sábado, 1 de agosto de 2015

Isso é difícil

Dilma inaugura obra em bairro sem infraestrutura

Presidente participou de solenidade nesta sexta-feira em cidade fluminense; unidades não tinham água e luz um dia antes da entrega
No entorno do conjunto em Maricá, ruas estão asfaltadas pela metade
Empenhada em priorizar uma agenda positiva em meio à crise política e às revelações da Operação Lava-Jato, a presidente Dilma Rousseff entrega nesta sexta-feira, em Maricá, no Grande Rio, dois conjuntos habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida cujas obras foram terminadas às pressas. Nesta quinta-feira, as 2.932 unidades divididas em dois condomínios não tinham água e luz. Além disso, os imóveis visitados pelo GLOBO ficam em bairros que não têm infraestrutura básica, como saneamento.

Os conjuntos, batizados com nomes de guerrilheiros que lutaram contra a ditadura, custaram R$ 195 milhões. A solenidade de entrega das chaves, que terá a presença do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e do prefeito Washington Quaquá (PT), também presidente regional da legenda, será no condomínio Carlos Marighella, em Itaipuaçu. Em frente, onde deveria estar creche, posto de saúde e escola — contrapartida da prefeitura no convênio federal — só há um terreno vazio.

Ontem, operários corriam com os últimos preparativos para receber Dilma: pintura de canteiros, limpeza de terrenos baldios e coleta de lixo. Não havia água nas torneiras nem para os funcionários da prefeitura que trabalhavam. Nas proximidades, era possível ver ruas asfaltadas pela metade. Não havia calçadas e meio-fio. Em Itaipuaçu, só a via principal, por onde vão passar as autoridades, tem pavimentação completa.
A rua não foi asfaltada por toda extensão do condomínio

Moradores andam por quase uma hora para pegar água

Moradora da região há 10 anos, a auxiliar de produção Meire Ribeiro da Silva, de 42 anos, empurrava um carrinho de mão com dois galões de água. A filha Camile, de 12 anos, tentava equilibrar cinco garrafas PET. Sob o sol forte, as duas caminhavam em direção à bomba de um poço artesiano clandestino.— Vou beber e fazer comida com água de poço. Nunca tivemos água aqui. A situação é péssima — lamentou Meire.

O comerciante Zali Coelho, de 38 anos, disse estar revoltado:

— Fizeram uma maquiagem para receber a Dilma.

No condomínio Carlos Alberto Soares de Freitas, no bairro Mucumba, o drama é o mesmo. Ontem, as 1.460 unidades não tinham luz e água, embora já tivessem as redes de abastecimento.

Os dois empreendimentos deveriam ter ficado prontos em dezembro de 2013. A inauguração foi adiada duas vezes por causa de greves de funcionários da empreiteira responsável pela obra e da demora na instalação de redes de energia. Gerente regional de Habitação da Caixa Econômica Federal, Pablo Costa Sarmento admitiu os problemas, mas ressaltou que tudo estará funcionando hoje. Washington Quaquá, por sua vez, disse que até janeiro de 2016 estarão prontos a escola, o posto de saúde e a creche. A Cedae informou que já inaugurou uma estação de tratamento e que fez obras para aumentar o oferta de água no município.

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A criatura e seu labirinto


O criador é um ser cruel. Todos eles, depois do gesto, ato ou prática de criar começam nova e dialética relação com a criatura. Um sentimento duplo e dúbio de amor e de ódio.
 

A um só tempo, no mesmo átimo, reverbera primeiro o júbilo, seguido de um sentir contrário. É bom ter e haver criado, da mesma forma que é duro sentir o crescente poder da criatura.
 

Da física à política, criatura e criador não caberão, ao mesmo tempo e do mesmo tamanho, em igual espaço. À criatura caberia o protagonismo, a hegemonia. Ao criador o reconhecimento do bem feito e a sombra discreta no palco.
 

Entre os criadores políticos brasileiros Lula da Silva está na lista dos mais cruéis. Para chegar aonde chegou, vindo de onde veio, saltou e pisou muito mais obstáculos do que pescoços maternos.
 

Convenceu, iludiu, conquistou, enganou, seduziu, negou, ganhou muito e perdeu pouco. Distribuiu, retomou, dividiu, escolheu a melhor parte. Ficou forte e sentiu o bafo da eternidade. Acreditou no que quis e escondeu os espelhos. Poderoso, criou.
 

