terça-feira, 18 de agosto de 2015

Dilma dedo no ouvido Dancando Protestos palacip planalto dentro nao estou ouvindo o que voces tao falando

Os indignados brasileiros descobrem um novo herói

Entre as novidades da nova manifestação de protesto contra o Governo do Brasil, realizada neste domingo nos 26 Estados do país, o mais significativo foi que os brasileiros encontraram um novo herói. Mudaram seu antigo ídolo político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (considerado o novo pai dos pobres e que acabou seu segundo mandato com 85% de aprovação popular) pelo juiz Sérgio Moro, o Savonarola da justiça, o homem-aranha que está expondo as vísceras da corrupção política e empresarial na operação Lava Jato.

Enquanto a imagem do juiz Sergio Moro era exibida em toda a sua glória em cartazes e camisetas (“Je suis Moro” ou “Moro, não nos abandone”), Lula entrou desta vez com força na mira dos indignados, que o apresentaram como um boneco vestido de presidiário, ou com alusões mafiosas ao Poderoso Chefão e com manifestantes rasgando a imagem de seu rosto. Foi chamado até de “traidor”, com raiva dolorida.

Estes dois fatos, essa mudança de herói, talvez tenha sido mais significativa do que o grito de “Fora Dilma”, que ressoou por todas as ruas e praças ocupadas pelos manifestantes.

Que os brasileiros estejam insatisfeitos com o Governo, a quem culpam pela crise econômica que está afetando o bolso das pessoas, já era evidente antes das manifestações, uma vez que as pesquisas lhe dão míseros 8% de aprovação popular. E esta era a terceira manifestação nacional do ano contra sua gestão.

A novidade é que, pela primeira vez, a grande aposta da sociedade brasileira é a da luta contra a corrupção, contradizendo os que ainda defendiam que o Brasil se acomodava a ela, já que era algo característico da idiossincrasia deste país, refletida no famoso jeitinhobrasileiro.

Até o genial escritor, o falecido João Ubaldo Ribeiro, ironizava isso em suas crônicas sobre o assunto. Dizia que era difícil que a corrupção indignasse os brasileiros, já que o sonho de muitos deles era “ter um corrupto na família” que aliviasse seus apuros econômicos.

As manifestações do domingo resgataram a consciência contra a corrupção com seu apoio ao juiz Moro para que continue a limpeza ética, prendendo os corruptos para que o Brasil possa ser um “país decente”, diziam os indignados.


A investida contra o herói Lula, contra Dilma Rousseff e o partido dos dois, o Partido dos Trabalhadores (PT), está relacionada justamente com a descoberta do novo herói Moro, que mantém na prisão figuras de destaque do PT, acusados não só de ter usado dinheiro ilegal para financiar o partido mas de terem enriquecido pessoalmente.

Lula, considerado não só o fundador como a alma indiscutível do PT, sem o qual, dizem, desapareceria, se vê hoje arrastado pela mesma onda de indignação popular contra a corrupção.

Se um dia o Brasil se vestia do vermelho do PT nas manifestações de rua, impensáveis sem sua presença, hoje os brasileiros mudaram de cor e adotaram o verde e amarelo que domina todas as manifestações. Seria possível dizer que o Brasil encontrou o gosto de ser só brasileiro.

Os analistas veem isso como uma evolução da sociedade e uma importante tomada de consciência de que o Brasil é mais do que um partido, por mais importante que este seja, como o PT, com seu apoio às políticas sociais e suas promessas de trazer ética à política.

E é seguramente esse sentimento de traição o que se começa a respirar cada vez com mais força nas manifestações e que tocou em cheio desta vez seu velho herói, o ex-sindicalista Lula.

Não é fácil profetizar até onde chegarão esses sentimentos de desgosto contra a corrupção política do homem da rua.

Mas foi tão absoluta a rejeição à corrupção que até mascarou, em parte, as críticas à grave crise econômica.

O futuro imediato dependerá agora de se há alguma força política que possa herdar, com credibilidade, o legado do herói hoje ferido, mas que continua vivo e ainda pode trazer surpresas.

E Rousseff? O que se diz é que ela é Lula. Respira por sua boca. Os dois se salvarão ou afundarão juntos.

Por hora, a rua tem ainda muito a dizer e o jovem e sério juiz Moro (para quem é difícil rir, um herói que é o extremo oposto do efusivo, carismático e exuberante Lula) tem ainda muitas teias de aranha para arrancar, o que faz Brasília tremer.

Melhor, portanto, que o Governo e os partidos, assim como o Congresso, não caiam na tentação de minimizar os gritos dos indignados que, em um país considerado um dos mais violentos do mundo, deu um exemplo inequívoco e admirável de não violência, transformando o duro protesto em uma festa popular, muito à brasileira.

E contra os não violentos, a força do poder, ou o poder da força, acaba sempre se chocando.

Quem somos nós?

Hoje vou falar de “fisiologia” – ups! – de “filosofia” (barata, claro) sobre as mutações que ocorrem em nossas cabeças sob a chuva de perversões, malfeitos, burrice, incompetência, sobre a vida brasileira.

Aí, faço as perguntas “metafísicas”: Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos?

