quarta-feira, 11 de novembro de 2015

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O governo não consegue cortar na própria carne

Imagine a seguinte história de uma família: o pai e a mãe vivem acima de suas possibilidades, com carros de luxo, viagens caras, empregados em todos os cantos da casa, desperdícios de todo tipo. Um dia, os filhos descobrem que a situação econômica da família está em ruínas, que os pais devem mais do que possuem.


Incapazes de esconder a realidade, eles confessam aos filhos que não têm como pagar as dívidas acumuladas e que é necessário apertar o cinto. Como? Cortando despesas domésticas básicas, reduzindo tudo a uma economia de guerra.

Os filhos perguntam aos pais se eles também vão começar a fazer sacrifícios, a cortar na própria carne. Eles prometem que sim, mas depois de um tempo, enquanto exigem dos filhos cortes a cada dia maiores e sacrifícios como deixar de ir ao cinema, comer uma pizza fora de casa, vender a moto e até deixar de frequentar um curso de inglês, os pais pouco ou nada foram capazes de sacrificar. Continuam com seus luxos, viajando sem necessidade, saindo para jantar em restaurantes caros, sem abrir mão de um único dos seus numerosos assessores e secretários.

Agora eu pergunto: Qual seria a reação daqueles filhos naquela família? No mínimo, diriam aos pais: "Ou vocês cortam os próprios gastos, ou não têm o direito de exigir mais sacrifícios de nós. Depois que vocês nos tiverem dado exemplo de austeridade, voltem a falar conosco. Ponto".

Essa história lembra algo parecido ao que está acontecendo com a crise do Brasil?

O grito de guerra do Governo, ou quando não se atreve a gritar, as súplicas de joelhos ao Congresso para que usem tesouras e facas para cortar na carne dos contribuintes, aumentando impostos e renunciando a direitos adquiridos para fechar as contas – mesmo à custa de compromissos políticos inconfessáveis como o apoio de bastidores a Cunha – não parece com o que os pais esbanjadores da história exigiam dos filhos?


Os brasileiros também tinham pedido ao Governo que, posto que o país estava arruinado porque tinham feito gastos exorbitantes e administrado mal o país, antes de exigir mais sacrifícios, mais impostos e ajustes, ele começasse a dar exemplo cortando ministérios, cargos de confiança, salários milionários, gastos supérfluos, cartões de crédito corporativos, privilégios, carros de luxo e um longo etc.

Como os pais daquela família, o Governo também fez promessas de austeridade. Onde estão? Onde está o corte na própria carne? Quantos dos 39 ministérios (mais do que o que possuem Estados Unidos e Alemanha juntos) desapareceram? Quantos dos 23.000 cargos de confiança foram eliminados? Quem renunciou a privilégios adquiridos, às vezes escandalosos? Isso serve para o Governo e serve para o Congresso, este também com os bolsos furados e colecionador de privilégios.



Pouco ou nada foi visto, enquanto se torna cada vez mais exigente o pedido de ajuda aos cidadãos para que aceitem uma carga tributária maior, para que os trabalhadores renunciem a direitos do passado e para que se arranjem como puderem aqueles que estão perdendo seus empregos. Ou os milhares de jovens que a crise impede de continuar estudando por terem de voltar a trabalhar.

Alguém me pode dizer que são perguntas óbvias ou demagógicas. Então que os pesquisadores do IBGE saiam às ruas, que interroguem as pessoas comuns, das mais humildes às mais bem situadas, sobre o que pensam de um Governo e de um Congresso incapazes de cortar em sua própria carne e de renunciar a privilégios acumulados ao longo do tempo e dos quais não gozam a maioria dos políticos de países muito mais ricos do que o Brasil.

Que saiam à rua, que perguntem e que depois nos digam o que ouviram.

O jornal O Globo, em sua edição de domingo, fez isso entrevistando pessoas de todas as categorias e a resposta foi unânime. As pessoas afirmaram que o Governo não tem o direito de impor mais impostos enquanto continua desperdiçando e mostrando-se incapaz de limitar seus gastos.

A menos que queiramos acreditar que a culpa última pelo que o país sofre não é do Governo, mas dos trabalhadores, ou dos que deixaram a pobreza e entraram na classe média, que agora estão sendo acusados de terem se tornado perdulários que estão comendo até suas pequenas poupanças. Se estão fazendo isso é porque o salário já não é suficiente para chegar ao fim do mês.

É simples assim.
Juan Arias

A tática do medo ("Eu ou a fome")

No próximo dia 22 os argentinos vão eleger seu presidente, pela primeira vez, em um segundo turno. Este sistema é atraente, especialmente em sociedades que acreditam estar carregando um demônio em seu seio. O segundo turno induz à formação de uma maioria interessada em impedir que esse demônio chegue ao poder. Esses eleitores, diria Borges, não estão unidos pelo amor, mas pelo espanto.

Se tal demônio não existe, é preciso criá-lo. A mobilização de uma corrente triunfadora exige a construção de um consenso negativo sobre o adversário. É o que está fazendo o kirchnerista Daniel Scioli. Ele explica que se seu adversário Mauricio Macri ganhar, os beneficiários dos 12 anos de políticas distributivas irão perder o que foi conquistado. Para simplificar: a mensagem de Scioli é “eu ou a fome”.

Como explicaram anteontem em EL PAÍS Carlos Cué e Carla Jiménez, esta estratégia está inspirada na desenvolvida por Dilma Rousseff, há um ano, para conseguir a reeleição. Rousseff se apresentou como a heroína da justiça social, identificando seus concorrentes,Marina Silva e Aécio Neves, como uma regressão ao “ajuste neoliberal”, que significaria a perda das vantagens alcançadas. O argumento chegou a um extremo em um anúncio no qual o ex-presidente Lula advertia: “Você se lembra de que quando governavam os que querem governar agora você não tinha carro? Sabe por quê? Porque eles não querem que você tenha. Então, se eles ganharem, vão tirar o seu carro.” Muito sutil.

