conquanto profundas revisões. Nós aqui fizemos apenas uma revisão. Ligeira. E no que deu? Na reeleição para Presidente, Governadores e Prefeitos. Novidade que não colou. E, num remelexo na questão tributária, a revisão tratou de melhorar as coisas para o Todo Poderoso, abaixo de Deus aqui na terra, quem? O Povo? Não, o Estado.

O sistema eleitoral datado do inicio do ultimo século está ultrapassado pelo amadurecimento da cidadania. Mas com os vícios que foram se acumulando.

Agora começa a regressiva para o impeachment da Dilma. Ao mesmo tempo em que a maioria da população, melhor dizendo, algo em torno de 69%, segundo o IBOPE, reafirma rejeição ao Governo dela, o Palácio do Planalto instala o balcão de ofertas de cargos públicos em troca de votos contra o impeachment.

Ontem o Professor Manoel Gonçalves Ferreira Filho, um dos mais conceituados constitucionalistas deste País, em palestra na Universidade de Lisboa, sustentou que “a má governança (também) configura crime de responsabilidade”. Caso indubitável da Dilma, absolutamente despreparada para os desafios de governar.(CF, Art.37 caput.)

Quanto à legitimidade, o Professor Manoel garantiu que “a legitimidade não se restringe ao que vem das urnas. Tem que se conquistada no dia a dia”.

E o que vem fazendo a Dilma nesses 5 anos em que ocupa a Presidência da República? Começou exigindo que a chamassem de Presidenta. Ridículo. Os caras só falam Presidenta em sua presença ou pela aí, mais pelo medo de serem demitidos.

Depois, inaugurou o assedio moral – tratando com grosserias os auxiliares civis ou militares. De toda e qualquer patente. Dava seus esporros em qualquer lugar. Ela iria querer então que esse pessoal, todo vítima de suas grosserias, não fosse, sempre possível, rogar aos diabos para que cuidassem dela? A Dilma agora é a queridinha de todos os demônios para todos os malfeitos. (“Para ganhar a eleição, a gente faz o diabo”, já lecionava na campanha a Presidenta.)

O inferno em que vive e para qual arrasta um País inteiro tem a ver não só com a economia em frangalhos. Nem só com os 10 milhões que perderam seus empregos. Nem só com as centenas de indústrias que fecharam. Nem só com o mosquito da dengue e os vírus da dengue e da zika. Nem só com o picolé a 10 reais. E tal.

Isso tudo tem a ver também com a corrente do pensamento negativo que a Dilma alimenta com o seu mau humor e arrogância e que dia a dia mais se volta contra ela. Eu acredito nas forças desses fluidos.

O principal e maior problema da gestão federal tem nome e sobrenome. Chama-se Dilma Roussef. A simples retirada dela do mapa politico nacional já garante um recrudescimento da confiança, do otimismo e da esperança, enfim, tudo que ela não inspira.

Se não estancarmos com o impeachment essa sangria diuturna na nossa tolerância e boa fé, ainda nos resta a bala de prata no TSE. E aí quem estiver na Presidência da Suprema Corte assumirá a Presidência da República para num amplo acordo convocar uma Constituinte exclusiva para as reformas indispensáveis ao rearmamento moral da Nação. Respeitados os direitos já consagrados em cláusulas pétreas.

Edson Vidigal

Reduzir meta fiscal destrói a economia

O Ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse hoje, em audiência pública no Senado, ser essencial para a recuperação da economia que o Governo tenha uma atuação ativa e pujante através de gastos públicos. De acordo com o orçamento proposto pelo Governo na modificação da LDO de 2016, o Governo poderia rodar com déficit primário de 97 bilhões de reais.

Agora vamos recapitular a atuação do Governo Dilma nos últimos anos.

Em 2014, tivemos uma revisão de meta para um déficit primário de 34 bilhões de reais, com resultado de déficit nominal de 120 bilhões de reais.

Em 2015, tivemos uma revisão de meta para um déficit primário de 119 bilhões de reais, gerando um prejuízo final de 497 bilhões de reais.

Agora, em 2016, o Governo projeta, em março, um défict primário de 97 bilhões de reais, para um provável resultado final de prejuízo de 420 bilhões de reais.


Se considerarmos que as metas pioraram ao longo dos anos anteriores, não poderemos estranhar se o Governo revise essa meta, em dezembro, para um déficit primário de mais de 200 bilhões de reais. Estaria o Governo buscando um resultado final com que nível de prejuízo? 700 bilhões? Um trilhão?

Agora vamos ver os resultados dessa política de gastos. Em 2014, estagnação de 0,1% de “crescimento” do PIB. Em 2015, encolhimento de 3,6%. Para 2016, projeção de 4% negativos. Parece que essa política, pelos próprios números, não é boa.

E isso ocorre porque não é gasto público que aumenta riqueza. O que cria riqueza é um ambiente seguro de negócios, com instituições sólidas, governo estável e responsável, poupança nacional robusta que suporte aumento dos investimentos e abertura comercial.

É exatamente o contrário de tudo o que esse Governo produz. O aumento de gastos públicos arrebenta com todos os quesitos citados para pujança econômica, fazendo do país uma terra inóspita para investimento.

A crença keynesiana no efeito multiplicador do gasto público multiplica consumo insustentável no curto prazo, falta de investimento no médio prazo e colapso econômico no longo prazo.

E aí é como o próprio Lord Keynes diz: “no longo prazo, todos estaremos mortos”. Com esse tipo de pensamento, fica claro quem foi o genocida que matou a todos.

Comícios 'oficiais' atestam isolamento de Dilma

Pela terceira semana consecutiva, Dilma Rousseff transformou em comício uma cerimônia oficial realizada nas dependências do Palácio do Planalto. Coisa relacionada ao programa Minha Casa, Minha Vida. Com o prestígio de Dilma às moscas, o cerimonial da Presidência viu-se compelido a providenciar uma plateia companheira, composta de militantes petistas e ativistas de movimentos sociais.