Em “A República”, Platão idealizava uma cidade, na qual dirigentes e guardiões representassem a encarnação da pura racionalidade, capazes de compreender todas as renúncias que a razão lhes impõe, mesmo quando duras. O egoísmo estaria superado, e as paixões, controladas. Os interesses pessoais se casariam com os da totalidade social. O príncipe filósofo seria a tipificação perfeita do governante terreno. Ou seja, tudo ao contrário do que temos hoje no poder.

Desculpem o “bode negro”, mas a situação já passou de todos os limites. (Pare por aqui, leitor amigo, se estiver deprimido, mas é que estamos diante do insolúvel).

Tudo que acontece se coagula, coalha como uma pasta, um brejo de não acontecimentos onde nossa vida flutua sem rumo. Somos tecnicamente uma “democracia”, que é vivida como porta aberta para oportunismos. Democracia no Brasil é uma ditadura de picaretas.

Parece acontecer muita coisa no país, mas nada de real está se concretizando, além do óbvio previsto: estouro das contas públicas, obras de pacotilha, empreguismo, ideologias ridículas e terceiro-mundistas.

Os escândalos “parecem” acontecimentos. Mas são justamente a resistência do secular patrimonialismo que defende nosso atraso com unhas e dentes, contra qualquer tentativa de modernização. E diante disso tudo não conseguimos fazer nada. Aumenta o sentimento de impotência. Certamente, nuvens negras se formam. Teremos algo torto, torvo. Como diziam as três bruxas de “Macbeth”: “Alguma coisa má vem pelo caminho”.

Um país paralisado na economia e na política não gera apenas fome ou injustiça social; gera uma degradação psíquica progressiva. A zona geral do país, debaixo desse governo desgovernado, está provocando um desvio forte na cabeça das pessoas. Nossos corações estão mais duros. Para sobreviver, ficamos mais cínicos e alienados. Irracionalismos raiam. Já pensamos: “Essa bosta não tem mais solução, não. Vou cuidar da minha vida. Danem-se! Só quero ver coisas bonitas...”

Mas que “coisas bonitas”? Cada vez mais, aceitamos o feio nas paredes, nas pichações imundas, nas ruas alagadas, nas paisagens destruídas, gente desesperada, malpaga, na miséria nos rostos, nas roupas, nos gestos, nos risos boçais. Estamos nos deformando física e psiquicamente. Não só por tragédias visíveis, como guerras ou catástrofes naturais; vivemos a tragédia do nada, a tragédia do retrocesso que vai nos reduzindo a meras anomalias. A principal anomalia é a crescente consciência de que o maior inimigo da governabilidade é o governo. Tudo se restaurou. O Brasil é um flashback, um filme rebobinado. 


Para haver acontecimentos, tem de haver uma normalidade a ser rompida. Mas nada acontece, pois a anormalidade ficou “normal”. No caos, não há eventos.

O governo está nas mãos de comunas incompetentes. Para os “comunas” clássicos, a vida real não é verdadeira. Sua missão é algures, mais além da vida “burguesa”. Pensam: “A vida como a conhecemos é uma mentira; logo, a verdade está onde ela não está”.

Se a verdade aparecesse em sua plenitude, as instituições cairiam ao chão. Por isso, o governo acha que é preciso proteger as mentiras para que a falsa verdade do país permaneça.

Desmoralizaram o escândalo, as indignações e a ética (essa palavra burguesa e antiga para eles)...

Surge também a recente permissividade irresponsável, a ética da não ética, desde que “assumida”. Pensam: “Tem mais é que mentir mesmo. Vou pegar propina, sim, todo mundo pega. Qual é? Senão, de que adianta ser político? Tem de sujar a mão”.

E diante dessa paisagem em ruínas, quais são as propostas críticas de que dispomos?

Bem, temos vários tipos de reações: a mais comum é um ódio irracional aos políticos, como se a solução fosse acabar com a política em geral.

Aí, em decorrência desse ódio, surge um desejo de autoritarismo, até uma saudade dos militares.

Temos também o discurso muito comum do “precisamos”, uma tosca imitação do “Poema da Necessidade”, de Carlos Drummond de Andrade:

“É preciso salvar o país,/ é preciso crer em Deus/ é preciso pagar as dívidas/ é preciso comprar um rádio/ é preciso esquecer fulana”.

Mas o país não é poesia; é uma prosa “escrita por idiotas, cheia de gritos e fúria significando nada”.

Os artigos e os ensaios falam: precisamos disso, precisamos daquilo, mas ninguém sabe como agir.

Outra reação é o discurso da melancolia teórica, a nostalgia por uma “pureza” perdida, as saudades de uma ilusão: a revolução fracassada no mundo todo. 

Para recuperar essa ilusão, topam tudo: calúnias, números mentirosos, alianças com a direita mais maléfica, tudo para manter o terrível “patrimonialismo de Estado” que eles acham que é o controle de uma sociedade de débeis mentais (que somos nós).

Temos também o amor ao simplismo: ou um socialismo impossível, ou um liberalismo delirante para acabar com o Estado.

Tudo, menos aceitarem que temos de abrir caminho para o óbvio: reduzir o Estado, lutar por um choque urgente de administração e reformas que nos tirem do buraco. Isso, jamais; vai contra a ideia de controle, tanto à direita como à esquerda, hoje tão unidas – Lênin e Sarney.