Para que a receita de Rousseff produza o mesmo resultado na Argentina, Scioli deve superar alguns desafios. Um tem a ver com sua situação eleitoral. Enquanto ela tinha conseguido no primeiro turno 41,61% dos votos, Aécio Neves ficou com 33,53%. Para vencer, ela precisava de menos de nove pontos. Por outro lado, seu adversário devia conquistar mais de 16. As expectativas sempre favoreceram Rousseff.

Por outro lado, Scioli, que achava que ia conseguir 42%, obteve 37,08. E Macri, que achavam que ia ficar com 30%, chegou a 34,15. Consequentemente, ambos devem fazer um esforço semelhante para alcançar a maioria. Além disso, a surpresa pelo resultado inverteu o sentido das apostas. De acordo com a consultoria Isonomía, no dia anterior ao primeiro turno 65% dos eleitores acreditava que o próximo presidente seria Scioli. Hoje, 55% acreditam que será Macri.

Scioli chega um pouco tarde. Tenta criar alarde com a possível perda de benefícios que a economia argentina já não oferece faz tempo

A outra dificuldade de Scioli para imitar Rousseff é a credibilidade de sua ameaça. Quando ela alertava para o risco de perder o que foi alcançado, o Brasil tinha uma taxa de desemprego de 6%, inflação de 6%, reservas monetárias equivalentes a 15% do PIB e taxa de câmbio estável. Ao contrário, Daniel Scioli levanta o mesmo alarme com um desemprego de 11%, inflação de 25%, as reservas equivalentes a 1,4% do PIB e um mercado de câmbio paralelo cuja diferença chega a 70% em relação ao oficial.

Scioli chega um pouco tarde ao tentar criar alarme com a perda de benefícios que a economia argentina não oferece há muito tempo. A atividade está estagnada há três anos. Com um agravante: ele deve seduzir especialmente os eleitores de Sergio Massa, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, conquistando 21,39% da eleição. Muitos são peronistas, mas estão desencantados. Já perderam o que tinham ganhado e culpam o governo por essa deterioração.

Seria um erro, no entanto, reduzir a proposta “eu ou fome” apenas a uma tática eleitoral. Essa abordagem baseia-se em uma concepção hegemônica da vida pública. Os projetos populistas consideram-se a personificação do interesse nacional. O outro não é uma alternativa eleitoral. É o inimigo do povo. O medo do outro excede a função proselitista. É uma condição de todo experimento autoritário.

Outra vez o chavismo é um espelho que exagera. Nicolás Maduro advertiu que, se perder as eleições legislativas de 6 de dezembro, “a Venezuela entraria em uma das etapas mais obscuras de sua vida”. Disse que passaria a governar “com o povo”, o que significa que aqueles que votarem contra ele não pertencem ao povo.

A crise do populismo na América Latina é agravada pela crescente incongruência entre a situação socioeconômica em declínio e o poema épico de seus líderes. No Brasil, essa divisão ficou exposta. Assim que reassumiu, Dilma realizou o ajuste que dizia ser o projeto de seus rivais. A mensagem foi implacável. Foi como se dissesse àqueles que votaram nela: “Agora sou eu quem vai tirar seus carros”.

Eduardo Cunha e a imprensa

Volta com força aos jornais a especulação em torno das movimentações de Lula para forçar a troca de Joaquim Levy por Henrique Meirelles. Seria só mais uma manobra diversionista. Joaquim Levy não é a crise, é só uma esperança abortada de saída dela.

A crise é a incerteza que instalou-se no país quanto à possibilidade de sobrevivência da democracia diante da desfaçatez com que, 24 horas depois da eleição, o governo que vinha se dedicando ha 12 anos a solapar todas as instituições que garantem o Estado de Direito pela corrupção sistemática e o “aparelhamento” ostensivo assumiu-se oficialmente como mentiroso e passou a ameaçar o país com um confronto – armado, até – caso fosse judicialmente responsabilizado por seus crimes.

Essa incerteza perdurou durante os seis meses que duraram as dúvidas do próprio PT sobre a possibilidade de levar a economia de volta a uma equação sustentável sem perder o poder. Desde que se convenceu do contrário e passou a reafirmar a rota de desastre e agir apenas e tão somente para colocar-se fora do alcance da Justiça essa incerteza só tem feito diminuir.

As “pedaladas” foram postas sob a guarda segura daquele senhor com certificação internacional de corrupção por cujas probabilíssimas contas no exterior o Banco Central não mostra nenhuma curiosidade; da Lava Jato ameaçam deixar só a casca para Curitiba; a acusação no TSE de uso de dinheiro do “petrolão” na campanha “caiu” de volta para a ministra que já tinha votado anteriormente pelo seu arquivamento que, confirmado, enterraria todas as provas levantadas pelo TCU e pela Lava Jato; a Operação Zelotes, que andou até o bolso do filho de Lula assim que saiu delas, voltou dois dias depois às mãos do mesmo juiz que, até então, mantivera seu interesse restrito às cercanias dos passageiros privados da corrupção patrocinada pelos chefões políticos dos agentes públicos.

Diante de tão completa coleção de sucessos – que confirmados configurariam já de si o fim do Estado de Direito – não é atoa que a pretensão dos acusados por roubalheira nunca antes tão vasta na história desta humanidade tenha evoluído para nada menos que “legalizar a corrupção”, projeto que, como Modesto Carvalhosa demonstrou com todos os fatos e números na 4a feira, 4, nesta página, vem avançando livre e aceleradissimamente.

Já as contas públicas, estas são um abismo que o governo torna mais fundo a cada dia distribuindo mais e mais postos de tocaia ao dinheiro público a gente desqualificada, declaradamente para aliciá-la para deixar impunes os autores do desastre fiscal que a reeleição custou e arrancar exclusivamente das suas vítimas um “ajuste” que mantenha onde estão cada um dos desqualificados que cavaram a primeira metade desse buraco tocaiando o dinheiro público.

Lula quer trocar Levy por Meirelles “para promover a retomada do crédito e o aumento do consumo” por uma população com salário nunca antes tão ameaçado, metade da qual já está inadimplente das dívidas que lhe foram instiladas na veia para engraxar a eleição, e para “liberar empréstimos no exterior para os estados” nesse dolar que subiu 60% só nos primeiros seis meses da ressaca eleitoral. A “única alternativa” seria o restabelecimento da CPMF que abriria as veias de uma economia que já está morrendo de inanição.

