domingo, 20 de setembro de 2015

Dilma Equilibra Prato CPMF Impeachment Congresso

O Brasil está deixando de ser esquerda?

Em meio ao redemoinho da crise que o país atravessa, é possível vislumbrar algo que parece ser novo e poderia marcar as próximas décadas: o Brasil está começando a deixar de caminhar para a esquerda e sente uma certa fascinação por valores mais liberais e conservadores, de centro, menos populistas ou nacionalistas e, paradoxalmente, mais modernos e globalizados.

Até antes da crise, ou das crises que se amontoam, ninguém no mundo político queria ser de direita aqui. Tanto é assim que entre o mar de partidos oficiais nenhum leva em seu nome as palavras direita ou conservador. Até o mais conservador deles, e um dos mais envolvidos no escândalo na Petrobras, o PP, se chama Partido Progressista.

O Partido dos Trabalhadores (PT), que já foi considerado o maior partido de esquerda da América Latina, marcava o passo como príncipe dos partidos, abraçado pelos movimentos sociais, os sindicatos, os operários e boa parte dos artistas e intelectuais. As ruas também eram do PT. E isso apesar de seu mentor e guia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se esforçar em dizer que ele não era “nem de direita nem de esquerda”, mas apenas um “sindicalista”. Em seus oito anos de Governo foi também aplaudido, mimado e defendido pelos bancos, as empresas e as oligarquias que foram amplamente recompensados por seu apoio. Ele mesmo repetia aos banqueiros que nunca tinham ganhado tanto como com ele. E era verdade.

O Brasil é visto fora de suas fronteiras com uma política de centro-esquerda, uma vez que o PT se aliou, para poder governar, com os partidos conservadores.

Essa roupagem de esquerda, com a qual era vista a política dos governos brasileiros, fazia parecer normal a preferência por países do socialismo bolivariano do continente. A direita neoliberal não tinha carta de cidadania no Brasil.

As coisas, dizem não poucos analistas, estão mudando, porque mudaram a rua e a sociedade, que começou a abandonar o PT ao mesmo tempo em que se perdeu o complexo, principalmente na classe média pensante, de defender valores como o liberalismo, que leva junto o desejo pela eficiência e o afã de criar sua própria empresa. E isso não só entre os filhos das classes mais abastadas, mas também com os da nova classe média oriunda da pobreza, que já não sonham como ontem com um trabalho fixo sob as ordens de um patrão para o resto da vida.

É essa mesma classe que, sem distinções ideológicas excessivas, defende hoje valores que são bem mais de políticas de centro, como a livre iniciativa, a eficiência dos serviços públicos, uma maior segurança pública, menos corrupção e um Estado menos gastador e onipresente.

Não basta a eles que o Estado ofereça esses serviços para todos, querem que sejam dignos de primeiro mundo, porque o Brasil tem um potencial de riqueza que possibilitaria isso.

Vejo até mais críticas na classe C com relação a certas bondades do Estado, como bolsas e ajudas sociais, do que em classes mais altas. Criticam que muitas dessas ajudas podem acabar acomodando as pessoas e as tornar preguiçosas para trabalhar e melhorar sua capacitação profissional.

Poucos brasileiros duvidam que o país está às vésperas de uma mudança que pode ser de época. Ninguém sabe ainda profetizar no que consistirá essa mudança e em que direção irá, nem qual partido e líder político serão capazes de expressar e reunir o que está sendo gerado de novo nessa sociedade.

O que parece cada dia mais provável é que a seta não aponta mais preferencialmente para os caminhos da esquerda, que foram necessários e criadores da prosperidade social, mas hoje estão perdendo o interesse e a credibilidade.

É verdade que os termos esquerda e direita hoje já não possuem mais a força que possuíam no passado, mas o que a sociedade brasileira parece estar buscando se assemelha mais com as políticas dos países hoje mais igualitários, com democracias mais consolidadas, com menores taxas de corrupção política, com moedas fortes e com liberdade de empreender economicamente.

