terça-feira, 1 de setembro de 2015

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É este governo que saberá liderar o país para que vençamos as crises?

lailson 31082015Quanta falta de vergonha: até outubro último vivíamos no país das maravilhas. Era o que dizia Dilma. A farsa acabou

Cabe ao governo compatibilizar despesas e receitas ao confeccionar o Orçamento da União. Não o fez. Algo inédito. Um espanto!

Terceirizou o serviço ao propor ao Congresso um orçamento com um buraco de 30 bilhões de reais para 2016.

Ou o Congresso descasca o abacaxi que não é dele ou devolve o abacaxi ao governo.

O que o buraco no orçamento significa?

Que o Brasil quebrou. O governo gastou muito além do que podia para garantir a reeleição de Dilma e a permanência do PT no poder.

Mobilização permanente na América Latina



Os Governos mais populistas começam a rachar devido à estagnação da economia
 É lugar-comum dizer que a atividade política se tornou uma campanha permanente. Os governantes falam à população por meio de um proselitismo incessante. Nas grandes cidades da América Latina se nota um comportamento simétrico: a democracia está sulcada por um protesto permanente. Os cidadãos percorrem avenidas para expressar com o corpo suas demandas. Como se ao marketing dos que os governam eles opusessem seu antimarketing. Apesar de se espraiar por toda a região, o fenômeno carrega significados muito distintos.

É claro que este estado de assembleia é a variação local de uma corrente planetária. A expansão das redes sociais e as transmissões de TV em tempo real levam o mal-estar social às ruas, seja em Madri, em Túnis ou em Nova York. Mas há peculiaridades regionais. Uma delas é o declínio do poder sindical de convocação, que três décadas atrás determinou a queda das ditaduras militares. Agora exercem uma pressão específica, mais curta e despolitizada.

Mesmo assim, continua havendo um tipo de protesto inspirado em reivindicações específicas, atreladas a organizações sociais. O exemplo mais claro é o dos estudantes chilenos, que desgastaram Sebastián Piñera e facilitaram a volta de Michele Bachelet. As marchas dos professores mexicanos contra as reformas de Enrique Peña Nieto seguem, respeitada a distância, um modelo semelhante. Assim como os “piquetes” dos produtores agropecuários argentinos, que em 2008 bloquearam as principais rotas do país para resistir ao aumento de impostos. Todas essas iniciativas são promovidas por entidades com as quais se pode negociar.

Ainda com essas características, no México a multiplicação de “vigílias” atinge proporções fora do normal. Há em média três protestos por dia percorrendo alguma avenida da capital federal. Os Governos são permissivos porque ainda pesa sobre eles o dramático precedente de 1968, quando Gustavo Díaz Ordaz gerou o massacre estudantil de Tlatelolco.

Ao longo da última década, surgiram manifestações de outro tipo. Carecem de uma face institucional identificável. Organizam-se por meio das redes sociais. E exprimem uma rejeição global aos que mandam. Nessa modalidade se encaixam os panelaços argentinos de 2012 e 2013; os protestos venezuelanos de 2014; as mobilizações brasileiras, que se ergueram contra o preço dos serviços e derivaram para uma rejeição generalizada à gestão de Dilma Rousseff; e as marchas equatorianas contra Rafael Correa. Manuel Castells batizou essas manifestações de wikirrevoluções, porque são construções coletivas e emitem uma mensagem fragmentada e até contraditória. Impossível imaginá-las sem o Twitter e sem o Facebook. O Governo mexicano entendeu bem isso, e é acusado de usar um sistema de robôs de Internet para desmanchar protestos organizados nessas redes. Nessas mobilizações já não são canalizadas exigências “associativas” negociáveis.


Na Venezuela, na Argentina e no Equador surgem demandas de caráter institucional, relacionadas à independência judicial e à liberdade de imprensa. O problema da corrupção está sempre presente.

Não é por acaso que estas manifestações com reclamações gerais ocorram em países onde existe um grande desequilíbrio de poder. Ou seja, democracias pouco competitivas, cuja cena eleitoral é dominada por uma força monopolista. Os protestos de rua são a saída rudimentar encontrada por setores da população que carecem de um instrumento institucional eficaz para limitar quem está no poder.