O que alimenta esse falso dilema é a inépcia da imprensa.

A única solução sustentável para o drama brasileiro é atuar diretamente sobre a fonte do desastre que é a gordura mórbida que, para além de tornar o estado muito mais pesado do que o país é capaz de sustentar, travou o seu funcionamento pelo caráter cancerígeno dos agentes infiltrados nele, mais que para simplesmente parasitá-lo, para devorá-lo. Só que para tornar politicamente viável essa linha de ação seria preciso que essa gordura viesse sendo sistematicamente exposta até que o país inteiro tivesse uma noção exata da sua existência, da sua natureza e dos valores envolvidos.

O cérebro brasileiro é tão capaz de processar uma equação quanto qualquer outro, desde que conheça os elementos que a compõem. Mas a imprensa não tem gasto um minuto de seu tempo para esmiuçar a composição do peso morto que, considerado o “por dentro” e o “por fora”, come metade ou mais dos valores envolvidos. O Brasil não chega, portanto, à conclusão certa porque é sistematicamente induzido a partir da pergunta errada.


É emblemática dessa distorção a monopolização do noticiário político pelo tema “Eduardo Cunha”, figura que tomada isoladamente não tem implicação maior que a sua própria insignificância, em detrimento de “A fritura de Eduardo Cunha” ao fim de 20 anos de desfile inadvertido da sua coleção de Porches na cara da imprensa e da miséria nacional na véspera de um impeachment, tema cujo desaparecimento do noticiário implica o resgate da impunidade ameaçada e proporciona aos agentes diretos da desgraça nacional espaço para voltarem ao desmonte acelerado do Estado de Direito, sob a desculpa da “obrigação de registrar os fatos” que, incidentalmente, são os que vêm sendo produzidos aos borbotões pela única “investigação” de agente do “núcleo político” do petrolão que o governo e seus auxiliares nos demais poderes houveram por bem levar adiante.

Ha um agravante geográfico da nossa equação política que torna mais difícil o que já é naturalmente difícil. Entre Brasília e o Brasil tudo que resta são os jornalistas de política. “Expatriados” para o isolamento do Planalto eles constroem por lá a sua teia de relacionamentos e acabam fatalmente por ter cônjuges, pais, filhos e parentes vivendo daquele Brasil que está acima das crises. Com os anos, passam a “entender” tão bem aquele mundo que deixam de entender o nosso. Só que, cada vez mais, são mundos regidos por lógicas mutuamente excludentes. Para que um saia do inferno será preciso que o outro seja expulso do paraíso. É preciso que a imprensa, que só cabe num deles, reveja suas prioridades enquanto é tempo.

A seis passos

Stanley Milgram, em trabalho científico publicado em 1967, formulou a seguinte questão: “qual a probabilidade de duas pessoas, selecionadas arbitrariamente numa grande população, se conhecerem?”

Essa é base do problema do pequeno mundo, também conhecido como os seis passos de distância. Esse fenômeno descreve que basta seis passos para encontrarmos a pessoa que buscamos.
O experimento era fazer chegar uma correspondência a uma determinada pessoa em Boston, saindo do longínquo estado de Nebrasca. Cada passo era explicado conforme a correspondência seguia sendo entregue a próxima pessoa conhecida, até, finalmente, chegar ao destinatário. Muitos voluntários desistiram de participar , outras correspondências passaram por dez pessoas diferentes. O interessante do experimento foi que, apesar da pessoa A e B não se conhecerem diretamente, elas podem compartilhar um ou mais conhecidos, e motivados conseguem alcançar o objetivo em cinco ou seis etapas.

A maioria de nós já encontrou alguém, num lugar longe de sua casa, ou mesmo em outro país, que, para nossa surpresa, conhece alguma pessoa próxima a nós. Por isso dizemos “como esse mundo é pequeno”.

Milgram, em outro experimento, demonstrou que pessoas comuns podem ferir outras apenas por obediência à autoridade. As vítimas, na verdade atores, eram punidas com choques elétricos, administrados por voluntários. Esses não sabiam que os choques eram fictícios, mas, obedecendo as ordens da autoridade, iam aumentando a intensidade do choque. As vítimas seguindo um script demonstravam a cada choque mais dor. Apesar do “sofrimento” demonstrado pelas vítimas a maioria dos voluntários obedecia às ordens até o final, mesmo com o “risco” produzir grave dano à inocentes. Apenas um terço recusou-se a continuar o experimento.

Esse excepcional psicólogo social, que gostava de pedalar pelos parques de Nova York, morreu aos 51 anos de idade, vítima de infarto do miocárdio. Se estivesse vivo constataria como seus trabalhos retratam, de alguma forma, nossa realidade.

Não sei a quantos passos estamos da prisão das autoridades e lideres políticos corruptos, mas está claro que eles sempre estiveram a menos de seis passos entre si. Nos chocam de verdade, sem qualquer escrúpulo, causando enorme sofrimento à inocentes. Não somos como os atores do experimento, mas vítimas reais. Queremos distância. Chega!

O mundo está desmoronando

Charge O Tempo 10/11
A visão que se tem do desastre causado pelo rompimento das barragens de rejeitos de mineração em Mariana é como a de uma descarga da “privada do mundo”: horrível, fedorenta, humilhante, uma verdadeira radiografia da nossa insignificância, da nossa ganância, da nossa ânsia de tudo querer, enfim, do nosso fim. Estou sendo radical? Na verdade, eu sou, em quase tudo. Às vezes, nem eu mesmo me tolero, como neste momento em que agora vivo e escrevo.

A ganância do homem é mesmo nojenta. Destrói a natureza com jatos d’água de alta pressão, acaba com montanhas, degrada o ambiente, desgraça a vida das pessoas. E durante algum tempo, mas só até que aconteçam outras desgraças, sobram comentários e promessas dos demagogos de plantão e a omissão das autoridades. Tenho nojo de tudo isso... Tenho nojo de quase tudo que anda acontecendo em nosso país, lugar onde ninguém mais conseguiria dormir se colocassem guizos em pescoços de ladrões e mentirosos. Esse tipo de desastre anunciado acontece e continuará acontecendo, como aqui, em São Sebastião das Águas Claras, no princípio deste século, um século que promete – quem viver, verá.