No delírio do gesto toda a criatura se parece ao desejo do criador. A Dilma criada era da Silva. Mas não era sequer a sombra dele. No mundo autoritário ela até poderia. No jogo democrático a conta sempre chega. A criatura perdeu.
 

O mexicano Octávio Paz ensina que o labirinto é uma solidão. O criador pode se esconder, não a criatura. 

Resultado de imagem para a criatura e seu labirinto chargeNa crise atual nenhum deles sabe a saída. Lula quer dissociar-se de Dilma, deixá-la. Só que a presidente o abandonou antes. Não obedece mais, nem ouve a voz do dono.  
Nunca antes nesse país viu-se coisa igual. Criador e criatura ganharam quatro eleições seguidas e agora se arranham para ver quem é o mais culpado na crise, quem é mais responsável por jogar fora tanto capital político amealhado. Lula joga contra e conspira.
 

A aliança com a direita para governar é conta de Lula, a fatura da farra deve ser paga por Dilma. Mesmo presa em seu labirinto o poder é dela. Lula quer falar até com os fantasmas do seu passado. O criador está frágil.
 

A criatura em seu labirinto dispõe, ainda e pelo menos, de alguma força que vem do poder legítimo. De novas conversas e das apostas que todos fazem em um futuro melhor. De preferência com ela, para não alimentar e agravar a crise.
 

Lula deve perder. Salve-se o país. 
Luiz Recena

Os fatos no comando

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Quando a conjuntura política condiciona-se a uma operação policial – e não a fatores econômicos e sociais -, torna-se impossível prever não o fim do mês ou da semana, mas o fim do dia. Tem-se então o inferno dos profetas.

A política brasileira está no banco dos réus e seus agentes correm o risco de trocar os luxuosos carros oficiais de chapa branca por camburões da Polícia Federal; os gabinetes por celas.

A capital do país transferiu-se para Curitiba, onde o juiz Sérgio Moro, titular da 13ª Vara Federal, promove o maior strip-tease moral da história política do país.

Quem será o próximo preso? Quem fará a próxima delação premiada? Que revelações trará? Quais novas “vítimas” produzirá? – são perguntas que sacodem a economia mais que a taxa de juros ou o câmbio, que, por sua vez, refletem o quadro geral de imprevisibilidade, que paralisa o país e aumenta o flagelo social.

Uns falam em mais de 50 políticos outros em 100 correndo risco de prisão, inclusive o ex-presidente Lula. Os principais empresários do país, que até há pouco circulavam com desenvoltura no Palácio do Planalto e no Congresso, já estão no xadrez ou em prisão domiciliar, portando tornozeleiras eletrônicas.

São eles a caixa preta da aeronave do poder, a memória das tenebrosas transações, que permearam toda a história da república, mas que, numa proporção inédita, marcaram estes 13 anos de reinado petista.

Ao tempo do regime militar, o Almanaque do Exército era o oráculo dos políticos; era preciso saber quem estava na lista de promoções, quem era moderado, quem era linha-dura, sem o que não era possível prever ou planejar coisa alguma.

As ordens do dia balizavam a conjuntura, mostrando para que lado o vento soprava. A política estava nos quartéis; hoje está nos tribunais. A referência são os despachos do juiz Sérgio Moro e as denúncias dos procuradores. Saiu-se da caserna para a delegacia policial – e, como disse o falecido Joelmir Beting, tem-se não mais presos políticos, mas políticos presos.

A pergunta-chave, no Congresso e no Planalto, indica o estado geral de perplexidade: aonde vai dar tudo isso? Os paradigmas clássicos da impunidade estão sendo varridos.

 Resultado de imagem para lava jato charge Lula queixou-se de Dilma e de José Eduardo Cardoso, ministro da Justiça, por terem deixado as coisas chegarem a esse ponto. Ora, se Dilma e Cardoso pudessem, já teriam feito o que Lula quer: cancelar a operação Lava-Jato e silenciar Sérgio Moro.

Teriam impedido que o pesadelo sequer começasse. Mas são impotentes diante dos fatos. O momento não é de adjetivos, mas de substantivos. Os fatos, não as opiniões, estão no comando.

