domingo, 6 de setembro de 2015

Guia de vacinação contra as mentiras do discurso de 7 de setembro

Dilma a Cavalo
Nesse sete de setembro, aguarde: Dilma vai manipular números e construir uma nova mentira.

Veja bem: manipular não quer dizer distorcer. É um jogo de supressões, somente e amiúde.

É muito fácil fazer isso.

O francês Jean-Louis Besson foi o organizador de um estudo chamado “La cite des chiffers ou L’illusion des statisques”. Num trecho de sua “Ilusão das Estatísticas” ele estabelece que marcianos resolveram pesquisar por amostragem o que eram os seres humanos.

“Estacionam as naves na exosfera, nossa última camada. Adotam portanto o critério da verticalidade para analisar os humanos. Estabelecem um padrão de medida, chamado Kromik. Passam a considerer que só seria catalogado como algo vivo aquilo que tivesse pelo menos meio Kromik, ou 1,20 metro. Numa primeira categoria, catalogaram os seres de 0,5 a 2,5 kromiks (humanos, arbustos, caminhões, postes de telephone, postes de energia elétrica e casas…bebês, por obviamente terem menos de meio metro, eram desconsiderados como formas vivas…) Resultados: a altura média dos seres da Terra seria de 31,1 kromiks, ou 74,6 metros, com margem de erro relativo a 2%”.

Faz-se isso em todo lugar: na mídia também. Há 15 anos o jornalista americano Bob Garfield se meteu na análise do numerário sobre doenças graves publicadas no espaço de doze meses nos jornais Washington Post, New York Times e USA Today. Os números eram de causar não só medo. Mas, sobretudo, escárnio: 53 milhões de americanos com doenças cardíacas, 53 milhões com enxaqueca, 25 milhões com osteoporose, 16 milhões com obesidade, três milhões com câncer. Outros lotes de doentes compreendiam doenças não tão comuns, como 10 milhões sofredores de disfunção da articulação temporo-mandibular e dois milhões sofredores de distúrbios cerebrais.

Ao somar os números, Bob Garfield chegou à conclusão de que 543 milhões de americanos estão muitíssimo doentes –num ano em que a população dos EUA era de 266 milhões de almas. E o escárnio não parou por aí. Jim Windolf, um editor do New York Observer, notou que Garfield havia subestimado os pacientes noticiados com enfermidades mentais, 53 milhões. Nas contas de Windolf, havia, segundo a mídia dos EUA, mais 10 milhões sofredores de disfunção da personalidade limítrofe, mais 11 milhões acometidos de compulsão sexual, outros 12 milhões com aquilo que se chama de síndrome das pernas inquietas. Ou seja: onde Garfield viu 53 milhões, a partir da análise das publicações, Windolf encontrou um numerário de 152 milhões de doentes. O que elevava o número de doentes dos EUA para quase três vezes a população dos EUA.


Por que Dilma e Lula manipularam seus discursos de sete de setembro?

Por que o Brasil ia bem. Mas o próprio PT fazia uso do país estável para roubar no Petrolão.

Então o truque: políticos comprados pelo esquema Petrolão, mais empreiteiras, aproveitavam a boa maré brasileira para meterem a mão na massa, como nunca antes na história desse país.

Davam ao paciente um bolo delicioso: mas dele omitiam o câncer, gerado pelos mesmos políticos patrocinadores do bolo.

O povão, mesmerizado pela onda de consumo, nadava nas felicidades crocitantes da nova classe média. O mundo ia na mesma maré enchente:: a nova classe média ainda é responsável por mais de um terço de toda a população da África, de três quartos da população da América Latina e de quase 90% da população da China. É a classe que segundo o Banco Mundial tem faturado de 2 a 13 dólares por dia, e que subiu de 277 milhões de representantes da América Latina para 362 milhões entre 1990 e 2005.

Era de boa roubar nesse quadro.

E os discursos de Lula e Dilma iam na onda daquele do conde Afonso Celso, que em seu “Porque me Ufano do meu País”, de 1900, notava: ““Quando disserdes: “Somos brasileiros!” levantai a cabeça, transbordantes de nobre ufania. Convencei-vos de que deveis agradecer quotidianamente a Deus o haver Ele vos outorgado por berço o Brasil.”

Se ufanar virou se afanar, não nos furtemos de lembrar isso!


Selecionei para vocês alguns discursos de Lula e Dilma: anunciando meteoros festivos sobre a quermesse do povão…e, enquanto estes se refestelavam no consumo, aqueles metiam a mão no esquema Petrolão.