Tudo isso, junto com uma política de bem-estar social.

O que tenho escutado de muitos trabalhadores neste país é o desejo e a esperança de que, assim como no trabalho profissional, um brasileiro possa gozar do nível de vida e dos serviços públicos que hoje desfrutam os cidadãos de países considerados conservadores, onde as diferenças sociais não são tão evidentes e tão brutais como nos países embalados pelas sirenes de um populismo que, com muito Estado e pouca cidadania, acaba reproduzindo pobreza, como hojeestão sofrendo em parte nossos vizinhos argentinos.

O Brasil quer mais e melhor. E quer isso com políticas mais próximas do centro, com maior liberdade de ação, sem tutores que desejem guiar seus passos e dizer o que é melhor para as pessoas. Os brasileiros querem que sua palavra, seus projetos e suas ideias tenham também valor e peso nas decisões que forjam o destino do país.

Essa é a verdadeira subversão que hoje começa a viver essa sociedade viva e rica, que está aprendendo a dizer “não”. E, como defendia o escritor e ganhador do Nobel de Literatura José Saramago, às vezes o “não” da rebelião é muito mais construtivo do que o “sim, senhor” da resignação ou da apatia.

A rebelião não tem cor política.

Saramago era de esquerda, comunista.
Juan Arias

Desta água não beberei

Desta água não beberei 
é um dito mui comum; 
mas de vós não diz nenhum 
deste pão não comerei, 
porque muito certo sei 
que quem pão alheio achou 
que dele muito gostou, 
seja de trigo ou centeio, 
porque comer pão alheio 
a ninguém enfastiou. 
António Serrão de Castro (1610 - 1685)

É bom melhorar

Com todo o respeito, peço desculpas por discordar da senhora presidente. Não consigo mais ouvir calada essa história de que quem sofre com a situação atual, quem se aflige com os rumos do país, perde o sono e se angustia a cada instante com o descalabro que estamos vivendo, enfim, quem ama nossa terra faz parte do “pessoal do quanto pior melhor”, como reiteradamente ela nos acusa.

Para quase todos nós, se continuar piorando só fica mais doloroso mesmo, e tudo o que queremos é que as coisas melhorem. De verdade e para valer, sem ilha de fantasia, sem slogan, sem mentirada de marqueteiro em programa eleitoral.

Considerando que a rejeição à presidente anda nas nuvens, e sua aprovação está no fundo do poço, não é exagero afirmar que para a grande maioria da população brasileira, quem está fazendo tudo a seu alcance para que as coisas piorem cada vez mais é o governo. Se é que tamanho desgoverno pode assim ser chamado.

Quem perdeu a credibilidade e produz instabilidade é o comportamento errático e randômico, imprevisível e ilógico dos que deviam governar o país, e com essa obrigação foram eleitos. Para isso, ganharam nas urnas, embora atestassem sua cegueira para a realidade ao recusar o que mostravam todos os índices, os inúmeros jornalistas agredidos por isso, qualquer economista que não fosse de suas hostes e até mesmo o singelo relatório da pobre analista do Santander — cuja cabeça teve de ser sacrificada às certezas descoladas dos fatos, sempre prontas a xingar a matemática, acusando-a de neoliberal ou rudimentar.

Quem piora a situação quando cala ou quando fala é o descontrole nascido da irresponsabilidade, da falta de transparência e da teimosia em fingir que sabe tudo para esconder a incompetência, juntando tudo isso num jogo de improviso permanente, que a cada instante volta atrás e desdiz o que disse, partindo para outra.

Basta ver quem foi que há pouco enviou ao Congresso uma proposta de orçamento deficitário, num movimento a meio caminho entre a chantagem aos parlamentares e o alerta às agências de classificação de risco para o tamanho da paralisia oficial. Consumada a perda do grau de investimento, consequência lógica, quem lançou o balão de ensaio da volta da CPMF com a desculpa de financiar a saúde?

