sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O outono do nosso patriarca


São milhares de mulheres agricultoras, que dão duro no campo e ajudam a alimentar os brasileiros, são pessoas simples, sofridas e honradas, que mereciam mais respeito de Lula na Marcha das Margaridas, quando ele zombou da inteligência delas — e do resto do Brasil — dizendo que Dilma não pode ser julgada por seis meses de governo, embora esteja há 55 no poder. Que a crise atual foi provocada pelos Estados Unidos e a Europa, e não pelo desastroso primeiro mandato.

A marcha leva faixas e grita “Fora Cunha” em frente ao Congresso, exigindo a cassação e a prisão de um dos deputados mais votados do país e que legitimamente preside a Câmara, seja ele um canalha ou não. Mas quem gritar “Fora Dilma!” é golpista, coxinha, direitista ou rico. Embora 93% dos brasileiros a desaprovem. Vai entender.

A cada novo lance, vai ficando mais inverossímil a história desse fabuloso personagem que não encontra paralelo na ficção brasileira e mais se aproxima dos fantásticos patriarcas de Gabriel García Márquez, em que o talento, a inteligência e a ambição levam à ascensão e queda de um sindicalista carismático, inteligente e pitoresco, vítima de suas próprias bravatas, malandragens e frouxidão moral, devorado pelas velhas elites políticas e econômicas de sempre, com quem se aliou, achando que as enganaria.

Um dos seus piores legados é os salários de empregos públicos e suas aposentadorias se tornarem muito melhores que os da iniciativa privada, com o dinheiro do contribuinte. Quanto maior o Estado, maior a corrupção. Nos milhares de cargos de indicação politica é que acontecem os grandes prejuízos, por corrupção ou incompetência, ou os dois. Na empresa privada o que vale é mérito e eficiência: roubos são raríssimos.

Dizendo que não pode ir nem a um restaurante de São Bernardo por medo de ser vaiado, Lula tenta articular uma impossível reação, que depende mais de Dilma do que dele, mas com 93% contra, quem acredita em uma virada? Como terminará a história sensacional desse fabuloso personagem que foi um rei do Brasil no século XXI? Drama, tragédia ou farsa? Um seriado melhor que “House of Cards”.

O desrespeito ao Brasil

Dilma Rousseff discursa em Brasília em evento dos movimentos sociais: estreitando laços. | Ueslei Marcelino/Reuters
É preciso que a população zele pelo respeito ao contraditório. Diálogo não é pauleira
Dilma Rousseff

Dona Dilma não precisa nem falar, basta olhar seu semblante e as olheiras dignas de um filhote de panda, para concluirmos que anda insone com a perspectiva de um impeachment. Que está pouco visível no horizonte, mas que ela sabe que pode estar ali numa curva do Destino.

A presidente, além de se gabar de sua coragem e força para aguentar venha o tranco que vier, agora deu para frisar o que nós sabemos muito bem: ela está instalada no Planalto graças aos votos que recebeu e a vitória pelo voto não se discute, cumpre-se.

Curioso que quem mais fala em golpe é o Governo. Lembra aquela mulher que de tanto azucrinar o marido com seus ciúmes acabou despertando nele a certeza de que trair seria uma barbada. E foi!

Apavorada com a perspectiva de um impeachment, frase sim, frase não, ela repete que o voto tem que ser respeitado. E que não vai tolerar nem a mais remota tentativa de golpe!

Sugiro que pare de falar em golpe antes que algum aventureiro lance mão da coroa. Lembre-se, dona Dilma, o Brasil não tem um Plano B...

Creio que também seria de bom alvitre parar de falar no respeito ao voto. Não é por aí. A senhora foi eleita por uma apertadíssima margem de votos. Afinal, o que é o voto, objeto desse sacrossanto respeito? É a vontade do eleitor. É essa a vontade que tem que ser respeitada. Mas respeitada por quem recebeu o voto ou exigida por quem o depositou na urna?