O coro de “não vai ter golpe” voltou a ecoar no salão principal do Planalto. O vice-presidente Michel Temer, a OAB e até o juiz Sérgio Moro foram brindados com gritos de “golpistas”. Tudo isso num dia em que o Ibope trouxe à luz pesquisa que acomoda a desaprovação a Dilma na casa dos 69%. Pior: oito em cada dez brasileiros não confiam em Dilma e desaprovam o modo como ela governa o país.

Num ambiente assim, os comícios palacianos de Dilma, custeados pelo contribuinte, talvez ofendam a maioria dos brasileiros em dia com o fisco. De resto, constituem um erro primário. Dilma ainda não se deu conta. Mas, ao discursar apenas para devotos, oferece semanalmente ao noticiário comprovações cenográficas do seu isolamento.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Irmãs siamesas

Quem ainda pensa e age conforme esquerda ou direita merece ouvir que está destratando o cérebro, cego para os fatos e caminhando sem chão.

Para o general Golbery, esquerda e direita eram como pontas de ferradura que, embora se achando opostas e distantes, são próximas e semelhantes. E o tempo mostrou que são irmãs siamesas – iguaizinhas, embora inversas.

A esquerda quer nos levar para um futuro que nunca existirá, como provam todos os regimes socialistas, fracassados econômica e moralmente, depois de produzir dezenas de milhões de vítimas com suas revoluções num século. A direita, em séculos anteriores, fez o mesmo com suas monarquias, guerras imperialistas e coloniais ou ditaduras, e ainda insiste em querer nos vender a ideia de um belo passado que nunca existiu (aliás, quem quer a volta dos militares devia conversar com eles para saber que só querem ser guardiões da Constituição e da soberania nacional, como é seu dever, e só).

A direita tomou o poder pela força no Brasil, instalando ditadura, e a esquerda queria tomar pela força o poder, para instalar ditadura. Tomando o poder em nome da ordem ou do povo, no poder direita e esquerda igualmente sempre praticaram censura, policialismo, corrupção, populismo e desgoverno, inchando Estados sempre mais custosos que produtivos.


A atual crise é resultado e evidência de que o Estado, na mão da esquerda ou da direita, nunca poderá ajudar gente ou gerar prosperidade se não se consertar antes, dando exemplo de probidade e produtividade, dois pilares que ambas primam por ignorar.

Suas visões são sempre parciais, como quem enxerga com um olho só e, portanto, sem perspectiva. Não veem que, graças a Marx e suas decorrências, o capitalismo se socializou. Empresa que hoje destratar seu pessoal, ignorando seus direitos sociais, quebra ou é fechada.

O lucro foi, depois da linguagem, a mais consequente invenção; ambas erguendo as civilizações, com o lucro se socializando já no nascimento, pois só conseguiam vigorar as moedas garantidas por Estados, portanto já com impostos embutidos – que, se inicialmente eram apenas para manter os Estados e seu aparato fiscal, militar e policial, agora sustentam serviços públicos essenciais para a sociedade.

Há apenas meio século, eu, menino, tinha “irmãs de criação”, resquício pós-escravidão. Não existiam creches, mulher cuidava só de casa, faculdade era só para ricos, homossexuais eram “veados”, enquanto lésbicas se escondiam e deficientes eram escondidos – e, se alguém dissesse que o governo ia dar bolsa para as pessoas apenas sobreviverem, seria chamado de louco. Vivemos social-democracia em evolução, apesar da resistência elitista da direita e dos delírios populistas da esquerda.

À sociedade produtiva, que com os impostos resultantes de suas empresas e salários sustenta o Estado, pouco ou nada importa que os governantes se digam de esquerda ou de direita. O trabalhador, seja empregado, empresário ou autônomo, sabe que todos cometerão os mesmos erros e a sociedade pagará a conta. E o mais triste é ver que eleições só servem para perpetuar esse sistema, enquanto persistir o atual modelo político e seu Estado de privilégios.

Como, infelizmente, essa situação é resultado da ação predatória de esquerda e direita, e também da omissão da sociedade, só podemos confiar no poder restaurador da crise para chacoalhar o barco, trocar a tripulação e o modo de navegar – se a sociedade participar e exigir. Enquanto isso, esquerda e direita siamesamente só falam e tratam do poder, não de reformas, que é do que o Brasil precisa para ir nem para a direita nem para a esquerda, mas em frente.

Domingos Pellegrini

Mandamentos

A coisa segue assim, você começa a fazer reparos na conduta de um amigo comum. Eu tento mudar de assunto, mas logo eu “entendo!” e você e eu passamos a ver defeitos do amigo que, ao chegar, é alegremente saudado com a observação honesta, segundo a qual, ele não morre tão cedo, pois estávamos justamente falando dele!

– Em seguida, comentamos o livro de um outro amigo. Todos concordamos que se trata de marxismo vulgar. Somos todos marxistas?

– Claro que não! Mas sabemos que as pessoas são maiores que a vida e, por isso, também apreciamos alguns neofascistas carimbados, salientando, com veemência, que não somos fascistas. Apreciados, com os devidos limites, lógico, e incestuosos ladrões do Brasil, mas seria tolice entrar nesse assunto...

– Vale acentuar como moldamos nossas opiniões mais em pessoas do que em instituições. Com isso, entrar é fácil, sair é difícil – somos presos pelo favor. Fabricados em famílias e não em escolas, conventos, oficinas, quartéis, partidos e universidades, fomos treinados a seguir ordens, respeitar os mais velhos e a tomar o nosso grupo de “sangue” como imperativo. Jamais vi alguém de família nobre deixar de invocar a sua linhagem aristocrática. Mesmo em situações formais, o laço de amizade é mencionado. Quando se diz: parei de falar com Fulano ou Sicrana, colocando-os no gelo, o sujeito deixa de ser uma pessoa e torna-se um condenado. Pior do que a prisão é o exílio – a exclusão do grupo.