Quem recuou em seguida? Quem daí a pouco voltou a trazer à mesa essa carta, dizendo então que era para a Previdência, em alíquota de 0,2%? Quem, horas depois, já falava em 0,38%, agora para dividir com os governadores, comprar sua eventual influência junto aos congressistas e estimular a irresponsabilidade fiscal nos estados?

Quem no meio de tudo isso autoriza que o palácio renove sua prataria enquanto desautoriza o ministro da Fazenda, deixando-o ser atacado pelas bases do partido? Quem, do nada, a esta altura, deixa um quadro ligado ao MST interferir para reduzir a autonomia dos militares ou lhes tirar o controle sobre a formação de seus oficiais?

Quem só sabe negociar com o Congresso lhe oferecendo mais do mesmo: prometer o que não vai cumprir e acenar com vantagens e verbas? Quem, em quase 13 anos no poder, não se mexeu para fazer qualquer reforma profunda num orçamento engessado, com gastos vinculados aos reajustes do salário-mínimo e uma previdência que só tinha alguma chance graças ao gatilho do demonizado fator previdenciário?

Quem sempre acusou os outros de arrogantes, metidos a sabichões que podiam explicar tudo, mas jamais se deu ao trabalho de pedagogicamente explicar à população a situação da Previdência nem mostrar que acabar com privilégios, pensões imerecidas e outros abusos não pode ser confundido com perda de direitos trabalhistas?

Quem não convence mais nem consegue explicar nada (e por respeito não menciono a mandioca e outras gracinhas) pelo simples fato de que não consegue entender? Quem não percebe que o problema está na dívida pública crescente, nas despesas obrigatórias irreais, na política de estímulos de gastos, em nossos índices ínfimos de produtividade?

Mesmo discordando quanto aos remédios e tratamento deste pobre Brasil, não dá mais para ignorar os resultados dos exames nem se recusar a ver que pode ser correto o diagnóstico que eles apontam. Se o governo quer se suicidar, não pode exigir nossa cumplicidade nessa maluquice.

Sabemos que a democracia foi conquistada a duras penas. A estabilidade da moeda também. Custa reconhecer? Contestar as trapalhadas dos governantes que nos levaram a este atual estado é uma forma de amar o Brasil: não é se identificar ao golpe de 64, nem servir à ditadura ou não ter história democrática, como ofensivamente quer fazer crer o líder do governo, nessa conversa de que a oposição quer cutucar a onça com vara curta. Isso não dá para admitir. É uma provocação.

Bicho por bicho, já que a vaca foi pro brejo e estamos dando com os burros n’água, é bom se perguntar quem é a barata tonta, quem parece cabra-cega e quem é mesmo que está cutucando a onça desta nação com vara cada vez mais curta.

Ana Maria Machado

Apertem os cintos, o governo acabou e ainda não percebeu

A situação é terrível, já se passaram nove meses e ainda não existe ajuste fiscal. A presidente Dilma Rousseff apenas finge que está administrando o país, parece não se importar com os prejuízos que vem causando aos brasileiros da classe média para baixo, porque os da classe mais alta são rentistas e conseguem obter lucros financeiros em plena crise.


Os economistas têm advertido para a gravidade da crise, mas o governo se faz de desentendido. O professor Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, já advertiu que a Grécia quebrou quando venceu 13% de sua dívida e no Brasil já estão vencendo 17%.

Há grandes diferenças entre um caso e outro, mas acumular dívidas que não se consegue pagar é uma espécie de haraquiri administrativo. A solução é rediscutir a dívida, através de uma auditoria, declarar moratória ou obter superávits fiscais. O resto é folclore.

No caso brasileiro, a moratória é proibida pela Constituição, por obra e graça do ex-deputado Nelson Jobim, um traidor da pátria, que deveria estar preso, mas vive sendo nomeado ministro, como se fosse insubstituível um homem de bem.

Quanto à auditoria da dívida, que também é norma constitucional, não teve um Jobim para defendê-lo, jamais foi realizada, virou letra morta.