Aí é que está o busílis, dona Dilma. Um voto obtido de forma enganosa não merece respeito e os votos que a senhora recebeu, todos eles, vieram em resposta àquela campanha que mostrava um Brasil paradisíaco, fato que a senhora conhece muito bem.

Mal as urnas foram fechadas, a campanha se esvaiu em fumaça, não é mesmo? E a senhora ainda pede respeito ao voto recebido? Pois eu lhe peço respeito ao eleitor que acreditou nas suas palavras e foi votar. É esse o voto que merece respeito e que não vem sendo respeitado desde janeiro de 2015.

Esse desrespeito agora começa a ser cobrado. Aqui e ali, ouve-se um “Fora Dilma!”. Isso não é pregação de golpe, mas revolta pela vida difícil do povo diante da vida luxuosa na Capital Federal.

Será que alguém sabe com exatidão quanto custa a máquina que move os Três Poderes?

Ou, por exemplo, quanto custa o encontro dos Movimentos Sociais como os realizados na capital nos últimos dias?

O mais chamativo foi o das Margaridas gritando ‘Não vai ter golpe’, "No meu país, eu boto fé, porque ele é governado por mulher", ‘Fora já. Fora daqui, o Eduardo Cunha junto com Levy". Além de uma faixa gigantesca onde se via o rosto da presidente com a frase ‘Fica Dilma’.

"Valentia" dos petistas em fevereiro na frente da ABI
O mais desrespeitoso foi sob a bandeira Diálogos, num salão no Palácio do Planalto. Diante de uma parede onde se lia Brasil – Pátria Educadora, o presidente da CUT bradou: “Vamos para as ruas entrincheirados com arma na mão se tentarem derrubar a presidente Dilma Rousseff. A qualquer tentativa de golpe, nós teremos o exército que enfrentará a burguesia nas ruas”.

Mas de que tentativa de golpe fala esse senhor? De onde ele tirou essa ameaça?

Isso é mais do que desrespeitar o voto, isso é um acinte, uma violência contra o Brasil. Dentro da sede do Governo Federal, na presença da presidente da República que acabara de dizer “Temos que zelar pelo respeito que as pessoas que pensam diferente da gente têm que receber de nós”, vem um sindicalista desvairado e ameaça com armas aquelas pessoas que pensam diferente dele?

Dona Dilma, respeitar o voto é respeitar o Brasil, sim. Mas mais do que isso, respeitar o Brasil como o país merece teria sido a senhora chamar à ordem esse senhor e lhe fazer ver onde ele estava. Respeito é muito bom e o Brasil merece todo o nosso respeito.

Ameaçar sair com armas na mão diante de diferenças de opinião é o que? Além de uma tremenda falta de amor ao Brasil?

O que esperar do domingo

Que efeito esperar das manifestações do domingo (16)? Quase nenhum. Quando muito, a imagem do esperneio difundirá pelo mundo mais uma confirmação de como é extensa e intensa a repulsa de milhões brasileiros ao zumbi exausto e putrefato de seu próprio governo.

Essas manifestações já demonstraram sua futilidade na improvisação de junho de 2013 e na desperdiçada oportunidade de, na eleição do ano passado, levar a nocaute o adversário cambaleante.

Verdade que foi eleição surripiada por mentiras, promessas solertes e a mais eficiente máquina de propaganda que o governo já conseguiu engraxar com dinheiro roubado. Mas o Partido dos Trabalhadores pode escarnecer que, como ensinou Margaret Thatcher, na etiqueta da política vencedores não dão pêsames aos vencidos.

Desistir, então? Conformar-se com a perpetuação bolivariana do PT no poder? Não necessariamente. Com sua esquálida imagem de Partido dos Trapaceiros (ou dos Traidores), o PT ruma para extensa derrota nas eleições municipais de 2016. Exponencial nesse declínio é a prevista defenestração do prefeito Fernando Haddad em São Paulo.

