sábado, 12 de setembro de 2015

Lula ira depor na lava jato ventilador ar condicionado sorvete gelo para gripar e perder a voz Marisa susto

O quinto dos infernos


Entre os desserviços proporcionados pela Era PT, um tem efeito devastador e exigirá muito tempo para ser recomposto: a perda do grau de investimento moral da sociedade civil organizada.

Em certo sentido, esse dano é ainda maior que o da perda do grau de investimento, recuperável pela adoção de medidas econômicas adequadas, em ambiente político mais confiável.

Mas o dano moral de privar a sociedade de tribunas qualificadas, espaços não estatais de interlocução pública, não tem preço. Entidades como OAB, ABI, CNBB e UNE levaram décadas para construir sua reputação, com participação ativa em todos os movimentos cívicos de envergadura do século XX.

São, porém, os grandes omissos em uma das maiores crises da história republicana brasileira – e, em certos aspectos, a maior.
Não se ouviu delas uma única palavra condenatória a respeito da roubalheira na Petrobras, que o jornal mais importante dos EUA, o The New York Times, considerou, em volume e abrangência, o maior caso de corrupção da história humana. Muito ao contrário, houve quem relativizasse o escândalo.


Aparelhadas pelo PT, hoje vocalizam os interesses desse partido, cuja própria sobrevivência está em risco, tal a diversidade de delitos já capitulados. Os ditos movimentos sociais – CUT, MST, MTST, entre outros – já nasceram sob a égide partidária, com a missão de cumprir uma agenda ideológica que está longe de exprimir um ideário comum à sociedade brasileira.

Têm, pois, coerência e representatividade a soldo. Seu declínio acompanha o do governo petista e das legendas que os patrocinam. Vivem de dinheiro público, à revelia do público.

Já as entidades da sociedade civil não pertencem a ninguém em especial. Foram forjadas nas lutas políticas hoje inscritas na história. A OAB, por exemplo, surge na sequência da Revolução de 1930 e tem participação ativa na luta contra a ditadura do Estado Novo, a partir de 1937.

Apoiou a queda do governo Goulart, em 1964, mas, uma vez configurada a determinação militar de não devolver o governo aos civis, tornou-se voz destacada na luta pela redemocratização.

Exerceu, por meio de seu então presidente, Raymundo Faoro, interlocução junto ao governo Geisel para construir a agenda da transição para a democracia, de que constavam, entre outras coisas, o restabelecimento do habeas corpus e das eleições diretas para presidente da República, que só retornariam de fato com a Constituinte, em 1988.

A CNBB, por sua vez, num país que já foi bem mais católico, perdeu musculatura moral ao se tornar força militante atrelada aos chamados movimentos sociais – que, por sua vez, obedecem a comando partidário. Deixou de ter qualquer importância, ao ponto de escassos católicos saberem o nome de quem a preside.

A sociedade foi às ruas, somente este ano, por três vezes, em manifestações que lotaram as ruas e avenidas das principais capitais. Disseram, por conta própria, tudo o que esperavam ouvir das entidades que sempre se ocuparam em vocalizá-la.

E o que elas disseram, quando ousaram romper o silêncio? Exatamente o que o PT e seus aliados à esquerda repetiam: que se tratava de gente rica, coxinhas, que nada tinham a ver com o verdadeiro povo (entidade abstrata que só ganha concretude se se filiar aos movimentos sociais).


O aparelhamento supôs ser possível promover uma revolução em silêncio, a revolução bolivariana, privada de qualquer debate público, a partir de uma engenharia política restrita a essas entidades, às quais se somou o que se pode classificar como uma síntese delas: o Foro de São Paulo.

O logro foi percebido a tempo de sustá-lo.

Alguns dos principais cabeças, na órbita partidária, como José Dirceu, estão na cadeia. Outros, como o próprio Lula, têm tudo para lá chegar. A revolução, sob o patrocínio de Simon Bolívar, personagem estranho à nossa história, abusou do princípio de que os fins justificam os meios e concentrou-se nos meios, de que a rapina à Petrobras dá um pálido exemplo – e que não é único.

A Era PT chegou ao fim, ainda que a remoção do governo possa levar algum tempo. A classe média, sem a qual não haveria PT, nem muito menos as revoluções – tudo começa e termina nela e com ela -, rompeu com o establishment petista.