Resta o superávit, que depende de um ajuste fiscal mais rigoroso, porque a proposta apresentada semana passada é uma espécie de remendo, com objetivo de apenas empatar receita e despesa, e isso não é superávit. Não servirá para amortizar um centavo da dívida, que continuará cada vez mais fora de controle.

Dilma Rousseff é uma farsante. Alardeava ter Doutorado em Economia, mas nem Mestrado fez. Se julga uma sumidade, a gerentona do Lula, mas está destruindo a economia nacional, a arrecadação despenca, o desemprego aumenta, o clima é de pessimismo e apreensão. Mesmo assim, ela diz que nada fez de errado, coloca a culpa no Congresso e nos golpistas que identifica a cada esquina.

Enquanto Dilma Rousseff e sua trupe estiverem no poder, o país não sairá do estado terminal. No dia em que ela sair, a Bolsa de Valores subirá 10 pontos, as pessoas vão se abraçar nas ruas, nascerá um novo país, não importa quem seja o presidente que a substituir. Como diz o Tiririca, pior não fica.

Portanto, a salvação do país está nas mãos dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral e do presidente da Câmara, Eduardo Coutinho. Não faltam motivos para cassação e impeachment. O que falta é que eles lembrem o que disse o Almirante Barroso e cumpram seu dever. É isso que esperamos.

Curitiba, a capital federal

Dilma desesperada

Mesmo com apoio popular, cercado por alianças fortes, gente competente e confiável, governar é um ato solitário, difícil, não raro angustiante. Sem nada disso é desesperador. Para o governante e, em especial, para os governados. No caso da presidente Dilma Rousseff, uma agonia que agudiza os efeitos da crise que já fez o país retroceder quase duas décadas.

Sem plano B, como assegurou o ministro Edinho Silva, A ou qualquer outro, Dilma transformou o improviso em método de governo. A cada dia anuncia algo que no dia seguinte será desanunciado para ser reanunciado em seguida.

Fez um escarcéu com o envio inédito de um orçamento com déficit para defender superávit dias depois. Refez tudo em um único final de semana. Anunciou cortes e novos impostos - e nem mesmo os mandou para o Congresso. Vai, volta, vai de novo, volta de novo.

Mas não é a única.

O ex Lula também tem vibrado como biruta em vendaval. Muda de ideia todas as vezes que desembarca em Brasília.

O mesmo Lula que passou a não esconder a insatisfação com a afilhada, que criticava abertamente o jeito desajeitado de Dilma fazer política, com declarações mais duras do que as da oposição quanto ao pacote fiscal, de repente dá demonstrações de não querer mais desapear sua pupila.

Dedicou a quinta e a sexta-feiras a uma agenda frenética de reuniões com petistas e aliados. Surpreendeu ao defender a permanência de Aloizio Mercadante no Ministério e com um inesperado encontro com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a quem caberá o primeiro de muitos passos que um processo de impedimento da presidente terá de percorrer.

Desafeto e opositor declarado da presidente, Cunha só seria procurado por Lula em situação extrema.

Os movimentos erráticos do ex, ora pró, ora contra a presidente - para ter tempo de salvar o PT e a si -, exprimem o tamanho da aflição. Permitem imaginar que o patrocinador teme o volume de informações que Dilma detém e o que ela pode fazer com isso caso seja destituída.

Aqui, é a operação Lava-Jato que fala mais alto.

Mais do que as pedaladas em julgamento no TCU. Ou a possibilidade de que o TSE aprove a procedência da ação do PSDB contra o uso pela chapa Dilma-Temer de recursos provenientes de corrupção, tema que pode ser colocado em pauta na terça-feira, 22, e já conta com maioria em favor de sua admissão.

É o andamento das investigações da roubalheira na Petrobrás e seus anexos que alucina Lula, Dilma e cia. É o que vai ditar o ritmo da apresentação, do aceite ou não do requerimento de impeachment. Que vai definir o passo do PMDB de Cunha, Renan Calheiros e do vice Michel Temer, e a velocidade da corrida da oposição.