Muito pouco, muito devagar. Os manifestantes deveriam concentrar foco e fogo em renovada campanha de Diretas-Já: ação direta em favor duma democracia direta.

Democracia direta é o direito de legislar exercido diretamente pelo eleitorado. O processo precisaria começar pela exigência duma Assembleia Constituinte com mandato para substituir a espúria Constituição vigente. Esta foi debatida e votada não por Constituinte, mas pelo Congresso que o regime militar consentiu suceder ao biônico. O eleitorado nunca legitimou essa Carta nem seus remendos oportunistas e escusos.

Mais uma Constituição? Os EUA mantêm em vigor (com emendas subsequentes) a mesma Carta de sete artigos vigente desde 1788. No Reino Unido, embora nenhum documento as consolide, leis de natureza constitucional têm garantido aos cidadãos, há séculos, invejáveis liberdades civis. Mas são exceções. Na França, a Constituição que vigora desde 1958 é a última de uma sucessão que remonta a 1791.

A Constituição que vige na Suíça desde 1999 preserva muitos princípios da primeira, que em 1848 agregou substancial teor do ideário humanista da Revolução Americana e da Francesa. Já na Constituição de 1891 os suíços incorporaram inovação que outras democracias começam a imitar: a iniciativa popular.

Hoje, na Suíça, abaixo-assinado com 100 mil assinaturas ou mais, coletadas em prazo não superior a 18 meses, pode converter-se em lei, se aprovada por maioria simples; ou até em emenda constitucional, se aprovada por "maioria dupla" (dos eleitores e da maioria dos cantões, como são chamadas as unidades federativas suíças).

Promover referendos no Brasil é desafio que supera o do consenso dos 26 cantões suíços –apesar da acrimônia endêmica que vocifera lá em quatro línguas e dezenas de dialetos. Mas com internet mais difusa, aperfeiçoamento crescente de urnas e documentação eletrônicas, o entulho mais obstrutivo oposto ao estabelecimento da democracia direta no Brasil é a relutância subversiva da classe política em renunciar a seus extorquidos privilégios.

Resta saber como obter de governo petista a convocação duma Constituinte que certamente extinguiria a atual hegemonia do partido. Entra aí, então, a ação direta, assunto para outro texto, noutro contexto

Culpa da democracia?


É difícil que o país consiga sair do atoleiro fiscal em que foi metido sem entender com clareza como foi mesmo que acabou nessa situação. Parece inacreditável que, a esta altura dos acontecimentos, ainda haja quem queira reescrever a história e relevar o papel central que teve a presidente Dilma na condução da economia a tal desastre.

Há mais de duas décadas, o dispêndio primário do governo vem crescendo muito mais rapidamente que o PIB. E exigindo elevação persistente da carga tributária. Esse descontrole estrutural do gasto público tem sido associado às dificuldades de conter as pressões políticas que ganharam força a partir da redemocratização.

É com base nisso que agora ganharam destaque na mídia narrativas sobre o atual quadro de devastação fiscal em que se alega que, para azar de Dilma, o desequilíbrio fiscal estrutural acabou explodindo no seu colo. E que não se pode culpar a presidente pelo descontrole do gasto público. Porque a verdadeira culpada seria — pasmem — a democracia brasileira.

Pressões por expansão de gasto público são intrínsecas a qualquer democracia. Não se trata de peculiaridade brasileira. Cabe ao governo acomodar essas pressões sem deixar que redundem em descontrole fiscal. Basta olhar em volta para perceber que outras democracias vêm administrando tais pressões com muito mais sucesso que o Brasil.

Que a expansão de gasto público era insustentável já estava claro há dez anos. E, na época, a democracia brasileira, revigorada pela alternância de poder, parecia pronta a equacionar o problema de forma consequente. Preocupado com a insustentabilidade fiscal, Antonio Palocci, então ministro da Fazenda do primeiro governo Lula, propôs, em 2005, a adoção de um programa de ajuste de longo prazo, para impedir que o dispêndio público continuasse a crescer mais rapidamente que o PIB.