E é sob seus escombros que se buscará algum remédio para o recomeço, para a sofrida tentativa de recolocar o Brasil de volta não a um paraíso, cada vez mais distante, mas ao singelo Terceiro Mundo. No momento, estamos no quinto – o quinto dos infernos.

Crise boa

É bom ver como artistas e cronistas apoiadores do poder, durante décadas, agora contorcem a boca e suas palavras se retorcem para inexplicar o fracasso de suas crenças ou conveniências.

A direita era ruim e a esquerda não é melhor, finalmente chegamos ao empate para começar um novo jogo.

Afinal, porque direita ou esquerda se temos dois olhos, duas pernas e dois braços? Ninguém anda só com uma perna ou vê bem só com um olho – e pouco podemos fazer só com uma das mãos.

Não quero me guiar nem por direita nem por esquerda, quero é ver governo funcionando bem e custando pouco.

O movimento para enxugar as câmaras municipais começou em pequenas cidades, mas pode ser o grande sinal de que começamos a enxergar o Mal.

O Mal, senhores padres, pastores, pais, patriotas, cidadãos e irmãos, o Mal é serviços públicos custando tanto e servindo tão pouco, Estado castigando a nação.

Mas que bom: isso gerou a crise em que tanto se purga e tanto se aprende.

A água, por exemplo, começou a ter a atenção que sempre mereceu. Talvez até aprendamos, com a crise, a apagar a luz e acender a mente.

Que seria de nós sem crises? O vento que castiga a planta também espalha suas sementes.

Embora ache (“e quem acha pode se perder”, já ensinou Noel) que o melhor para o Brasil seria Dilma fora, mas também acho que só pela lei. A esta altura, rua deve voltar a servir apenas ao trânsito.

Conforme a Constituição, Temer será o presidente. Se não puder ou não quiser, será Cunha, se ainda for presidente da Câmara, ou então Renan ou, em pela ordem, o presidente do Supremo (artigo 80) Isso, enquanto se organiza nova eleição, pois “vagando os cargos de Presidente e vice-presidente da República, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional” (artigo 81).


Fora da Lei de novo, jamais! Precisamos da Constituição – e de sua renovação – se quisermos continuar em frente.

Enquanto isso, no mundo de quem trabalha e sustenta o Estado, grandes e pequenas empresas crescem e prosperam ou micham e quebram, driblando ou sofrendo a crise, que bom.

A Crise é um jogo, e pode apostar que vai render melhoramentos para a Civilização, time do meu coração.

Com a Crise, veja que bom, a arrogância entra em crise e a criatividade se atiça!

Quem dança com a nova música, cresce; quem não cresce, dança com qualquer música.

As crises derrubam, elevam, incubam, cevam, amadurecem, a felicidade das crises é mexer com o mundo, senão apodrece!

E só a Crise ensina direitinho que numa república temos de ter direitos e também deveres.

Não vamos sair da crise maiores, mas melhores com certeza. Então vivamos a crise!

Corda em casa de enforcado

Temer falou que Dilma não se mantém no governo com o baixo índice de popularidade. Foi um deus-nos-acuda. Não se fala em corda em casa de enforcado.


O governo só pensa em sobreviver, e paradoxalmente, cava seu próprio abismo. Não me refiro apenas às notícias ruins que os dados econômicos nos transmitem. Refiro-me à performance autodestrutiva do governo. Dilma viveu um 7 de Setembro isolada por placas de ferro, não teve condições de se dirigir ao País, com hora marcada na televisão.
No entanto, na véspera, acordou com uma ideia genial: vou sacanear os militares. Eles estão muito quietos. E assinou um decreto reduzindo os poderes dos comandos das Forças Armadas. Às vezes fico pensando se não é uma tática. Mas não consigo entender sua lógica. Como Dilma não é uma articuladora diabólica, prefiro pensar que é só incapacidade.
Levy, em Paris, disse que a elevação do Imposto de Renda pode ser um caminho para cobrir o rombo fiscal. É ou não é um caminho?

Ele vai apanhar muito por sua ideia. E talvez nem chegue a apresentá-la. Qualquer Maquiavel de botequim o aconselharia ou a fazer de uma vez ou, então, silenciar.

O erro de Levy ainda se pode explicar pelo desespero de buscar recursos para um Orçamento estourado. Mas é um erro que encobre outro maior: a ideia de aumentar impostos depois de o governo ter perdido a credibilidade.