Sete de setembro de 2007: Lula refere que avançar na ética e no combate a impunidade é esforço que “nosso governo vem tendo, colhendo ois frutos doces e amargos nessa semeadura”.
Veja: https://www.youtube.com/watch?v=-GS9BGNsQtk

Sete de setembro de 2009: Lula faz um discurso em Cadeia Nacional (hoje deseja-se que Lula esteja de fato em cadeia nacional). Anuncia leis que garantirão que “políticos não gastem de maneira irresponsável” os milhões auferidos da então novidade chamada pré-sal. Aconteceu o contrário, não?
Veja: https://www.youtube.com/watch?v=2mcbFAtuHno

Sete de setembro de 2010: Lula critica os que colocam os seus “interesses pessoais acima dos interesses do país”. Hummm: os petroleiros já então faziam o contrário… E teve também piada : diz Lula que nosso povo é “maduro”. Semioticamente falaria ele no nosso vizinho golpista?
Veja:https://www.youtube.com/watch?v=iuQJDpwpLUw

7 de setembro de 2011: Dilma anuncia um Brasil plenamente preparado para enfrentar os desafios da economia, cuja estabilidade está “garantida”, enquanto “boa parte do mundo desenvolvido piora”.
Verdade: veja onde estão os EUA e Alemanha hoje e onde estamos nós…
Confira: https://www.youtube.com/watch?v=GcF2JY7nV8g


7 de setembro de 2012: Dilma discursa que o Brasil virou a sexta maior economia do mundo e vai dar “novo salto” enquanto o mundo “se debate num mar de incertezas”, porque criamos um “ modelo de desenvolvimento inédito”. Verdade, não?
Confira: https://www.youtube.com/watch?v=sX1UT2lxJKU

7 de setembro de 2013: Dilma canta que “nossa economia continua firme, superamos os EUA e Alemnanha, deixamos para trás México e Coreia do Sul”. https://www.youtube.com/watch?v=wlsjSFwZZBY

Um desfile de mentiras


Sem ter o que dizer, a presidente Dilma Rousseff não deverá se pronunciar em cadeia de rádio e TV nas comemorações da Independência. Se confirmada, a atitude inédita será bem-vinda. Poupará paciência e panelas.

Desde 2011, Dilma aproveita a data para, em horário nobre, despejar sobre os brasileiros autoelogios e uma imensa quantidade de mentiras. Revisitar esses pronunciamentos é didático. Cada frase em tom ufanista comprova o verdadeiro caráter (ou a falta de) de seu governo.

No pronunciamento do primeiro ano de mandato, a presidente alardeou o fato de o Brasil não ter sucumbido diante da crise internacional que represou o crescimento mundial. Com todas as letras, disse que o país tinha “muito espaço para crescer” e o povo brasileiro “motivos de sobra para ter esperança em um futuro melhor”.

Fez ainda um sem número de promessas que não seriam cumpridas nas áreas de Educação e Saúde. Assegurou que reforçaria as fronteiras para impedir a entrada de drogas e apresentou programas revolucionários para viciados: enfermarias especializadas e consultórios de rua para garantir “alternativas de atenção e cuidado, 24 horas por dia, em todo o Brasil”. Tudo balela.

Com a aprovação de seu governo batendo na casa de 64% de ótimo e bom, no ano seguinte Dilma usou a cadeia de rádio e televisão para rasgar loas ao modelo econômico implantado pelos governos petistas. E abusou do ludibrio: “Ao contrário de outros países, o Brasil criou, nos últimos anos, um modelo de desenvolvimento inédito, baseado no crescimento com estabilidade, no equilíbrio fiscal e na distribuição de renda.”

Foi ainda mais ousada. Faltando menos de um mês para as eleições municipais que levariam o PT à vitória em São Paulo e Belo Horizonte, anunciou que reduziria as tarifas de energia a partir de 2013. Deu no que deu. Hoje, além da desordem que impera no setor, as contas de luz estão 75% mais caras.

O 7 de Setembro de 2013 foi o da multiplicação de pactos. Acuada pelas manifestações de junho que derrubaram sua aprovação para 30%, e, pior ainda, elevaram a rejeição para 25%, segundo o Datafolha, Dilma lançou o papo de tudo pelo bem do Brasil – algo semelhante à lengalenga que se ouve hoje. Chegou a dizer que o governo deveria ter “humildade e autocrítica para admitir que existe um Brasil com problemas urgentes a vencer”.

Como soberba é doença incurável, apenas concedeu à população “o direito de se indignar com o que existe de errado”.

Mas nada se compara ao ano passado. Na mentira e na desfaçatez.

No auge da campanha, Dilma dedicou todo o programa eleitoral do dia 6 de setembro para desconstruir Marina Silva, que ameaçava a liderança da candidata petista. E o fez sem qualquer pudor.

O tema era o pré-sal que Marina Silva, em seu programa de governo, ousou afirmar que revisaria. Na TV, Dilma diz que a opositora acabaria com os royalties carimbados para a educação. E com a criação Lula-Dilma do “conteúdo nacional” na fabricação de navios e sondas, estímulo decisivo à competitividade e à geração de empregos.

Está aí a Lava-Jato a comprovar que, de fato, a aventura nacionalista garantiu milhões para uns e centavo algum para as salas de aula.