Infelizmente, a proposta foi torpedeada. Em embate dentro do governo, Dilma Rousseff, então ministra-chefe da Casa Civil, acabou levando a melhor. E o país perdeu excelente oportunidade de levar adiante uma reforma fiscal de grande alcance, que lhe teria assegurado trajetória bem mais promissora.

Anos mais tarde, em artigo em tom triunfalista, escrito em meio à euforia de 2010, Nelson Barbosa comemoraria o embate de 2005 como a derrota decisiva da “visão neoliberal” no governo Lula, que havia aberto caminho para os grandes feitos que vinham sendo logrados pela “opção desenvolvimentista”. Ver http://migre.me/hEprG

O afastamento de Palocci e sua substituição por um ministro dócil e afinado com Dilma Rousseff, em abril de 2006, abriram espaço para crescente e inédita preponderância da Casa Civil na condução da política econômica no segundo mandato de Lula.

A preocupação com as contas da Previdência logo cedeu lugar à negação peremptória da necessidade de reformas na área previdenciária. E, quando Lula mal havia cumprido nove meses do segundo mandato, a ministra Dilma Rousseff se permitiu anunciar que todas as preocupações com contenção de gastos haviam sido deixadas para o mandato seguinte.

A perspectiva de uma crise mundial, em 2008, foi o ensejo que faltava para que o governo partisse de vez para o expansionismo fiscal ostensivo, com a criação de um gigantesco orçamento paralelo no BNDES com ligação direta ao Tesouro. Acreditando que, num passe de mágica, se livrara da restrição orçamentária, o governo passou a se comportar como se não houvesse limites para o que poderia ser bancado com dinheiro público.

O resto da história é bem conhecido. Eleição de Dilma Rousseff, na esteira de apoteótica farra fiscal, em 2010. Insistência na aventura charlatanesca da “nova matriz macroeconômica” no seu primeiro mandato. E novo vale-tudo fiscal, em 2014. Os resultados aí estão. Uma economia sem perspectiva de crescimento, inflação a mais do dobro da meta e um quadro de devastação fiscal como há muito não se via.

O país agora se angustia com quanto lhe custará a penosa reparação dos danos, mas tem certeza de que a culpada pelo desastre não é a democracia.

Uma perigosa farsa

Há quem coloque a culpa na suposta juventude da nossa democracia, essa “plantinha tenra” como a chamam os que não fazem a menor cerimônia para pisá-la.

Mas ela já renasceu adulta, depois do vinteno da ditadura militar, tanto que o primeiro presidente escolhido em eleição direta foi obrigado a renunciar quando o Congresso aceitou abrir um processo de impeachment contra ele, atendendo a uma representação da sociedade civil, assinada pela OAB e a ABI.


Os tempos mudaram: a ABI hoje cede a sua casa para manifestações partidárias de quem está no poder, e o presidente da OAB se transformou em comensal do poder em jantares palacianos onde o establishment troca rapapés com a presidente da República, açoitada pela popularidade mais baixa da história e acossada pelo TCU e pelo TSE por contas mal explicadas.

Os que protestam, que ontem representavam a consciência cívica da Nação, hoje são os golpistas fascistas que não se conformam com o resultado das urnas.

A democracia retrocedeu ou retrocederam os “democratas”?

A negação nunca esteve ausente de sua agenda: desde o Plano Real, passando pela Lei de Responsabilidade Fiscal ou por qualquer coisa que não tivesse saído do embornal ideológico próprio, sem contar a chuva de pedidos de impeachment contra tudo e contra todos, a oposição “a tudo que aí está” agora se transformou em sustentação a tudo que aí está-desde trampas fiscais até assalto aos cofres públicos.

Tanto que os neo-democratas sequer esboçam um sorriso de constrangimento quando escolhem, ao sabor de seus interesses imediatos, o amigo e o inimigo do momento. Renan Calheiros, tão citado na Lava Jato quando Eduardo Cunha, atirou em direção ao governo à deriva, uma boia salva- vidas chamada Agenda Brasil. Renan virou o amigo e Cunha o inimigo, e isso não tem nada a ver com moralidade.