Como, além disso, a falta de uma organização de oposição dá força às inclinações hegemônicas dos governantes, a esfera pública se transforma em um campo de batalha ideológico. A capacidade de diálogo se reduz a zero com as consequências vistas no Equador e na Venezuela: a reação policial e militar diante dos que protestam é cada vez mais agressiva.

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O caso brasileiro é diferente. Ali ocorreu uma circunstância especialíssima: o descontentamento dos que queriam substituir Dilma Rousseff se somou ao desencanto de seus próprios eleitores, que interpretam o atual ajuste econômico como uma traição à exigência das urnas. A popularidade da presidenta caiu a 7% oito meses depois da reeleição.

Há uma razão pela qual as manifestações se tornam mais intoleráveis para os Governos da Argentina, Equador ou Venezuela do que para os do México, Brasil ou Chile. Kirchner, Correa e Hugo Chávez chegaram ao poder cercados por protestos populares. Essa circunstância alimentou o mito de toda liderança carismática: o caudilho é a encarnação “do povo”. A presença “do povo” nas praças, insatisfeito e ofensivo, torna-se insuportável porque corrói esse imaginário. Por isso os governos populistas não estariam diante de cidadãos que se manifestam de forma voluntária, mas sim de uma conspiração, maquinada pelos Estados Unidos para desestabilizar as administrações populares e assim garantir privilégios que estão sendo ameaçados por uma ressaca marinha igualitária. Correa, Maduro e Cristina Kirchner recitam esse mantra. O PT brasileiro, por sua vez, delega a mesma explicação a intelectuais periféricos.

Mesmo assim, no Brasil surgiram sinais de uma nova época: houve protestos importantes no Nordeste, onde o PT concentra seu eleitorado. Essa característica combina com o que acontece no Equador. Correa já não enfrenta somente as classes médias republicanas, contribuintes inquietos porque a corrupção dilapida seus impostos. As mobilizações mais recentes contaram com sindicatos e associações indígenas. É um estigma similar ao de Maduro, que precisou suportar a oposição do movimento estudantil, que tinha sido um suporte inicial de Chávez. Na Argentina o Governo peronista enfrenta os principais sindicatos peronistas.


Os Governos populistas começam a sofrer o desmoronamento de sua base. É compreensível. A América Latina é a região que menos cresce. Segundo a Cepal, este ano a expansão será de apenas 0,5%. Cai o consumo e aumenta o desemprego. Em 2002, começou uma onda de bonança graças ao aumento do preço das commodities e à baixa taxa de juros internacional. O cientista político Andrés Malamud afirma que, entre 2006 e 2014, se reelegeram dez presidentes na região, e apenas um saiu do poder sem concluir seu mandato. Um contraste formidável com os 20 anos anteriores: 13 presidentes foram desalojados antes do tempo.

A mobilização permanente projeta uma imagem de instabilidade. Quando autores como Kathryn Hochstetler são relidos, percebe-se que sem protestos não há queda de Governos. Mas também não é possível fazer isso apenas protestando. Ao descontentamento das ruas se deve somar a perda do controle parlamentar.

A encenação de rua dos conflitos confirma que os sistemas políticos latino-americanos sofrem disfunções de longa duração. No entanto, há um motivo para o otimismo. As interrupções institucionais se regulam pelos procedimentos previstos nas Constituições. Até há pouco mais de 30 anos o nó górdio da crise era cortado com um sanguinário golpe militar. É preciso comemorar, então, uma gigantesca evolução.

Eles só pensam naquilo

O ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, que tem como qualificação profissional a militância no Sindicato dos Bancários e na bancada federal do PT-SP, sem noção de tecnologia e do mundo das comunicações modernas, que há anos prega a “regulamentação da mídia” (e talvez por isso tenha sido colocado no ministério pela ala soviética do partido ), é a cara do Brasil atual, onde a militância sindical é a mais alta qualificação para qualquer cargo.

Agora, ele quer atrapalhar a comunicação entre os brasileiros, chamando o WhatsApp de “pirata” e querendo “regulamentá-lo”, naturalmente inspirado por operadoras de telefonia que dizem estar perdendo dinheiro enquanto o usuário economiza nas tarifas e nos impostos escorchantes. Quem vai pagar um SMS se pode mandar mensagens, vídeos e áudios de graça pelo WhatsApp? Quem é estupido o bastante? Que “causa” de alguns merece a manutenção do atraso de todos? Mas eles só pensam em regulamentar.

