sexta-feira, 4 de setembro de 2015



Uma criança é o mundo inteiro

A morte de uma criança é uma afronta, um grito da vida contra a morte. Uma criança morta na praia, no lugar em que acontece esse idílio do mar com a terra e que aí não espalha felicidade, mas o terrível som de uma notícia de que chove como o pranto no coração. Uma criança morta na praia, em busca de refúgio no mundo, fugindo da guerra, fugindo do som cruel das armas e também da fome.


Essa imagem da criança síria morta em uma praia turca, a desolação que apresenta o gesto do guarda que foi salvá-lo, a luz, a praia, essa costa que parece um símbolo da própria passagem descalça da criança por um mundo que já não vai recebê-lo nunca, nem ele nem muitos. É um poema comovente, um réquiem como aquele que entoava José Hierro: é uma criança como milhões de crianças, um ser humano que já ri, pergunta e persegue sombras como se fossem brinquedos.

A machadada cruel dos nossos tempos faz dela o retrato com o qual a consciência do mundo há de conviver como expressão dessa afronta. O guarda fez o gesto desesperado; mas antes do guarda foi o mundo que não soube salvá-la; o guarda foi o herói dos olhos tristes, fez tudo o que podia. O mundo não soube salvá-la. Seu único destino, o de seus pais, o de seus passos, era sobreviver; seu horizonte não era sequer viver, ter profissão, amores e despedidas: seu destino, esse que agora jaz sem vida no mundo, era o de desenhar na areia a casa, o barco, e já não há nem casa nem barco nem nada. Não há nada. O mundo levou-lhe tudo: nem este nem aquele, nem este país nem este outro: o responsável por esta terrível expressão dos nossos tempos é o mundo inteiro, porque a criança é também o mundo inteiro. Suas mãos são os desenhos que deixa, seu corpo de três ou quatro anos é o que resta da árvore que ela teria imaginado que era a vida, e antes da hora soube que o mundo não sabe salvar as crianças, porque também desconhece como se salvar. Aí jaz, nessa praia, o mundo inteiro.

Daqui do Reino das Águas Turvas

Nunca vi a Rainha falar tanto. Há quem pense que sem poder empregar seu tempo no hobby favorito, que é aumentar o tamanho do Estado e fazer deste Reino o sonho de todo petista, ela acabou descobrindo que falar ao povo é muito bom, é trocar um peteleco pelo outro e às rainhas dar petelecos nos súditos causa um prazer delicioso.

O Tesouro do Reino está vazio. Dizem que vão aproveitar e fazer uma faxina em regra nos cofres. Como se faz essa faxina? Ah! isso eu não sei, ninguém, nem o ‘alguém’, nos deu esse detalhe. Se fosse eu a faxineira, mandava retirar metade das 39 gavetinhas, embarcava de volta para suas províncias os Duques nelas instalados e com isso deixava o Tesouro mais arejado.




Mas os 39 Duques que carregam o manto da Rainha não parecem dispostos a sair da Corte e voltar à pasmaceira de onde saíram. Muito menos diminuir nem um tiquinho o número de áulicos que os servem.

Diz a Rainha (e quem dela pode discordar?), que as contas do Reino foram apresentadas com uma transparência admirável. Embora admita que seja ruim estar no vermelho, ela não gosta que digam que é uma situação desastrosa.

Outra notícia que vazou – como vazam notícias em nosso Reino, os encanamentos devem estar esburacados – é que o Duque da Fazenda estava carente do carinho da Rainha por causa das intrigas de que é alvo. Ela prontamente reuniu membros graduados da Corte para garantir a todos que o Duque de Levy está cada vez mais firme na Fazenda: "ele participou conosco de todas as etapas da construção do Orçamento e tem o respeito de todos nós”.

Prestaram atenção no verbo? Ele 'participou'. Não é curioso? Eu acho. Como acho ainda mais curioso essa defesa veemente que andam fazendo do Duque da Fazenda. Até o Duque de Mercadante gravou um simpático elogio ao colega de quem sempre discordou. Quis nos fazer crer que a reunião da Rainha não foi de última hora, já estava marcada... Ele nem se deu conta que desmentiu a fala do Trono.