– O Brasil tem pouco espaço para indivíduos autônomos, que não fazem pedidos ou são parte de uma “turma”. Ele se subdivide numa vasta rede tribal de puxa-sacos de narizes sujos, cujo cordão tem como objetivo solicitar empenhos, visando a tirar vantagem de tudo. Convenhamos que não é fácil conter esse melado de relações no qual muitos se lambuzam mais por amizade do que por convicção. A prova, hoje em dia, é saber se a lei vai vencer o “sabe com quem está falando?” dos amigos no poder.

– Se um amigo demanda, não negamos! O mandamento ou o credo nacional é essa solidariedade chamada de “política” na qual vale tudo, inclusive o axioma segundo o qual a lei (ou a institucionalidade) deve ser aplicada somente para os inimigos. Ora, se a justiça está sempre com os amigos, como levá-la a sério? Se tudo tem um interesse e uma segunda versão, como resolver as crises? Se a honestidade é contextual e depende mais de quem faz do que foi feito, entramos num poço sem fundo. Pois todo sistema tem um limite e o nosso tem um problema: só os subordinados e os adversários têm fundo. O céu é o limite para os superiores e os poderosos. Somos aristocráticos sem saber...
*
Tudo isso ocorreu nesta sempre lembrada Sexta-Feira Santa da minha juventude de Juiz de Fora, quando os sermões apocalípticos do padre Olavo faziam o céu escurecer. Nesta última semana, a roda no velho Bar do Soares refrescava a preocupação com a crise nacional. Um garçom sem nome trouxe um sanduíche de presunto, o qual recusei com um severo “não se come carne nesse dia!”. Uma admoestação que saiu, sem eu sentir, de dentro de mim.

Confrontado com os meus limites, enxerguei como o Brasil era mestre na criação de paradoxos morais como a violência e também as intimidades entre senhores e escravos, entre pobres e ricos; e com os populismos narcisistas, segundo os quais todos ganham e ninguém perde. O governo tem mistificado. Tira partido da nossa confusão entre leis e éticas. Algo me diz que isso tem a ver com os velhos mandamentos, que regravam costumes e leis. O fato é que como jamais discutimos o peso dos cargos públicos sobre a vida particular das pessoas – e pouco politizamos o nosso vezo aristocrático revelado nas leis de prisão especial, no direito de recorrer de sentenças e no imenso poder do Estado que mistura interesses universais com os do governo (que é de partidos e pessoas) –, criamos alergia ao igualitarismo. Ser igual sempre foi, e continua sendo, ser inferior. O foro privilegiado é uma figura antidemocrática. Se assim não fosse, teríamos restrições para eleitos e eleitores como queriam (e até hoje querem) os reacionários.

Olhei em volta. É Sexta-Feira Santa, pensei novamente. Neste dia, um cara exilado do mundo moderno chamado Cristo estava se intrometendo na minha vida de ateu. Um sangue novo fazia pulsar o meu coração. Não, não poderia ser o sangue que Ele derramou por todos nós. Será que os nossos sangues estavam misturados? Eu devia estar de porre. Afinal, como diziam Chesterton e Graham Greene, acreditar nisso era uma causa perdida.

Lula e o PT vão mesmo incendiar o país se houver impeachment?


Com as evidências de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff se tornou um rolo compressor e não pode mais ser evitado, sabe-se que o governo e o PT vão esboçar reações. Há três semanas, Lula indiretamente ameaçou incendiar o país, ao proclamar que é o único líder político capaz de levantar o povo. E ninguém tem dúvidas sobre isso, realmente ele pode causar uma comoção social, mas espera-se que tenha juízo e não o faça.

Apesar de Lula não ter tocado mais no assunto, as ameaças continuaram, a partir das declarações de dirigentes petistas e de líderes dos chamados movimentos sociais, que estão sob controle direto do PT ou de partidos aliados, como o PCdoB.

O fato concreto é que o Brasil se tornou paraíso das centrais sindicais e dos movimentos sociais, que são mantidos com recursos públicos oriundos da contribuição sindical obrigatória ou desembolsados diretamente pelos governos federal, estadual ou municipal, que aprenderam a usar organizações não governamentais para montar rentáveis esquemas de corrupção, com destaque para as chamadas organizações sociais, que se multiplicam como pragas.

É neste contexto de corrupção político-social que se arma a reação contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, com o presidente do PT, Rui Falcão, ameaçando desestabilizar o país.

Guilherme Boulos, que coordena para o PCdoB o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a Frente Povo sem Medo, que congrega diversos movimentos sociais, também fez grave advertência na semana passada. Sem meias palavras, avisou que, se for efetivado o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff ou decretada a prisão de Lula, o país será “incendiado” por greves, ocupações e mobilizações. “Não haverá um dia de paz do Brasil”. acentuou.

“Podem querer derrubar o governo, podem prender arbitrariamente o Lula ou quem quer que seja, podem querer criminalizar os movimentos populares, mas achar que vão fazer isso e depois vai reinar o silêncio e a paz de cemitério é uma ilusão de quem não conhece a história de movimento popular neste País. Não será assim”, ressaltou.

É óbvio que os militares estão acompanhando essas ameaças e bravatas. O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, já deixou claro que as Forças Armadas só pretendem interferir se forem acionadas por algum dos três poderes (Executivo, Legislativo ou Judiciário), conforme determina a Constituição.

É a melhor saída. Até mesmo porque não há outro caminho, e isso significa que as instituições estão fortalecidas. Portanto, a democracia há de seguir seu curso. E como dizem os cristãos, que assim seja.

A oligarquia depenou o PT

O PMDB nunca pensou, não pensa em sair do governo e sente-se ofendido se alguém admite essa hipótese. Quem corre o sério risco de sair do governo é o PT. O partido que foi de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves e hoje é de Eduardo Cunha e Renan Calheiros quer apenas tirar uma licença de alguns meses, até o início do governo de Michel Temer, seu atual presidente.