Parecem existir dois “brasis”: um Brasil roído por ratos políticos e outro Brasil povoado de anjos puros. E o fascinante é que são os mesmos homens. O Brasil está sofrendo por causa de um secular problema fisiológico (ups!) – isto é, filosófico: “o que é a Verdade?”.

As ruas, ao contrário de Dilma, respeitam os delatores

Os protestos em todo o País neste domingo mostraram que a presidente Dilma ainda está longe de reverter o atual quadro de reprovação popular e que os brasileiros contam com a Operação Lava Jato para evitar a confecção de uma nova pizza em Brasília.

A grande novidade das ruas foi o apoio cada vez maior à Operação Lava Jato, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ao juiz federal Sérgio Moro, os homens da lei. As ruas evidenciaram que qualquer tentativa de frear o avanço das apurações será rechaçada pela opinião pública. Os brasileiros estão gostando de ver os políticos (e o PT) sob a mira da Justiça, conforme as faixas, cartazes e gritos em louvor à operação e seus agentes.


Se Dilma continuar com a tese de que “não respeita delator”, conforme afirmou em junho, será difícil para ela sair do isolamento em relação à vontade popular expressa nas manifestações. Segundo disse a presidente, Ricardo Pessoa, o empreiteiro que é um dos colaboradores da Lava Jato, não merece ser ouvido nem levado a sério. Os milhares de manifestantes têm outra opinião: querem investigação total e irrestrita sobre tudo o que os delatores disserem.

No âmbito da política propriamente dita, apesar do apoio à Lava Jato, os protestos parecem ter sido insuficientes para implodir o acordo costurado em Brasília entre o Palácio do Planalto e a ala do PMDB liderada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL). Talvez por isso tanta gente tenha decidido explicitar nas ruas sua esperança de que a Lava Jato, hoje fora de qualquer controle governamental, posso interferir para evitar a confecção de mais uma enorme pizza brasiliense.

Em síntese, mesmo com adesão mais baixa em relação aos protestos do dia 15 de março, ficou evidente que as ruas ainda são um território inimigo para Dilma e o PT. Elas ainda refletem o cenário de economia ruim e de descrédito dos brasileiros na capacidade da presidente de reorganizar suas forças e o País. Outro aspecto negativo para o governo é a comprovação de que em São Paulo não houve refresco: os ânimos na avenida Paulista continuam à flor da pele contra Dilma e o ex-presidente Lula.

Alberto Bombig

O ódio fofo e o ódio não fofo

Muita gente hoje tem se perguntado por que as pessoas estão tão intolerantes no Brasil. Quando se põe a refletir sobre as razões do suposto aumento do ódio entre nós, a intelligentsia, como sempre, olha para os malucos da extrema-direita, que babam em cima das vítimas de sempre.

Esses babões da extrema-direita são mesmo um atraso de vida e devem ser tratados com o devido desprezo moral e cuidado político, ou seja, devem ser neutralizados pelos usos da inteligência e da lei.

Dito isso, tentemos sair do óbvio e mais "seguro", que é sempre remeter o ódio à extrema-direita babaca de sempre, e olhar de modo menos ideológico para o Brasil intolerante que nos assusta agora.

Ou seja, deixemos de lado o que eu chamaria de ódio não fofo e olhemos para o ódio fofo. Dito de outra forma: olhemos para o ódio justificado por boas intenções. Como a corrupção do PT "em favor" dos excluídos.

Minha hipótese é que existem dois tipos de ódio para a intelligentsia, o ódio fofo e o ódio não fofo. Mas ela não tem consciência de que pensa dessa forma. Ela tem dificuldade de enxergar esses dois tipos de ódio porque o ódio fofo não se apresenta como ódio, mas sim sob denominações outras.

Quer ver uma denominação fofa para o ódio político que não se vê como ódio? Luta de classes. Quer ver outro exemplo? O combate à desigualdade social. Outro? MST e MTST.

O ódio de classe é o motor da história para o velho Marx e sua igreja. A história da esquerda é uma história de ódio ideologicamente justificado por suas "boas intenções".

O motivo para que nossa intelligentsia só veja o ódio não fofo é porque só reconhece a palavra ódio nos babacas da extrema-direita que berram nas redes sociais. Para si, guardam a expressão "esquerda", o que, por definição, significa "gente fofa".

Concordo que a extrema-direita é mesmo desprezível, mas os herdeiros da ideia de "luta de classes", quando se olham no espelho, veem alguém condescendente explicando para os outros como tudo ficará bem se esses outros aceitarem o que eles, os fofos, desejam para todos. São puros de coração em termos morais e políticos, logo, não odeiam.

O ódio não fofo é aquele do povo ignorante que não entende que devem ser guiados pelos intelectuais de esquerda e seus representantes no espectro institucional dos partidos. Mas a verdade é que quem abriu as portas do inferno para o ódio político no Brasil foi o próprio PT e sua militância truculenta.

Quem não lembra o que esses lindinhos fizeram com a blogueira cubana Yoani Sánchez anos atrás?

É hilária a histeria de muita gente com os evangélicos e a ideia de que eles obrigariam nossos filhos a ler a Bíblia nas escolas, quando, na verdade, nossos filhos são, há muitos anos, obrigados a ler o "Manifesto Comunista" como uma bíblia.