Nesta segunda-feira, Dilma presidirá o desfile do 7 de Setembro em Brasília. Para que possa aparecer a céu aberto, a Esplanada dos Ministérios será transformada em recinto fechado. O público só será bem-vindo depois de revista que confiscará faixas, bandeiras e bonecos-pixulecos.

Exibem-se assim os efeitos da rejeição recorde de 71% dos brasileiros e o conceito muito particular que Dilma e os seus têm de independência
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Reciclagem do sistema

Ainda não alcançamos o estado evolutivo que permita “inserir-se na comunidade dando o melhor da própria capacidade e recebendo pela real necessidade individual”, como apregoou Karl Marx em “O Capital”. O equilíbrio social ainda não dispensa a profissão e o trabalho. Tirar o trabalho do homem é frustrá-lo, impossibilitar-lhe a cidadania.

Dizia meu mestre que a humanidade de hoje não passa de um adolescente de 17 anos. Milênios faltam para a “Cidade do Sol”, a sociedade apaziguada pela sabedoria e pela felicidade. Ainda precisa “construir” e “servir a uma causa” que dignifique e ordene a vida do homem. Disso nascem a autoestima e o sustento material, a harmonia entre semelhantes.

Não se consegue imaginar medidas para reestruturar uma economia nacional, como se tenta agora, desestruturação dos setores produtivos que geram trabalhando e renda.

Os mentores do maior desajuste fiscal enfrentado pelo Brasil, da disparada do descrédito e da moeda nacional não se preocupam nem pensam em medidas mitigadoras voltadas a manter a ocupação. Nada.
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Para piorar, entra em vigor um aumento de 150% das contribuições sobre a folha das indústrias e dos setores estruturantes. Isso é um convite a fechar as portas e migrar para longe. Em plena recessão mantém-se a Selic nas alturas, com isso a necessidade de arrecadar mais para um déficit que aumenta sem parar.

Incapazes, incompetentes, despreparados povoam o cenário do governo. Tem também por parte das lideranças empresariais um estonteamento, uma incapacidade de reação, falta de propostas. Fica a cada dia mais improvável acreditar nas medidas desagregadoras ditadas por banqueiros à nação.

Os últimos 25 anos de crescimento constante, ameaçado apenas por “marolinhas”, criaram uma geração de executivos acostumada à moleza. Os sobreviventes do caos das décadas de 70 e 80 morreram ou ficaram analógicos em plena era digital.

O embalo do maior crescimento econômico de todos os tempos se deu quando alguns bilhões de indivíduos no planeta passaram do estado de sobrevivente para aquele de consumidor, especialmente na superpovoada Ásia. Isso definitivamente parou. Sobreviverá quem tem estrutura e capacidade real.

Com o refluxo recessivo, a onda volta ao mar e deixa os entulhos que trouxe, as ineficiências, as coisas malfeitas, os erros à mostra, também como foram perdidos em farras e gastanças os fartos dividendos.

As cigarras se calam, apenas as silenciosas formigas sobrevivem no inverno. Enxergam-se os entulhos da transposição, do pré-sal, dos estádios vazios, parecem devaneios os trens-bala, as maluquices do grupo X, que não têm uso ou conserto.

O barril de petróleo caiu pela metade, e a gasolina subiu neste ano 40%. Dinheiro de royalties nem um centavo, não deram alento à saúde nem à educação. O Congresso Nacional brigou dois anos como se os royalties fossem um monte de dinheiro, e não um punhado de moscas.

E que acenos de saída desse túnel de desespero existem?

Pregam que aumentar impostos num país que já passou do limite da capacidade de suportar a carga será a solução! Esquecem que indústrias e setores ligados à produção foram esmagados e que a credibilidade nacional deixou em pânico o mundo. Os dólares não param de sair, já subiu quase 50% em oito meses.


PIB em queda livre, dólar em disparada, desemprego saindo pela culatra e determinando mais perdas aos cofres da seguridade social.

Apesar disso tem gente que não desanima. Nos últimos dias voltei a Brasília, levando debaixo do braço uma proposta elaborada entre amigos, que pode aumentar o PIB em 2,5% em 2016 e gerar a arrecadação que falta. Sem prejuízo para ninguém, ainda promovendo despoluição ambiental e reduzindo a dengue, doenças pulmonares, vítimas de trânsito, e acrescentando 940 mil empregos com R$ 30 bilhões de arrecadação extraordinária.

A vantagem de quem colaborou com esses planos é que eles vêm de pessoas que não jogam a toalha e sabem fazer acontecer, mais que explorar o poder e os cofres públicos. Sempre há uma possibilidade de vencer obstáculos. E a proposta que elaboramos não tem possibilidades de corrupção, nem cede a soberania nacional, nem desemprega ou provoca sofrimentos desnecessários.

A proposta parte de exemplos recentes, de nações mais avançadas que a nossa, onde deu certo.

Verdade é que temos nas ruas uma frota obsoleta e nenhum incentivo a renová-la. Mais de 3 milhões de caminhões, e 1 milhão desses com mais de 30 anos de uso, que emitem CO2 50 vezes mais que os caminhões de última geração. Aquecimento global vem disso aí.