Esse pessoal odeia tanto a TV Globo porque, mesmo com enormes verbas públicas e publicidade oficial, nunca conseguiram fazer uma emissora (ou um jornal, uma revista, uma rádio ou um site ) “de esquerda” que fosse popular e influente. A TV Brasil, Lula dizia que seria nossa BBC, é um fracasso absoluto, que custa uma fortuna mas ninguém vê. Tem mais funcionários do que espectadores. O maior sonho deles seria estatizar a Globo e aparelhá-la para suas causas “progressistas”, mas quebrariam a empresa em seis meses, por incompetência e ladroagem.

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Quando eles falam em “regulamentar”, boto logo a mão no bolso e encosto na parede, é o Estado querendo tomar mais dinheiro do cidadão para sustentar os desperdícios e roubos de pessoas que nada entendem das áreas que comandam e têm como principal objetivo manter o partido no poder.

Enquanto isso, o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicação já acumula 18 bilhões de reais em taxas pagas por usuários e operadoras, e o governo não sabe o que fazer com a bolada, explicando por que a internet no Brasil é uma das piores e mais caras do mundo.

Na campanha Dilma falava em “banda larga para todos”... rsrs.

A conta foi entregue

Dia de Sol

Diante da apresentação de um orçamento com inédito furo de 30 bilhões, o governo continua torrando dinheiro com marketing tentando elevar a expectativa do povo que ludibriou na eleição passada. A conversa fiada do momento é o site dialogabrasil, que pretende ouvir todo mundo a respeito do que o governo fará daqui pra frente. Ao menos poderão dizer que estão fazendo o que o povo disse para fazer, como se não houvesse um Ministério do Planejamento repleto de gente encarregada de programar nosso futuro.

As possibilidades que se apresentam são clássicas: aumenta-se impostos, restringe-se gastos, programa-se enxugamento da máquina, vende-se patrimônio ou imprime-se dinheiro. Sobre impostos, a ideia de jerico do retorno da CPMF que, na época do governo Lula, era avaliada em torno dos 30 e tantos bi que faltarão no ano que vem, já foi posta para o escanteio sob risco de interrupção do jogo.
Restringir gastos significa nem repor a dipirona quase vencida dos postos de saúde atualmente ocupados por cubanos, interromper diversas obras do PAC I, II ou X, e largar os fornecedores do Minha Casa, Minha Vida com um cheque sem fundos na mão, entre outros malefícios para o povo, humilde ou não.

Enxugamento da máquina pública implica, entre outras medidas, fazer desaparecer da folha de pagamentos as pessoas agregadas sem motivo a dezenas de milhares de D.A.S. elevados. Claramente, nenhum político faria isso com eleitores que lhe devem o emprego. Vender patrimônio pode envolver mais poços de pré-sal empurrados a companhias internacionais, cobrar de Evo Morales pela refinaria roubada, colocar em leilão todas as estatais e, se não der certo, anunciar no E-Bay uma refinaria semi-nova no Texas. Sobre imprimir dinheiro, conforme já alertava Delfim Neto há 40 anos, o governo não precisa de dinheiro, porque isso ele mesmo pode fabricar. O que precisa é de recursos, o que, efetivamente, não tem. 

Sempre há possibilidade de dar o cano pura e simplesmente nas contas que tem a pagar. Não pega muito bem, mas é uma opção adotada por pessoas desesperadas, quando não têm cheque especial (nem um agiota) para cobrir aquilo que gastam além do salário. A última instância é ajoelhar humildemente e implorar alguns trocados ao FMI ou à China.


É claro que qualquer proposta de solução para o problema econômico, em que o Brasil foi colocado pela absoluta falta de ação no sentido de evitar a tragédia, será causador de desconfortos, revoltas e mais problemas. Não foi por falta de avisos ou experiências anteriores. Foi, talvez, excesso de confiança na capacidade de embromar todos durante todo o tempo até a próxima eleição, quando poderão jogar a culpa na ingovernabilidade causada pela oposição.

É curioso que o corajoso "choque de realidade" que, conforme mencionou o senador Jorge Vianna, escancarou as dificuldades enfrentadas pelo governo brasileiro, nunca tenha sido mencionado antes ou mesmo depois das eleições. O assunto sempre foi tratado com insolente indiferença quando mencionado pela oposição. Vamos ver o que as sequelas de todo esse imbróglio causarão nas eleições do ano que vem. Vamos ver como os sindicatos conduzirão os movimentos reivindicatórios deste ano e do ano que vem, considerando que todos eles conclamaram seus sindicalizados a votarem em Dilma, aquela que nunca prejudicaria os trabalhadores e trabalhadoras desse país.