Lula esperneia, não compreende ainda que os tempos mudaram. Processa a revista Veja por ter revelado parte de sua trajetória e de suas relações promíscuas no poder. Pensa que, quebrando o termômetro (no caso, a imprensa), fará cessar a febre.
 

Ele, como outros, acha que é possível deter a Lava-Jato. Nem mesmo o juiz Sérgio Moro o conseguiria. O processo ganhou autonomia, reforçado pela musculatura da opinião pública.

Dois fatos da semana indicam que ainda há, entre réus e investigados, esperanças de um retrocesso moral. São eles: a defesa de Marcelo Odebrecht encaminhada a Sérgio Moro e o recuo do empresário Léo Pinheiro em fazer a delação premiada.

Odebrecht pedira a Sérgio Moro que ampliasse o prazo para que explicasse o conteúdo das mensagens cifradas de seu celular - que de cifradas, na verdade, nada têm: são explícitas e oferecem detalhado mapa dos delitos praticados.

Sua defesa, no entanto, paradoxalmente, não apenas não explicou nada, como ainda lançou desaforos ao juiz, o que indica que passou a contar com a expectativa de proteção superior, que a dispense explicações. O mesmo parece implícito na desistência da delação premiada por parte de Léo Pinheiro. Que ele a faria era fato mais que sabido em Brasília, mas algo o deteve na última hora: a esperança, soprada em seu ouvido, de não ser necessário fazê-la. Portanto, expectativa de proteção superior, também.

Marcos Valério serviu-se do mesmo raciocínio e acabou amargando três décadas no xadrez. Nem esse exemplo parece ter convencido alguns de que os tempos são outros.

Não há mais proteção superior, o que explica decisões recentes de magistrados do STF e do STJ, confirmando decisões de Sérgio Moro, na contramão dos interesses da turma do PT, que sempre contou com a benevolência de aliados nessas cortes.

Agosto já chegou. O Congresso estava em recesso, mas a 13ª Vara não. Dilma caiu na besteira de brigar com Eduardo Cunha, presidente da Câmara, que tem em mãos nada menos que 13 pedidos de impeachment (haja numerologia: 13 é o número do PT; 13ª é a Vara que o apavora; 13 são os pedidos de impeachment; 13 são os anos em que o partido governa o país).

Reaberto o Congresso, retoma-se a agenda apocalíptica: instalação das CPIs do BNDES e dos Fundos de Pensão – e quem sabe da Eletrobras, que, por uma correia elétrica de transmissão, ligou-se ao escândalo da Petrobras. E há ainda a própria CPI da Petrobras, que prevê depoimentos e acareações explosivos.

Mais: o TCU examinará as pedaladas fiscais de Dilma e as remeterá ao Congresso. O TSE examinará denúncias de financiamento da campanha de Dilma com propinas do Petrolão. A hipótese TCU poderá trocar Dilma por Michel Temer. A do TSE poderá afastar ambos e impor novas eleições.

O meio político dá como certa a saída de Dilma e a ascensão de Temer. É a hipótese mais branda, pela qual a maioria torce, na expectativa de redução de danos. Mas os danos parecem mais propensos à expansão que à redução.

Dia 16, nova megamanifestação de rua em todo o país pedirá não apenas a saída de Dilma, mas o fim da Era PT.

Até lá, a caixa de lenços de papel da Lava-Jato continuará seu rito implacável: uma denúncia puxando outra, que puxa outra e mais outra, num moto perpétuo paralisante.

Aonde tudo isso vai dar? Quando isso vai acabar? Não há profetas disponíveis para responder. O futuro é uma incógnita – e poderá ter produzido novas perguntas para novos fatos no exato momento em que este artigo estiver sendo lido.

Ruy Fabiano

O PT não é igual aos outros partidos: é muito pior!


Acho engraçada a defesa que petistas e simpatizantes fazem do PT hoje, alguns fingindo até que estão criticando a legenda. Do “nunca antes na história deste país”, eles pularam para o “sempre antes na história deste país”, tentando passar a impressão de que o PT é “apenas” como os demais, que se corrompeu, que não resistiu à tentação, que se desviou de seus propósitos. Já cansei de mostrar aqui que não é nada disso, mas como o lado de lá continua insistindo na “tese”, preciso ser repetitivo.

É o caso do jornalista Luiz Garcia, de esquerda, que em sua coluna de hoje “critica” o PT com esse argumento, aproveitando para elogiar sua trajetória.