Não é por Brasília. É por Curitiba que o país passa.
Mary Zaidan

Pássaros voando

“São pássaros voando”, costuma dizer a pessoa que mais amo nesta vida, quando desando a enumerar motivos para sustentar um discurso prematuramente vitorioso. Sugere cautela, e via de regra não dá a menor pelota para as razões que justificariam meu otimismo. O conselho nunca é bem recebido, admito, mas no fundo lamento até hoje ainda não ter aprendido a segui-lo.

E foi assim, desgraçadamente abraçado à minha própria natureza, que dia desses me peguei já imaginando um Brasil sem o PT no poder. Pássaros voando? Obviamente, responderia meu anjo da guarda, afinal de contas, ainda faltam mais de três anos para 2018. De todo modo não resisti, e conforme prosseguia no devaneio, perguntas e respostas subdividindo-se em outras tantas, cheguei mesmo a questionar se não tenho alguma predisposição para o sadomasoquismo. 


Que a premissa é ótima, a melhor possível, eu nem mesmo discuto. Digo, se alternância no poder é saudável, que dirá quando o partido hegemônico desconhece escrúpulos, rouba bilhões, sucateia estatais e manipula o povo. Entretanto, noves fora este aspecto, passei a me perguntar se teríamos outras desculpas para soltar fogos de artifício.

Tomemos justamente o próximo pleito presidencial como exemplo; não seria bacana se finalmente surgisse a tão propalada terceira via? E não apenas um ótimo candidato, mas também um ótimo partido, capaz de romper com este eterno cancro chamado peemedebismo, sem falar na falsa dicotomia entre PT e PSDB? Seria, mas sequer consigo vislumbrá-la. E enquanto as opções forem Marina, Genro, Bolsonaro, mil vezes andar em círculos no picadeiro centro-esquerdóide em que se transformou a nossa cena política.

Mas então, se as perspectivas políticas não são das melhores, o que de fato mudará a partir de 2018? Deixaremos de ser provincianos? Passaremos a ser mais honestos? Menos hipócritas? A dar mais importância para o comportamento diário, quem sabe, até mesmo a primar pela gentileza?

Também não me parece uma previsão sensata. Muito pelo contrário, acho impossível viver para testemunhar um Brasil livre dessa classe média modorrenta, crente e hábil em ginásticas argumentativas quando o que está em jogo é sua pretensa moral superior.

Idem para os mais pobres. Continuarão sendo tutelados, domesticados, bionicamente alçados a falsos patamares sociais, em outras palavras tratados como putas, pois é assim que funciona no país do toma lá, dá cá.

Se teremos alguma mudança no chamado andar de cima? Não, é claro. Ser da elite continuará significando ter dinheiro, mas não garantirá educação, valores verdadeiros ou compaixão sincera.

O grande problema do Brasil, meus caros, sempre foi, é e continuará sendo o brasileiro. Assim como eu, todos por aqui são afeitos a hábitos autodestrutivos. Quando erramos, achamos o máximo, pois o erro nos dá livre entrada no reino da auto-piedade. E tem coisa que melhor sabemos fazer, com gosto, do que sentir pena de nós mesmos?

Sim, o PT precisa deixar o poder, mas não me iludo. Por mais doloroso e vexatório que seja o processo, capaz de envergonhar, não apenas a seus eleitores, mas a todos nós, como brasileiros, nosso futuro continuará negro.

Enquanto continuarmos a ser essa massa egocêntrica, metida a fazer de conta que a vida é uma grande brincadeira, e que talvez, quem sabe, sejamos todos imortais.
Estamos numa situação dramática. Estamos vendo o esgotamento de duas agendas: da sociedade e do pensamento petista. O problema é que quando a gente percebeu o problema, o buraco já era bem profundo
Samuel Pessôa, Instituto Millenium

Como os bancos latino-americanos continuam lucrando apesar da crise


Os bancos na América Latina parecem ter encontrado a fórmula dos sonhos no mundo dos negócios: ganhar cada vez mais dinheiro, mesmo em tempos de vacas magras.