Alguns amigos têm-me achado pessimista e raivoso com tudo. Deve ser a idade que chega e a visão apocalíptica do que acontece no e com nosso país, com nossa pequena vida. Mas, olhando com bons olhos, eu devo ter razão. Vejam: o nosso direito civil é baseado no Corpus Juris Civilis do direito romano, do imperador bizantino Justiniano. Um dos princípios mais importantes dessa legislação diz que “Quid tacet non utique fatetur, sed verum est eum non negare” que significa “Quem cala nem sempre consente, mas a verdade que não nega”. Perdoem-me por algum possível erro, já que estudei isso há mais de 60 anos... Esse cara de nome Lula, por tudo que sabemos e que é publicado pelas duas principais revistas de circulação nacional, é ladrão. Se não fosse, já teria processado os responsáveis por essas revistas e toda a imprensa nacional que o acusa e fica sem resposta. Afinal, devemos nos ater não à parte que diz que “quem cala consente”, pois quem cala nem sempre consente, mas à questão da verdade... Verdade, repito, que não nega.

Ladrão e covarde, agitador barato e analfabeto, palhaço de ilusões vermelhas, que espalha cizânia neste país infeliz, com suas mentiras e desatinos quando manipula a presidente, seu brinquedo preferido, fragilizada por seu passado de assaltante à mão armada de bancos e congêneres.

É duro receber essa censura de um cidadão comum? Pode ser. Mas pior é ser dito por um dos fundadores do PT, o sociólogo Chico de Oliveira, que, no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, ao ser questionado por que havia saído da legenda que ajudou a construir, respondeu: “Lula é muito mais esperto do que vocês possam imaginar”. Como assim? Quis saber um dos entrevistadores. Respondeu o professor: “Lula é oportunista e não tem caráter. É forte?”, indagou. E fulminou: “Se ele não aceita o que digo, que me processe. Eu digo o mesmo”.

P.S.:A Samarco comunica que acaba de instalar aviso sonoro lá na mina do inferno. Esse povo ainda está solto? É mesmo o fim...

Fervura no caldeirão

A cínica explicação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, sobre suas contas na Suíça é mais fervura no caldeirão, fermenta a crise ética e eleva sua temperatura ao infinito. Se não houver uma resposta positiva e democrática do mundo da política, ele transbordará em cima das instituições republicanas, queimando tudo e todos.

Arma-se um cenário extremamente preocupante, de convulsão social, de descrença absoluta no Parlamento e no poder Executivo, de namoro por segmentos da sociedade, por enquanto minoritários, com saídas antidemocráticas. É aí que mora o perigo.

A bomba está sendo ativada. Só não a enxerga quem não quer. A greve dos caminhoneiros é mais lenha na fogueira. Brincam com fogo os que insuflam esse movimento paredista, na crença de que por aí vão colocar abaixo o governo Dilma Rousseff.

Diante do colapso moral, setores da classe média veem nas Forças Armadas a instituição salvadora, como assim enxergaram em 1964. Artigo do general exército, ex-chefe do Estado Maior do Ministério da Defesa, Rômulo Bini Pereira, publicado em jornal de circulação nacional, dá bem uma ideia dessas pressões e do quanto a preocupação com “a decadência moral e ética” já perpassa o meio castrense - da ativa ou da reserva.

Não há, claro, condições internas e externas para intervenção militar. Nem as Forças Armadas parecem querer isso. Mas essa história é como a das bruxas: não cremos nelas, mas vai que elas existam. Em sendo assim, urge fazer de tudo para esfriar a temperatura da bruxaria.

A questão chave é o resgate da ética como bandeira republicana indissolúvel da democracia. Todas as vezes que ela saiu das mãos democráticas, o país perdeu.

Impensável supor que será resgatada pelo lulopetismo. Quando se erigiu em poder, o Partido dos Trabalhadores rifou essa bandeira, pautou-se por um estranho código de ética, no qual a causa justifica tudo, e fez do cinismo um instrumento de se fazer política.

Eduardo Cunha foi beber nessa fonte para vender sua mixórdia no Jornal Nacional.

No dia 16 de julho de 2005 a nação assistiu, estupefata, a entrevista de Delúbio Soares ao JN da Globo, na qual o então tesoureiro do PT veio com aquela versão fantasiosa dos “recursos não contabilizados” para eludir o até então maior escândalo da história recente do país; o mensalão.

Como o Cunha de hoje, Delúbio estava orientado pela banca de advogados para mentir, inventar uma história tão inverossímil como a contada por Eduardo Cunha ao vivo e a cores. Incrível, dez anos depois estamos assistindo o mesmo filme, com o agravante de que não sabemos qual será o seu final. Se será ou não mais uma tragédia para o país.

Se não há nada a se esperar do governo e do PT em matéria de resgate dos valores republicanos (ao contrário, a tendência é a continuidade do pacto de “proteção mútua” entre a presidência da República e o presidente da Câmara Federal), das oposições exige-se uma postura diferente.

No seu nascedouro, a socialdemocracia selou compromissos com a probidade, com o zelo pela coisa pública, com a ética. Aliás, o saudoso Mário Covas se reelegeu governador em 1998 com uma campanha claramente norteada por esses valores. Tem, portanto, capital moral para construir e liderar uma saída positiva capaz de resgatar o apreço dos brasileiros pela democracia e suas instituições.

Basta entender que os fins não justificam os meios, que nada, absolutamente nada, justifica aliança, tácita ou não, com Eduardo Cunha. E que os problemas da democracia se resolvem com mais democracia.

Só desta forma se pode evitar a explosão do caldeirão.

Qual a razão desse silêncio ensurdecedor?

Eu não estava no Brasil nas jornadas de junho de 2013. Em minha chegada, não acreditei na imensa pilha de jornais, com textos e fotos sobre as manifestações populares. Vi daí por diante algumas concentrações cheias de black blocs, o cerco ao apartamento de Cabral no Rio de Janeiro, muitas greves, algumas estranhas porque as lideranças não conseguiam falar por toda a base e acordos eram fechados sem que o movimento terminasse de todo.