Ainda circulam mais de 10 milhões de veículos de passeio acima de 25 anos de uso com elevada emissão de poluentes por não terem injeção eletrônica, descarga catalítica ou predisposição para o flex.

Ajudar a substituir o que é um perigo para o trânsito e a saúde pública é factível em larga escala, sem obrigar ninguém, mas apenas dando incentivos de forma razoável e sustentável. O plano mostra como mais de 8 milhões de veículos teriam seu fim de vida antecipado por veículos menos poluentes nos próximos cinco anos.

Balizado em estudos sérios, nos exemplos externos, em contas de economistas “reais”, isso daria até 2 pontos de PIB, mais 1 milhão de veículos vendidos por ano, uma arrecadação extra de R$ 25 bilhões e a geração de 900 mil empregos.

Nesse caso a roda voltaria a girar e gerar aumento de arrecadação para os municípios com o recolhimento de carcaças e carros abandonados – combatendo, assim, a poluição visual, a dengue que se abriga em pneus e carcaças.

O bom desse plano é que vai dar emprego, não custará sacrifício ao erário, dará alento a uma economia asfixiada pela incompetência.

Um emprego a mais no setor automotivo gera outros sete fora dele. Quando se arrecada pela produção de um veículo, se multiplica por três a circulação de bens e serviços induzidos.

A reciclagem de veículos obsoletos tem alimentado nos últimos 15 anos a Europa, despoluindo seus ares e recuperando matérias-primas. Aqui, infelizmente, 39 ministros parecem não saber como se estrutura um plano virtuoso, apesar de viajarem constantemente ao exterior.

Um Plano de Renovação de Frota (poluente por outra mais limpa) pode ser ainda muito melhor aqui, no Brasil, que em outras partes do mundo. Devolveria a credibilidade econômica e ambiental que se perdeu.

Mas tem que ser urgente.

As lágrimas do ator político

As lágrimas do comediante, disse um dia Diderot, escorrem de seu cérebro; as do homem sensível jorram de seu coração. Na política, também é assim. Políticos e governantes, como os atores, vivem de representações. E criam projeções que passam a se confundir com os personagens que representam. Poucos, muito poucos, podem dizer que o “eu” e o “ele” são a mesma coisa. Alguns construíram seus perfis sobre um conceito negativo que, de tanto lapidado e moldado às circunstâncias, passou a ser aceito pelos cidadãos. É, por exemplo, o caso do “rouba, mas faz”. Muitos estendem o ciclo de vida política graças à caricatura que moldaram. É o caso de políticos com o carimbo de “obreiros, estradeiros, fazedores, desenvolvimentistas”.


Até os dias de hoje, os comediantes impressionam seus públicos não por serem furiosos, mas por representarem muito bem o furor. O ciclo dos histriões que, com o embalo da dor, comovem as plateias, está chegando ao fim. A cidadania se expande em todos os espaços da pirâmide, trazendo em seu bojo uma carga de conscientização política, que inclui a capacidade das pessoas de distinguir a verdade de versões, a falácia de fatos. A máscara começa a ser retirada dos atores políticos por grupos que absorvem o escopo ético e moral. O espaço para o engodo se estreita sob uma nova ordem ética, construída ao lado dos vergonhosos escândalos que abalam os pilares da nossa frágil democracia.

O avanço racional da sociedade começa a se distanciar dos perfis ficcionais e de um nacional-populismo que, entre nós, teima em fincar raízes desde os tempos de Vargas, prosseguindo na combinação do desenvolvimentismo com política de massas de Kubitschek, no trabalhismo de Goulart, na índole nacionalista de Jânio, na era autoritária-populista-esportiva de Médici, no olimpismo-aventureiro de Collor até o palanque demagógico de Lula, cuja continuidade descambou no tecnicismo misturado com o colchão social arrumado por Dilma. São traços ligeiros do ethos populista dos nossos governantes.

Adhemar de Barros, ícone do populismo paulista, deixou de seu Governo a marca do “rouba, mas faz”, que, mais tarde, viria a ser colada a Paulo Maluf, cujo perfil se associou ao obreirismo faraônico, tão característico que lhe emprestou um slogan muito clonado nas campanhas eleitorais: “fulano fez, fulano faz”.


O populismo do passado se agarrava às emoções das massas e nas grandes mobilizações sociais. A onda massiva na contemporaneidade alcançou o clímax com Luiz Inácio Lula da Silva, um mestre na combinação de signos. Pobre, retirante nordestino, metalúrgico, com um simples curso primário, voz rouca, atarracado, passou a usar um verbo metafórico do gosto das massas. Chegou ao centro do poder e ao assento maior da República, o de presidente, na demonstração muito badalada por ele de que qualquer brasileiro pode vir a ser o chefe da Nação. Virou ídolo. Conseguiu o feito que nem Getúlio alcançou: ser opositor a ele mesmo. Como? Usando artimanhas de palanque: como presidente, parecia muitas vezes um combatente ao governo que ele mesmo comandava. A verve e o verbo exaltado do oposicionista escondiam as verbas que faltavam às regiões. Um exímio ator.