A Rainha afirmou que não gosta da CPMF, aquele imposto infeliz que nos agride a todos... Ela diz ver defeitos nesse imposto, mas se for necessário acionar esse e outros impostos e taxas, ela o fará. Foi muito franca: não vai abrir mão de nenhuma fonte de receita! As contas precisam ser fechadas e a Rainha precisa de dinheiro para continuar a brincar de casinha.

Sempre fico com a impressão que a Rainha deste nosso Reino das Águas Turvas quando fala em problemas está sempre se posicionando como se a origem não fosse com ela. É natural, ela não pode usar o truque do padrinho: culpar a Herança Maldita.

Por falar no padrinho, o atual Rei-Pai, ele foi a Brasília hoje e conversou com a Rainha logo após a reunião pró segurança do Duque de Levy. Será que também aderiu?

Mas não é só o Trono que nos assombra. Como não falar do Príncipe de Odebrecht? Vocês acompanharam o depoimento dele à CPI da Petrobrás? Não foi um espetáculo esplêndido? Fiquei o tempo todo esperando que algum daqueles senhores que compunham a banca examinadora se ajoelhasse diante do Príncipe para beijar-lhe os pés. Faltou muito pouco. Creio que, para muitos, o Príncipe seria o herdeiro ideal do Trono, quando a infeliz ocasião da vacância ocorresse. Afinal, ele não ia precisar aumentar impostos para equilibrar o Tesouro. Ele já é o Tesouro, o que deixaria o país um brilho só.

Segunda-feira, 7 de setembro, é a nossa data máxima. Teremos parada militar na Capital e há quem nos prometa, além da Rainha em carro aberto, Dom Pixuleco Inflado abençoando o Reino das Águas Turvas.

Será?


Tomara!
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

A hora da 'Jardineira'

O contingente da recém-criada Força Aérea Brasileira chegou a Nápoles, na Itália, para incorporar-se aos quadros que lutavam contra o nazismo. A Força Aérea dos Estados Unidos preparou magnífica recepção a seus colegas do Brasil, com impecável desfile militar e banda de música, chegando ao clímax quando o general comandante americano, depois de mandar entoar o Hino dos Aviadores de seu país, dirigiu-se ao nosso comandante, coronel Nero Moura, anunciando no microfone que agora ouviríamos o Hino da Força Aérea Brasileira. O diabo é que as coisas tinham andado rápido demais. Se dispúnhamos de aviadores, ainda não possuíamos hino. O constrangimento parecia fatal quando um sargento sussurrou ao nosso comandante: “coronel, mande tocar a “Jardineira”.

Nero Moura ordenou que a banda atacasse com a marchinha vitoriosa no Carnaval daquele ano,que o Brasil inteiro conhecia e cantava. Foi um sucesso absoluto, a ponto de o general americano cumprimentar efusivamente o comandante brasileiro e até pedir a partitura da “Jardineira”, que imaginou ser o hino da nossa Força Aérea...

newtonsilva
Por que se conta essa historinha? Porque a improvisação sempre foi uma característica brasileira. Deveria a presidente Dilma parar de bater cabeça com seus ministros e líderes políticos, sem saber exatamente o que o governo pode fazer para enfrentar a crise econômica. Que tal inundar o país com um plano em condições de devolver o otimismo a empresários e trabalhadores? Proibir demissões, contratar obras públicas, jamais aumentar impostos, mas cortar gastos na máquina pública e também no setor privado. Interromper, pelo tempo que for necessário, o pagamento de extorsivos juros devidos à divida pública, que só beneficiam os especuladores. Enquadrar os bancos e limitar seus abomináveis lucros obtidos às custas da economia nacional. E quanta coisa a mais, sob os acordes da “Jardineira”, ou melhor, da improvisação otimista que nunca nos tem faltado?