Vou, como qualquer um que me leia, sofrendo a agonia de 2015...

As manifestações de rua vão se tornando raras. Um acampamento pequeno aqui, em frente ao Congresso, em Brasília, caminhoneiros ameaçando parar o país, a chuva de dólares com a foto de Cunha, atirada isoladamente por um único manifestante. Vaias (poucas), e tome seguranças! E terríveis – estas, sim –, embora pequenas, terríveis, repito, demonstrações de fascismo. Ou reclamos de retorno dos militares à cena política, como se com estes o Brasil tivesse sido um país-maravilha! Só mesmo os mais velhos, como eu, para se lembrarem, ou alguns militares que sabem muito bem em que podem dar essas bravatas.

Bravateiros tonitruantes só mesmo Lula e Cunha, cada um contando suas mentiras ou suas supostas qualidades que os tornariam quase imortais. A estes lembro a maldição dos deuses gregos contra os que se julgam maiores que o destino.

Incomoda-me o silêncio das ruas. Nenhum protesto maior contra a violência que campeia nas cidades e no campo. Nada contra o engodo do erro no pagamento do FGTS das domésticas, como se os patrões – a não ser os que têm alguém para fazer por eles – pudessem gastar aquele tempo num computador, tentando entender o que queriam os que planejaram a mágica de cadastrar e fazer o primeiro pagamento, tudo ao mesmo tempo e de prazo marcado para os contribuintes.

Nos corredores ou nas ruas, ouço, à boca pequena, uma insistente pergunta: “Ela vai sair?”. Nem preciso perguntar quem é ela. Não, ninguém sabe se quer que ela saia porque, sem ela, ou vem Michel Temer, ou Eduardo Cunha, ou Renan Calheiros, ou Lewandowski. Ou, se houver nova eleição, quem serão os candidatos? Lula, Marina, Aécio, ou as variantes do mesmo programa do PSDB, ou quem afinal de contas?! Começo a pensar que o parlamentarismo aqui seria melhor.

Cunha me dá arrepios de medo: um cara sem nenhum caráter – que me perdoem Macunaíma e Mário de Andrade por essa blasfêmia. Agora, fez aplicações no Zaire, que acabou, como nação, em 1997. Vamos ver as datas de suas aplicações nas tais contas na Suíça.

Lula? Nele não voto mais sem uma profunda autocrítica que não deixe de incluir o que fez pelos bancos (Emenda 40/2003) e contra os pobres. Claro que ele não fará isso. E, se o fizer, será talvez outra jogada de marketing.

Todos aqui se entreolham e se olham sem dizer palavra. Ninguém arrisca um palpite, um mero palpite. Que dirá uma opinião. Vou lendo e relendo tudo.

Viramos uma nação de zumbis. Que Zumbi, o autêntico, me perdoe!

Indígna nação

Cada centavo roubado de alguma estatal é roubado de seu acionista maior, o estado. Cada milhão subtraído dos cofres de alguma empresa cujo estado é o detentor da gestão, é um milhão que terá de ser recuperado através de aumento de impostos. Este incremento tributário, que não é baseado em um pressuposto legal – a contrapartida em serviços públicos – é causador de aumento de preços, que gera perda de poder aquisitivo e inflação. Como se vê, todos nós, indistintamente, somos afetados por causa da corrupção. A matemática é simples e, por ser tão simples, deveria ser melhor ensinada para a classe empresarial brasileira, que vê seus empreendimentos desabarem por perda de competitividade decorrente de necessidade de aumento de preços. Um empresário que apoia um governo corrupto é, portanto, um suicida em potencial.

Lixão da Estrutural fica a apenas 15 quilômetros do Palácio do Planalto. Foto: André Coelho
Ainda nesta linha, se os derivados de petróleo têm aumento interno de preços - mesmo que o preço do produto esteja em queda desabalada no mercado internacional – e este aumento é decorrente de má gestão e corrupção, toda a cadeia de preços de insumos é afetada. O mesmo vale para a energia elétrica e para as demais tarifas públicas. Sempre que elas inflam seus números sem uma contrapartida efetiva, é por causa de fatores, digamos assim, não-virtuosos, dentre eles principalmente a incompetência, a irresponsabilidade e a corrupção. Sempre que esta anomalia (?) acontece, os preços de tudo se tornam irreais e, com isso, a credibilidade na economia se esvai. Um pão de forma custa nove reais? Um refrigerante custa 6 reais? Eis um dos resultados mais maléficos da corrupção e da incompetência: a perda de referência de uma sociedade inteira.

O que causa um misto de indignação e alívio é descobrir que há empresários que tomam bilhões em empréstimos subsidiados em bancos públicos, que compram Medidas Provisórias, que fazem advocacia administrativa e que atuam nas sombras, sabotando leis de mercado e normas morais de conduta comercial e depois...quebram! Corrompem, participam de negociatas, compram anistias fiscais fraudulentas e ficam surpresos ao descobrir que estão a caminho da bancarrota, esta definitiva, terminal, de onde não voltarão. O que fazer com esta indigna nação de empresários ignaros, que acham que podem esgarçar limites ao seu bel prazer?

Eis outro ponto para profunda reflexão. Um banco, por exemplo, quando extrapola suas taxas de juros, explode suas tarifas e extorque sem piedade seus “clientes”, acha que a história vai acabar como, mesmo? O sujeito que toma empréstimo e se vê em dificuldades para cumprir com seus compromissos, porque ficou desempregado ou por conta da carestia, deve ser ainda mais castigado com taxas e custos que certamente ele não poderá corresponder? Um país gerido por este tipo de mentalidade mudou seu enfoque: De um país do futuro para um país sem futuro.

Bancários, empresários, grandes autoridades políticas, saibam a hora de parar. Iluminem-se. Parem de drenar o que sobrou do Brasil, que é quase nada. Entendam que a corrupção e a incompetência deste governo petista VÃO acabar com os negócios DE VOCÊS! Nós, os brasileiros, vamos seguir em frente. Passaremos dificuldades, mas sobreviveremos. Suas empresas NÃO! Seus conglomerados vão desmoronar, suas marcas vão ruir.

Aprendam de uma vez por todas. Fazer acordo com o diabo só é bom até a hora em que ele volta pra cobrar. E o capeta sempre vem...