Não foi vista, até o momento, nenhuma atitude de reconhecimento por parte do governo a respeito da responsabilidade pelas condições humilhantemente desesperadoras em que deixaram o país. Nunca houve, em nenhum sentido, mesmo que parcialmente, o reconhecimento de que de alguma maneira fizeram algo errado. Nunca mencionaram que os bilhões que torraram contra os interesses do Brasil investindo em outros países são parte da causa de terem que emitir mais essa nota promissória fajuta para o povo que os elegeu. Aparentemente, a culpa é do povo que não votou com o governo.

Você conhece algum país assim?

Corrompendo a corrupção

Lula pode ser preso a qualquer momento, assim como Palocci. Ambos poderão ser postos a ferros no mesmo dia e poderão fazer companhia, finalmente, ao solitário José Dirceu, o guerreiro às avessas, a Pedro Correa, o reincidente, ao príncipe sinistro da Odebrecht e a outros quase 100 encarcerados até o momento. Dilma poderá perder seu mandato por conta de pedaladas fiscais, por sua formidável incompetência, pelas contas vergonhosas de sua imunda campanha eleitoral, pelo conjunto de tudo isso ou, por incrível que possa parecer, por ainda mais do que tudo isso. A corrupção virou um procedimento usual do petismo e por ela o partido irá morrer aos poucos, à míngua, com direito a um gran finale de uma das maiores farsas da vida nacional.


Não bastasse todo o “conjunto da obra” lulopetista, a intelectualidade de esquerda brasileira, ao contrário, está viva e respirando. Não pulsa nem faz bolhas; só respira e observa, como se fosse um crocodilo à espreita. A “culturalidade” de esquerda, todavia, não desaparecerá assim tão fácil quanto o PT. Jornalistas, a soldo ou não, resistirão por décadas até se darem conta do fiasco sociológico e político em quem foram envolvidos. Artistas de cinema e televisão, locutores de rádio, colunistas e articulistas, mesmo tendo a capacidade máxima de ver e entender o que está acontecendo, vão demorar para abrir mão, não de sua ideologia, mas de seu idealismo marxista, do encanto cultural do qual são insumo funcional e servil.

Matéria no Fantástico em 30 de agosto de 2015 dá conta do “próximo passo” das hordas culturais em ação. Um deles será o que tentará relativizar a corrupção, como se todos fossemos, em natureza, tão justos, retos e honestos quanto Lula, Maluf, Demóstenes, Collor e tantos outros. A mídia de predominância marxista trata agora de dizer que todos somos corruptos, distorcendo o viés claro e direto que diz que corrupção, na acepção até então entoada pela imprensa, é ato ilícito praticado com a presença de agente público numa das pontas. O noticiário, fique atento, vinha tratando corrupção como fenômeno strictu sensu, ou seja, envolvendo empreiteiras, políticos, empresas estatais, doleiros. Agora, num passe de mágica filosófico, corrupção passa a ser ...tudo! Usar vaga de deficientes no supermercado, furar uma fila, pedir a leniência de um guarda de trânsito, ultrapassar com faixa contínua, colar em prova, passar em sinal vermelho ou por cima de faixa de segurança sem parar, tudo vai virar...corrupção!

A intelectualidade brasileira (uma verdadeira horda de idiotas que nem merece a titulação) fará coro a esta nova “descoberta”. O que era ilícito penal, agora vira corrupção ativa. Assistir um assalto sem fazer nada, por caracterizar omissão, passa a ser considerada corrupção passiva e assim por diante. Nossa formação, baseada na ética judaico-cristã, no respeito às leis da república será torpedeada cada vez mais pelos aparatos sórdidos a serviço da ideia gramsciana. Abra o jornal, ligue a TV e ouça no rádio o que eu aqui observo e comprove você mesmo.

