sexta-feira, 24 de julho de 2015

De olho no céu

'Passa-se o ponto'

Dê uma volta em qualquer bairro do Rio que você verá placas anunciando a venda, o aluguel, a transferência do ponto comercial: são lojistas angustiados e que não aguentam mais o arrocho da economia e o sumiço dos clientes.
Será que o ministro Levy não pensou, nem por um segundo sequer, que isso ia acabar acontecendo? Creio que não, parece que ele ficou sinceramente surpreso ao perceber que a grande maioria dos brasileiros estava desesperançada e não acreditava na política econômica que ele vendia com aquele aplomb que lhe é peculiar.

(Aliás, por falar na pessoa do ministro, não lembro quando, nem onde, li que Joaquim Levy tem o hábito de se fechar em sua sala para trabalhar ao som do melhor jazz. Bom gosto o do ministro. E aí, bolei um roteirinho: ele começa a seção com Billie Holiday cantando Speak Low, o clássico de Kurt Weil e Ogden Nash, para não esquecer que falar baixinho é um bom golpe: faz o ouvinte se esforçar para prestar atenção!).


Ele fala baixinho e com toda certeza é muito ouvido. Afinal, de suas decisões, depende muito a nossa vida. Infelizmente, ainda não acertou uma tacada sequer...

O desemprego em níveis alarmantes e sem cara de ser revertido tão cedo; os estoques mofando nas prateleiras ou nos pátios; a queda da receita. O PIB magrinho, fraquinho, com cara de bem doente. O Tesouro, coitadinho, empobrecendo a cada dia. Será que o ministro Levy não desconfiou que isso poderia acontecer?

Será que ele achou que essa austeridade artificial e brutal ia fazer bem ao Brasil e aos brasileiros? Sobretudo no meio do caos político em que estamos, Executivo e Legislativo chafurdando na "incompetência, arrogância e corrupção”, como disse com todas as letras o Financial Times em seu editorial?

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Para o grande jornal inglês a magia do país foi quebrada e agora vemos que tudo não passou de um conto de terror. (Cá pra nós, atores bons para fazer um filme com esse roteiro, nós até temos).

Um economista americano, Laurence J. Peter, que viveu entre 1919/1988, é autor de uma frase que eu considero perfeita: “Um economista é um especialista que saberá amanhã porque as coisas que ele predisse ontem não aconteceram hoje”. É ou não é uma verdade verdadeira? A mim me parece que é assim, que todos os nossos ministros da Fazenda estão até hoje sem saber por que suas tão ardilosas projeções não tiveram sucesso. Com talvez uma exceção: Pedro Malan. Pena que o PSDB tenha perdido a chance de colocá-lo no Planalto...

Mas não adianta chorar sobre o leite derramado, não é? Nosso ministro atual, que assumiu com a fama de homem que não aceitaria ser desprestigiado, agora se ocupa com entrevistas tentando justificar o ajuste fiscal que de essencial passou a ser uma reles curva na travessia que ele e sua chefe acreditam será completada no semestre que vem.

Parece que o ministro da Defesa, o petista Jaques Wagner, acredita nisso, pois ele discorda do FT e acredita que estamos mesmo no início de uma história de fadas. Quem é a fada madrinha? Não sei. Sei que não há uma abóbora grande o suficiente para caber toda a brava bancada coligada!

Assim como sei que não vai haver impeachment da presidente. Não há motivos. Sua popularidade rasteira não é motivo para um impedimento legal. A austeridade, dura e perversa, nos faz sofrer, mas não nos dá o direito de sair da legalidade.

Impichados estamos nós, o povo brasileiro. Os justos pagando pelos pecadores, quem mandou elegermos dona Dilma?

A nação de cabeça baixa

A condição natural do ser humano é a fragilidade, que é de natureza física; a ignorância, que é de natureza mental; e a pobreza, que é de natureza econômica. Afora a fragilidade física, que não pode ser mudada, as outras duas podem ser superadas, e os meios para tanto são o conhecimento e a tecnologia.

Podemos definir conhecimento como sendo o domínio dos princípios e das leis que regem a natureza, o homem e a sociedade. Já a tecnologia é a aplicação do conhecimento para produzir os meios de atender às necessidades humanas e solucionar os problemas do dia a dia. A aquisição do conhecimento e da tecnologia se dá pela ciência, pela educação e pela cultura.