Há 60 anos, o golpe fracassou

Ministro Teixeira Lott recebe Fidel Castro em 1959
Faz exatamente sessenta anos. O 11 de novembro amanheceu com o céu enfarruscado, em Copacabana. Do que mais se falava no Rio, há uma semana, era no “golpe”. Ninguém sabia exatamente de onde viria, ainda que as maiores possibilidades apontassem para o presidente interino da República, o deputado Carlos Luz, presidente da Câmara chamado a substituir Café Filho, que como vice-presidente sucedera um ano antes a Getúlio Vargas, que se suicidara com um tiro no peito. Aquela bala, em 1954, evitara o golpe já engendrado por militares radicais e civis igualmente radicalizados, dispostos a afastar do poder um presidente que criara a Petrobras, duplicara o salário mínimo e investigava a escandalosa remessa de lucros das multinacionais para o estrangeiro. Morto, gerara uma comoção nacional em seu favor, adiando o golpe.

Agora, porém, com a eleição de Juscelino Kubitschek para presidente, apoiado pelo getulismo, recrudescera a conspiração para impedir a posse do eleito. Acabava de completar-se uma trama: Café Filho, golpista, pretextara um ataque de coração para afastar-se do palácio do Catete, ensejando a interinidade de Carlos Luz, mais golpista ainda, com a missão de demitir do ministério da Guerra o general Henrique Teixeira Lott, último obstáculo que se opunha à implantação da ditadura. Para ele, o eleito tinha que tomar posse.

Na véspera, 10 de novembro, Luz humilhara Lott, fazendo-o esperar por mais de uma hora na antessala do gabinete presidencial, apenas para forçar sua demissão, por conta da insubordinação de um coronel, Jurandir Bizarria Mamede. Ele discursara no enterro de um general, Canrobert Pereira da Costa, na frente do ministro da Guerra, pregando o golpe. Lott queria punir o subordinado, mas o presidente interino negara a punição, levando o ministro, cioso de suas atribuições, a pedir demissão. Já havia sido convidado um general golpista, Fiuza de Castro, para assumir o Exército e apoiar a anulação das eleições, garfando JK.

Tudo parecia arrumado para no dia 11 o golpe ser desencadeado de cima para baixo. Lott ainda perguntou a Luz se queria que a transmissão do cargo para Fiuza se desse naquela tarde mesmo. Foi o primeiro erro do presidente interino, que certo do sucesso do esquema anti-democrático, sugeriu o dia seguinte.

O ministro foi para casa, no subúrbio do Maracanã, e, como sempre, às sete da noite já estava de pijama. Na sua cabeceira o telefone toca. Era o seu vizinho, comandante do I Exército, general Odilio Denys, que informava estar sua casa cheia de generais e coronéis legalistas, dispostos a impedir o golpe. Lott fardou-se, atravessou o jardim e foi convencido a não aceitar o golpe. Saíram todos para o ministério da Guerra, ao lado da Central do Brasil. Denys já havia preparado a ação do contragolpe, com instruções para os principais comandantes do Exército, em todo o país, botarem a tropa na rua, assegurando a posse do presidente eleito.

Aquela movimentação, na madrugada do dia 11, alertou Carlos Luz e os golpistas, que no Catete viram-se cercados por batalhões legalistas. Conseguiram fugir para o Arsenal de Marinha, onde embarcaram no cruzador Tamandaré, junto com oficiais favoráveis ao golpe, mais o deputado Carlos Lacerda, inspirador da campanha pela ditadura.

Naquela altura, no Rio e no país, os legalistas dominavam. Lott distribuiu uma proclamação justificando a intervenção, que denominou de Movimento de Retorno aos Quadros Constitucionais Vigentes. O poder estava com ele. Informado de que o cruzador dirigia-se para a saída da baía da Guanabara, com a disposição de navegar para São Paulo e lá instalar a resistência, o ministro não teve duvidas, ordenando às fortalezas do litoral carioca: “Afundem o Tamandaré!”

Da janela do apartamento onde morava, em Copacabana, ouvi os tiros dos canhões das fortalezas próximas. Como estamos no Brasil, os artilheiros erravam propositadamente o alvo. Como matar brasileiros? O navio não foi a pique e seguiu para o litoral paulista, onde Carlos Luz percebeu que não era mais presidente porque não conseguiu desembarcar, impedido por tropas do Exército. O Congresso já havia empossado o presidente do Senado, Nereu Ramos, como novo chefe do governo. Não fui para o colégio, naquele dia.

Está evidente que já não vale mais a pena ser petista

Houve época em que ser petista era motivo de orgulho, os militantes andavam com o botton da estrela vermelha na lapela. Para ser aceito no partido exigia-se que a ficha de filiação fosse abonada por algum dirigente, acreditava-se que estaria surgindo um partido diferente e renovador, destinado a transformar o Brasil num outro país, com mais justiça social e melhor distribuição de renda. Era um partido realmente novo, formado por sindicalistas e intelectuais, com grande penetração entre os funcionários públicos, os professores e os clérigos da Igreja Católica. Com este perfil, foi entusiasmando a juventude, que sempre é politicamente avançada e defende mudanças sociais.

Como dizia o genial compositor Belchior, os ídolos ainda são os mesmos, mas as aparências não enganam mais. Agora, passados 35 anos da fundação do partido e com 13 anos de exercício do poder, o PT enfrenta uma decadência humilhante e constrangedora. Sua imagem é cada vez mais deteriorada, as denúncias de corrupção se multiplicam e atingem as principais lideranças, a derrocada é inevitável, tornou-se apenas uma questão de tempo e vai ser acelerada pelos resultados das eleições municipais do ano que vem.

Nas gestões corrompidas de Lula e Dilma, ser petista de prestígio transformou-se em meio de vida. O maior exemplo é José Dirceu, que foi demitido da Casa Civil e teve cassado o mandato parlamentar, mas criou logo uma consultoria e enriqueceu meteoricamente, na via do tráfico de influência aceito e consentido pelo governo.