Não temo mais o ódio (não fofo) da extrema-direita do que temo o ódio fofo do PT e associados, que têm pregado uma divisão no país, assumindo que qualquer um que não concorde com sua "pauta progressista" seja um dinossauro antidemocrático.

Incrível como nas redes sociais, além dos babacas da extrema-direita, milhares de odiadores de esquerda se multiplicam como moscas. Mas, quando seus luminares intelectuais vão a público falar sobre a intolerância brasileira, posam de "santinhas" que fingem não saber que seus parceiros em toda parte disseminam o ódio contra qualquer um que não reze na cartilha do "Manifesto".

Quem inaugurou o ódio político entre nós foi a esquerda. Pelo menos esse que agora deixa as vestais da esquerda com medinho.

Agora querem posar de inocentes e vítimas de um ódio injusto. Colhem o que plantaram.

E aqui vai mais uma hipótese. A tentativa de polarizar o debate entre direita babona e esquerda democrática visa esconder a única novidade da política brasileira recente: o surgimento de uma direita jovem, liberal em comportamento, pró-mercado e democrática.

O Brasil está acordando para o fato de que é o mercado que vai nos tirar do buraco, e não esse estatismo neolítico das esquerdas, que quer fazer do Brasil um Sudão.

O 'footing' dominical de civismo

imageDamos prova de maturidade quando não esquecemos o que houve e cobramos o errado dos seus responsáveis
Ricardo Noblat 
O país parava aos domingos para ver Ayrton Senna. Milhões ficavam vidrados na telinha para ver as corridas de F-1., e torcendo para o piloto vencer e saudar a torcida com a volta da vitória acenando a bandeira brasileira. Era apontado como gesto cívico.

Assim foram a Marcha das Diretas Já e as manifestações pela saída de Fernando Color. Mas não eram no domingo.

Nunca antes na história houve o que se viu mais uma vez - a terceira no ano. Algo para qualquer país de governo democrático se orgulhar: festas cívicas de domingo, sem tumulto. Tudo graças à unanimidade do contra ostentada por Dilma.

Só que o governo de Dilma, hoje abrigado no Senado sob a proteção de Renan Calheiros, ainda não quer escutar as ruas. Aposta todas as fichas no "nóis contra eles" para se aguentar no Planalto à custa do sacrifício da população, não deles é claro.

O primeiro gesto foi avalizar um "ódio ao PT", uma "intransigência", uma "intolerância", um "movimento da classe média" e outros termos do besteirol governista. Se prestaram ao papel de três patetas: o ministro Edinho Silva, já mencionado na Lava-Jato, o líder na Câmara, José Guimarães, rapaz dos dólares na cueca, e José Pimentel, líder no Congresso. Uma troika sem valor e autoridade.

Sem ter com que se defender, o discurso novamente é de que a "direita" estaria nas ruas para apoiar as "forças conservadoras". O PT repete o discurso surrado de ser um baluarte da democracia (sic). Não consegue sair do ranço dos anos ditatoriais e esquece que estamos em outros tempos. As manifestações deste ano são um tapa na cara do petismo alienado, mascarado de bom moço, que rouba com o aval do voto.

O Brasil mudou, mas o PT continua o mesmo partido da pelegada. Seus gestos são a repetição do cacoete sindicalista. Não há mais exemplar do que a "defesa da democracia" abraçando o Instituto Lula em defesa do ex-presidente com a imagem de corrupto.

Numa festa regada a música, cerveja, churrasco, banheiros químicos e ônibus contratos para levar "manifestantes", o dinheiro era público. Como atacar milhares de pessoas nas ruas e outros milhões assistindo pela televisão, defendendo a ética, quando o "odiado" PT usa dinheiro do contribuinte, via contribuição sindical, para fazer festa "democrática"?

A democracia e o civismo foram às ruas de graça, pedindo o fim do desperdício do dinheiro de todos em favor de uns poucos, senão bandidos, ao menos cúmplices. Exigem respeito e não palavras de ordem, porque só respeitam o dístico da bandeira.

Criticar quem foi às ruas para defender o ponto de vista que for não faz parte do jogo democrático. É desrespeitar a todos que estavam lá dando um basta à roubalheira, cada um a seu modo.

O governo novamente, sob a máscara de democrático, nada mais faz do que o jogo do autoritarismo partidário e peleguista.

Adernado com o peso do Estado, o Brasil está à deriva

O Brasil é um navio sem rumo nem prumo. Não está apenas à deriva. É um navio cuja tripulação joga as culpas do extravio no estaleiro, nas estrelas, nos ventos, nas ondas e, claro, nos passageiros de olhos azuis. O que nos reduz alternativas a essa crise é estarmos sob um governo alheio aos males que causou. Somos governados por quem chegou ao poder mentindo sobre o passado, mentindo sobre o presente e, agora, mente sobre o futuro. E é um navio sem prumo, o Brasil, porque adernou com o peso do Estado.

Nada que não viesse sendo anunciado desde os tempos em que Lula, na metade de seu segundo mandato, decidiu que a manutenção do poder valia qualquer irresponsabilidade. Então, irresponsabilidade e meia: apontou como sucessora a companheira Dilma, gerentona, mãe do PAC e seu alegado braço direito. Pedra cantada para dar no que deu.