No Brasil, o lucro conjunto dos quatro maiores bancos cresceu 46% no primeiro semestre deste ano ante o mesmo período de 2014, apesar de o país enfrentar uma recessão e um escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras e o governo federal.

No México, os lucros do setor bancário aumentaram quase 14% entre janeiro e junho deste ano na comparação com a primeira metade de 2014 - ou seja, cinco vezes mais que a taxa de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) local.

Algo parecido ocorre em outras nações latino-americanas com economias em desaceleração.

Bancos de países como Colômbia, Equador, Paraguai e Uruguai registraram mais ganhos nos primeiros seis ou sete meses de 2015 do que em períodos iguais do ano passado.

A tendência se estende a países que passam por estagnação econômica desde 2014 e onde os governos adotam bandeiras de esquerda.

Bancos da Argentina e da Venezuela ocuparam os 10 primeiros lugares de um ranking regional de retorno sobre capital, divulgado pela publicação especializadaThe Banker em novembro.

Ainda que em geral a bonança tenha começado há tempo para a banca latino-americana, quando a economia regional avançava a pleno vapor, os resultados atuais chamam a atenção de especialistas.

"O lucro, devo dizer, é um pouco surpreendente", reconhece Claudio Loser, ex-diretor para a América Latina do Fundo Monetário Internacional (FMI), em conversa com a BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

A despeito das características de cada sistema financeiro, que variam por tamanho e regulação, os latino-americanos têm pontos em comum, apontam analistas.

Um deles é que costumam cobrar juros altos pelo crédito ao consumo (no Brasil, por exemplo, a taxa anual para cartões de crédito acaba de atingir 350,79%).

"Você pode observar taxas de lucros muito altas (dos bancos latino-americanos) porque eles tiveram acesso a fundos muito baratos e emprestaram a taxas altas" diz Loser, diretor da consultoria Centennial Latin America, em Washington.

Os créditos ao consumo chegaram a crescer cerca de 20% por ano na região durante a última década, devido à expansão histórica da classe média, que atingiu 181 milhões de pessoas ou 34% da população total.

A quantidade de latino-americanos adultos com conta bancária passou de 39% do total de 2011 a 51% no ano passado, de acordo com o Banco Mundial.

Uma era de incertezas

Sei que o problema não é só nosso, e que a Europa, por exemplo, não descobriu ainda uma solução para os milhares de refugiados que buscam o continente, fugindo da miséria e das guerras. As nossas incertezas não atingem essa dimensão trágica, nem a de países que estão sujeitos a terremotos, como o Chile; são dúvidas menores que se apresentam sob a forma de crise em várias frentes, que não deixam de afetar nossa vida cotidiana.

A mais frequente delas, mas não a mais grave, é a temperatura, cada vez mais incerta. Fui a São Paulo outro dia levando os agasalhos que a meteorologia recomendava, e achei que estava desembarcando no Santos Dumont, nesse nosso verão de 39 graus em pleno inverno (antigamente, os jornais chamavam o calor carioca de “senegalês”; hoje, parece que a imprensa de lá chama o verão deles de “carioquês”).

Para essas mudanças bruscas, porém, basta trocar de roupa e tomar remédio contra o resfriado ou a gripe. Mas e contra a incerteza econômica, o que fazer? A CPMF vai mesmo voltar? Ela passa no Congresso? E a inflação vai ser de quanto? E o desemprego? E o custo de vida? O pacto de ajuste vai resolver a crise fiscal, a recessão e a perda do selo de bom pagador? O ministro Edinho Silva disse que o governo não tem plano B. E se nada do plano A der certo?