A distorção é tanta que já começaram a inverter a lógica “evolutiva” da corrupção. Sabemos todos que a corrupção tipificada e mais corriqueira é aquela que envolve a busca de vantagens pessoais na realização de negócios com o setor público. Sabemos também que ela se desdobra e se multiplica pelos dutos da impunidade e que ela é de cima para baixo, ou seja, os que estão acima corrompem ou são corrompidos e este fenômeno se desdobra até o “chão”, onde está a população, que entende que pode, sim, incorrer no mesmo crime, diante da disseminada impunidade. Em pleno processo de “corromper o que é certo”, intelectuais de esquerda passam a divagar que devemos corrigir a corrupção potencial já nas tenras idades, ensinando práticas boas e legais na infância para que os adultos sejam “imunizados”.

Eis a esquerda brasileira com seus aparelhos, tentando me dizer que sou tão ladrão quanto Cerveró e tão bandido quanto José Dirceu. Não sou, nunca fui e jamais serei. Meus filhos e netos também não. A ignóbil esquerda brasileira ainda não tem correta noção de certo e de errado.

A gente ensina.

O velho e o novo

No Brasil, a construção da democracia e de suas instituições é um longo processo. Isto porque o passado patrimonialista ainda nos aprisiona. Qualquer avanço é fruto de muita luta e de pequenas vitórias. Como não temos tradição de rupturas, a tendência é sempre incorporar o derrotado na nova ordem. Que, obviamente, deixa de ser plenamente nova; pois, ora mais, ora menos, rearranja o poder político mantendo frações do passado no presente. Esta permanência não só dificulta a plena constituição do Estado Democrático de Direito, como impede até que o pensamento crítico se incorpore à vida política nacional.

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A tendência histórica à conciliação transformou o aparelho de Estado numa esfera onde os antigos vícios da gestão da coisa pública permaneceram petrificados. O entorno era modificado mas a essência mantinha-se a mesma. Como se a História não se movimentasse. Pior, como até se o processo eleitoral de nada adiantasse, restringindo-se à mera substituição dos gestores, sem alterar seus fundamentos.

Virou lugar-comum afirmar que as instituições de Estado brasileiro estão em pleno funcionamento. As ações de combate à corrupção são demonstrações que reforçam a afirmativa. Contudo, cabe perguntar se a permanência da corrupção em todos os níveis e em todos os poderes da República não representa justamente o contrário. Ou seja, que as instituições funcionam mal, muito mal. Se há tanta corrupção, é porque é fácil instalar uma organização criminosa, político-partidária ou não, no interior dos órgãos estatais. E com a garantia da impunidade ou, no máximo, de suaves punições que estimulam, em um segundo momento, novos atos contrários ao interesse público, como no binômio mensalão-petrolão, onde o núcleo duro é o mesmo, mas em uma magnitude — em termos financeiros e temporais — muito maior.

Identificar a permanência e apontar a necessidade urgente de enfrentá-la não é bem visto no país das Polianas. E haja Poliana. Se a análise se concentrar em Brasília, como símbolo do poder, é possível detectar que, apesar de vivermos uma das mais graves crises da história republicana, não há nenhuma possibilidade de mudança, mudança efetiva. A atual paralisia política é resultado da dificuldade de construir uma saída mantendo os velhos interesses no aparelho de Estado. O resto é pura fraseologia vazia. Como diria o titio Joel Santana: cock-and-bull story.

O petismo, no auge, contou com apoio entusiástico da elite brasileira. Mesmo após as denúncias do mensalão, publicizadas na CPMI dos Correios. Para as classes dirigentes, o projeto criminoso de poder foi visto, apenas, como uma forma de governança, nada mais que isso. Quando Dilma Rousseff iniciou seu primeiro mandato, foi muito elogiada pela forma como administrava o governo e pelo combate — ah, Polianas — aos malfeitos, forma singela como definia a corrupção, marca indelével do seu período presidencial. Quem apontava as mazelas era visto como rancoroso, um pessimista contumaz.

No momento que Fernando Collor renunciou à Presidência da República, já tinha ocorrido uma recomposição de forças, desde o mês anterior à autorização para a abertura do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados, a 29 de setembro de 1992. Ou seja, a movimentação em torno de Itamar Franco, vice-presidente, permitiu que o bloco político-empresarial estabelecesse e garantisse as condições de governabilidade, que tinham sido afetadas desde o início do mandato, um ponto fora da curva entre os períodos presidenciais desde 1945. A queda de Collor — sem nenhuma sustentação social ou no Congresso Nacional — pode ser compreendida, então, mais como um rearranjo do bloco político-empresarial, redefinindo interesses no interior do aparelho de Estado, do que uma vitória das ruas, dos caras-pintadas. As ruas — mesmo sem o querer — acabaram permitindo uma saída confiável no interior de uma ordem política intrinsecamente antirrepublicana.