Muito já escrevi e falei sobre o conforto das instituições. A nação ia sem rumo nem prumo e as instituições só estavam interessadas em ampliar vantagens. Desatenção ao leme e maior peso agregado ao Estado. Deus, porém, escreve direito por linhas tortas, mesmo num barco desaprumado. E eis que surgem, da vastidão continental e populacional do país, ali, na capital do Paraná, um juiz, alguns promotores e policiais federais. Eles se recusam à zona de conforto e começam a fazer o que devia estar sendo feito há dez anos. Tiveram o mérito de perceber mais risco em nada fazer do que na missão que abraçaram. Já são quase três dezenas de colaborações premiadas (e olha que uma não pode repetir o que qualquer outra já tenha relatado!).

Há muitos anos, muitos mesmo, o Congresso Nacional dava sinais de morte cerebral. Ou de ser uma casa onde cada um cuidava de si e o Tesouro Nacional cuidava de todos. Pois a operação desencadeada em Curitiba levou o povo às ruas em 15 de março e desacomodou o parlamento. Queiramos ou não, ainda que com tanta presença constrangedora, ali está o coração, debilitado mas ainda vivo, daquilo que, como extensão do conceito, talvez se possa chamar de democracia brasileira.

É ao parlamento que o Brasil, de todas as cores, falou nas manifestações de domingo. Porque, como escreveu alguém, cujo nome gostaria de saber: “A bondade que nunca repreende não é bondade: é passividade. A paciência que nunca se esgota não é paciência: é subserviência. A serenidade que nunca se desmancha não é serenidade: é indiferença. A tolerância que nunca replica não é tolerância: é desumanidade”.

O futuro do Brasil não passa na tevê. Não acontece no sofá. Está se manifestando pacífica e civicamente nas ruas, como aconteceu novamente domingo.

Má fé cínica

Como o Palhares de Nelson Rodrigues, Lula é o homem da má fé cínica que faz praça da obtusidade córnea. 

Como o Palhares de Nelson Rodrigues, Lula é o homem da má fé cínica que faz praça da obtusidade córnea. (Se o leitor não sabe, Palhares, o Canalha, certa feita, quando se viu sozinho num corredor de hospital, atracou a cunhada com chupões de língua e apalpadelas, enquanto a esposa, no leito da enfermaria, exalava os últimos suspiros de uma doença terminal – o câncer). 

Já Leonel Brizola, o fogoso centauro dos pampas (metade homem, metade cavalo), enfrentando Lula em eleições presidenciais ordenadas pelos métodos de foice e martelo habitualmente empregados pelo PT, não pestanejou em definir o oponente como um reles “sapo barbudo”, o sujeito que, para chegar ao poder, seria capaz de pisar (sem remorso) o pescoço da própria mãe. E olha que em matéria de eleições cavadas e baixa politicalha, o cultor do “socialismo moreno” tinha atingido um grau de excelência,

De fato, o Dr. Lula abusa. Agora mesmo, quando se vê acossado por acusações de que o seu Instituto Lula e a empresa de Eventos e Palestras Lils (iniciais de Luiz Inácio Lula da Silva) apanharam dinheiro grosso de empreiteiras que espoliaram a Petrobras em mais de R$ 7 bilhões - o que faz o vosso “líder carismático”?

Ele faz o seguinte: armado no ABC paulista evento de puro circo, contando com a plateia cativa de sindicalistas bem remunerados, o velho mandrião da política vocifera, de forma histriônica, que a encalacrada facção do PT comunista “está sendo perseguida como os judeus pelos nazistas”. Nesta afirmação obscena, de pura mistificação, a obtusidade córnea atinge seu ponto mais rasteiro.

De fato, mesmo levando em conta que Lula não passa de um analfabeto contumaz, incapacitado para enfrentar qualquer compêndio de História, nunca será demais lembrar que a inversão burlesca dos fatos tem seus limites. Como se sabe, a violência nazista, levada adiante pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, tem suas raízes fincadas nas práticas revolucionárias encetadas pelo Partido Comunista soviético, para tomar e manter o poder a partir de 1917. Em essência, Adolf Hitler copiou literalmente os métodos criminosos aplicados contra o povo russo por Lenin e sua camarilha vermelha.

(Paul Johnson, no enciclopédico “Tempos Modernos”, considera que, em matéria de perseguição, as diferenças entre nazismo e comunismo são basicamente a troca do burguês pelo judeu e a substituição do símbolo da foice e martelo pela cruz suástica). 

Os nazistas perseguiram, saquearam, isolaram os judeus em campos de concentração e, pela adoção da “Solução Final”, asfixiaram em câmaras de gás mais de seis milhões de prisioneiros. Ora, no Brasil, com os comunistas do PT, dá-se justamente o contrário. Aqui, basta olhar em redor para constatar que a vasta nomenclatura petista vive atrelada aos empregos públicos das estatais, ONGs e boquinhas ministeriais, abusando do uso de cartões corporativos, das mordomias palacianas e, o que é pior, impondo sua sanha revolucionária, impunemente, nos campos e nas cidades. O próprio Lula, de operário relâmpago ascendeu à condição de burguês fidalgo, com casas, sítios e apartamento (triplex) em balneário de luxo, sempre nutrido em boas refeições, vinhos caros e ternos da moda, deitando o seu falatório debochado contra a realidade dos fatos, a partir de bunkers situados estrategicamente no ABC paulista.