Como se todas essas questões não fossem suficientes, há a incerteza política de um país na dúvida se a presidente vai conseguir terminar o mandato, seja por renúncia ou por impeachment. A julgar por sua preocupação, o risco é grande. Esta semana mesmo ela discursou umas três vezes defendendo a sua administração e acusando de golpismo os que querem interrompê-la. Segundo ela, seria uma “versão moderna de golpe de Estado”.

Deve haver os que agem assim por motivos mesquinhos, mas generalizar é no mínimo uma ofensa a personalidades como os respeitáveis juristas Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo, que já protocolaram pedido de impeachment na Câmara dos Deputados. Bicudo, petista histórico, um dos fundadores do partido, não deixou a presidente sem resposta: “Impeachment não é golpismo, é um remédio prescrito na Constituição; golpismo é de quem fala que é golpe”. Sem o mesmo peso político, mas com o mesmo objetivo, há mais uns 16 pedidos para serem avaliados pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Não se sabe o que é pior, se a incerteza em relação ao presente ou se, no caso de afastamento da presidente, a insegurança com o que viria depois. Não é em toda ruptura de governos que surge um Itamar Franco.
Zuenir Vedntura

Brasílio e a dieta do dr. Bellezza

Nunca fora um grande atleta, mas Brasílio se sentia ainda mais fraco. Não conseguia sustentar o ritmo das passadas e seus tempos na corrida começaram a subir visivelmente. Preocupado, foi procurar a nova médica, que recentemente se instalara nas vizinhanças, em busca de diagnóstico e tratamento.

Dra. Vilma chamou uma junta de especialistas de sua confiança, em especial o Dr. Bellezza, e decretaram que a queda de desempenho de Brasílio tinha uma causa simples: desnutrição.

O remédio era a dieta do Dr. Bellezza: sete refeições ao dia, ricas em carboidratos e gordura, regadas a doses generosas de refrigerantes e finalizadas com sobremesas variadas.


Não era uma opinião compartilhada por todos os especialistas. Boa parte deles considerava que Brasílio já andava meio gordinho e que o problema, na verdade, resultava de insuficiência cardíaca.

Brasílio, porém, nunca gostara de dietas muito rígidas e lembrava bem como, uns anos antes, havia sofrido de desnutrição por conta de uma piora na qualidade da comida importada, que lhe causara fraqueza considerável.

Não havia, é bom que se diga, nenhuma indicação que a comida importada tivesse sofrido qualquer deterioração visível nesta ocasião, apesar dos alertas estridentes do Dr. Pombini a respeito.

Seja como for, Brasílio embarcou na onda. Com as sete refeições do Dr. Bellezza passou a se sentir muito feliz. Sempre gostara de massas, churrascos, doces, refrigerantes e a sensação de consumi-los por ordem médica, sem culpa, era inigualável.

Não houve, porém, qualquer melhora em sua performance. Pelo contrário, os tempos continuaram a piorar, agora acompanhados de fortes dores musculares.

Voltou à Dra. Vilma que, aconselhada pela junta, não apenas manteve o diagnóstico, como reforçou a dose: agora eram nove refeições e os refrigerantes, antes opcionais, passaram a ser obrigatórios.

O desempenho piorou ainda mais e Brasílio chegou a cogitar consultar outro médico, mas a perspectiva de perder a feijoada de quartas e sábados, a picanha nossa de cada dia, os doces à vontade, assim como a alegria advinda da sensação da barriga permanentemente cheia falaram mais alto e ele manteve a Dra. Vilma.


Até que, certo dia, sofreu um colapso. Já não se tratava sequer dos seus tempos na corrida: sua temperatura havia subido, seu peso havia ultrapassado todas as medidas razoáveis (apesar das tentativas da equipe da Dra. Vilma de alterar o funcionamento da balança e do termômetro) e o seguro-saúde passou a cobrar prêmios elevadíssimos.

Veio o novo diagnóstico: era mesmo insuficiência cardíaca.

Dra. Vilma colocou a culpa na comida importada (!), mas, mesmo assim, mudou sua equipe, agora chefiada pelo Dr. Manoel Cohen, que tentou enquadrar Brasílio numa dieta severa. Cortaram o refrigerante, mas não conseguiram fazê-lo largar dos carboidratos, nem da gordura.