As acusações que pesam contra Dilma Rousseff são incomparavelmente mais graves do que aquelas imputadas a Fernando Collor. Os atos de corrupção, a desastrosa gestão econômica e o controle da máquina estatal por uma organização criminosa com tentáculos nos Três Poderes não têm paralelo na nossa História. Mas por que a crise política se estende? Por que a crise econômica parece não ter fim? Porque não foi encontrada uma saída segura para a classe dirigente, porque Michel Temer não é Itamar Franco, porque Dilma Rousseff não é Fernando Collor, porque o Partido dos Trabalhadores não é o Partido da Reconstrução Nacional e porque as crises político-econômica de 2015 é mais complexa que a de 1992.

A principal dificuldade para ser encontrada uma saída política nos moldes da (triste) tradição brasileira deve-se principalmente à sociedade civil. Hoje, com todas as limitações, ela vem se organizando e se mobilizando de forma independente do Estado e de seus braços, como os partidos políticos. As três grandes manifestações — de 15 de março, 12 de abril e 16 de agosto — não têm paralelo na História do Brasil. Um acordo pelo alto, costurado pelos velhos interesses, é muito difícil — e pode ter vida curta. É necessário ir mais fundo. Não basta a simples troca de presidente. O receio maior de Brasília é ter de enfrentar o Brasil real. Aquele que não quer mais ver a corrupção impregnando as ações de Estado, tenebroso método de gestão e de desqualificar a política, “fazendo-a descer ao plano subalterno da delinquência institucional”, como bem escreveu o ministro Celso de Mello.

A virtude do príncipe

 Se o próprio príncipe é virtuoso, o povo cumprirá os seus deveres sem que lhe ordene; se o próprio príncipe não é virtuoso, pouco importa que dê ordens; o povo não as seguirá.
Confúcio

Um Brasil que nunca existiu até agora

O Brasil pode estar ganhando muito mais do que perdeu com a descida da Petrobras aos nove círculos do inferno para onde foi arrastada durante os três últimos governos da República. Nunca se roubou tanto da brava gente brasileira, embora se tenha roubado sempre ─ e provavelmente se continuará roubando enquanto o país, na prática, for propriedade do “Estado” e obedecer à sua regra número 1, pela qual é obrigatório, para quem quer produzir alguma coisa, pedir licença a quem não produz nada.

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Mas há sinais concretos de que o espetacular surto de corrupção dos últimos anos, quando nossos atuais governantes decidiram transformar o uso privado do patrimônio público em programa, método e sistema de administração, está oferecendo uma oportunidade inédita ao Brasil do futuro ─ a de deixá-lo mais resistente do que jamais foi às epidemias de criminalidade oficial causadas pelos que mandam no governo, dentro e em volta dele, e que agora chegaram ao seu grau de intensidade máxima.

Essa recompensa será a passagem do país a uma situação até agora praticamente desconhecida na história brasileira: a de funcionamento pleno de um estado de direito no território nacional. O trabalho para isso está sendo feito numa modesta jurisdição local, a de Curitiba, pelo juiz Sérgio Moro, titular da 13ª Vara da Justiça Federal, pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. Ninguém está dizendo aqui que o Brasil perdeu pouco, porque a verdade é que perdeu muito. Provavelmente nunca se saberá ao certo ─ a conta começa num número mínimo de 6 bilhões de reais, estimativa oficial da própria Petrobras para o prejuízo sofrido com esse redemoinho de corrupção que a empurrou para o precipício, e vai até cifras não mapeadas pela aritmética comum.

Mas, por maior que seja a perda, sempre será apenas dinheiro ─ e a sabedoria popular diz que tudo o que pode ser pago com dinheiro é barato. Caras, mesmo, são aquelas coisas que o dinheiro não consegue comprar. Uma das mais preciosas é a segurança trazida pelos regimes em que o cidadão vive, no dia a dia da vida real, sob o comando da lei. Não é possível haver civilização se não há estabilidade, e não é possível haver estabilidade sem um sistema judicial que funcione.