A ideia de que o PMDB resolveu sair do governo não tem nexo nem propósito e destina-se apenas a esconder um objetivo. Os doutores querem que se creia que nada têm a ver com a ruína e pretendem retornar ao poder como se Michel Temer fosse o sucessor constitucional da senhora Rousseff por ocupar a vice-presidência do Flamengo, não a da República, eleito por duas vezes, sempre compartilhando a chapa.

O PMDB sai do governo para continuar no poder, dando esperanças a oposicionistas que não tiveram votos e a todos os gêneros de maganos tementes da Operação Lava-Jato. Ninguém sabe quais são os planos dessa coalizão para um eventual dia seguinte à posse de Temer, mas seu objetivo essencial está claro: trata-se de desossar a Lava-Jato.

A armação oligárquica precisa sedá-la, pois há barões na cadeia e marqueses temendo a chegada dos homens de preto da Federal.

O PT e Dilma reagiram às investigações das ladroeiras com uma conduta que foi da neutralidade-contra à pura hostilidade. Se hoje a rua grita o nome do juiz Sérgio Moro e pede “Fora PT”, isso se deve em parte à incapacidade dos companheiros de perceber que se tornaram fregueses num jogo viciado.

O comissariado acorrentou-se à própria falta de princípios. Desprezou a lição trazida pelas sentenças do mensalão e achou que pularia a fogueira do petrolão. A cada um desses lances de soberba jogou n’água uma parte de suas bases populares. Confiando na própria esperteza, foi para um carteado com jogadores profissionais e um baralho viciado. Os oligarcas depenaram-no. (Refresco para a crise: Quem quiser pode ver “Cincinatti Kid”, com Steve McQueen e Edward G. Robinson num de seus melhores momentos. Nessa mesa o baralho era honesto.)

Sem cartas, Lula compara-se a Getúlio Vargas e seu comissariado grita “Golpe”. Tudo parolagem. Getúlio foi encurralado por uma rebelião militar a partir de um caso em que membros de sua guarda pessoal tentaram matar o principal líder da oposição. Getúlio era um homem frugal. Ao contrário de Lula, nunca teve apartamento na praia e sua fazenda vinha de herança familiar. Não pode ser golpe o cumprimento de um dispositivo constitucional seguindo-se o ritual da lei, sob as vistas do Supremo Tribunal.

Resta uma questão: as pedaladas fiscais não seriam motivo suficiente para o impedimento de um presidente. Além das pedaladas, há sobre a mesa otras cositas más. Admita-se que essas cositas fazem parte de outro processo. Na atual etapa, tudo desemboca numa questão político-aritmética: a Câmara só poderá decidir a abertura do processo contra a doutora pelo voto de dois terços mais um de seus deputados. Como Dilma, eles foram eleitos pelo povo, e a Constituição diz que é deles a decisão nessa fase do julgamento. Sem os dois terços, não haverá impeachment. Com eles, haverá. Ademais, era nesse Congresso que o PT cevava sua maioria, a famosa base de apoio.
Elio Gaspari

Lei & Ordem

Os fatos acontecem à velocidade de um raio e dissipam ilusões quanto à capacidade da presidente Dilma Rousseff construir um mínimo de apoio no Parlamento para barrar o processo de impeachment.

Soma-se a isso a absoluta impossibilidade de reverter o sentimento amplamente majoritário de repulsa ao seu governo.

O desembarque do PMDB e seu efeito cascata são evidências de que o projeto de poder do lulopetismo está vivendo seus estertores.

Só lhe resta uma última e desesperada manobra: exacerbar até não poder mais o clima de radicalização e confronto para ganhar sobrevida ou para se preparar para o amanhã, se tiver de ir para oposição.

Assim sendo, o lulopetismo procura criar a imagem de que está em curso uma ruptura democrática e ameaça um day after no qual o país ficaria em chamas, no caso do impeachment da presidente.

É pura guerra psicológica diversionista. Estamos longe de uma “guerra civil” ou da iminência de um desvio de rota do Estado de Direito Democrático. As instituições republicanas têm se pautado conforme determina a Constituição. Excessos eventualmente cometidos foram corrigidos pelos próprios mecanismos de freios e contrapesos da democracia.

As manifestações, por sua vez, têm sido, na sua maioria, ordeiras e pacíficas. Assim se pautaram os seis milhões de brasileiros que foram às ruas no dia 13 de março.
E é assim que tem de ser. Na lei e na ordem.

No ordenamento democrático, todos, absolutamente todos, podem dar sua opinião sobre se há, ou não, motivos para o impeachment. Podem fazer manifestações contrárias ou favoráveis ao impedimento da presidente.

A apreciação da matéria, contudo, cabe, de forma privativa, ao Congresso Nacional, observados os trâmites definidos pelo Supremo Tribunal Federal. Serão a Câmara e o Senado que farão o julgamento do impeachment. Para isto têm inteira legitimidade. A Suprema Corte, se provocada, se pronunciará, mas provavelmente para verificar se o rito processual esteve em sintonia com a Constituição.
Simples assim.

Mas, por ideologia ou má fé, setores da nossa intelectualidade alardeiam que estamos vivendo situação semelhante à de 1964 e a própria presidente assume o mesmo discurso, na sua estratégia de vitimização. Até certo ponto, e até certo grau, entende-se tal comportamento.

Há em parte da esquerda brasileira uma cultura maniqueísta, de dividir o mundo entre os bons e os maus, de se achar depositária da virtude, de acreditar que os fins justificam os meios. Em nome da causa, vale tudo.

Vale fazer vista grossa à corrupção praticada para perpetuar um projeto de poder. Vale a relativização dos valores da democracia, se tais valores forem violentados pelos chamados governos populares. 

O lado mais ideológico do lulopetismo nunca engoliu muito bem este negócio de presidencialismo de coalizão. Nunca enxergou os partidos aliados como parceiros de um projeto. Ao contrário, viam como um estorvo, cujo apoio poderia ser comprado. Por dinheiro ou por repartição do butim ministerial.