Continuando as coisas como vão, ou seja, com o governo sem saber o que fazer diante da crise, multiplicando-se as demissões na indústria, no comércio, nos serviços, na educação e na saúde, breve se tornará inevitável a reação das massas. Certas coisas pegam feito sarampo. A invasão de algum supermercado na periferia de alguma favela poderá acender um rastilho impossível de ser contido. Nessa hora, fazer o quê?

É preciso evitar a explosão. Depois, todos lamentaremos os estilhaços.

Réquiem

Quem for contra “um mundo melhor” levanta a mão.

Como ninguém pode ser contra um mundo melhor, nem contra o amor, nem contra as flores, nem contra a fraternidade universal, está dado o visto no passaporte para qualquer tipo de perversão humana.

O jurista Hélio Bicudo, um homem franzino, baixinho, mirrado, ganhou status de gigante moral quando, em plena ditadura, como procurador, deu combate ao Esquadrão da Morte, organização policial clandestina que eliminava desafetos ignorando os trâmites das leis e os princípios da civilização.

Quando nos idos dos anos 80, uma plêiade dessas almas generosas se juntou em volta de uma entidade política chamada PT, que tinha por objetivo lutar por alguma espécie de “mundo melhor”, era natural que Hélio Bicudo estivesse entre elas.

Quadro precioso do partido do bem, foi candidato a senador (perdendo para Mario Covas e Fernando Henrique Cardoso), depois vice-prefeito de Marta Suplicy e presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Deixou o partido em 2005, quando o escândalo do Mensalão começou a mostrar que antes de chegar ao “mundo melhor”, o PT estava iniciando uma travessia por atalhos que não combinavam com os bons propósitos de uma gente tão altruísta e preocupada com o sofrimento alheio.

É fácil encontrar na rede um vídeo onde Bicudo diz ter perguntado a José Dirceu qual era o verdadeiro sentido do Bolsa Família, e o hoje presidiário responde que “12 milhões de famílias representam 40 milhões de votos”.

Também não é difícil encontrar o vídeo onde ele fala de Lula, de quem foi candidato a vice-governador de São Paulo em 1982. Depois de dizer que Lula passou 30 dias em sua casa “para curar as feridas” da derrota, Bicudo confessou-se decepcionado ao descobrir que ele não se preocupava em resolver o problema dos pobres mas em “tutelá-los”, e queria chegar ao poder "para locupletar-se”.

Isso bastaria para que Hélio Bicudo fosse arquivado pelos ex-companheiros “en el monte del olvido”, como dizia um célebre bolero.

Mas como ele não parou por aí e resolveu, nesta semana, apresentar uma petição pelo impeachment de Dilma Rousseff, os lutadores pelo “mundo melhor” que ainda estão homiziados na sigla do PT, resolveram usar a sua delicadíssima máquina de destruir reputações, e passaram a qualificá-lo de “gagá" pelos seus 93 anos e a usar contra ele a opinião de alguns dos herdeiros de seu nome.

(A seita dos lutadores por “um mundo melhor” têm uma estranha concepção da velhice: se o velho ainda está aferrado aos seus dogmas, é um sábio; se desiludido, é um gagá. Para conferir a diferença, basta ver como foram tratados pela seita Barbosa Lima Sobrinho ao pedir o impeachment de Collor e Hélio Bicudo ao pedir o impeachment de Dilma).

Em sua petição, Hélio Bicudo diz que Dilma é indissociável de Lula, que o ex-presidente se transformou em “verdadeiro operador de empreiteira”, e pede ao Congresso que ela seja processada por crime de responsabilidade fiscal. “Golpe” - conclui Bicudo - “será permitir que o estado de coisas vigente se perpetue”.

Nada marca melhor a distância entre o céu e a terra que os crentes da seita percorreram entre a fundação do seu partido até os dias de hoje, do que a frase do líder do PT Sibá Machado sobre Hélio Bicudo: “Nosso bom velhinho está querendo participar do debate. Mas isso não preocupa, porque ele já estava rompido com o PT há algum tempo”.

No réquiem do partido, alguém há de lembrar que o PT nasceu Bicudo e está morrendo Sibá.