O raciocínio de Temer, que deu inúmeras explicações sobre a frase, completava-se com a expectativa de que a crise seria superada e Dilma iria recuperar um nível de popularidade”razoável”. Mas é a própria expectativa de Temer que não é razoável. Como Dilma vai recuperar a popularidade? Como vai conduzir a recuperação econômica? Como uma presidente sem experiência política vai fazer a travessia, uma vez que a maioria a considera mentirosa e responsável pelo buraco em que nos metemos?

As raposas do PMDB diriam: para bom entendedor meia palavra basta. Não é bem assim. Carlos Lacerda, no livro "República das Abelhas", dizia que o Brasil parecia um homem que foi bêbado para a cama, dormiu pouco e mal, mas precisa acordar bem cedo pela manhã. Você tem de sacudi-lo, estapeá-lo. Se ficar fazendo festinha, ele não se levanta.

Lacerda apoiou alguns socos abaixo da linha da cintura, como o golpe militar de 64. Mas sua frase me fez refletir um pouco sobre esse possível despertar do Brasil.

Os fatos negativos se sucedem. Essa incrível quantidade levará a um salto de qualidade por si própria? Ou vai surgir da esfera da política, no sentido mais amplo, o impulso para que o salto se dê?

As manifestações de 16 de agosto indicaram uma grande confiança na Operação Lava Jato. Uma confiança merecida. No entanto, será que ela basta?
Estamos entrando numa crise de longa duração. Quanto mais tempo perdermos, mais vamos impor ao País, inclusive às novas gerações, grandes dificuldades futuras.

Será preciso uma intervenção maior da sociedade. De todas as maneiras. Em Nova York o cantor Fábio Junior denunciou a quadrilha que domina o Brasil. 

Alguns discutiram os termos do protesto, o público do cantor, seus recursos estéticos. Mas o cantor e os brasileiros que estavam lá, não importa sua opção estética, são morenos como nós, pagam impostos, têm sonhos e gostam do Brasil. Eles se manifestaram como inúmeros outros o fazem aqui, dentro do País.

Essa pressão social sobre um governo incapaz funciona como algumas sacudidas para o País acordar. Mas como um homem que dormiu tarde e precisa acordar cedo, será preciso ainda mais.


Já está ficando ridícula essa história de Dilma se desculpar pela metade. O governo não tem de responder apenas pelos seus erros, que ela nem admite completamente, usando o condicional: se cometi erros, é possível... Ora, os governos de Dilma e Lula estão na iminência de responder por crimes, no petrolão e nas campanhas presidenciais.

Nesse emaranhado de problemas, há os que, como Temer, têm uma expectativa de que Dilma faça a travessia. Ninguém, no entanto, é capaz de analisar desafio por desafio e nos convencer de como ela vai superá-los.

Da crença num suposto respeito à legalidade 
eleitoral, desloca-se rapidamente para a crença num milagre. Esperam que Dilma acorde renovada e conduza a grande travessia. Aí, ela acorda invocada e vai mexer com os militares – que, por sinal, foram bastante discretos na reação.

A cada semana inventam um novo imposto. A cada semana fracassam. O governo é um Sísifo ao contrário. Sísifo pelo menos, segundo a lenda, levava a pedra até o alto da montanha e a recolocava incessantemente. O governo está no alto da montanha jogando pedra para baixo. Quebrou o País, dirigi-lo tornou-se uma responsabilidade tão áspera que a própria oposição hesita em assumi-la.

Então, como vamos sair dessa? As pessoas na rua pedem impeachment, de uma forma que as vezes me preocupa. Acham que o impeachment vai resolver todos os problemas. Na verdade, é só um passo. Se as forças políticas não conseguem discutir nem o impeachment, abertamente, o que dirá de um programa nacional para se sair da crise?

Muitos analistas concordam que a crise pode levar-nos a um retrocesso, dependendo da maneira como a enfrentamos. O problema é que nem sequer a estamos enfrentando de forma coordenada. Essa lentidão pode nos custar alguns anos a mais de sufoco.

Dilma naufragou no oceano de suas mentiras, nas correntes geladas da crise, na trajetória de delinquência institucional do PT. No momento, somos como um barco de refugiados à deriva no Mediterrâneo.