O condomínio PT-PMDB, com seus partidos satélites, baseou-se na desconfiança mútua, no desejo irresistível de um jogar o outro no mar, quando chegasse a hora.
E a hora chegou.

Com cinquenta anos de janela, os “profissionais da política” foram mais rápidos. Pularam fora do Titanic, deixaram Dilma a ver navios.

Ainda não é possível descortinar como serão os últimos capítulos do lulopetismo no poder. Certamente, o país viverá momentos de sobressalto e de tensão, até o desfecho desta novela.

Acreditamos nas instituições e em um final feliz. E torcemos para que a lei e a ordem continuem falando mais alto.

PT criticava no julgamento de Collor o fisiologismo ressuscitado sob Dilma

Incorporado à base congressual dos governos petistas desde a gestão Lula, Fernando Collor foi alvo de ataques implacáveis do PT durante a tramitação do processo de impeachment que o arrancou do Planalto em 1992. As críticas eram mais ácidas quando se referiam à principal arma de resistência de Collor: o fisiologismo. Decorridos quase 24 anos, Dilma lança mão da mesma artilharia para tentar salvar o seu mandato. A diferença é que, agora, o PT já não acha o fisiologismo tão execrável.



“Não devemos dar como ganha a batalha do impeachment, porque o governo não vacila em reunir ao seu redor o núcleo fisiológico e corrupto que sempre o sustentou, utilizando-se de verbas, cargos e Ministérios para conseguir 168 votos nesta Casa e arquivar o pedido de impeachment”, discursou o então deputado José Dirceu (PT-SP), do alto da tribuna da Câmara, em 1º de setembro de 1992.

Hoje, Dilma precisa de 172 votos para barrar o seu impedimento. No esforço para obtê-los, radicalizou a tática do fisiologismo. Já não negocia apenas com as cúpulas partidárias. Abriu um varejão em que as emendas orçamentárias e os cargos são ofertados em negociações individuais. Estima-se que o rompimento do PMDB com o governo, formalizado nesta terça-feira, levará para esse balcão algo como 500 cargos federais. Uma farra.

Preso em Curitiba, o Dirceu de hoje talvez tenha saudades do deputado combativo que foi em 1992. “O presidente mente ao país, devendo, por isso, responder por crime de responsabilidade”, dizia o ex-Dirceu. “É urgente que o presidente da República seja afastado do seu cargo pela Câmara dos Deputados e julgado pelo Senado Federal. Só assim poderemos recompor a unidade político-partidária e as funções político-administrativas do governo.”

Imaginava-se que o impeachment de Collor e a posse de Itamar Franco —o Michel Temer daquela época— entrariam para a história como marcos redentores da política nacional. Mas deu tudo errado. Hoje, suprema ironia, Dirceu e Collor coabitam o mesmo escândalo. Patronos de algumas das nomeações de petrogatunos efetivadas no governo Lula, os dois são protagonistas do petrolão. Uma evidência de que, com o tempo, o vocábulo governabilidade, cultuado por todos os governos do Brasil pós-redemocratização, tornou-se um abracadabra para a caverna de Ali-Babá.

Na mesma sessão do dia 1º de setembro de 1992, discursou o então deputado José Genoino (PT-SP). Ele ecoou o companheiro Dirceu, carregando nas tintas morais: “A sociedade tem de optar entre os que querem acabar com a impunidade e os que querem que ela continue prosperando debaixo dos conchavos, das negociatas que levaram o país a esta decadência ética e moral.”

Genoino é, hoje, um ex-integrante da bancada do PT na penitenciária da Papuda. Trancado nos rancores que colecionou durante o processo do mensalão, tornou-se um ex-deputado recluso. Naquela época, ele dava as mãos ao asfalto: “Aqueles que querem fazer a cirurgia, independentemente de partido, têm de se juntar aqui dentro e nas ruas, para que a sociedade brasileira, que espera uma solução democrática e constitucional para esta crise, não venha a frustrar-se. Se a esperança desta juventude, que brotou das ruas, for sacrificada por algum jeitinho para manter este governo, estaremos sacrificando uma geração, estaremos sacrificando uma possibilidade histórica neste país.”

Na sessão de 22 de setembro de 1992, outro petista de mostruário, Paulo Rocha (PT-PA), escalou a tribuna da Câmara para metralhar a tática fisiológica de Collor: “…Os governistas continuam apostando na compra de votos, através da distribuição de recursos da União a fundo perdido e da intermediação de verbas a Parlamentares, para a rejeição do impeachment. Não podemos nos calar diante desse vergonhoso saque nas instituições públicas, dentro da lógica mais espúria do fisiologismo.”

Dias antes, em 9 de setembro, Paulo Rocha, hoje um membro da bancada de senadores do PT, pedia pressa no julgamento de Collor: “…Este Congresso não pode mais esperar. O povo brasileiro está impaciente, angustiado, porque, além da crise política, está passando, por uma situação difícil. Os mais pobres estão em desespero.''

O Brasil retratado no discurso de Paulo Rocha também arrostava problemas econômicos: “…O país está parado. Qual a perspectiva de futuro para o nosso país? Qual a resposta das instituições brasileiras para a situação do Brasil? A resposta está aqui, no Congresso Nacional, em nossas mãos. […] Só aqueles que vivem do favorecimento, só aqueles que vivem mamando nas tetas da coisa pública, insensíveis, desonrados, traidores, não escutam o clamor da sociedade. Portanto, urge que este Congresso dê ao Brasil uma resposta política para as crises econômica e social. E, mais ainda, que dê uma resposta aos anseios da sociedade pela volta da moralidade na administração pública…”

A exemplo de Dilma, Collor também acusava os partidários do impeachment de golpistas. Dizia que eles integravam um “sindicato do golpe”. Na mesma sessão do dia 9 de setembro de 1992, o petismo contou com a ajuda de um velho aliado, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), para se contrapor à pregação de Collor.