O mau exemplo deseduca ainda mais o Brasil


O Brasil parece o paraíso dos péssimos exemplos que têm um efeito altamente deseducador e desagregador da sociedade. Corrupção sistêmica, políticos que mentem descaradamente e se locupletam com a coisa pública, juros extorsivos que viabilizam lucros recordes para bancos que batem recordes de lucros na base da usura contra os cidadãos e empresas são apenas fatos que ajudam a destruir o tecido social, inviabilizando a democracia e a cidadania.

Não faz bem para nenhum brasileiro ver uma "Presidenta" da República, que absolutamente não consegue presidir o País com a mínima competência, ser obrigada, todo dia, a fazer malabarismos verbais para fingir (para si mesma) que tem alguma importância. É um destruidor exemplo conviver com uma dirigente eleita, claramente, na base da ilegalidade de milhões desviados da corrupção que financiaram sua campanha - que a Procuradoria Geral da República ajuda, com mais um "desexemplo", impedindo que seja investigada e processada judicialmente.

Pior que Dilma, só a farsa do chefão Lula - que tenta posar de vítima, agora jogando a culpa de tudo de errado em alguns dirigentes do partido que sempre comandou pessoalmente, como se fosse um "sindicato", no melhor estilo centralizador de um $talinácio da Silva. Abalado psicologicamente pelo boneco Pixuleco, Lula só perde em "desexemplo" para seu "amigo" Marcelo Odebrecht.
O empreiteiro conseguiu angariar a ira dos simples mortais, nas redes sociais, com sua cínica declaração aos membros da CPI da Petrobras, quando descartou a possibilidade de fazer uma "colaboração premiada", a exemplo de outros réus nos processos da Lava Jato. Falando como Paí de Família (figura que deve servir de exemplo-base para qualquer um), Marcelo Odebrecht subverteu a ordem dos valores básicos da ética e da moral.

Teve a coragem de ponderar que tem valores dos quais não abrirá mão. Quando se esperava que o empreiteiro preso viesse com um exemplo edificante, Marcelo Odebrecht fez exatamente o contrário. Citando uma briga entre suas filhas, na qual uma delas praticou alguma bobagem, ele sugeriu um deplorável conceito que contraria a boa educação de uma criança: "Eu talvez brigasse mais com quem dedurou do que aquele que fez o fato”.

Foi assim que Marcelo Odebrecht vendeu a tese que agradou à Peletândia e comprovou por que ele merece a amizade sincera de pessoas com o nível moral de um Luiz Inácio Lula da Silva:

“Para alguém dedurar, ele precisa ter o que dedurar. Isso não ocorre aqui".

O péssimo exemplo de Odebrecht entra para a História do Brasil. E pt, infelicitações...

O que revela a proposta orçamentária

A inovação de apresentar um orçamento deficitário, em meio a uma grave crise econômica, está consoante a crença do PT e da própria Dilma Rousseff, que se diz economista, no keynesianismo bastardo.

A proposta orçamentária apresentada por Dilma Rousseff ao Congresso Nacional, mesmo ilegal e tecnicamente imperfeita, pode ser útil para mostrar como se move o governo do PT e sua presidente. Ela se presta a um experimento de laboratório como se verme fosse. Essa proposta orçamentária é a síntese e a somatória de todas as ilusões de Dilma Rousseff sobre a realidade e também sua ignorância completa da ciência econômica. Sem esquecer sua amoralidade intrínseca, seu descompromisso com a nação espelhados na peça. O orçamento público é importante porque o Estado brasileiro se agigantou e o nível de atividade econômica depende agora diretamente da boa gestão das contas públicas, além de representar a essência da liberdade política. Nenhum imposto adicional sem representação.

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Dilma está fazendo com o orçamento o velho truque feminino que enfeitiça os homens, o mostra/esconde. Não que a moça governante seja uma belezoca, mas pensa portar a mais linda das utopias. O déficit que veio à luz é de mentirinha, revelando apenas um pequeno pedaço da mão graúda do Estado. O déficit real é maior e, para piorar, é crescente no tempo. Estamos chegando ao momento grego da verdade, em que as vacas sagradas dos proventos da Previdência Social, dos gastos com Saúde e Educação terão que ser cortados, de uma maneira ou de outra. A despesa está grande demais e a sociedade brasileira não tem mais como bancar essa festa dos desocupados remunerados.