Não podemos naufragar, nem esperar resgate. Somos grandes demais para a Europa, ou qualquer outro continente. Ou nadamos ou afundamos.
Fernando Gabeira

A desobediência civil

Aceito de bom grado a divisa “O melhor governo é o que menos governa”, e gostaria de vê-la aplicada de modo mais rápido e sistemático. Levada a cabo, ela resulta por fim nisto, em que também acredito: “O melhor governo é o que absolutamente não governa”, e quando os homens estiverem preparados para tanto, esse será o tipo de regência que terão. Na melhor das hipóteses, o governo não é mais que uma conveniência; mas a maioria deles é, em geral (e alguns o são às vezes), conveniente.
As objeções levantadas contra um exército permanente — e elas são muitas e convincentes, e merecem se impor — podem também ser levantadas afinal contra um governo permanente. O exército permanente é somente um braço do governo permanente. O governo em si, que é apenas o modo que o povo escolheu para executar sua vontade, está igualmente sujeito ao abuso e à perversão antes que o povo possa agir por meio dele.
Henry David Thoreau

A volta do Febeapá

Em 1964, diante da sucessão de asneiras cometidas sob a nova ordem instaurada no país –militares invadem casa de professor e confiscam o clássico marxista “A Capital”, de Eça de Queiroz; artista plástico vai preso por fazer exposição cubista, estilo de pintura originário de Cuba; neto de general obriga neto de coronel a bater continência para ele na escola–, Stanislaw Ponte Preta criou na “Última Hora” o Febeapá –o festival de besteira que assolava o país.

Era para rir e, ao mesmo tempo, para chorar. A que ponto chegara o Brasil, com aquela gente no poder. Bem, há muito deixamos de ser uma ditadura, mas o Febeapá nunca morreu de todo. De alguns anos para cá, por exemplo, parece mais potente do que nunca. Com uma diferença: as besteiras agora só se voltam contra quem as comete. Como a presidente Dilma, uma renitente praticante.

Certa vez, disse que o filme “Vidas Secas” mostrava o drama dos nordestinos que saíam “do Nordeste para o Brasil”. De outra, situou no Rio a Baixada Santista. Classificou a mandioca como “uma das maiores conquistas do país”. No mesmo discurso, criou uma nova espécie humana: a “mulher sapiens”. E sempre foi distraída, não? Na campanha para sua primeira eleição, em 2010, seus assessores ousaram confundi-la com Norma Bengell numa foto da Passeata dos 100 mil, em 1968, e Dilma achou muito natural; depois, inventaram-lhe um doutorado em ciências econômicas pela Unicamp, e ela também não protestou.

Outro dia, justo ao ser acusada de praticar “pedaladas” para falsificar os números da economia, Dilma começou a pedalar de verdade, deixando-se fotografar andando de bicicleta em Brasília. Que festa seria Stanislaw entre nós!

Mas, como se vê, as besteiras não se voltam só contra quem as comete. Ao fim e ao cabo, todos somos vítimas desse caos mental.

O culpado

Neste capítulo semanal do relato da crise de 2015, o drama mais evidente fica na conta da perda do grau de investimento, a inação do Planalto e subsequente ultimato da indústria pró-Temer a Dilma. Mas o show à parte, e potencialmente tão ou mais importante, coube a Luiz Inácio Lula da Silva.
Sua fala criticando o Grande Outro capitalista é tão risível quanto perversa, por embutir duas enganações.

A primeira é aquela que transmuta o sujeito embevecido que comemorava o "momento mágico" por cortesia da mesma agência de "rating" de 2008 no velho sindicalista se esgoelando contra os gringos em 2015.

Mas a segunda, consequência da primeira, é mais importante. Lula delimita seu já tênue apoio ao ex-governo de Dilma Rousseff. Vão, ele e os seus, martelar a diferença entre o "heyday" lulista e o miserê de hoje.

Dá certo, sempre há ingênuos e viúvas a forçar comparações. Como se Lula não tivesse lançado as sementes que Dilma fez germinar e crescer. Como se Guido Mantega não fosse ministro de ambos, para fulanizar as coisas, ou como se o boom das commodities fosse apenas um detalhe.

O desembarque de Lula, por óbvio, não pode ser escrachado. Foi ele quem inventou Dilma. Por isso, o petista pegou uma causa de fácil apelo, a crítica ao arrocho inevitável, para tentar fazer a transição ao papel de oposição –seja a uma Dilma alquebrada, a Temer ou a qualquer outro.