Aldo, hoje ministro da Defesa de Dilma, realçou na época que o processo de impeachment guiava-se pela Constituição. E lembrou que o texto constitucional é especialmente generoso com o acusado: “Quanto ao prazo para o direito de defesa do presidente da República, está este mais do que assegurado. Querem melhor proteção, querem mais democracia, querem mais direito de defesa do que esta Casa precisar de dois terços de seus votos para autorizar processo contra um corrupto? Para que mais proteção? Para que mais democracia? Para que mais direito de defesa? Para garantir a absolvição de um cidadão evidentemente envolvido em falcatruas?”, indagou Aldo.

Ele prosseguiu: “Os senhores precisam de apenas um terço para negar e nós precisamos de dois terços dos votos desta Casa para autorizar o Senado Federal a processar o Presidente da República. Então, que se calem essas vozes da inquietude da intranquilidade, porque democracia aqui existe e está assegurada pelo quórum e pelo supremo direito de defesa que esta Casa e o Senado Federal haverão de assegurar ao Excelentíssimo senhor presidente Collor de Mello.”

Também presente à sessão, José Dirceu deu de ombros para os que enxergavam golpe no impeachment: “…Se querem protestar, que protestem contra a Constituição e contra o constituinte que estabeleceu apenas a autorização para esta Casa. Além disso, o senhor presidente da República tem o direito da defesa prévia na admissibilidade. E esta Casa, também com base na Constituição de 1988, concedeu ao presidente Fernando Collor um direito que presidente de país nenhum tem: Sua Excelência só poderá ser processado e julgado pelo Senado da República depois da autorização de um quórum ultraqualificado de dois terços de Deputados.”

Oito dias antes, José Genoino soara ainda mais peremptório no plenário da Câmara: “Está provado que aquele que se elege não está acima das leis e da Constituição; se cometer crimes contra a lei ou a Constituição, aqueles que o elegeram podem lhe tirar o mandato.”

Tem que ter companhia

A Justiça tem um papel nesses processos contra corrupção, papel relevante. Sozinha, ela não consegue resolver o problema. Precisa que outras instituições operem, que a sociedade se mobilize para cobrar, as empresas privadas precisam se auto-organizar para evitar pagamentos de corrupção
Sérgio Moro

Depois do fora do PMDB, Dilma acorda com cara de quem foi demitida por justíssima causa

Nos últimos 12 meses, a cada dia útil, 20 fábricas morreram e 13.100 brasileiros foram demitidos. No segundo semestre deste ano, passarão de 13 milhões os trabalhadores desempregados. Com a recessão entrando no quarto ano consecutivo, a inflação ultrapassa altitudes fixadas por um governo sem rumo, sem vergonha e sem sequer um esboço de política econômica.

Essas constatações desenham com apavorante nitidez a herança maldita que Lula pariu, Dilma embalou e a dupla de farsantes continua tentando esconder. Tarde demais, reafirmou nesta terça-feira o estrondoso “tchau, querida” que a ainda presidente ouviu do PMDB. Ela reiterou que não tem cara de quem renuncia. Vai acordar amanhã com cara de demitida por justíssima causa.


Sem saber se a posse na chefia da Casa Civil e o foro privilegiado chegarão primeiro que outro depoimento na Polícia Federal e mais uma bordoada da Lava Jato, Lula mandou o piloto do jatinho emprestado por um empreiteiro amigo em algum lugar do passado. Condenado à aposentadoria compulsória, segue urdindo espetaculares tramoias em parceria com ex-aliados que agora fogem de seus telefonemas.

Abandonado pelo PMDB, prestes a chorar a partida do PP e do PR, os embusteiros ainda no poder se recusam a admitir que chamam de “base governista” acabou. O governo entrou na derradeira etapa da agonia irreversível. Em coma profundo, respira por instrumentos. A morte política foi consumada neste 29 de março. Falta pouco para a remoção do poste que há cinco anos escurece o país.

O PT e o comprovado ódio à democracia

Não pensem que a promessa do PT e seus satélites de criar o inferno na terra se a presidente Dilma for impichada e Michel Temer assumir a Presidência é só uma reação intempestiva de quem está prestes a perder uma boquinha fabulosa.

Para ficar na máxima de Polônio sobre Hamlet (Shakespeare), isso não é loucura. É método mesmo.

Quando foi que Lula e seus sequazes acataram a alternância de poder? Ora, a frase que nega, por excelência, a democracia e a história é aquela que virou um bordão de Lula, não é mesmo? “Nunca antes na história deste país.”

O “nunca antes”, de saída, elimina a existência da história. Para Lula, os eventos se dão sem condicionantes prévias, sem contexto, sem escala evolutiva, sem nada.

Assim como a deusa da sabedoria, Palas Athena, foi parida abrindo-se a cabeça de Zeus, Lula deu ao Brasil tudo o que há.

A arrogância do demiurgo é tal que ele julga nos ter dado até um passado. Ou ele não voltou a dizer a sindicalistas há dias que o PT está no poder “há só quatro mandatos”, enquanto seus adversários estão por aí há mais de 500 anos?

Não! Não pensem que os petistas estão agastados com o impeachment em si. Eles nunca aceitaram nem mesmo perder eleições.

O que foi a campanha escandalosamente mentirosa de 2014? Se Aécio Neves vencesse, adeus programas sociais! Se Marina ganhasse, não haveria bife no prato dos brasileiros. Em qualquer dos casos, os juros iriam para a estratosfera, a inflação dispararia, o desemprego cresceria, e os pobres seriam punidos. A tudo isso, o PT chamava “retrocesso”.

Retrocesso só das ditas conquistas sociais? Não! Retrocesso da democracia. Ou por outra: a vitória do adversário implicava, segundo os valentes, a perda de direitos sociais e o rebaixamento da cidadania.

O que isso quer dizer? O óbvio: ódio à democracia. Nós todos sabemos do que são capazes para vencer eleição. Um deles já vocalizou que, na disputa eleitoral, feio é perder. A própria presidente Dilma, então candidata, admitiu que, durante a disputa, “faz-se o diabo”.