O que não está explícito no Orçamento, portanto oculto, é o seu teor ideológico. De alguma forma, a inovação de apresentar um orçamento deficitário, em meio a uma grave crise econômica, está consoante a crença do PT e da própria Dilma Rousseff, que se diz economista, no keynesianismo bastardo. Dilma, de fato, se encontrou numa sinuca, com as receitas previstas aquém das despesas desejadas, mas só topou apresentar a peça indecente, ou a mostrar o lado indecente da peça, porque se sustentou na visão anticíclica teórica dos bastardos keynesianos, que veem solução para tudo no crescimento do Estado, na emissão primária de moeda e na geração de inflação. Dilma Rousseff pensa estar com a razão e não deu a mínima para o decoro jurídico e o jogo político.

Nem Dilma Rousseff e nem o PT jamais acreditaram nas virtudes do mercado e sempre olharam a questão tributária e orçamentária pela ótica da luta de classes. Se pudessem, elevavam a tributação ao infinito e emitiriam quanta moeda fosse necessária para financiar seus delírios de gastadores utópicos. Ignoram solenemente os limites da lei da escassez. Essa gente justifica o déficit e a expansão do Estado porque supostamente isso patrocinaria o desenvolvimentismo com distribuição de renda.

Já vimos que a real distribuição de renda que essa política faz é transferir verbas milionárias dos impostos para os bolsos desses espertalhões, como vimos no mensalão e, agora, no petrolão. Todos enriqueceram no poder. O PT transformou o povo brasileiro em vaca leiteira, explorando todos os residentes no Brasil.

Escrevi acima, repetindo a máxima dos valentes que fizeram a Independência dos EUA, que não pode haver nenhum imposto sem representação. Mais do que nunca a expressão é verdadeira. Quem o PT e Dilma Rousseff hoje representam para tentar elevar os impostos? A se dar crédito aos índices de popularidade, não representam mais o povo brasileiros. Tornaram-se usurpadores e, enquanto tal, fazem da nossa gente reféns das suas chantagens. É claro que o Congresso Nacional não pode aceitar proposições de elevação de impostos, ele que representa adequadamente os brasileiros.

Estamos diante de um momento histórico decisivo para o Congresso Nacional. Ou apoia esse governinho do PT em seu ocaso ou apoia os brasileiros, que têm nele, no Congresso Nacional, sua última defesa contra a sanha tributarista. Não basta apenas escapar à elevação de impostos, é preciso gerar superávit primário no tamanho suficiente para dar racionalidade ao gasto público. Em outras palavras, é preciso cortar fundo nas despesas. Haverá choro e ranger de dentes, os parasitas vão reclamar.

É preciso também declarar o impeachment dessa presidente irresponsável e maluca, mas isso é já matéria para outro artigo.

Nivaldo Cordeiro

Discurso da irresponsabilidade

Dilma não fala coisa com coisa. Não é de hoje. Quiçá desde os tempos de burocrata revolucionária. Como se embola ao falar, pior ainda quando diz pensar. O emaranhado mental de Sua Eminência é mais complexo do que ninho de rato. 

Para ficar mais embaralhado seu discurso, apimenta com a arrogância das mais reles metáforas que pensa ser a melhor forma de explicar-se à população. Talvez por considerar que o povo é burro e só ela, inteligente, capaz de compreender o mundo. 



"Do nosso ponto de vista, nós não achamos que estamos errados". Dilma, teu nome é prepotência.

Nunca, jamais, vai admitir sua incompetência e sua falta de respeito ao cargo. A explicação que deu por enviar ao Congresso um orçamento deficitário é digno de uma cretina.

— Tem um problema, é esse, ele está claro. E fica claro também a responsabilidade de todo mundo.

Cara pálida, não divida responsabilidade de presidente com o desempregado, o aposentado, o estudante com escola de lixo, o doente nos "Portais da Morte", como são quase todos os hospitais públicos, ou com o morto, que precisa até de vaquinha para ir à cova rasa.