A meta é 2018, com ou sem o PT que evaporou. Mas, a despeito da popularidade que já foi bem maior, mesmo ela parece distante. Lula vai sendo tragado pela Lava Jato, que diz respeito, afinal, à sua gestão na Presidência e ao tipo de política de Estado aplicada à Petrobras.

Mesmo que sobreviva a isso, há um outro problema: ele é o pai da ruína de sua biografia. Não será com bravatas e desfaçatez que se livrará disso. E o Brasil de 2015 é mais sofisticado, a despeito de sua classe política, do que o país de 2002.
Igor Gielow

As palavras no muro

Adam Smith escreveu, em 1776, que "cada imposto" representa, para os que o pagam, "um emblema de liberdade, não de escravidão". Ele tinha em mente o conceito de contrato social: uma relação de legitimidade vinculando governantes e governados. Anos antes, a Revolução Americana começara como uma revolta de colonos contra os impostos. "Não à tributação sem representação" –a bandeira dos revoltosos apontava a ilegitimidade de atos tributários decididos por um Parlamento distante, que não abrigava representação das Treze Colônias. Dilma Rousseff deveria refletir sobre essa história, na hora em que busca, pela via tributária, uma saída para a quadratura do círculo de seu Orçamento deficitário.


Nos EUA, usa-se a expressão "taxpayer", o "pagador de imposto". No Brasil, "contribuinte", o que é uma aula inteira sobre as relações estabelecidas entre o Estado e a sociedade. O tributo, na versão americana, é "imposto", termo que implica uma tensão essencial: a "imposição" só será aceita se o poder for visto como legítimo. Por aqui, a tensão se dissolve no próprio domínio da linguagem: os indivíduos "contribuem", voluntariamente, para um Estado que não lhes deve explicações. A "contribuição" não é, no caso, "um emblema de liberdade", mas a naturalização da "escravidão". Hoje, porém, para azar de Dilma, os "contribuintes" parecem decididos a falar inglês, convertendo-se em "pagadores de imposto".

A tributação é um ato político tão distintivo quanto o voto. A definição do valor e da incidência social dos impostos solicita, nas democracias, a busca de um mínimo de consenso. Para obtê-lo, o governo precisa cercar-se de argumentos persuasivos e de sólido embasamento técnico. Dilma, porém, está à caça de R$ 30,5 bilhões, o tamanho do buraco no Orçamento. No lugar de uma proposta amparada na noção de justiça tributária, seu governo lança redes afoitas ao mar. Tentando restaurar a CPMF (registre-se o nome: "contribuição"), apelou à mentira, sua companheira de cama e mesa. Agora, numa admissão tácita de que a invocação da "saúde" era só uma alegação oportunista, esboça aumentar as alíquotas do IPI, do IOF e da Cide ("contribuição", ela também), enquanto ensaia a elevação do Imposto de Renda. Nessa trajetória, ao menos, dissolveu uma narrativa lendária: de mestre carpinteiro que entalharia relevos delicados nos gastos e receitas, Joaquim Levy reduziu-se a um ávido, atabalhoado, cobrador de impostos.

"Não à tributação sem representação", está escrito no muro da história. O dilema é de legitimidade: os eleitores não se sentem representados por um governo que traiu o voto e, imerso no fabuloso escândalo do petrolão, quer cobrir com impostos o poço perfurado pela irresponsabilidade fiscal. Quem, exceto néscios incuráveis e governistas profissionais, pode criticar o Congresso por resistir à ofensiva dos mercenários da tributação aleatória?

Há meses, o país pede a Dilma a admissão dos erros de política econômica do primeiro mandato. Não seria "penitência cristã" ou "autocrítica comunista", explicou FHC, mas um gesto tão ousado quanto indispensável. De um lado, pelo recurso inédito à verdade, propiciaria a recuperação de uma réstia de legitimidade. De outro, por meio de uma revisão doutrinária, ofereceria algumas certezas sobre os rumos do segundo mandato. Surda, a presidente prefere zombar de todos, atribuindo a crise a uma súbita, imprevista, mudança na conjuntura externa e, mais ainda, insistindo no conto infantil de que errou por fazer o bem.

Dilma não pode admitir o erro de fundo porque não está disposta a romper com suas crenças ideológicas e, sobretudo, para não romper com o lulopetismo. Presa na dupla teia, tornou-se escrava de seu fracasso, que condena o país à espiral recessiva. O governo já não pode tributar, pois tornou-se incapaz de representar.