Hoje, Lula não consegue arregimentar multidões. Tem ainda uma boa audiência para ouvir seu palavrório. Mas as massas não parecem dispostas à mistificação. A vacina ética entra nas veias sociais. O engodo chegou a tal ponto, nos últimos anos, que começa a despertar desconfiança. Quem imaginaria o boneco Pixuleco (imitação de Lula) desfilando pelas ruas do país? Grupos tomam o lugar das massas, na demonstração de que o vigor crítico dos cidadãos se expande. A mídia assopra brasa na grande fogueira dos escândalos e este último, o Lava Jato, chama a atenção do mais distante brasileiro por seus efeitos devastadores.

Os espectadores da cena política não querem se entregar às ilusões, preferindo exercitar sua indignação, desmistificar o jogo dos atores e denunciar a encenação dos personagens. A conclusão é patente: a política feita por alguns atores não tem melhorado a vida das pessoas. As crises se escancaram: a economia aperta o bolso dos contribuintes; a política é um mar de lama; a crise solapa os valores morais; começa a faltar água nas torneiras e daqui a pouco poderá haver escuridão com um apagão energético.

Multiplica-se a violência, os serviços públicos se deterioram, o desemprego grassa, os hospitais estão sucateados, os remédios custam caro e a vida se torna insuportável. A classe emergente, a C, teme regressar aos espaços carentes da classe D, de onde veio. Os cidadãos seguram o grito preso na garganta: “chega. Chega de mentiras, de encenação, de rapinagem, de brincar com a nossa vontade. Queremos um novo tipo político. Que chore com o coração e não com o cérebro”.

A insatisfação atinge as alturas. O sentimento de revolta acaba oxigenando a democracia. Afinal de contas, como lembrava John Stuart Mill, em Considerações sobre o Governo Representativo, há duas espécies de cidadãos: os ativos e os passivos. Os governantes preferem os segundos - pois é mais fácil dominar súditos dóceis ou indiferentes - mas a democracia necessita dos primeiros. Numa sociedade passiva, os súditos serão transformados em ovelhas dedicadas tão somente a pastar capim uma ao lado da outra e a não reclamar nem mesmo quando o capim está escasso.

Viva! O povo começa a perceber quando as lágrimas saem do cérebro ou do coração dos nossos comediantes políticos. Não quer mais pagar tributo por um expressionismo cênico, caricatural, grotesco, mímico, que tem feito da vida pública um palco de sentimentos falsos, forçados ou fabricados, e da representação política um altar de glorificação pessoal.

Despreparo de Dilma Rousseff chega a ser constrangedor


O país está vivendo uma crise muito grave, cuja causa principal não é interna ou externa, devendo-se atribuí-la à própria incompetência da governante, que é uma espécie de Rei Midas ao contrário – tudo o que faz dá errado. Mesmo assim, já tendo se acostumado com os erros dela, foi com surpresa que a opinião pública tomou conhecimento da declaração da presidente Dilma Rousseff, na sexta-feira, anunciando que o governo federal já cortou “tudo que poderia ser cortado” no Orçamento de 2016.

Sua Excelência afirmou não haver alternativas, dizendo que a única solução para o governo é gerar novas receitas, como se a administração de um país fosse como uma lojinha de R$ 1,99, que de repente pudesse passar também a vender recargas de telefone celular, água mineral, biscoitos e bananadas.

Dilma é de uma incompetência tenebrosa. Mas sabe muito bem que, para o governo ter novas receitas, só existe uma fórmula – criar ou aumentar impostos. A não ser que ela pretenda reestatizar algumas fontes de receita que foram privatizadas, como a ponte Rio-Niterói, as estradas federais e os aeroportos.

Todos sentem que o pais está ficando imobilizado. Os empresários meteram o pé no freio e até o sistema financeiro começa a se assustar com o rumo das coisas, oferecendo aos inadimplentes da chamada Classe C uma oportunidade única – pagamento da dívida com corte de todos os juros, acreditem se quiserem, como diria o outrora famoso Ripley. Todos percebem a gravidade da crise, menos a senhora Dilma Rousseff, que vive num outro mundo, onde todas as despesas são pagas pelos súditos e o cartão corporativo compra até consciências.

A equipe econômica queria cortar 15 ministérios, ela reduziu para 10, mas não pretende reduzir de forma expressiva os cargos comissionados, é uma reforma tipo Denorex, que parece, mas não é. Nem mesmo os cartões corporativos serão suspensos.

Na sexta feira, ao dizer que o Congresso e a própria sociedade deveriam apontar ao governo como arranjar novas fontes de renda, fez questão de anunciar que não haverá cortes em programas sociais. E o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, fez idêntica declaração, em entrevista à agência internacional de notícias Reuters.