Brasílio segue prostrado e os prêmios da seguradora explodiram. Ainda assim, Dr. Bellezza e seus asseclas culpam a dieta, mal-e-mal adotada desde o começo do ano, pelos problemas do paciente, aferrados ao diagnóstico de desnutrição, apesar da barriga saliente, e a Dra. Vilma ainda resiste aos conselhos do Dr. Cohen.

Enquanto os charlatões vociferam, Brasílio agoniza, numa maca imunda do Sistema Único de Saúde.

Quem paga a conta

Desenvolveu-se no Brasil a cultura de baixar pacotes e planos ditos milagrosos sempre que alguma engrenagem da máquina pública deixa de funcionar ou quando as instituições se mostram incapazes de cumprir seu papel social e suas obrigações financeiras.

Quando, por exemplo, uma nova modalidade de violência choca a opinião pública, editam-se leis com vistas a endurecer a punição. Em outro extremo, quando as contas não fecham, busca-se modificar o sistema de tributos.

Geralmente acabam se revelando paliativos, quando não se prestam a abarrotar o Judiciário de ações com vistas a reparar os danos que invariavelmente causam aos cidadãos, de injustos que são.

Neste momento, diante de uma sucessão de desacertos na condução dos negócios públicos, trazendo de volta ao imaginário e vocabulário populares expressões que andavam sumidas, como recessão, inflação e desemprego, o governo federal finalmente desceu do palanque para admitir a crise. Mas a criatividade que mostrou durante a campanha, onde se pintava um céu colorido e um horizonte de maravilhas, não teve na hora de enfrentar a realidade.

Ao contrário. O mundo agora é em branco e preto e o horizonte, sombrio. Sem ideias novas, recorre-se à velha fórmula do remédio amargo. A malsinada CPMF, conhecida como imposto do cheque, é o mais comentado do momento. O objetivo é fazer com quem tem emprego e renda – ou seja, quem trabalha – engula sem reclamar a dose prescrita pela equipe econômica e aprovada pelo Congresso Nacional, se é que haverá condições para tanto.

O contribuinte brasileiro já sofre com uma das mais pesadas cargas tributárias do planeta. E o que é pior, uma carga injusta, pois simplesmente não há contraprestação que se possa chamar de decente entre o que se paga de impostos e o que o Estado oferece em troca. Vide saúde e educação como rápidos exemplos.

O filme é velho, o roteiro é o mesmo, só mudaram os personagens. Quem não se lembra dos planos Bresser, Collor, Cruzado, Real, Verão? Todos tratavam de regras de transição em períodos de inflação alta, ajuste de preços, poupança etc. De milagrosos passaram a ser mirabolantes e seus nomes ainda hoje ecoam nos corredores da Justiça país afora.

Os milhões gastos com publicidade nas últimas eleições deviam ter ensinado alguma coisa ao governo, mas ao que tudo indica só serviram para rechear a conta do marqueteiro da ocasião, que a essa altura, se for esperto, deve estar bem longe da crise.

No âmbito do Distrito Federal não é diferente. Para fechar as contas até o final do ano, o governo local anunciou uma série de medidas, entre elas a suspensão do reajuste do funcionalismo público, na prática empurrando uma fatura que será cobrada, mais na frente, com juros e correção monetária. Está previsto também aumento de IPTU, ICMS, além da elevação das tarifas de transporte público. Haja sacrifício – do povo, claro.

Mas nada chama mais a atenção do que o incrível percentual de 400% para reajustar a entrada do Zoológico, um dos poucos espaços públicos da capital do país onde o dito cidadão respeitável tem condições de ir aos domingos com a família dar pipoca aos macacos, como lembra a velha canção do Raul. Tinha, porque o preço ficou salgado, pulando de R$ 2 para R$ 10! Por essa, nem o Maluco Beleza esperava.
Ibaneis Rocha