Tentativa e erro

O recuo da presidente Dilma em relação à CPMF coroou uma série de iniciativas desorientadas que comandam o governo desde as ameaças de impeachment.

Primeiro foi a Agenda Brasil, coleção de postulados conservadores destinada a afagar a elite. Alguém sério ainda lembra dela?

Depois veio o anúncio atabalhoado do corte de ministérios. Quantos? Quais? Quando? Deixa pra lá.

Agora o ensaio de ressurreição da CPMF. Nem se trata de entrar no mérito da proposta. Tampouco perder muito tempo em registrar o cinismo de oposicionistas e outros tantos que criaram o imposto no passado e agora posam de seus maiores adversários.

A raiz do problema continua sendo a mesma. Como compatibilizar um governo que se diz social –e que, por isso, tem sido reeleito–, mas insiste em procurar socorro naqueles que nunca engoliram a hegemonia de um partido fora do cenário tradicional da política brasileira. O pau que bate em Chico continua preferindo os Chicos, este é o fato.

O resultado constrange. A tal base política esfarela-se dia após dia. As concessões a torto e, principalmente à direita, não surtem efeito. De uma certa forma, o Planalto caiu na armadilha montada pela oposição. O fantasma golpista passou a guiar todos os passos da administração.

Cada lado festeja vitórias fátuas em tribunais que há muito perderam o respeito público. Além do TCU, Dilma vem sendo ameaçada pelo TSE. Ora, na mesma corte o PSDB é suspeito de cometer pelo menos 15 irregularidades na campanha presidencial. Você sabia disso? Provavelmente não. O assunto está confinado ao pé de página de alguns jornais. Uma das acusações, veja só, refere-se a doações de empreiteiras citadas na mesma Lava Jato que sataniza o PT.

Isso sem falar do escândalo do HSBC e da roubalheira assumida na sonegação fiscal na Receita. Talvez a Operação Zelotes não seja tão sexy, como diria o ministro Levy. Nesta nem foi preciso recorrer a vazamentos premiados de criminosos reincidentes. O próprio juiz responsável pelo caso, aprendiz de Gilmar Mendes, tratou de bloquear a investigação.

O Brasil vive sobretudo uma luta política. Mas quem vai decidir o desfecho são aqueles que sentem na pele o emprego minguar, os preços aumentarem, o acesso à educação, à moradia e a benefícios trabalhistas duramente conquistados ficarem mais difíceis. Isso não se resolve com discursos ou batalhas apenas pelo poder, seja de que lado for.

Mujica apaixona o Brasil porque fala o óbvio

Ex-presidente do Uruguai em palestra na Uerj, no Rio
José “Pepe” Mujica anda encurvado, devagar. Dirige um Fusca, veste um terno meio surrado, não corta a unha do pé, possui uma pança imensa e evita a todo o momento o contato visual. Sua fala é mansa, doce. Diz coisas óbvias, sensatas, que qualquer outro velho camponês poderia dizer. A última neste sábado, ao lado do ex-presidente Lula: “Os políticos devem aprender a viver como a maioria do país, não como a minoria”.

Suas palavras são pronunciadas, sílaba por sílaba, com a potência similar de um cisco no olho. Foram elas, acompanhadas de uma conduta pessoal que condiz com o que prega, que fizeram que esse ex-guerrilheiro, tão normal e tão humano, alcançasse a presidência do Uruguai em 2009 e o status de guru e filósofo internacional de toda uma geração. Sua simplicidade fascina, sua sabedoria assombra. Especialmente uma juventude com novos valores, menos materiais, e que exige mudanças. E tudo isso aos 80 anos de idade.

Mujica esteve no Brasil nesta semana e brilhou como um astro pop. Em tempos de tanta desilusão política, quase 10.000 jovens lotaram a concha acústica da UERJ —uma fã relatou ter chegado duas horas antes do ato para conseguir lugar, como em um concerto— apenas para ver um senhor normal, pacato, e escutar um show de sensatezes. Quase um sermão de avô. E a explicação para isso —a parte, claro, de que ele regularizou a maconha— é tão simples quanto suas palavras: existem determinados elementos do nosso cotidiano político que deixaram de ser naturais e se tornaram insultantes.