Por sua ótica, o grande pecado do PT foi se desviar de seu passado de luta pelas massas, e se tornar mais um corrupto, como os outros. Diz ele:

No episódio mais recente, ficamos sabendo que o Partido dos Trabalhadores, mais conhecido por PT, tem trabalhado com grande entusiasmo para encher os bolsos de uma turma que certamente não se identifica com as ideias e propostas com que foi criado.

Alguns eleitores indignados talvez digam que o PT finalmente mostrou que é farinha do mesmo saco. Ou seja, o partido está apenas se igualando à maioria dos outros partidos. O tal saco, pelo visto, teria farinha para todos. E seria irresistível para políticos de todos os continentes.
[...]
Quando nasceu, o PT foi visto por muita gente boa como um partido que serviria para melhorar o nosso sistema político, já que representaria a grande massa de operários, que até então não tinha quem defendesse seus interesses.

Foi o que ele fez, durante muito tempo. Hoje, é com uma mistura de tristeza e indignação que vemos algo bem diferente: ele serve, talvez até com mais entusiasmo, aos interesses pessoais de uma grande fatia de seus quadros políticos.
[...]
Podemos ter algum consolo lembrando que o saco é universal. Seja como for, sempre vale a pena buscar, em todas as eleições, candidatos que não moram nele. Não é fácil, mas, quem sabe, a gente talvez consiga encontrar, pelo menos, políticos que ainda não se tenham corrompido. E que prestem atenção a um aviso por enquanto amistoso: “Vamos ficar de olho em você.”

O PT não mudou; apenas se revelou no poder. Lamento a todos os que acreditaram nos discursos petistas no passado: foram ludibriados, foram ingênuos, deixaram o romantismo falar mais alto do que a experiência, blindaram-se contra a lógica e a razão em nome das emoções, partiram para o monopólio das virtudes. O PT nunca representou de fato as massas; ele sempre as usou em sua retórica, apenas isso. Ele enxerga as massas como algo manipulável para seus fins políticos. Era um partido de “intelectuais” que não pensavam, de estudantes que não estudavam, e de sindicalistas que não trabalhavam.

E sempre foi oportunista, “revolucionário”, disposto aos meios mais nefastos para chegar e ficar no poder. Basta ver seus camaradas, seus companheiros: ditaduras comunistas, guerrilheiros que sequestram e vendem drogas em nome da causa, terroristas que matam inocentes, mas gozam da estima dos pares porque o fazem com uma foice e um martelo estampados no peito. O PT fundou o Foro de São Paulo em 1990! Não dá para alegar ignorância. O simpatizante se deixou enganar, pois se sentia melhor, mais puro, “consciente”, ligado ao “povo”, só por defender o PT.

Seus métodos corruptos já tinham sido expostos no governo gaúcho, antes da chegada ao governo federal. Antes mesmo, no sindicalismo torpe e oportunista. Em conluio com máfias do lixo, com bicheiros. O PT não viu sua bandeira ética se esgarçar no poder; ela apenas veio à tona toda corroída pelas traças, mas já era uma bandeira falsa. Ou alguém acha que José Dirceu, que se apresentou para a mulher após quatro anos de “casamento” depois da anistia, treinado em Cuba, era um romântico sonhador que lutava pelas massas e foi corrompido no poder? Sério?

O PT nasceu torto, mas muitos preferiram ignorar em nome da utopia, do monopólio das virtudes. O PT não é “apenas” igual aos outros; ele é muito mais corrupto, justamente porque rouba em nome da causa, com a consciência tranquila do “bom revolucionário”, de quem faz tudo “pelo povo”. Por monopolizar a bandeira da ética e ser, na prática, o mais corrupto, o PT é o pior de todos. Por ser tão cínico, por flertar com ditaduras, por não respeitar as regras do jogo democrático, por demonizar os adversários de forma pérfida, o PT é o pior de todos.

O jornalista de esquerda acha que o PT mudou, e que a lição é, agora, “ficar de olho”. Provavelmente ele defende um PSOL da vida, mostrando que não aprendeu absolutamente nada. Quer uma vez mais buscar a “pureza”, ainda que num discurso hipócrita e na defesa de meios que sempre levarão a mais corrupção, por concentrar poder no estado e por fornecer aos bandidos um salvo-conduto para o crime, pois feito em nome da causa “nobre”.