Se tivesse o mínimo de cultura e experiência em administração pública, Sua Excelência saberia que o governo está hoje diante de uma “escolha de Sofia”, que é uma versão romanceada do famoso julgamento do Rei Salomão.

O problema que está em cima da mesa dela e da equipe econômica é o seguinte: ou o governo corta seus gastos de custeio e diminui as despesas da máquina administrativa, ou será obrigado a fazer economia reduzindo os programas sociais. Esta é questão, que a presidente, pseudo “doutorada” em Economia, nem consegue enxergar.

Os ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa não são sumidades nem referência profissional, mas sabem o que está em jogo. Desde o início do governo tentam fazer o ajuste fiscal, que ainda não existe, continua em preparação, enquanto o país afunda. E a senhora Dilma Rousseff não ajuda em nada, pelo contrário, atrapalha o tempo todo e continua fazendo pedaladas fiscais no exercício de 2015, vejam até onde vai a desfaçatez desses administradores públicos. Não percebem que o tempo não para e, se não fizerem cortes urgentes nos gastos públicos, o país vai entrar em parafuso e os cortados serão eles.

Santos autômatos?

O MST preza por manter uma relação de independência e de autonomia em relação a qualquer partido
Guilherme Boulos, líder do movimento de esquerda que tem protagonizado algumas das principais manifestações dos últimos anos no país, recusou o convite para integrar o Conselho Político do PT anunciado como forma de tirar o partido da crise ética

Não há mais recursos na despensa da casa comum, prega encíclica

A Terra é um planeta pequeno, velho, com a idade de 4,44 bilhões de anos, 6.400 km de raio e 40 mil km de circunferência. Há 3,8 bilhões de anos surgiu nele todo tipo de vida, e há cerca 7 milhões, um ser consciente e inteligente, altamente ativo e ameaçador. O preocupante é o fato de que a Terra já não possui reservas suficientes em sua despensa para fornecer alimentos e água para seus habitantes.

O dia 13 de agosto foi o Dia da Sobrecarga da Terra. É o que nos informou a Rede da Pegada Global, que, junto com outras instituições, como a WWF e o Living Planet, acompanham sistematicamente o estado da Terra. A pegada ecológica humana (quanto de bens e serviços precisamos para viver) foi ultrapassada. As reservas da Terra se esgotaram, e precisamos de 1,6 planeta para atender as nossas necessidades sem ainda considerar aquelas muito importantes da grande comunidade de vida (fauna, flora, micro-organismos). Em palavras de nosso cotidiano: nosso cartão de crédito entrou no vermelho.

Até 1961 precisávamos apenas de 63% da Terra para atender as nossas demandas. Com o aumento da população e do consumo, já em 1975 necessitávamos de 97%. Em 1980, exigíamos 100,6%, a primeira sobrecarga da pegada ecológica planetária. Em 2005, já atingíamos a cifra de 1,4 planeta. E, atualmente, 1,6.

Se hipoteticamente quiséssemos universalizar o tipo de consumo que os países opulentos desfrutam, dizem-nos biólogos e cosmólogos, seriam necessários cinco planetas iguais ao atual, o que é absolutamente impossível, além de irracional.

Para completar a análise, cumpre referir a pesquisa feita por 18 cientistas intitulada “Os limites planetários: um guia para o desenvolvimento humano num planeta em mutação”, publicada na prestigiosa revista “Science”, de janeiro de 2015 (bom resumo do Instituto Humanistas Unisinos de 9.2.2015). Aí se elencam nove fronteiras que não podem ser violadas, caso contrário colocamos sob risco as bases da vida.

Quatro das nove fronteiras foram ultrapassadas, mas duas – a mudança climática e a extinção das espécies –, que são fundamentais, podem levar a civilização a um colapso. Foi o que concluíram os 18 cientistas.

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Tal dado coloca em xeque o modelo de análise da economia pelo Produto Interno Bruto (PIB). Este implica uma profunda intervenção nos ritmos da natureza e de exploração dos bens e serviços. Esse modelo é uma falácia, pois não considera o tremendo estresse a que submete todos os serviços globais que garantem a continuidade da nossa civilização. De forma irresponsável, considera tal fato, com suas graves consequências, “externalidades”, vale dizer, fatores que não entram na contabilidade nacional e internacional das empresas.

E assim vamos ao encontro de um abismo que se abre logo a nossa frente. Curiosamente, nas discussões sobre temas econômicos que se organizam semanalmente nas TVs, quase nunca se faz referência aos limites ecossistêmicos da Terra. Com raras exceções, os economistas parecem cegos pelas cifras do PIB.

Se todas as fronteiras forem violadas, como tudo parece indicar, o que acontecerá? Temos que mudar nossos hábitos de consumo, as formas de produção e de distribuição, como não se cansa de repisar a encíclica do papa Francisco sobre o cuidado da casa comum. Mas sobre isso os analistas não dizem sequer uma palavra. Mal imaginam que podemos conhecer um armagedon ecológico-social sem precedentes.