No momento, temeroso das possíveis consequências, o Dr. Lula recorreu ao Ministério Público pedindo a suspensão do procedimento investigativo criminal aberto para apurar sua conduta no questionado caso de tráfico de influência, no exterior, em favor da Odebrecht. (Como é público e notório, a poderosa empreiteira fez do líder petista um obediente garoto-propaganda, financiado para facilitar negócios em Cuba, Venezuela, República Dominicana e países da África). A Corregedoria negou.

E enquanto o país desanda numa inflação beirando os dois dígitos e o governo tido como perdulário fala muito em “ajuste fiscal”, um novo escândalo estoura na praça: a Polícia Federal e o Ministério Público estão investigando as obras do “Museu Lula”, orçadas em R$ 14,5 milhões, mas cuja licitação o Tribunal de Contas do Estado julgou irregular. O museu tem por objetivo incensar a figura do “Príncipe Moderno”, mas a construção está navegando em banho-maria, pois seus mentores querem mais R$ milhões da viúva.

Gargantua e Pantagruel se mudaram para Brasília

Dizem os analistas que o pior das revelações da existência de outros gargantuas e pantagrueis ainda está por vir.

Auri sacra fames
(Que insaciável fome de ouro!)
Virgílio, “A Eneida”
Tudo indica que os famosos personagens de François Rabelais se instalaram há muito tempo em Brasília, e ali têm estado procurando matar a sua fome inesgotável, desta vez não de alimentos digamos “comuns”, mas de ouro, dinheiro, cash, vil metal, propina, bufunfa, pixuleco, etc. Gargantua e Pantaguel eram ogros vorazes, capazes de darem conta sozinhos de banquetes inteiros, sempre insatisfeitos pedindo cada vez mais.

As referências na imprensa sobre essa comilança monetária são relativas a milhões para lá, milhões para cá; bilhões para lá e bilhões para cá. Nós simples mortais não temos a noção de quanto isto representa porque os nossos parâmetros estão tão distantes desses valores, quanto a terra 1 está longe da terra 2, recentemente descoberta pelos astrônomos. Mas são somas imensamente consideráveis. Vamos a um exemplo. Um dos gargantuas da nossa novela brasiliana, forçado pela Justiça, está devolvendo aos cofres públicos a importância de R$ 65 milhões, se não me engano. Isto corresponde a 82.487 meses de pagamentos em salários mínimos, ou seja, 6.873 anos para que um trabalhador pudesse amealhar tal importância, desde que guardasse tudo o que ganhasse mês a mês sem gastar nada. Seria necessário viver mais do que dez Matusaléns.

Muito se tem falado sobre as causas dessa infecção generalizada que apanhou o Brasil em diversos campos da sua economia. Uma delas, talvez a principal, seja a existência de um cordão umbilical feito do aço mais resistente entre os governantes/políticos, as empresas e as obras públicas, em relação às quais se ajunta o fator eleições/compra de eleitores, tudo sob a maquiagem de publicidade na TV tão mentirosa que faria vergonha ao Barão de Munchausen ou ao nosso Pedro Malasartes.

A prática do eleitor de cabresto continua cada vez mais forte, embora tenha se modernizado e se tornado tecnológica. Antigamente o coroné, chefe eleitoral inconteste do seu reduto, tinha os eleitores na mão porque lhes prestava favores, evidentemente não com o seu dinheiro particular, mas com o que recebia do governo. E assim se fazia uma troca direta de interesses: um necessitado de comida e outro “necessitado” de votos. Eu me lembro de uma ocasião em que o Brasil recebeu toneladas de leite em pó de um programa da USAID. E quem os distribuía aos pobres necessitados? Evidentemente, cada coroné amigo do governo. O mais trágico disto tudo é que o tal leite precisava ser misturado com um pouco de manteiga e batido em um liquidificador, precisamente o que cada nordestino tinha à mão em sua tapera de pau-a-pique na aldeia na qual morava, onde não havia chegado ainda a eletricidade.

No dia da eleição o coroné botava os empregados de sua fazenda em cima de caminhões e os levava ao posto eleitoral. Ali cada um recebia um envelope fechado, assinava um livro de presença em X e colocava o envelope na urna. Se um curioso perguntasse ao coroné em quem tinha votado, este lhe respondia: “Não sei, meu filho, o voto é secreto”.

Sabe-se que muitas cidades tinham mais eleitores com endereço no cemitério local do que nas ruas, sendo que os registros de nascimentos e de morte eram feitos no cartório do coroné, ora pois, que também tinha os seus tentáculos na junta eleitoral.

Hoje o coroné se chama cartão do bolsa família e de tantas outras benesses que o Estado paternalista andou inventando. Todas as promessas juntas se somadas superariam o PIB do sistema solar. Desta forma o intermediário coroné foi em parte superado pela tecnologia. Agora a ligação é direta entre o Governo Federal e o eleito comprado por uma miséria.