Seu exemplo deu frutos e foi seguido por outros dirigentes petistas, que também se tornaram enriquecidos “consultores”, como Antonio Palloci, Fernando Pimentel, Erenice Guerra e Delúbio Soares, que opera exclusivamente com a prefeitura petista de Goiânia. Recentemente, o ex-ministro Guido Mantega tomou o mesmo caminho, mas chegou muito tarde, quando a fonte está secando e as investigações sobre tráfico de influência já envolvem Palloci, Pimentel e Erenice.

É claro que no PT ainda existem pessoas idealistas e que não se contaminaram com a corrupção institucionalizada. Mas cedo ou mais tarde, terão de deixar o partido. Entre outros, podem ser citados os senadores Walter Pinheiro e Paulo Paim, o ministro Patrus Ananias, o deputado Nilmário Miranda, o ex-governador Olivio Dutra e o ex-senador Eduardo Suplicy.

São pessoas do bem, é preciso ressalvar, mas também começam a sofrer constrangimentos apenas pelo fato de serem petistas. Em São Paulo, Suplicy já foi ofendido publicamente. Em Belo Horizonte, na semana passada, foi a vez de Patrus, hostilizado num restaurante.

Chegou a hora dessas pessoas do bem se interrogarem se vale mesmo a pena continuar sendo petistas e se tornarem indesejáveis no convívio social, como já acontece com o ex-ministro Guido Mantega e com a própria presidente Dilma Rousseff e seu antecessor Lula, que estão obrigados a viver reclusos. Ser petista hoje é uma mancha no currículo e no caráter. Isto é um fato, não pode ser contestado.

Governo de Minas, a Vale e a mídia tentam minimizar a tragédia

Lamentável, mas o que se vê é a inércia do poder público no caso da tragédia de Mariana. A Defensoria Pública estadual já chegou ao município dizendo que vai propor um acordo coletivo. Imaginem, um acordo! Acordo vem depois da ação judicial instaurada, principalmente quando existem vítimas inquestionáveis. No momento não há litígio, há crime!

O promotor Carlos Teixeira tem prova irrefutável de negligência, pois dispõe do e questionamento jurídico e do laudo feitos em 2013, explicitando o risco de rompimento da barragem se não fossem feitas as exigências constantes no resultado da perícia dos engenheiros. Quer dizer, o crime estava previsto tecnicamente! Na gíria policial, chama-se a isso “batom na cueca”, não tem explicação nem defesa…


O processo não avança pois a Vale, o governo de Minas Gerais (que recebeu da empresa um generoso patrocínio na campanha eleitoral) e a mídia estão filtrando informações descaradamente. O G1 se refere a Samarco como ” a dona da barragem”, nem cita o nome da mineradora na primeira página do site.

Fala-se deste ridículo tremor de 1,8 e 2 graus, que pode até significar o abalo resultante do movimento do solo decorrente do próprio ajuste de terra causado pela ruptura, que se inicia no subsolo.

A mídia deixa proliferar, de forma capciosa, comentários dizendo que as casas é que se estabeleceram nos “morros” de forma irregular. Meu Deus, Bento Rodrigues é do século XVIII! Tem até capela histórica soterrada. A Samarco é que veio depois, óbvio.

Enfim, o conglomerado empresarial financiador das campanhas de praticamente todos os partidos em Minas sairá desta tragédia apenas chamuscado. Mais uma vergonha nacional patrocinada e realizada pelo famigerado tripé – Estado, elite econômica e mídia amestrada.

Vejam o que pensa a respeito o governo de Fernando Pimentel, do PT, através do secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Altamir Rôso. No Fórum de Mineração realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em Belo Horizonte, disse a autoridade:

“A empresa (Samarco) é uma das que mais se preocupam com segurança e com meio ambiente. Todas as licenças da empresa estão devidamente corretas e tudo foi feito para que isso não ocorresse. Em um primeiro momento nossa ação é com as pessoas, e depois com o tempo, serão feitas as análises para ver o que ocasionou esses problemas. Neste primeiro momento temos que ser solidários, tanto com a empresa, que também é uma VÍTIMA, como com a população e os trabalhadores”.

Bem, se meretíssimo juiz estiver satisfeito, já se pode dispensar a testemunha…

Governo? Já era


Chegamos hoje a um quadro de comprometimento da governabilidade e precisamos reagir. Temos que ver qual é o modelo, a saída. Veja que fizemos tentativas de intervenção judicial com a questão da fidelidade partidária, com a questão do financiamento. A prova de que chegamos ao fundo do poço é o estado de não governabilidade em que nos encontramos.

Os caminhos tortuosos da cultura inovadora

A geração de uma cultura de inovação constitui, em conjunto com culturas do empreendedorismo e da educação continuada, uma das bases para a construção dos processos de crescimento sustentável.

Um dos maiores problemas que enfrentamos reside na enorme dificuldade de definir um caminho para a inovação nas empresas, de forma a torná-las mais competitivas.

Na sociedade do conhecimento, a competitividade das empresas pode ser medida pela adequada utilização de três variáveis: inovação, conhecimento e empreendedorismo. O equilíbrio entre elas é determinante para o sucesso dos empreendimentos, pois, por exemplo, um bom empreendedor, que não tenha conhecimento, dificilmente conseguirá chegar a produtos inovadores.

Bons cientistas, atuando em áreas estratégicas, não conseguem sucesso nas suas empresas, porque, embora levem para elas o conhecimento, não reúnem as qualidades de empreendedor. A maior parte das micro e pequenas empresas, pressionada pela instabilidade econômica, costuma trabalhar “apagando incêndios”. Dessa forma, a criatividade acaba por dar lugar à produtividade.

Costuma-se afirmar que a cultura da inovação depende, essencialmente, do efetivo compromisso de quadros das empresas, considerando-se se eles estão ou não dispostos a dedicar tempo e dinheiro para a inovação, mesmo sabendo dos riscos que surgirão. Depende, também, da existência de um ambiente de trabalho que estimule o tempo livre para criar e recompense os técnicos mais criativos.

Outros aspectos relevantes são: o estabelecimento claro dos objetivos da inovação para a empresa (para que inovar?), a definição dos públicos que serão atingidos pelos produtos inovadores (para quem inovar?), e da capacidade da equipe técnica em realizar produtos inovadores (estamos preparados para inovar?). Essa é uma das grandes dificuldades, pois nem sempre é fácil encontrar profissionais qualificados e capazes de agir com pró-atividade no ambiente empresarial.