Impichismo

Recapitulando, Lula perdeu para Collor e duas vezes para Fernando Henrique antes de assumir a presidência, mas o líder sindical, antes engolido pelo Caçador de Marajás, já não existia quando FH confirmou sua reeleição.

Mudar tom e aparência, noves fora a obstinação pelo poder, foram fundamentais para vencer em 2002. A partir de então, surfar no inegável carisma de Luíz Inácio, sem falar no cenário econômico favorável, apenas ajudou a propagandear um discurso fadado ao sucesso, o de um PT defensor dos pobres, monopolizador da moral superior, e com carta branca para determinar quem eram os inimigos do país.


Principalmente entre os brasileiros avessos à política, tão grotesca realidade foi absorvida sem ressalvas. Um comportamento até certo ponto previsível, se admitirmos nossa tradicional queda por posicionar-se ao lado do vencedor, mas que, pela primeira vez na história recente, possibilitou a um partido político extrapolar consideravelmente sua aprovação para além da própria militância. Era o surgimento do petismo como fenômeno nacional.

A reeleição de Lula e a eleição de Dilma, mesmo após o escândalo do mensalão, deram mostras de como a fidelidade ao partido ganhara solidez popular. Ainda hoje, as expressões de pesar quando patacoadas do tipo “o PT traiu seus ideais” são recitadas, comprovam que o petismo cambaleia, mas está vivo. No fundo, fazer um mea culpasequer passa pela cabeça do brasileiro desinteressado em política. E eu até entendo. Não deve mesmo fazer sentido ter de responder pelos dividendos de uma decisão dirigida.

Hoje em dia, porém, outro ismo ganha corpo, não perde fôlego e caminha no sentido inverso. Tem o mesmo caráter irracional, é tão movimento de manada quanto o petismo, igualmente instaura uma clima de arquibancada nos debates e não se preocupa em gerar discussão, apenas em apontar para o objetivo maior, neste caso, o impeachment de Dilma Rousseff.

O nível de insistência é de tal ordem, seja via blogs ou nos grupos organizados, e as palavras utilizadas para martelar o posicionamento tão ruins, que periga um sujeito desavisado acabar confundindo, instrumento previsto em lei, com opção trivial em menu executivo. Vende-se a idéia de que impedir um presidente eleito é sempre saudável, simples, e depende apenas do desejo do povo, de seu grau de indignação e força no gogó. Mesmo na imprensa, a arrogância em tentar doutrinar as pessoas não fica nada a dever à lavagem cerebral destilada pelo PT durante mais de uma década.

Na verdade, a raivosa cantilena pró-impeachment é um subproduto. Responde, antes de mais nada, à campanha de divisão social e racial reforçada pelo PT para permanecer no poder. Depois, ao apertado resultado das eleições, uma dor de cotovelo à época compreensível, mas hoje em dia tola, já que perder, restou evidente, nunca foi tão bom negócio. E por fim, ao dia a dia cada vez mais difícil, à falta de emprego e ao descortinar da Lava-Jato, trazendo consigo escândalos, milionários e bilionários.


Eu entendo a irrefreável vontade de finalmente responder ao petismo na mesma moeda, com o exato tom teatral, também adotando a retórica mais pueril possível para que seja bem assimilada e, enfim, consiga gerar a tsunami capaz de arrastar quem deva ser arrastado. Claro que entendo. Mas, neste embate entre radicalismos, anotem aí, quem está ganhando ainda é o PT.

Digo, enquanto os governistas advogam em causa própria, como sempre lançando mão de toda ginástica argumentativa possível para continuar dando as cartas, quem só quer saber de pedir impeachment, caso obtenham sucesso, acaba por preparar a cama do petismo.

Gastassem tanta energia para pedir que Lula fosse investigado, quanto gastam para pedir o impeachment de Dilma, aí sim, quem está no poder teria motivos para ficar preocupado. Não é à toa que o “Pixuleco” causou revolta e a faixa “impeachment já” nenhuma comoção. Se no primeiro caso a única resposta possível foi a violência, para quem pede o “Fora, Dilma!” já existe uma na ponta da língua: golpe.

O cenário é simples, enquanto uns ainda estão preocupados em construir massa de manobra para vencer jogo na marra, outros, mesmo debilitados, mantém as opções abertas para vencer o campeonato. A única coisa que precisam temer é a prisão de Lula. Se não ocorrer o impeachment, infelizmente terão de se virar com as investigações da Lava Jato, o desemprego, a recessão, e tentar minimamente recuperar a economia até 18. Caso Dilma seja impedida, céu de brigadeiro, deixarão os holofotes quentes e passarão três longos anos preparando-se para as eleições, com Lula se lançando candidato desde já e batendo na tecla do “golpismo”.

Que o Brasil não acabará amanhã, tampouco em três anos, não tenho a menor dúvida. A questão, pelo visto, parece ser a dificuldade de alguns em pensar a longo prazo.

Um bom corte

Alguma coisa acontece no coração do Brasil. Municípios remotos estão dando lições ao país.