Só para ficar no âmbito da política brasileira: já não é natural que os cofres públicos de um país em desenvolvimento paguem 324.000 reais em 52 quartos de luxo e 17 carros para uma comitiva, como fez a presidenta Dilma Rousseff em Roma em 2013 para a missa inaugural do Papa Francisco. Ou que, em tempos de ajuste fiscal, haja uma fatura de 100.000 dólares em limusines nos Estados Unidos neste ano. É uma aberração que deputados, senadores e vereadores ganhem, somados todos os benefícios, quase 100.000 reais por mês, trabalhem três dias por semana e ainda perambulem com carros pretos de suas repartições pela cidade —e ainda querem proibir o Uber. Insulta ver Lamborghinis e obras de arte escondidas nas mãos de quem foi eleito para zelar pelo bem público.

A austeridade de Mujica representa o contrário disso tudo. Ele dá um show de normalidade ao mesmo tempo em que toda essa normalidade acaba virando um show. “Um presidente não deve se confundir com um monarca”, disse neste sábado. Tão óbvio, né? Mas no Brasil talvez isso aconteça porque todo mundo vive num palácio: do Planalto, dos Bandeirantes, da Liberdade, da Guanabara...

Quando presidente, Mujica doava parte de seu salário, continuava a viver em sua chácara na periferia de Montevidéu, ia de Fusca para o trabalho, não usava gravata —às vezes nem sapato!— e ainda abria as portas do palácio presidencial no inverno para os moradores de rua. De quebra, apoiou a regularização da maconha, a liberalização do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo —já não é normal no Uruguai que as mulheres estejam proibidas a fazer o que querem e que as pessoas não possam se amar livremente, mas isso é papo para outro dia.

E não nos façamos de bobos: Mujica se identifica como um socialista, não renega suas origens de esquerda. Mas suas palavras são carregadas de uma sensatez tão sincera —perdão pela insistência— que até mesmo um conservador desprevenido acaba caindo na sua rede. Por exemplo: "Os estudantes tem que se dar conta que não é só uma mudança do sistema, é uma mudança de cultura, é uma cultura civilizatória. E não tem como sonhar com um mundo melhor se não gastar a vida lutando por ele. Temos que superar o individualismo e criar consciência coletiva para transformar a sociedade", disse na UERJ.

A notícia boa é que as pessoas estão, finalmente, cada vez mais seguras desse seu estado de 'saco cheio'. Vários analistas e estudos coincidem que os protestos, estejam eles travestidos de esquerda (junho de 2013) ou de direita (2015), são claros ao repudiar o tipo de conduta dos políticos. Basta ver a quantidade de compartilhamentos nas redes sociais do Brasil de fotos do primeiro-ministro inglês David Cameron indo trabalhar de metrô. Dez entre dez analistas políticos vêm repetindo desde 2013: a cabeça do brasileiro mudou, mas os políticos ainda não entenderam isso. "O Brasil que foi às ruas é um país que quer que o político ande de ônibus, que seja igual ao que ele é", já explicava o cientista político Alberto Carlos Almeida, diretor do Instituto Análise, naquela época.

Mujica representa essa mudança de mentalidade não apenas no Brasil, mas no mundo todo. E já não está sozinho. A Espanha, que viveu massivos protestos em 2011 e só agora começa a sair da crise econômica, já colheu alguns frutos nas eleições municipais deste ano, ao eleger prefeitos e prefeitas de plataformas cidadãs nas principais capitais do país. Todos e todas com o mesmo perfil de Mujica. O caso de Madri é o mais emblemático. Em seu primeiro dia de trabalho, a prefeita e ex-juíza Manuela Carmena, de 71 anos, foi capa dos jornais por ir ao trabalho de metrô. Cortou salários, cargos, carros oficiais e outros privilégios. "Jamais poderia imaginar que os jovens depositariam suas esperanças em uma avó já aposentada como eu", chegou a dizer.

Existe um certo mal-estar generalizado e a juventude, do Brasil e de todo o mundo, pede o fim de “tudo isso que está aí”. Uma geração com novos valores e hábitos mais austeros que seus pais, que prefere viajar e compartilhar um carro ao invés de pagar caro por um. E o curioso é que, como nos casos de Mujica e Carmena, às vezes buscam a regeneração política nos cabeças brancas porque não se encontra quem entendeu o recado nem entre as novas lideranças. Afinal, não se trata de pegar em armas e mudar todo o sistema. A revolução que exigem é silenciosa: se chama decência.