Nosso desempenho no ranking global de inovação e no de competitividade têm sido medíocre, pois a infraestrutura e a logística, que compõem o “Custo-Brasil”, ainda não foram solucionadas. Além disso, é preciso estabelecer correlação entre o grau de maturidade tecnológica de cada empresa e o tipo de envolvimento com a inovação.

De acordo com a sua maturidade, a competitividade das empresas pode ser melhorada com informações, reengenharia, metrologia e conhecimento, contribuindo para as inovações incrementais, caracterizadas por pequenas mudanças, e para as radicais, estas envolvendo as áreas da fronteira do conhecimento.

Os resultados ruins são influenciados pelo despreparo das empresas e pela educação, nela incluídos os cursos de pós-graduação, que necessitam de qualidade e modernidade para que os profissionais estejam habilitados à enfrentar os desafios trazidos pelos avanços do conhecimento.

Como sempre, esbarramos na insolúvel questão da má qualidade de nossa educação.

Brasil exporta casas para refugiados na Alemanha


A crise dos refugiados enfrentada pela Alemanha entrou na rota das exportações brasileiras. A MVC Plásticos, empresa baseada em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, começará a exportar na semana que vem casas pré-fabricadas que devem abrigar algumas das milhares de pessoas que buscam asilo na Alemanha.

O kit da primeira unidade vai ser despachado nesta quinta-feira por via aérea e montado na cidade de Bremen, no noroeste do país. A empresa espera que, em 2016, o total de casas exportadas chegue a 1.200 unidades, num negócio que deve render 65 milhões de reais.


As casas, que têm 64m² e dois dormitórios, são baseadas em chapas de compósitos e fibra de vidro. Elas serão adquiridas pelo consórcio alemão AMD, baseado em Bremen, que pretende revendê-las para empresas alemãs interessadas em doar as unidades para prefeituras e governos estaduais. Futuramente, a AMD espera negociar diretamente com as autoridades a venda das casas pré-fabricadas. O material usado é semelhante ao de trailers e turbinas eólicas.

De acordo com o diretor-geral da MVC, Gilmar Lima, a primeira casa exportada servirá de "cobaia" para avaliar a necessidade de eventuais modificações. Os kits já sofreram várias adaptações para se adequar ao clima europeu. "Tivemos que modificar algumas coisas, como reforçar o teto por causa do acúmulo de neve e adequar o layout ao gosto dos alemães", afirma Lima. A empresa já exportou casas do mesmo modelo para Angola, Moçambique e Venezuela.

Cada unidade vai custar 13.800 dólares (cerca de 52 mil reais) na fábrica brasileira. Além de paredes, forro e teto, os kits já incluem as instalações hidráulicas e elétricas. O acabamento final, que inclui janelas, portas e outros itens, vai ser fornecido por empresas alemãs, o que deve elevar o valor de cada unidade para 25 mil dólares (95 mil reais). A empresa afirma que as unidades são capazes de resistir por anos sem muita manutenção.
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Sonegômetro x Impostômetro


Esse é um duelo oportuno. Sonega-se tanto no Brasil porque os impostos são muito pesados ou os impostos são muito pesados porque se sonega tanto no Brasil? Trata-se de um “dilema Tostines” ou, dito de forma pseudofilosófica, um dilema cujas hipóteses têm causas e consequências invertidas e que se anulam mutuamente. Os dois placares são atualizados (supõe-se) em tempo real.

O Impostômetro é uma iniciativa mais antiga, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), e o mostrador digital está na fachada de sua sede, no centro paulistano, e em seu portal na internet. Placar desses dias do Impostômetro: R$ 1,725 trilhão, e o site mostra o que daria para construir, contratar ou adquirir com essa dinheirama, como postos de saúde, TVs e professores no ensino público.

O Sonegômetro, mais recente, é uma ideia do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz). Também tem site, que não mostra o que daria para fazer com os impostos que, criminalmente, deixam de ser pagos. Mas é possível saber os valores de sonegação estimados por hora ou por habitante. Placar desses dias do Sonegômetro: R$ 443,675 bilhões.

Quer dizer, então, que é sonegado o equivalente a um quarto do imposto que se paga?

O capitalista brasileiro, de fato, sofre para dar conta de alimentar o leão com bifes frescos da própria carne a cada instante. Julga que paga muito caro para comprar, para investir e para gerar emprego. Mas não seria esse “muito caro” relativo a quanto se sonega? Possivelmente, como é relativo também ao ideal de sociedade que acalentamos.

No pensamento estritamente liberal, o capitalista pode justificar que o melhor a fazer pela sociedade é almejar o lucro, pois sua produção gera a própria demanda. Entretanto, por que nem o capitalista norte-americano pensa assim? Se a carga tributária brasileira é de 36% do nosso PIB, nos Estados Unidos, não passa de 25% do PIB de lá. Significa que, se a carga brasileira fosse menor, o capitalista brasileiro sonegaria menos? Significa também que, a exemplo do colega estadunidense, ele teria todo interesse e entendimento em investir mais em seus setores de pesquisa, de Ciência e Tecnologia e faria generosas doações a universidades?

O analfabeto político que hostilizou o ministro Patrus anteontem em Belo Horizonte disse ser empresário e admitiu sonegar em vez de dar dinheiro para a corrupção. É essa a preocupação cívica dos investigados na operação Zelotes? A fraude fiscal investigada pela PF é estimada em R$ 19 bilhões. Pela proporção dos placares de Impostômetro x Sonegômetro, se a cifra sonegada fosse de R$ 14 bilhões, seria paga regiamente? Ou a melhor alternativa continuaria a ser a propina aos titulares do Carf, em valores significativamente menores?

A reforma tributária – talvez o maior desafio estrutural do Brasil – é necessária não apenas para se buscar reduzir os dígitos nos dois placares, mas também em favor de um sistema mais justo, ou seja, mais progressivo. Entretanto, antes, muitos capitalistas brasileiros poderiam repensar suas intenções patrimonialistas que tanto gostam de criticar na política.

João Gualberto Jr.