Empresas brasileiras migram para o Paraguai

A brasileira X-plast fabrica brinquedos, utilidades domésticas, mesas e cadeiras de plástico em Ciudad del Este: 70% da produção é exportada para o Brasil |
Indústria brasileira no Paraguai
O Paraguai não faz milagre, é o Brasil que abusa dos impostos
Rafael Buddemeyer
Em busca de mão de obra mais barata e de impostos menores, empresas brasileiras de diferentes setores estão cruzando a fronteira e instalando filiais no Paraguai. O país vizinho, que hoje é um dos que mais cresce na região –o PIB paraguaio deve avançar 4% neste ano – se transformou em um parceiro estratégico para as empresas que pretendem baratear os custos da produção em um momento de forte crise da indústria brasileira.

O carro-chefe do Paraguai para atrair os brasileiros é a chamada Lei de Maquila, criada há mais de 15 anos. Inspirada no modelo mexicano, essa lei prevê isenção de impostos para empresas estrangeiras para importar maquinários e matéria-prima, desde que o produto final seja exportado. Há apenas um tributo único de 1% sobre a fatura de exportação quando a mercadoria deixa o Paraguai.

Hoje mais de 40 empresas brasileiras, de indústrias têxteis a fábricas de plástico, já adotaram o método que vem sendo incentivado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade levou, na última quarta-feira, mais de 90 empresários de 79 empresas para o Paraguai para que eles conheçam as oportunidades de negócios no país. Durante três dias, a comitiva brasileira que será acompanhada pelo ministro do Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto, participará de seminários e de um encontro com o presidente paraguaio Horácio Cartes.

“A missão tem como foco mostrar o ambiente de negócio favorável no Paraguai. Não queremos que as empresas fechem suas portas aqui no Brasil, mas que se tornem mais fortes e competitivas, fazendo parte de cadeias internacionais de produção”, afirma a Sarah Saldanha, gerente de Serviços de Internacionalização da CNI. Ainda segundo ela, 80% das empresas que utilizam o método de maquilano Paraguai têm capital brasileiro e dezenas prospectam oportunidades de negócios no setor. O investimento de empresários do Brasil também é uma das causas do aumento desse setor: entre 2013 e 2014, as exportações das maquiladoras cresceram 52%, atingindo mais de 260 milhões de dólares.

“A procura está tão grande que não estamos conseguindo assessorar todos os interessados. Parte dessa demanda é pela crise que atravessa o Brasil, mas também pela própria competitividade do mercado. As concorrentes de empresas que já vieram em uma primeira leva percebem que precisam internacionalizar a marca”, explica Wagner Weber, diretor do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), que assessora empresários nas negociações.

Lula não gosta de poor's

A declaração do ex-presidente Lula a respeito da reclassificação do Brasil pela agência Standard & Poor's pode ser compreendida de 3 maneiras bastante diferentes: ou é uma mais uma bravata de petista para desqualificar opositores sem discutir o mérito da argumentação, ou trata-se pura e simplesmente da ignorância a respeito dos métodos utilizados para medição de riscos, refletindo o fato de seus sei lá quantos títulos de doutor não terem sido obtidos pelos méritos acadêmicos normais, ou ainda é o caso de personalidade incapaz de confrontar adversidades, como uma criança que acusa o irmão pela traquinagem descoberta pelos pais.

Sempre foi um método, desde que o grupo que atualmente ocupa o governo começou a despontar como força política considerável no Brasil , ignorar completamente qualquer argumentação, qualquer ato, qualquer fato contrário aos seus interesses, como se não houvesse qualquer verdade ou mérito fora dos manuais do partido. Portanto, qualquer tsunami econômico que balança até a China vira marolinha, qualquer Mensalão vira Ação Penal 470, qualquer censura vira Controle Social da Mídia, etc..

O que aconteceu foi que a agência avaliou seus parâmetors e concluiu, com métodos aceitos pela comunidade acadêmica, que o país está em condições piores que antes, e que somente obterá crédito no mercado internacional sob condições um tanto mais draconianas. Banqueiro é gente que leva muito a sério a questão do comportamento do devedor antes de colocar dinheiro em algum negócio. Portanto, as palavras de Lula "Isso não significa nada. Significa que apenas a gente não pode fazer o que eles querem" não estão em conformidade com os fatos. Aquilo que, conforme o ex-presidente, "eles querem" é apenas que nós, o Brasil, honremos compromissos assumidos, como qualquer pessoa, empresa ou governo com um mínimo de boa índole. Conforme pareça mais difícil que o cliente honre o compromisso assumido ou a assumir, quaisquer que sejam os motivos, os negócios tornam-se mais difíceis e mais caros.