A irresponsabilidade nasce quando se tomam medidas que levam um país ao desastre. Não foram os cidadãos os irresponsáveis criminosos pelo país ir ao fundo do poço. Mas estão pagando muito caro para a cumplicidade de Dilma, do PT, de Lula, dos afiliados, 
se estabelecer no Poder, doesse a quem doesse. 

A voracidade de dominar um povo resultou no que está aí: a penúria e o trabalho forçado dos pobres, sob piores condições, para poder pagar a conta que lhe impuseram sob mentira.

Estranho projeto tenta atenuar a lei anticorrupção

Menos de dois anos após a entrada em vigor da Lei Anticorrupção Empresarial, surge o ambicioso Projeto de Lei nº 8.121, de autoria do deputado Vicente Cândido (PT-SP), com proposta de grandes alterações, incluindo impactos também na Lei da Improbidade Administrativa. Embora pareça moderno, o projeto soa um tanto quanto casuístico e balizado pelas experiências ainda não sedimentadas da Operação Lava-Jato.

Percebe-se atenuação das responsabilidades das empresas, que agora devem apenas “fornecer informações e documentos relativos aos ilícitos objeto da investigação administrativa”, sem qualquer compromisso com efetividade e sem especificar o alcance da eficácia dos documentos.


Os acordos de leniência, no projeto, podem atenuar ou até isentar as pessoas jurídicas das sanções previstas em normas referentes a licitações e contratos, bem como das sanções da Lei Anticorrupção Empresarial (Lei nº 12.846/2013) e da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992).

Segundo a Lei de Improbidade Administrativa, os acordos dependem dos seguintes requisitos: 
1) reparação do dano ou perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, quando verificadas essas circunstâncias, sem prejuízo de eventual aplicação das sanções previstas no art. 12;
2) que a parte não tenha descumprido acordo decorrente desta lei, nos últimos cinco anos;
3) a parte cesse completamente seu envolvimento na infração investigada; e
 4) a parte coopere plena e permanentemente com as investigações e com o processo judicial, inclusive compareça, sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento.
É interessante notar, aliás, que, para a celebração de acordos envolvendo atos de improbidade administrativa, o projeto de lei exige que a cooperação do celebrante seja plena e permanente, enquanto que, para os acordos de leniência da Lei Anticorrupção Empresarial, exclui esses requisitos.

O objetivo do PL nº 8.121 ainda está nebuloso. Se flagrado um funcionário da pessoa jurídica envolvido em corrupção, um caminho muito mais simples, barato e eficiente poderia ser percorrido pela via dos acordos, especialmente se houver excesso de discricionariedade e lacunas de controles nesse terreno. Há que se ter cautela com essa perspectiva, especialmente no momento atual, evitando-se o casuísmo legislativo e a desconfiança da sociedade acerca das verdadeiras motivações do projeto em questão.

Em declarações prestadas à imprensa, o deputado proponente reconhece o casuísmo de sua proposta: “Essa lei é nova, mas não estava preparada para evento do tamanho da Lava-Jato. Não quer dizer que a empresa seria totalmente isenta. Ela ainda teria que reparar o erário, mas, em nenhuma hipótese, se fecharia a empresa. Hoje a declaração de inidoneidade fecha o mercado de crédito, o que acaba matando a empresa”, explicou o parlamentar.

Em outras palavras: se a empresa for flagrada praticando negócios escusos e lesando o erário, ela apenas devolveria os respectivos valores e nada mais. Existe incentivo maior para se cometer ilícito?

Chega a ser esdrúxula a primeira justificativa oficialmente apresentada pelo deputado proponente: “O Brasil não pode ficar a reboque do resto do mundo, sobretudo dos países desenvolvidos”.

Isso parece significar que, pelo raciocínio do parlamentar, o Brasil deve abdicar das políticas de combate à corrupção internacionalmente consagradas e permanecer confinado na pecha de país subdesenvolvido?