E o ex-presidente Lula, flagelado em sua dúvida existencial entre renegar a criatura que inventou e tentar tangê-la de volta ao seu rebanho, para que não atrapalhe os seus planos para 2018, não se envergonha de infantilizar a política com outra de suas pedestres metáforas, em defesa (?) de Dilma:

"É lógico que ela pode errar, como eu errei e como qualquer um erra enquanto mãe. Nem sempre a gente faz as coisas que são 100% aceitas pelos filhos. Mas quando ela errar, ela é nossa mãe e temos de ajudá-la a consertar”.

Nem nos momentos mais caricaturais do populismo explícito que assola o subcontinente desde sempre vai ser fácil achar uma frase tão estupidificante. A última “madre de los pobres” tratada de maneira tão mistificadora foi Eva Perón, com resultados de que a decadente Argentina padece até hoje.

Lula disse isso a uma plateia de “margaridas”, trabalhadoras rurais recrutadas com o patrocínio estatal da Caixa Econômica, do BNDES e da Itaipu Binacional, que investiram 855 mil reais no convescote “espontâneo” no estádio Mané Garrincha, elefante branco herdado da Copa de 2004.

As “margaridas”, que formam um movimento social devidamente instrumentalizado pelo PT, repetiram no estádio palavras de ordem contra o “golpe" e contra Eduardo Cunha, eleito inimigo público número um do governo pelo trabalho de trituramento da base aliada que vem promovendo dentro do Congresso Nacional. 


Dilma também esteve lá, e o governo quis, com esse ato, marcar a sua presença na batalha política que se trava nos espaços públicos.

Não importa se os métodos usados, como a manipulação grotesca das palavras e a instrumentalização descarada de um “movimento social”, signifiquem, no fundo, uma regressão à primeira infância da demagogia populista.

Quando a democracia deixa de ser um fim e passa a ser um meio de agarrar-se ao poder para desfrutá-lo sem medidas e sem limites, estamos diante de uma farsa. Uma perigosa farsa.

É o fim do caminho

Ditos só se tornam ditados porque contêm lições preciosas de correntes de situações já testadas. De onde convém levá-los em consideração na vida e também na prática da política.

“Quem tudo quer tudo perde” reza sobre o mau posicionamento da ganância desmedida como conselheira. “Não se pode enganar a todos o tempo todo” fala a respeito dos malefícios da prepotência e da cegueira soberba ante o discernimento alheio.

O menosprezo a tais preceitos é uma receita fadada ao desastre mais dia menos dia, conforme agora pode comprovar o Partido dos Trabalhadores nesse momento em que o partido se vê diante da cobrança dos equívocos cometidos ao longo de sua trajetória no governo e na oposiç&atil de;o.

A conta salgada hoje impõe ao PT a condição de ente em situação de inevitável falência. Perda Total parece ser a tradução atual para a legenda.

Nunca antes na história do Brasil se assistiu a uma derrocada dessas proporções, notadamente em se tratando de um partido na posse do poder formal. Os partidos ditos aliados se posicionam dizendo com todos os efes e os erres que nada querem com o governo.

Cansados de serem tratados como vendidos – o que alguns efetivamente são, mas que não gostam de ser tratados como tais –, agora dão o troco, como a dizer: tantas vocês fizeram que agora é a nossa vez de dizer chega.

Sentimento semelhante toma conta da sociedade, evidenciado na crescente rejeição ao governo e ao partido. Implicância? Nem de longe. O PT recebeu do eleitorado brasileiro tudo o qu e queria e muito mais. Foi conduzido à Presidência da República quatro vezes, mas não soube honrar essa delegação.