Se o PT fosse “apenas” tão ruim quando os demais, o Brasil não estaria nessa situação calamitosa. Está porque é governado há tempo demais por uma quadrilha disfarçada de partido político, por uma turma que abraça ditadores assassinos, que defende bandidos abertamente, que protege terroristas, que “faz o diabo” para ficar no poder. José Dirceu é a cara do PT. Alguém realmente está disposto a sustentar que ele era um idealista que “se corrompeu”, e hoje é “somente” tão ruim quanto os demais políticos brasileiros?
Rodrigo Constantino

Advertência



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Sérgio Moro e a 'omertà' das organizções criminoas

Os líderes do grupo governante e os que, nos meios de comunicação e nas redes sociais, dão suporte político à organização atuante nos escalões do poder, são contra as delações premiadas. Aqui, é importante distinguir e, simultaneamente, identificar as parcerias. Não é incomum que criminosos se instalem no poder, conspirem e pratiquem atos lesivos ao patrimônio público. O jornalismo investigativo e as instituições nacionais identificaram tais condutas em 2005, e não pararam mais de apontar ilícitos cometidos em exercício das funções de governo e administração. Nesse caso, o apoio político à permanência da organização no poder, a louvação dos réus e dos condenados, a tentativa de desqualificar as acusações e as sentenças para sustentar eleitoralmente o grupo assaltante, devem ser, sem meias palavras, qualificadas como formas de cumplicidade.

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Portanto, reprovar as colaborações premiadas, tão úteis ao desmonte de algumas dessas estruturas e à recuperação de valores furtados, é o mesmo que apoiar o crime em prejuízo do interesse público.

O jornalismo chapa-branca vem insistindo nessa prática, tentando desvirtuar e desacreditar esse instrumento instituído por lei federal, equiparando-o às formas vulgares de traição. Dedicam-se ao photoshop da imagem desgastada de seus protetores ou de seus protegidos. Fazem acrobacias retóricas em defesa do projeto de hegemonia em curso no país.

A presidente Dilma deu o sinal verde para a campanha de difamação da colaboração premiada ao assemelhá-la à delação arrancada sob tortura. Mas aí é coisa da Dilma e a gente tem que entender como coisa da Dilma. Não é o caso de jornalistas, analistas, líderes políticos e militantes mais qualificados. Nestes casos é desonestidade intelectual e cumplicidade. Estão dispostos a contribuir e efetivamente contribuem para que nada mude. 


Merecem destaque, então, as palavras do juiz Sérgio Moro, na sentença de condenação de ex-executivos da Camargo Correa, divulgada ontem. Afirma o magistrado: “Quem, em geral, vem criticando a colaboração premiada é, aparentemente, favorável à regra do silêncio, a omertà das organizações criminosas, isso sim reprovável. Piercamilo Davigo, um dos membros da equipe milanesa da famosa Operação Mani Pulite, disse, com muita propriedade: “A corrupção envolve quem paga e quem recebe. Se eles se calarem, não vamos descobrir jamais” (SIMON, Pedro. Audiência pública com magistrados italianos. Brasília: Senado Federal, 1998, p. 27).

Este é um momento, portanto, em que os lados ficam perfeitamente definidos. Opor-se à colaboração premiada, no âmbito da ação política junto à opinião pública, é defender a omertà, a regra do silêncio. Ainda que as motivações sejam as mais diversas, o efeito acaba sendo o mesmo.

Percival Puggina 

Democracia jagunçada

Resultado de imagem para justiça petista chargeA revelação da advogada Beatriz Catta Preta deixou flagrante que o Brasil já há muito não ocupa mais as melhores páginas dos jornais. Embora se faça muito esforço para que seja manchete em turismo, esporte, cultura, economia, estamos ocupando a editoria de polícia com destaque.

Fugindo do país, com a família sob ameaças, depois que seus clientes denunciaram a participação de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, na Lava-Jato, é a demonstração de que o Brasil está no fundo do poço institucional. 


Não mais temos apenas os mercenários petistas, Agora somam-se a eles a turma do ISIS messiânico do PMDB. Ou seja, afora os ladrões, também se descobre que temos os assassinos de encomenda nos poderes se não bastassem os genocídios governamentais na saúde, na educação, no saneamento básico.
 