Mas o monstro governo não conseguiu eliminar de todo os intermediários entre ele e o eleitor e aí é que proliferam deputados e senadores descendentes de Gargantua e Pantagruel, alguns deles vivendo dentro daquele próprio monstro, os quais conviviam em simbiose que costumava ser bem acomodada e as coisas vinham rolando de forma mansa e suave. Afinal de contas, a comida para os esfaimados parecia ser infindável, pois era proveniente de tudo o que o País produzia ou que iria produzir algum dia (o dinheiro do pré-sal, que ninguém sabe, ninguém viu), sem um fim em vista.

Mas outra figura existia nesse cenário, no qual as torrentes de dinheiro jorravam sem parar: os empresários de obras públicas. Ora, o governo é o maior contratante de obras no País e se licitações foram previstas em lei para que a escolha dos vencedores se desse de forma limpa, muito facilmente foram encontradas as brechas (“fatta la legge, trovare l’inganno”, já se disse há muito tempo).

As obras eram tantas que dava para dividir o butim, tal qual os corsários faziam quando se deparavam com um grande prêmio a ser conquistado, formado por uma esquadra carregada de ricas mercadorias vindas da Ásia ou da América. Atacavam juntos e repartiam o prêmio. Assim, muitos grandes empresários brasileiros atacaram juntos as licitações abertas e, por meio da celebração de cartéis, acertavam equitativamente quem ganhava o quê. É claro que o Governo, menos inocente do que criança apanhada roubando o pote de doces, dava uma mãozinha a um empresário mais querido dos que os outros, dirigindo para o seu endereço as condições do edital que excluíam os menos amigos.

Não se sabe bem nessa história toda se o ovo veio antes ou depois da galinha. Isto é, de quem comprou quem e quem foi vendido para quem. O resultado da licitação tinha vinculado a ela o pagamento de um pixuleco na base do PF (por fora). Os empresários dizem que o governo deles exigia tal contribuição caso contrário, adeus negócio. O governo dizia que seus representantes eram constrangidos a aceitarem favores das empresas interessadas nos seus contratos. Por outro lado na medida em que o componente “grana para as campanhas eleitorais” se tornou uma necessidade inafastável, dado o distorcido modelo eleitoral pátrio, juntou-se a fome com a vontade de comer e nossos gargantuas e pantagrueis puderam se fartar durante longo tempo em lautos banquetes. E como sempre surgiam novos contratos, eles davam origem a novos pixulecos, funcionando as coisas como um moto contínuo.

Foi então que se se sucederam dois desastres do tipo tempestade perfeita: havia pantagrueis e gargantuas mais do que se podia sustentar e a comida acabou. Foi preciso a contra gosto fechar a porta da dispensa, mas ninguém se entendia a respeito e as brigas surgiram, com fregueses mudando de lado e traindo quem antes os alimentava a barrigas cheias. Daí as traições que fazem parte do jogo, pois os políticos mudam de lado tanto quanto as mulheres de sotaque (“La donna è mobile, qual piuma al vento, muta d’accento e di pensiero”, Giuseppe Verdi, Rigoletto).

Pensando bem, acho que quem primeiro falou sobre esta característica feminina foi, mais uma vez, o grande poeta Virgílio, na Eneida (“Varium et mobile semper femina”). Do meu lado, acho a afirmação discriminatória quanto ao belo sexo, porque os políticos são muito mais volúveis do que elas, as mulheres. Se elas podem ser influenciadas por uma carinha bonita ou por dinheiro, eles são governados por muito mais dinheiro e mais muito poder. Um compra o outro e vice-versa.

Ora, o Governo está tentando salvar o pouco que resta da sua pele mais uma vez procurando trocar favores, o que não tem nem vai mais conseguir. Os ventos estão contrários e cada vez que o valente Juiz Moro pega da caneta (fortemente embasado pelos eficientes Ministério Público Federal e Polícia Federal), caem mais alguns dos bastiões que antigamente sustentavam o equilíbrio entre o Executivo e o Legislativo. Isto porque eu jamais falaria que poderia haver algum tipo de acordo com o Judiciário, lógico.
Quando eu era pequeno ouvia dizer que a minha geração estava pagando um preço caro para que as próximas pudessem viver em um Brasil melhor. Já se vão 70 anos e o país ainda anda na companhia dos mais miseráveis e injustos do mundo. Pelo andar da carruagem, meus bisnetos, se os tiver, ainda estarão esperando a mesma coisa.

Meu caro leitor, cada vez que você votou em um salvador da pátria ou em alguém que prometia o que não podia dar, você pariu um gargantua ou um pantagruel. Pode até ser que tenha parido gêmeos glutões. Somos todos cúmplices. Esse é o estado da meta.

Diz o ditado que a ocasião faz o ladrão. Este Migalhas trouxe outro dia uma posição contrária de Machado de Assis, para quem a ocasião apenas dá chance ao ladrão, que já nasce feito. Se é verdade, há uma solução que ao menos tiraria a colher da boca de muito guloso: bastaria privatizar todas as estatais, especialmente as federais. Há muito tempo que elas deixaram de preencher a sua função constitucional, inerente à exploração de áreas estratégicas para o país, que não seriam particularmente atrativas para o capital privado.