Em Aparecida de Goiânia, um casal tinha dificuldades para trabalhar, por não ter quem cuidasse dos filhos, esperando vaga em creche desde que nasceram. Resolveu acreditar na Justiça. Entrou com um processo para que a lei fosse cumprida. Deu certo. A juíza mandou a prefeitura pagar creche particular para os meninos. O exemplo vingou. Vizinhos pediram o mesmo. Eram oito mil famílias esperando vaga no município. Outras cidades das redondezas estão seguindo o exemplo. Provocaram uma explosão imobiliária na área da pré-escola. O resultado é que nunca se construiu tanta creche tão rapidamente na região.

Em Santo Antônio da Platina, no Paraná, os moradores não acharam justo que os vereadores tivessem aumentado os próprios salários. Começaram a fazer pressão para que as câmaras municipais reduzissem sua remuneração. A notícia não dá detalhes de suas ações, a gente fica sem saber exatamente o que a população fez. Mas foi muito convincente, porque deu certo: os vereadores recuaram e desistiram do autoaumento, considerado desnecessário pelos eleitores. Diante disso, um município da vizinhança tratou de fazer o mesmo. Como fogo morro acima em dia de ventania, o exemplo se alastrou rapidamente pelo estado, de Jacarezinho a tantas outras cidades cujos edis exorbitaram, na opinião do eleitorado. Numa, o padre pregou contra o aumento, no sermão de domingo. Em outra, um estudante começou um movimento, convocando manifestações pela internet. Esta semana, já são 28 cidades paranaenses vivendo experiências semelhantes. Ali mesmo no Sul, jornais do interior gaúcho acompanham o fenômeno, o noticiam com atenção, e semeiam a ideia. E no interior de São Paulo, se noticia que há ações semelhantes em Avaré, em Ourinhos, em Botucatu, em Mauá da Serra.

Em Araras, no Rio Grande do Norte, um lugar bem pequenino e de poucos habitantes, há um fenômeno diverso: muitos casos de uma doença genética rara, que causa tamanha intolerância à luz solar que se torna impossível trabalhar durante o dia. Alguns moradores entraram com pedidos de aposentadoria pelo INSS. Como as solicitações foram negadas, recorreram à Justiça Previdenciária. O juiz foi até lá, estudou o caso e mandou pagar, assegurando o direito dos trabalhadores. Fez mais: montou um plantão no local, para dar a orientação e cobertura necessária. O episódio não é isolado. Há hoje 43 mil ações judiciais de pacientes em andamento em São Paulo e 42.300 no Rio, buscando garantir tratamento do SUS.

O que significa isso? Será que o simples fato de sentir que a Justiça pode ir além de blá-blá-blá e realmente funcionar está levando os cidadãos a buscar a garantia de seus direitos? Efeito secundário de figuras de juízes confiáveis terem substituído ícones de abuso? Sai alguém como o juiz Lalau e entra Joaquim Barbosa no imaginário popular. Sai o juiz que se apossou dos carros aprendidos de Eike Batista e entra o juiz Sérgio Moro. Esses novos exemplos se somam à ação do Procon e exercem um papel pedagógico, na medida em que reconciliam o brasileiro com o respeito à lei e promovem um crescimento da noção de cidadania, bem como da fé na democracia.

Dá até esperança de que o país esteja mudando para melhor em termos de consciência popular. Prova disso foi a mobilização que resultou na Lei da Ficha Limpa, por mais que os passos de sua implementação e regulação tenham sido lentos, em relação à urgência dos que assinaram a petição para que ela existisse.

Agora, duas mobilizações parecidas começam seu longo processo de multiplicar apoios. Uma é a campanha do Ministério Público Federal, propondo Dez Medidas Contra a Corrupção. Pode ser acessada na página Combate à Corrupção.

Outra é um projeto de iniciativa popular que já recolheu mais de 20 mil assinaturas e chegou ao Senado, onde está na Comissão de Direitos Humanos. Propõe o fim da imunidade tributária para as entidades religiosas, um tipo de privilégio tradicionalmente garantido, mas questionado por muitos. Pelo número de apoios, agora a Casa está obrigada a decidir se isso vira um projeto de lei ou não. Foi uma proposta iniciada por um cidadão comum, por meio do Portal e-Cidadania, e foi angariando partidários pela internet. Quando se discute um orçamento deficitário e a necessidade de cortes, é uma boa sugestão para o Congresso, que há pouco aprovou a MP 668, com um aumento dessas isenções e perdão de multas a igrejas. Que tal fazer a conta? É um bom corte.

A Guerra da Independência americana começou com uma rebelião contra o imposto do chá. A Inconfidência Mineira reagia à cobrança de taxas altíssimas. A Revolução Francesa é filha dos impostos elevados para pagar gastos do governo e da nobreza (que, como o clero, tinha isenção fiscal). Pelo menos Dilma deu sinais de juízo, recolhendo o balão de ensaio da CPMF.

Com alguma coisa acontecendo no coração do Brasil, é melhor não brincar com fogo.