Há uma clara decadência institucional, mais grave do que qualquer crise econômica ou política. A classe política se profissionalizou como gangue mafiosa em nada diferente das maiores organizações do crime no mundo. 

Al Capone seria centavinho em comparação ao poderio financeiro de um só corrupto do Petrolão. A quadrilha brasileira só se compara a Pablo Escobar em movimentação de dólares e em capangas.
 

O Estado de Direito se esfumaça diante do Estado do Poder. A carteirada dos velhos tempos é fichinha diante do neo-coronelismo, não mais proprietário de terras, mas de currais políticos com uma jagunçada disposta a ameaçar a Justiça.

Rui Barbosa tinha razão?

“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” 

Rui Barbosa parece vivo no Brasil de hoje. As pessoas parecem sentir vergonha da honestidade e parecem endossar atitudes para que os poderes cresçam e apareçam nas mãos dos maus. Um paranaense, nascido em Maringá, que poderia começar a mudar essa situação no país a partir de Curitiba, o juiz federal Sérgio Moro, sem ter o devido aval da maioria das pessoas ou pelo menos das entidades representativas de seu estado, recebe pressões absurdas dos encastelados e dos ameaçados por seu trabalho, que não querem que ele consiga finalizá-lo a bom termo.

A Operação Lava Jato, conduzida por Moro, formado pela UEM, juiz federal desde 1996, com cursos na Universidade de Harvard (EUA), mestre e doutor em Direito pela UFPR, causa calafrios nos empreiteiros, diretores da Petrobras, políticos, banqueiros e agentes da propina e de outros crimes que sugam o país há anos, sempre cobertos e disfarçados por um sistema maléfico que surpreende, por sua dimensão, o noticiário mundial. Ele tem precedentes: especializou-se em crimes financeiros e no caso Banestado, um processo judicial desenvolvido entre 2003 e 2007, levou à condenação 97 pessoas.
 

Causa-me calafrios o silêncio de entidades paranaenses (em primeiro lugar) e brasileiras, que deveriam apoiar o trabalho de Moro para que ele o continuasse com a serenidade necessária. Mesmo porque, em sua postura contra o crime, sempre armando ratoeiras no caminho de desonestos, já foi alvo, inclusive, em processos anteriores, de procedimentos administrativos no Conselho Nacional de Justiça. Felizmente, o fim desses processos não corroborou o triste sintoma de sociedade apodrecida denunciado por Rui Barbosa. Mas as ameaças atuais contra Moro corroboram vergonhosamente a constatação de Barbosa.
 

Sérgio Moro está recebendo pressões de todo lado. Como, aliás, um outro juiz, Joaquim Barbosa, recebeu por não ter medo de desmascarar o crime nutrido em Brasília. O trabalho do juiz paranaense vem sendo questionado e desvalorizado, com obstáculos que vão desde pedidos de informações do presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, sobre denúncias contra o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha; pedidos de informações do presidente do STJ, ministro Francisco Falcão, a respeito da prisão preventiva de executivos de grandes empreiteiras; até editoriais irados da mídia conduzida por verbas do Palácio do Planalto. Estão todos de cabelo em pé. Empreiteiros, intermediários, funcionários da Petrobras, “laranjas” e políticos, principalmente Lula, Dilma, Cunha, José Dirceu, João Vaccari e os abrigados nos palácios e nos porões do poder, especialmente os de foro privilegiado ou seus cupinchas.
 

A artilharia contra Moro não tem sido pequena e aumentará. Tanto que Lewandowski, Dilma e seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se encontraram no exterior, sob outro pretexto, e lá conversaram talvez pelo mesmo motivo pelo qual Lula ameaçou procurar Fernando Henrique Cardoso para, como disseram seus áulicos, conversar sobre sustentabilidade democrática.
 

É preciso deixar claro que o que Moro está fazendo, em guerra contra o crime, não ameaça as instituições democráticas. É exatamente o contrário. O trabalho de combate sem tréguas à corrupção e aos corruptos fortalece essas instituições, deixa-as livres dessas quadrilhas que roubam impunemente. Esses quadrilheiros fazem a democracia sangrar no que ela tem de mais valioso: a credibilidade.
 

Resta-nos a crença de que a sociedade paranaense, por ver um filho seu em tão importante embate, lhe dê apoio e respaldo para que, como também preconizou Rui Barbosa, “a força do Direito supere o direito da força”.
Cláudio Slaviero