Olhe-se para a Petrobrás, depenada, despelada e descarnada até os ossos: como ela agora completamente sem dinheiro vai fazer o seu papel? Para que bancos públicos, já que contratos (sem pixueleco) com bancos privados poderiam perfeitamente exercer a função que eles têm executado que fosse do interesse do Governo? Não se poderia privatizar o Correio? Se assim tivesse sido, duvido que o seu fundo de previdência, o Postalis estivesse agora quebrado.

Dizem os analistas que o pior das revelações da existência de outros gargantuas e pantagrueis ainda está por vir. Bastará levantar a ponta de alguns tapetes, como a do BNDES, por exemplo...
Haroldo Malheiros Duclerc Verçosa

A casa da mãe Dilma

Na semana passada, a piada em Brasília era que se Dilma submetesse Os Dez Mandamentos ao Congresso Nacional, a proposta seria retalhada, e as despesas do céu iriam aumentar. Como Renan Calheiros repentinamente passou de incendiário a bombeiro, o fogo abaixou. Resta saber se a “Agenda Brasil”, proposta por Renan, é apenas espuma, como dito por Eduardo Cunha, seu colega no PMDB e na Lava-Jato.

Espuma ou não, o “pacote Renan” deveria incluir outros temas. Como exemplo, incorporar as dez medidas contra a corrupção propostas pelo Ministério Público Federal, que serão apresentadas como projeto de iniciativa popular. Caso o Congresso Nacional as adotasse, não precisaríamos colher 1,5 milhão de assinaturas. Na mesma linha, Renan poderia agilizar a tramitação de mais de 500 projetos de lei relacionados ao combate à corrupção, muitos dos quais engavetados há anos no Legislativo.

Também fez falta a redução dos 39 ministérios, como sugeriu o próprio Renan na sua (curta) fase oposicionista. A reforma administrativa deveria começar na Presidência da República (PR), que em março passado, tinha exatos 18.388 servidores. Para prestigiar algumas áreas ou para saciar a fome de cargos dos políticos, a PR inchou em quantidade de órgãos e funcionários. Dentro da PR estão nada menos do que nove ministros!

Conforme boletim do Planejamento, a quantidade de servidores da Presidência engloba a Vice-Presidência, a Controladoria-Geral da União, a Advocacia Geral da União, a Agência Brasileira de Inteligência e todas as secretarias com status de ministério: Aviação Civil, Portos, Promoção da Igualdade Racial, Micro e Pequenas Empresas, Assuntos Estratégicos, Relações Institucionais, Direitos Humanos, e de Políticas para Mulheres. Também integram a estrutura da PR a Agência Nacional de Aviação Civil e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários. Uma eventual reunião dos 18.388 servidores da PR no Rio de Janeiro teria que ser realizada no Maracanãzinho.

O ginásio, porém, não seria suficiente para sediar reunião de todos os funcionários públicos federais lotados no Rio de Janeiro. Aliás, diga-se de passagem, nem o Maracanã, que após as reformas só pode abrigar 78.838 pessoas. Acreditem ou não, apesar de a capital ter sido transferida para Brasília há 55 anos, no Rio estão lotados 102.623 servidores públicos federais ativos do Poder Executivo. No Distrito Federal são 70.251.

Outra curiosidade são os quase cem mil cargos, funções de confiança e gratificações existentes apenas no Poder Executivo federal. Como o número atual é de 99.850, em breve chegaremos à marca histórica, provavelmente recorde mundial. Somente os chamados cargos de Direção e Assessoramento Superior (DAS) somam 22.559.

Tanto a quantidade de servidores como as “comissões” cresceram significativamente nos últimos anos. De 2002 para cá, foram quase 130 mil servidores federais civis a mais e cerca de 30 mil novos cargos, funções de confiança e gratificações. Ainda que as despesas com pessoal em relação ao PIB tenham diminuído, a tribo cresceu, em número de índios e caciques, sem que os serviços públicos tenham melhorado.

Há muitos anos o Estado não é repensado. Na década de 30, Getúlio criou o Dasp para incorporar o “fordismo” à administração pública. Anos depois, Hélio Beltrão preocupou-se com a burocracia e o respeito ao cidadão. O economista Bresser Pereira, apesar de contestado, também trouxe o assunto à tona. 

Entretanto, a fusão do Ministério da Administração e Reforma do Estado com o do Planejamento não surtiu efeito, pois as questões administrativas perderam relevância. No dia a dia, os cortes orçamentários e a questão fiscal se sobrepõem à discussão sobre o Estado. Assim, inexiste debate sobre como redimensionar ministérios, autarquias, fundações, agências reguladoras, conselhos e comissões, bem como sobre a privatização de estatais e subsidiárias.

Além da “pauta Renan”, urge enxugar a máquina pública e aprovar medidas eficazes para o combate à corrupção, o nosso mal maior. As propostas do MPF tratam de prevenção, aceleração dos processos judiciais, recuperação de recursos, eliminação de brechas por onde escapam os bandidos de colarinho branco, redução das prescrições e agravamento das penas, inclusive aos partidos políticos. A sua assinatura no site http://migre.me/rd57T é importante, tal como no “Ficha-Limpa”.

Enfim, é difícil dizer se todos Os Dez Mandamentos seriam aprovados no Congresso Nacional. No momento, entretanto, o que parece mais importante para a sociedade brasileira é o sétimo: Não roubar!