Acredita-se que debate mais aprofundado há de ser travado em torno da possibilidade de acordos — e de seus pressupostos — nas ações de improbidade administrativa ou empresarial, tomando como referência os institutos utilizados no âmbito do direito penal econômico, mas um projeto de lei específico para essa finalidade seria o ideal, com um olhar sistêmico e alinhado com as novas tendências mundiais.

Atualmente, o que se quer é a propositura de um espaço para empresas limpas no Brasil, coibindo-se aventuras de corruptores ou empresários que revelem aderência às práticas espúrias de parcela da classe política compromissada com cultura arcaica e patrimonialista.

Fábio Medina Osório e Marcelo Zenkner

Um tipo de gente indignada que eu não entendo

Eu bem que tento, mas não consigo entender essas pessoas que vivem horrorizadas com os termos ditos ofensivos mas se calam diante das violências mais óbvias.

Estou falando, claro, de todas essas pessoas que gostam de denunciar piadas de mau gosto e propagandas infelizes - de todo esse grupo que diariamente esfrega na cara dos outros os termos feios que não devemos usar, mas no instante em que se vê diante de uma violência mais óbvia, como um roubo ou um homicídio triplamente qualificado, desaparece da discussão.

Estou falando de um tipo específico que vive acusando os outros de fazerem “discurso de ódio” contra um político, que seja, enquanto ignora alegremente os índices grotescos de violência do país, até se desapontando um pouco quando um conhecido fala do assunto perto dele.

De onde vem isso? O que faz um sujeito se horrorizar com as palavras usadas para cantar mulheres na rua mas não com um assalto a mão armada? Confesso que me sinto um pouco confuso. Se você é sensível aos termos infames usados na rua - e que bom que você é -, certamente ficaria ainda mais horrorizado com um assalto, com a vida de alguém ameaçada, não? Se insiste que precisamos atualizar os termos ditos ofensivos, talvez lhe passe pela cabeça que um assalto é uma invasão muito mais agressiva. Então por que se calar diante desse tipo de violência?

Me parece que a tendência dessas pessoas é evitar reconhecer as violências mais óbvias. Está bem, todos temos preferências e escolhemos ideias e causas com as quais temos maior afinidade, coisa que entendo.

E eu aceitaria esse argumento se essas pessoas em questão denunciassem o que geralmente denunciam - aos chiliques e com os dentes à mostra - sem ignorar o resto. Por que se calam? Teria a ver com uma certa superioridade por não compartilhar das indignações mais óbvias? É isso?

Posso estar enganado, mas meu palpite é que esse tipo de gente passa a falar somente daquelas violências que causam um efeito de repulsa entre uns poucos, entre os seus - uma espécie de indignação hipster.

Ele se abala com uma piada grosseira ou uma propaganda cretina, sem dar a mínima para as violências mais óbvias. É especializado em driblar esses fatos. Diante de um crime tão evidente, como uma chacina em Osasco, não resiste à tentação de praticar a nobre arte do silêncio.

O perigo é que muitos já estão anestesiados por causa disso. E aberto o caminho para esta cegueira deliberada, os crimes avançam. Em meio a uma conspiração do silêncio, como propor soluções?

Globalização da ternura

Junto com o amor, talvez a principal faculdade humana para a vida seja a compreensão. Precisamos compreender para agir. Mas o julgamento apressado é a preguiça do espírito, mãe dos preconceitos e injustiças. Julgar, quando resulta de compreender, é o grande ato humano. Por isso vem no fim. Ser humano não vem de graça. Poetas, filósofos e místicos (que todos somos) fazem o trabalho de compreender. Por isso parecem, às vezes, em cima do muro. Porque compreendem, quando os demais já julgaram e estão prontos para executar. Poetas, místicos e filósofos são os fiadores da serenidade. Frequentemente, por isso, expulsos pela ação precipitada: pensam, sentem, veem demais.