Entre outros motivos, por um pecado de origem: o partido jamais compreendeu as normas nem a ele se deu ao trabalho de seguir as normas da República e da democracia. Uma vez no poder o PT tomou como verdade a instituição da bandalheira e da impunidade como regra geral. Não viu que não era assim e sob a direção petista passou a ser. O partido mergulhou fundo no modelo da podridão, desprezando todas as chances de se engajar num programa de melhoria institucional.

Ao contrário. Optou por se manter alheio ao movimento pelo fim do regime militar escolhido pelas demais forças políticas – a eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral de 1985 –, bombardeou o plano de estabilidade econômica à r evelia da sociedade e depois, quando no poder, escolheu o populismo aliado ao fisiologismo de Estado para governar.

O partido, seus representantes e governantes mentiram de maneira afrontosa, estabeleceram um padrão de divisão entre brasileiros governistas e oposicionistas, entrou de cabeça no “modo gastança” em detrimento da poupança e agora está paralisado no beco sem saída aparente que ele mesmo construiu.

Os anteriormente aliados hoje deixam bem claro que querem os petistas fora do jogo. Razão? O exagero nos gestos e falas de outrora. Tivesse sido mais cordial com os aliados, talvez o PT não vivesse situação tão adversa. Na pior das hipóteses, teria ao menos alguém com motivação para defendê-lo.

Eduardo Cunha – disse algumas vezes e vou repetir – não é causa, é consequência. Foi eleito porque a maioria dos deputados queria que fizesse o que está fazendo. Um instrumento para expressar desagrados e urdir a vingança por anos de imposição da soberba sustentada em altos índices de popularidade.

Depois da virada a canoa, o cenário é o de um final melancólico, cuja escrita retrata um final melancólico. Não há mais a opção de mudar como preconizam os otimistas, pois o sonho transmudado em pesadelo já se acabou.

Brasil sem pai nem mãe

"É lógico que ela pode errar, como eu errei e como qualquer um erra enquanto mãe. Nem sempre a gente faz as coisas que são 100% aceitas pelos filhos", disse Lula na terça (11). "Mas quando ela errar, ela é nossa mãe e temos de ajudá-la a consertar".
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Há algo de mais atrasado vindo de uma pessoa que já foi o presidente mais popular de uma democracia de 200 milhões de habitantes?

A regressão política faz com que Lula parta agora para uma tentativa de regressão psíquica da sociedade.

Para que essa sociedade, assustada e perdendo empregos, os veja como papai e mamãe que só pisaram na bola. Que espere, suporte, se conforme e ajude o PT e a presidente mais impopular do Brasil a tirá-los dessa situação.

Lula acha que sabe o que faz e que conhece seu público: o país da "Pátria Educadora", de maioria pobre e educação ruim.

Mas nesse processo de regressão, Lula e Dilma estão sendo obrigados a se fechar só no que ainda resta: a base social do PT "hardcore"; agora financiada com dinheiro de toda uma sociedade que desaprova em massa o governo.

Como a tal Marcha das Margaridas em Brasília na quarta (12). Contraponto aos prováveis protestos de domingo e recebida por Dilma, teria reunido 30 mil pessoas, segundo a PM. Ao custo de R$ 855 mil da Caixa Econômica Federal, do BNDES e da Itaipu Binacional.

Apesar da grande popularidade de Lula e Dilma nos seus melhores momentos, eles pouco fizeram para transformar estruturalmente o Brasil que governam há 12 anos e meio.

Lula surfou na onda das commodities em alta e no maior ciclo de crescimento global (até 2007) do pós-Segunda Guerra. Não fez reformas que pudessem ajudar a melhorar as contas públicas no longo prazo. Só ampliou gastos.

Dilma pegou o bastão com o país crescendo 7,5% e com problemas à época relativamente fáceis de resolver. Inventou estratégias econômicas extravagantes e também nada produziu de novo para mudar o estrutural. Só ampliou gastos.

Vivemos um longo período sob gastos públicos, crédito e consumo em alta.

Enquanto a indústria perdia a metade de sua participação no PIB, investia-se pouco e importávamos para valer, criando empregos lá fora.