O PT apela ao diabo para continuar incrustado no estado. Esse é o fato. Chama agora de golpe o que antes chamava de retrocesso.

Em qualquer dos casos, o que há é ódio à democracia. Puro e simples.

Trocando seis por meia dúzia

Com o PMDB e penduricalhos caindo fora, a pergunta que se faz é como ficará o governo do PT. Ainda mais se nesse curto espaço de tempo a presidente Dilma vier a sofrer o impeachment. Há quem suponha o desmonte das estruturas que vinham até pouco sustentando os companheiros e seus cada vez mais diminutos aliados.

Existem momentos na vida das nações em que se torna necessário recomeçar. Este pode ser um deles. Adianta muito pouco, ou pode não adiantar nada, seguir com planos, projetos, ideias e pessoas que começaram a falhar faz muito, mas, de um dia para outro, desapareceram. Por onde anda a presidente Dilma? E seu partido? Seus ministros, o gato comeu?


Até o Lula parece haver desaparecido. Um vazio sem limites cerca não apenas a capital federal, mas o país inteiro. Vale indagar onde se encontra o proletariado. As forças produtivas. A classe média. A juventude e a velhice?

Todos viram-se atingidos pelo desemprego, a alta do custo de vida, a inflação, a estagnação econômica e a falta de projetos de desenvolvimento. Os serviços públicos.

Deixada sem passado, a nação perdeu o futuro. Não poderia dar em outra coisa: o vazio. A ausência de um roteiro capaz de preencher necessidades e sonhos. Nem eleições poderiam ocupar o espaço. Muito menos partidos. Sai Dilma, entra Temer. Equivale a trocar seis por meia dúzia.

A pergunta é sobre onde erramos, ainda que poucas vezes tenhamos acertado. Não se trata de encontrar ideologias, muito menos planos fantasiosos. Tanto faz esperar ilusões. O trabalho poderia suprir desilusões, se nele pudéssemos acreditar. Ciência e sabedoria passam ao largo.

Em suma, só e abandonada, tornamo-nos uma nação sem ter no que e em quem acreditar. É o resultado da falta de homens e de ideias, do deserto que viramos.

Campeão de infanticídio


Ao menos 6 crianças são mortas ou feridas por dia no conflito no Iêmen, revelou a Unicef, e virou manchete na mídia. Aquele país da península árabe está em guerra há um ano. No Brasil, segundo dados da mesma entidade ligado a ONU, no ano passado, 28 crianças e adolescentes foram assassinados por dia. Não foi manchete nem assunto para debate mesmo entre os tais intransigentes defensores dos direitos humanos.

Impeachment já e Lava Jato até o fim

Fala-se muito na necessidade de o governo reunir um terço dos votos de deputados federais para impedir que o processo da interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff suba no telhado convexo do Senado Federal. Esta conta, porém, não é correta. O governo não precisa do apoio de 171 deputados para prosseguir. Os defensores da aprovação do pedido de Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal pela Câmara é que precisam de 342 votos em plenário para retirar Dilma do governo.

As redes sociais têm exibido cenas de 1992, quando foi votado na Câmara o processo movido contra Collor, postadas por quem quer comprovar o óbvio de que hoje não há um golpe em marcha. Aciona-se, sim, um dispositivo constitucional que regulamenta o critério de afastamento de um presidente da República acusado de ter cometido crime de responsabilidade. Naquela ocasião, a deposição do chefe do governo só foi comemorada depois que Paulo Romano (PFL-MG) a avalizou, dando-lhe os dois terços exigidos do total de 502 deputados de então, ou seja, 336. Hoje, com 11 deputados a mais, a conta certa passou a ser 342.


Ou seja: na prática, quem faltar à sessão ou nela se abstiver votará contra a proposta de impeachment. Se algum deputado for visitar Papai Noel no Polo Norte ou participar de uma festa tribal zulu no Lesoto, a aritmética dos 171 não valerá mais. É útil lembrar que 24 deputados faltaram à votação histórica de 1992 e um se absteve.

A proposta foi aprovada por 441 votos, mais do que o necessário hoje. A conta que não muda é a dos dois terços, que resultarão no impeachment já, cada vez mais premente diante dos números catastróficos da economia e das providências descabias do desgoverno Dilma. Tais como desafios à lei e à lógica: a nomeação de Lula para a chefia da Casa & Covil, que está sub judice, as ameaças de guerra de hordas, que não têm mais a mesma força nem muito menos o mesmo apelo de antes, e tantas outras.

Outra questão que urge ser esclarecida é a da continuidade da Operação Lava Jato depois da posse do governo que completará o mandato de Dilma, se esta for impedida ou vier a ser deposta junto com o vice, Michel Temer, se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassar a chapa composta pelos dois na eleição de 2014. A imprensa e blogs bem informados estão cheios de vaticínios sombrios sobre a devassa feita em Curitiba pela força-tarefa da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF), sob o comando do juiz federal Sérgio Moro.

Notícias e opiniões confiáveis têm percebido que os burros que caíram n’água depois da limpeza feita no Estado italiano vergado sob o peso das revelações das relações íntimas e espúrias entre seus dignitários e bandidões da Máfia podem também cair aqui. A substituição do primeiro-ministro socialista Betino Craxi, que viveu seus últimos dias numa casa de veraneio em Hammanet, na Tunísia, longe da prisão, pelo magnata Sílvio Berlusconi entrou na ordem do dia. Como também entrevistas de agentes da lei ou especialistas que advertem para o risco de a Lava Jato terminar como a Mani Pulite (Mãos Limpas), inspiração de Moro.

O último alerta a respeito foi o vazamento (cuja autoria tem sido atribuída a insignes governistas e dirigentes da própria empreiteira acusada de corrupção) da planilha que compromete 279 políticos, candidatos ou não, de 22 – 63% – dos 35 partidos políticos autorizados a funcionar pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A intenção seria assustar todos para que a maioria dos ocupantes de cargos do desgoverno isolado que está para cair e dos membros do tal gabinete de união nacional, a ser composto para substituí-lo, aproveite-se do alívio do impeachment para retirar juiz, procuradores e policiais federais dos noticiários do dia para introduzi-los nos capítulos da história da República.