O fato consumado que se apresenta é o que se imaginava: a conta da farra creditícia acabou de ser apresentada ao governo, e, junto com a fatura, veio a informação de que o nome, que ainda não está sujo na praça, está sendo avaliado como candidato um pouco mais sério a figurar no SPC. Ainda não estamos na região daqueles pedintes contumazes de empréstimos que devem ser evitados, mas os bancos (e investidores) estão de olho. Mais um pouco de descontrole, falta de seriedade ou distúrbios políticos ou econômicos e passamos definitivamente para o grupo dos que não devem ser considerados como integrantes sérios do mercado de negócios internacionais. Ao contrário da impressão blasé que Lula pretende dar ao fato, é sim um problema que pode interferir na vida de todos nós, inclusive de quem nem tem conta em banco.

O governo falha e quem trabalha paga

Ensina o sábio dito popular que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. E a política vive a nos mostrar que essa é uma verdade incontestável. Na última quarta-feira o Brasil recebeu a notícia de que uma agência de classificação de risco influente baixou o grau de investimento do país. O que significa isso, em bom português? Que o Brasil não é mais visto pelos analistas de tal agência como um lugar seguro para que empresas multinacionais façam seus investimentos.


Reagir à perda do grau de investimento tentando desqualificar a agência de classificação de risco é perda de tempo. Fato é que a agência sinaliza para o mercado. Assim, a notícia agravará a recessão que já é sentida na indústria, no comércio e, principalmente, nas camadas mais pobres da população.

E qual a primeira proposta desenhada pelo governo da presidente Dilma Rousseff para tentar combater essa crise? Aumento de impostos. Em outras palavras, a conta por uma política econômica atrapalhada, pelos desmazelos de um governo que nem sequer conseguiu estabelecer um diálogo decente com o Congresso Nacional, vai para o trabalhador, que já sustenta uma das mais pesadas cargas tributárias de que se tem notícia.

A crise brasileira, a rigor, não pegou ninguém de surpresa. Ela foi desenhada ao longo de um mandato que se caracterizou pela absoluta falta de diálogo não só com a classe política, mas também com a própria sociedade, e da inabilidade de lidar com quem o contraditório. Consertar o estrago, a essa altura, com o fantasma da inflação, do desemprego e da recessão se materializando, quase sempre descamba para providências improvisadas.

Uma delas foi enviar uma proposta de Orçamento deficitário para o Congresso, na esperança de dividir com o parlamento a responsabilidade pelos arranjos que a economia precisa. Outra foi a de ressuscitar o malfadado imposto sobre as transações financeiras, traiçoeiramente criado no passado para socorrer a saúde, mas que serviu a propósitos outros, sobre os quais nem vale a pena lembrar.

Tudo isso pode ser resumido assim: o contribuinte, mais uma vez, será chamado a quitar uma fatura que não é sua, será responsabilizado por um contrato que não fechou.


A carga tributária no país é de 35% do Produto Interno Bruto, acima de muitos países desenvolvidos. Com um agravante: não há a contraprestação. Sim, porque em países desenvolvidos o cidadão paga mais impostos, mas não tem de se preocupar em pagar por educação, saúde, transporte, segurança e outros quesitos básicos de uma vida cidadã.

Já se passou quase um mês desde que foi prometido, mas até agora não se mexeu no absurdo número de ministérios que compõe a pesada máquina administrativa federal. Que tal começar por aí? O ajuste fiscal começa nas contas públicas, fechando os escoadouros por onde escapa o dinheiro que nós, cidadãos trabalhadores, tiramos de nossas casas, de nossas famílias, para financiar a sociedade.

Não precisamos ser ingênuos para nos permitir esperar mais da política. Sim, sabemos que na chamada real politik os avanços são lentos e condicionados à conveniência dos grupos e de concessões de todos os lados. Porém, depois de 25 anos de vigência da Constituição que nos legou o maior período de normalidade institucional da República, precisamos avançar de fase.  E isso significa dizer que os políticos precisam parar de criar os problemas que depois fingem resolver.
Ibaneis Rocha