Só agora, pelas mãos de um ministro adotivo, mamãe impopular quer passar no Congresso, a toque de caixa, reformas que poderiam ter sido feitas em três longos mandatos populares. Como perdemos tempo
.

Rebelião ou rendição das massas?

Em função de Renan Calheiros, o mandato da presidente Dilma pode estar momentaneamente preservado, ainda que não se tenha certeza do que poderá acontecer com as manifestações de protesto do próximo domingo. Ou também porque se desconhece todo o potencial do pacote de maldades do deputado Eduardo Cunha. Mesmo que Madame consiga superar o permanente inferno zodiacal fora de seu aniversário, ficarão cicatrizes difíceis de superar.

Como ela explicará, para seus biógrafos, haver renegado o ideário do PT para governar o país? Noves fora as mentiras da recente campanha presidencial, vale alinhar algumas iniciativas adotadas pela presidente desde o dia de sua segunda posse.

Prometendo não investir contra os direitos trabalhistas, mas até ampliá-los, Dilma reduziu o seguro desemprego, destroçou o abono salarial e as pensões das viúvas, estabeleceu que devem ser pagos os serviços prestados pelo SUS e vetou o aumento das aposentadorias de acordo com o reajuste do salário mínimo.

No reverso da medalha, também propôs revogar a desoneração da folha de pagamento das empresas, aumentou os juros e acabou com a isenção dos produtos da cesta básica. Engajou-se por inteiro na concessão de benesses ao sistema financeiro e não mexeu na escandalosa remessa de lucros para o exterior. Quase matou o FIES e cortou o sonho de milhares de estudantes pobres. Pior ainda, nenhuma solução apresentou para conter o desemprego em massa que assola o país. Tudo ao contrário do que havia sustentado ao pedir votos para sua reeleição. Também beneficiou os planos de saúde e não hesitou em cortar 10 bilhões da reais das dotações orçamentárias para a educação pública. E 40 bilhões da saúde.

Ainda que possa escapar da degola, expectativa ainda por ser demonstrada, Dilma carregará até o final de seu período de governo a mancha de haver-se tornado neoliberal, renegando o programa do PT. Coisa que o Lula fez no varejo, ela pratica no atacado. Talvez por isso ainda evite a defenestração, porque conta com o apoio das elites, às quais acaba de aderir por inteiro. Basta ver a súbita reviravolta no noticiário dos jornalões e penduricalhos da mídia, com algumas exceções. Querem preservá-la para preservar-se.

A conclusão surge lamentável: mais uma vez os anseios de mudança profunda nas estruturas sociais saem pelo ralo, permanecendo o mesmo modelo que predomina no planeta, do domínio dos poucos privilegiados sobre os ignorados. Cada vez mais revela-se a impossibilidade da pronta rebelião das massas, restando como consolo uma única saída: a rendição das massas. Exangues, algum poder precisará cuidar delas, caso venham a levantar os braços e render-se.

PNBE naufraga

Em julho passado, quando entidades do livro assinaram um manifesto em favor do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), o temor era que o programa – que em 2014 comprou 19.394.015 exemplares, totalizando investimento de R$ 92.362.863,86 – fosse cancelado em 2015, dado o período de turbulência enfrentado pela Economia brasileira nesse ano. O temor se concretizou. Na semana passada, em reunião em Brasília para entrega do manifesto ao ministro da Educação, Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros), Associação Nacional de Livrarias (ANL) e Liga Brasileira de Editores (Libre) foram recebidos por Luiz Cláudio Costa, secretário-executivo do MEC, que foi categórico ao dizer que não haverá edital do PNBE em 2015, para compra em 2016. Além disso, anunciou que o PNBE Temático 2013, estimado em R$ 26 milhões, e o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic) 2014 (R$ 100 milhões), ambos já contratados, mas ainda não executados, não deverão deslanchar na sua totalidade. O secretário deu a chance de que cerca de 30% dos programas poderia sair do papel. Na reunião, não se falou em cancelamento definitivo do programa, apenas a suspensão dele em 2015.