Enquanto isso não ocorre, os citados recorrem ao lero-lero de sempre. “É preciso separar o joio do trigo”, repete à exaustão o principal líder da oposição, senador Aécio Neves (PSDB-MG), que jogou no lixo o capital de votos que o levou ao empate técnico com a vencedora reeleita por comodismo, preguiça, falha de cálculo, ou, vai saber, por cumplicidade. De que trigo fala, cara-pálida? Afinal, ali só há joio.

Como nas boas investigações e nos romances policiais, aqui vale a questão romana do cui prodest: a quem interessa? A generosa, generalizada e indiscriminada doação da Odebrecht a políticos e partidos seria uma tentativa de obter indulgência plena, uma vaga no céu ou o protagonismo de um processo de canonização similar ao que guindou à santidade Madre Tereza de Calcutá? Parece-me mais provável que a empreiteira estivesse interessada nos préstimos dos políticos premiados. Ou sou eu o cínico?

Se, de fato, há na lista quem possa reivindicar a doação sem mácula, por que todos os listados tiveram seus nomes próprios substituídos por codinomes cômicos, como Viagra, Passivo, Carangueijo (sic) ou Lindinho? O mantra da doação legal cai por terra nas contas do Estadão Dados publicadas no jornal O Estado de S. Paulo: nas eleições municipais de 2012, a empreiteira doou legalmente R$ 38 milhões e as planilhas somam distribuição de R$ 72 milhões, quase o dobro. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), não declarou os R$ 3 milhões registrados na planilha alegando que a doação foi feita a seu partido. Seu adversário na disputa, José Serra (PSDB), também não detalhou como gastou os R3,2 milhões anotados na planilha. Não seriam estes indícios de que partidos políticos usaram a Justiça Eleitoral como lavanderia, o que agrava, não ameniza, o delito óbvio do Caixa 2? E o tiro de misericórdia em tais pretextos é o fato de, mesmo a doação tendo sido legal, se a origem do recurso tiver sido ilícita, a criminaliza.

O mais relevante em tudo isso é que a Nação não tem partido político ou bandido de estimação. Portanto, interromper a Lava Jato é crime de lesa-pátria, um tiro no futuro da Nação. Todo cidadão, interessado ou não no impeachment já de Dilma, deve exigir a Lava Jato até o fim.

O fim do governo ou o milagre da ressurreição

A esta altura dos acontecimentos, existem duas alternativas: o fim do governo Dilma Rousseff ou o milagre da ressurreição. Considerando-se que o estoque de milagres está escasso, a primeira opção parece ser o caminho natural.

Desde a vitória de Pirro, com a eleição de Leonardo Picciani para líder da facção governista do PMDB, nada aconteceu que pudesse aliviar a morte do governo. Somente uma sucessão de derrotas, equívocos e trapalhadas.

No início de março, tínhamos certeza de que os tempos da crise iriam se acelerar. E de que, provavelmente, entraríamos num processo irreversível de morte do atual governo. É o que está acontecendo. A cada dia, a sustentação da presidente Dilma se limita aos apaniguados de sempre, aos que vivem pendurados em verbas e cargos e defendem seu quinhão. Não têm voto nem discurso.


Nas últimas quatro semanas, não houve sequer uma notícia que significasse alívio ou esperança concreta de sobrevivência. Pelo contrário: nas próximas semanas, o governo deverá ser derrotado na Câmara, e a saída de Dilma se tornará realidade. A presidente está como um lutador de videogame que, a cada segundo, vê crescer o número de inimigos a seu redor. E, ao adotar um discurso bolivariano antigolpe, amplia o fosso com a sociedade e com o mundo político.

Paradoxalmente, o governo trabalha a favor do processo de impeachment ao criar essa narrativa de vítima, de desqualificação institucional do processo e, ainda, de alheamento às acusações de malfeitos, que se avolumam. Temos a impressão de que setores do governo, considerando a inevitabilidade do impeachment, fortalecem o discurso de saída (vítimas de um golpe) visando à reorganização de suas forças no “day after”. É a saída que resta.

O 12º pedido de impeachment, desta feita pela OAB, é mais um reforço. Mesmo que não seja, tecnicamente, incluído no processo em exame na Câmara, sua admissibilidade fortalecerá os argumentos contra o governo e a legitimidade do impeachment.

Líderes governistas que participaram da reunião semanal de coordenação política afirmaram que não veem nem liderança, nem coordenação para enfrentar os desafios. A presidente, à parte arrancos e crises de mau humor, não articula nem lidera. De forma caricata, sua defesa apenas reforça as razões de sua saída.

À medida que o balanço dos votos da Comissão do Impeachment vai somando a favor da oposição, cresce o noticiário a respeito das reuniões preparatórias do futuro governo focadas no plano econômico a ser executado. Na semana passada, o senador tucano José Serra, um dos políticos que têm dialogado com o vice-presidente Michel Temer – óbvio sucessor da presidente Dilma –, deu uma entrevista sugerindo providências prioritárias que precisam ser tomadas.

Na opinião dele, Temer deveria montar um governo de união nacional e se comprometer a não se candidatar à reeleição e não retaliar os adversários. Na economia, não apenas adotar medidas capazes de promover um ajuste fiscal, como realizar investimentos e cuidar de áreas sociais problemáticas, como a saúde.

As propostas estudadas pelo vice-presidente tomam por base o documento “Uma Ponte para o Futuro”, lançado pelo partido no fim do ano passado tratando de temas como reforma do Orçamento, privatizações e abertura comercial. Também estão em discussão revisão de gastos sociais, fim de subsídios, abrangência de programas sociais, mudanças na concessão de bolsas de estudos e propostas para melhorar o SUS.