Assim é com a globalização. Fenômeno complexo, há nela bem e mal. Compreender isso é exigência insuperável para agir. No final, podemos emergir do silêncio que pondera com convicções antagônicas: o mundo globalizado integra pessoas, sociedades e culturas — o que é bom; e expulsa mais de meia Humanidade dos seus benefícios — o que é insuportável, e nos diz que o sistema falhou. E aí as oposições se instalam: para uns é assim que é, nada a fazer. Para outros, deu errado, não dá para aceitar. É preciso encontrar outra direção. À globalização financeira, contrapor a mundialização da ternura, para a qual não há bolsas nem investimentos. Não é uma aposta, a ternura. É uma raiz.

Mundializar a fraternidade. Todo o poder do mundo age contra essa utopia generosa. Tudo de poderoso entope os regatos minúsculos por onde passa a fraternidade. A nossa ternura, a ternura de Deus.

Um dia Deus determinou a Elias que saísse da sua gruta. Ele iria se mostrar enfim. Veio um furacão, e Deus não estava no furacão. Houve um grande fogo, e Deus não ardia no fogo. Elias já desanimava daquele contato. Aí passou uma brisa muito suave. Precisamos, hoje, da brisa suave. Os furacões roncam e os fogos explodem. Não é aí que está a ternura de Deus.

E precisamos de uma instituição. Os povos da fraternidade errariam pelo deserto, e se perderiam, se não tivessem um camelo, um jipe velho, pegadas nunca apagadas de quem já passou e chegou a salvo ao poço da boa água. Uma instituição global, capaz de aglutinar esperanças. Ela existe. É a Igreja, se for capaz de se lembrar de seu nome quer dizer assembleia, reunião do povo, lugar onde se lê junto para compreender e agir no mundo. Ela existe, mas envelheceu no poder. Ainda é uma comunidade de amor. Mas teve terras, exércitos, fez guerras. Julgou sem compreender, tantas vezes! Mas é a única estrutura de organização de uma parte significativa da Humanidade que se encontra em todo lugar e pode se opor amorosamente à globalização que expulsa meio mundo. Esse imenso contingente de excluídos deveria ser o povo da Igreja. Pode ser. Há sinais para confiarmos que será. Os humilhados e tristes da terra.

Ela tem muito que aprender. Ser mundial, sair da Europa. Encontrar-se com as diferenças dos povos e amá-las. Não demonizar. Viver no mundo, não o condenar. Aprendizado difícil. Não é o que tem sido feito. Mas pode ser. Quando alguém reza em silêncio e condena em voz alta a feroz prostituição de crianças a brisa soprará. Quando alguém sem julgar se mantiver silenciosamente à cabeceira de um oriental pobre que contraiu AIDS e vai morrer, segundo sua cultura, sem honra e sozinho, a brisa suave estará lá, testemunhando a solidão. Quando pessoas com deficiências não forem tratadas como mendigos da vida, mas amados como iguais, a brisa passará. E a Igreja, se for capaz, a espalhará pelo mundo da sombra e da tristeza. É preciso que haja uma internacional da solidariedade. Está aí. Dá bons sinais, como um farol. Como é próprio dos faróis, tanto dá a sombra quanto a luz. Mas a sombra não fica mais sozinha. O povo da fraternidade precisa ocupá-la, abri-la para o sorriso das origens. Os místicos, poetas e filósofos em nós irão junto. E a ternura de Deus se mundializará. Ou... Ou a mais antiga instituição do Ocidente virará uma estátua de sal. E a brisa suave se limitará aos pontos onde sopra, e não ganhará o mundo. Pode um tão esperançoso poder abdicar tão tristemente?

A dor dos excluídos olha para o homem que hoje tem o sorriso tímido de Deus na boca. Se não o anularem antes, seu toque de mudança amorosa pode liberar a brisa presa no furacão. E não será mais preciso “ser da Igreja” para receber a brisa no rosto e respirar dentro dela. Fim dos monopólios do divino e do amor, todas as religiões, e os que não creem, na festa comum. Toda a Humanidade e todas as coisas e bichos da terra tocados por essa ternura acima das divisões. O ar novo e fresco será uma evidência de vida para todos.

É possível acreditar nisso. Compreender o mundo assim, sem julgamentos nem exclusões. E agir. Serenamente, levando nas mãos a ternura de Deus.

Marcio Tavares D'Amaral