“Saímos da reunião percebendo que não há mesmo a menor chance de o PNBE sair em 2015 e que há uma possibilidade de salvar o PNBE Temático 2013 e o PNAIC 2014, mas isso só se sobrar dinheiro do PNLD”, contou ao PublishNews Luís Antonio Torelli, presidente da CBL. O impacto dessa decisão afeta fortemente o mercado editorial, na opinião de Torelli. “Esse pessoal que se especializou nesse segmento vai sofrer muito. Realmente vai ser complicado”, avaliou o presidente. Raquel Menezes, presidente da Libre vai além e aponta que o prejuízo não será apenas econômico. “O impacto é gigantesco nas editoras associadas à Libre, mas mais do que isso impacta na formação desses leitores que não terão mais acesso à literatura”, pontuou.

Torelli reafirmou a sua preocupação com a formação de novos mercados para a indústria do livro. “A gente precisa se desvincular disso. Temos que partir para outras, criar mais leitores para ficarmos menos dependentes das compras governamentais”, disse, reconhecendo que esse é um projeto em longo prazo. “No curto prazo, precisamos lutar pelo frete correio, o andamento do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) [emperrado na Casa Civil] e a isenção do IPTU das livrarias. São coisas que podemos avançar imediatamente”, disse.

Agora, as entidades se apegam às esperanças depositadas em uma nova viagem à Brasília. É que no dia 1º de setembro, o deputado Félix Mendonça Jr. (PDT/BA) convocou uma audiência pública, na Câmara dos Deputados, para discutir a “sobrevivência da cadeia do livro no Brasil”, com a presenta da CBL, SNEL, MEC e Ministério da Cultura (MinC). “Vamos aproveitar essa audiência para tentar uma agenda positiva em favor do mercado do livro e fazer desse limão uma limonada”, disse Torelli.
PublishNews 

Dilma não sabe governar e vai levar o Brasil a impasse

Já houve tempo em que a Economia podia ser considerada apenas uma Ciência Social, nem sonhar em se tornar uma Ciência Exata, tipo Matemática, Física ou Química, porque havia mais teorias econômicas do que psicanalíticas, ficava difícil chegar a uma conclusão, os governos atuavam mais no sistema diferencial do erro e acerto.

Mas a evolução do conhecimento e das práticas administrativas está praticamente colocando a Economia como Ciência Exata, porque já existem medidas cautelares capazes de fazer com que os administradores públicos evitem bizarrices, crendices e até burrices que possam provocar graves crises econômicas.

Não foi por mera coincidência que se criaram legislações como a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei Anticorrupção, que não foram nenhuma invenção brasileira. Pelo contrário, nossos economistas só poderiam concorrer ao Nobel se existisse o Prêmio da Irresponsabilidade Econômica, que o professor Guido Mantega logo embolsaria com as pedaladas fiscais e as maquiagens contábeis.

Seria injustiça dizer que não há economistas preparados no país. Pelo contrário, existem aos borbotões. O problema é que os governantes não os escutam. Vejam o caso da Sra. Dilma Rousseff, que falsamente se dizia doutorada em Economia. Ela não sabe nada, é uma ignorante completa, mas pensa que sabe. Por isso seu governo é este desastre. Dilma não obedece a regras de controle de gastos, nem sabe o que é isso.

O plano de ajuste fiscal brasileiro é ridículo, patético, nenhum economista competente pode levá-lo a sério, porque não funciona, jamais funcionará. Joaquim Levy não é nenhum luminar, qualquer um que o conheça sabe disso. Foi colocado no cargo para defender os banqueiros, ou alguém acha que foi o contrário?

Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, é diferente. Conhece bastante a moderna teoria econômica e não tem interesse em agradar banqueiro. Se presidente Dilma Rousseff o ouvisse, estaríamos em outra situação, mas ela prefere desenvolver teorias próprias, que Deus nos proteja.