Alguns pensadores, entre eles o gênio liberal Ludwig von Mises, adicionam um terceiro fator: a forma como a sociedade é organizada e dirigida em termos coletivos. Em seus escritos, Mises insiste que a quantidade de coisas produzidas não é desvinculada do modo como são produzidas. Para ele, o mesmo povo, sob um regime de liberdade e de propriedade privada dos meios de produção (o capitalismo), é capaz de produzir muito mais do que sob um regime sem liberdade e sem direito de propriedade (o socialismo).

O Brasil vive hoje um dos piores momentos de sua história. A nação está humilhada e cabisbaixa. A desconfiança nas instituições vem decaindo perigosamente. A política e os políticos estão desacreditados. O setor público está falido, afundado em déficits, dívidas e serviços da pior qualidade. Junto a todo esse quadro ruim, a economia vai mal e nos tornamos uma das sociedades mais violentas do mundo.

Em um único fim de semana (dias 17, 18 e 19 passados), em apenas uma cidade (Manaus), houve 35 assassinatos. Se fosse nos Estados Unidos, o mundo inteiro estaria comentando e analisando como um fato incomum. Aqui, virou corriqueiro. O grau de violência no Brasil quase não tem precedente no mundo. E não dá para debitar tudo à pobreza, pois há muitas nações tão ou mais pobres onde a violência é muito inferior à que temos aqui.

A violência é, também, um problema econômico. Nova York sozinha recebe 50 milhões de turistas por ano. O Brasil inteiro recebe apenas 6 milhões, um número pífio. A imagem brasileira no exterior é de um país corrupto, bagunçado e violento, que não está no roteiro do turismo mundial. Há anos, inventaram os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), países que seriam emergentes caminhando rumo à riqueza. Agora, alguns analistas internacionais estão propondo tirar o Brasil do grupo, tal a deterioração econômica e social do país.


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O governo Fernando Henrique venceu o demônio da inflação, reduziu um pouco o tamanho do Estado-empresário e legou a importante Lei de Responsabilidade Fiscal. Lula ampliou os programas sociais e foi beneficiado pela enorme ajuda do mundo, sobretudo da China, cuja explosão do consumo promoveu a elevação dos preços das commodities brasileiras exportadas.

Até 2010, uma enxurrada de dólares entrou no Brasil. Mas a festa acabou em 2011, quando Dilma assumiu. A boa situação internacional desapareceu, os preços de exportação voltaram a cair, os erros de política econômica de Dilma foram graves... e o país perdeu o passo. Com a desencanto e a descrença, muitos sonham seguir para o exterior e desistir do Brasil. Mas a maioria não tem essa possibilidade; logo, é preciso lutar e impedir que a nação naufrague na pobreza e na violência.

José Pio Martins

Cadê a autoridade?


Sem popularidade, se governa. Sem autoridade política, não!
Autoridade política nada tem a ver com popularidade. Mas sem ela, é muito difícil que um governante se mantenha no poder
Ricardo Noblat

Não se pode mandar contrariando a opinião pública

A verdade é que não se manda com os janízaros. Assim, dizia Talleyrand a Napoleão: "Com as baionetas, Sire, pode-se fazer tudo, menos uma coisa: sentar-se sobre elas". E mandar não é atitude de arrebatar o poder, mas tranquilo exercício dele. Em suma, mandar é sentar-se. Trono, cadeira curul, banco azul, poltrona ministerial, sede. Contra o que uma óptica inocente e folhetinesca supõe, o mandar não é tanto questão de punhos como de nádegas. O Estado é, em definitivo, o estado da opinião: uma situação de equilíbrio, de estática.


O que sucede é que às vezes a opinião pública não existe. Uma sociedade dividida em grupos discrepantes, cuja força de opinião fica reciprocamente anulada, não dá lugar a que se constitua um mando. E como a Natureza tem horror ao vácuo, esse oco que deixa a força ausente de opinião pública enche-se com a força bruta. Em suma, pois, avança esta como substituta daquela.


Por isso, se se quer expressar com toda a precisão a lei da opinião pública como lei da gravitação histórica, convém ter em conta esses casos de ausência, e então chega-se a uma fórmula que é o conhecido, venerável e verídico lugar comum: não se pode mandar contrariando a opinião pública.
José Ortega y Gasset (1883 - 1955), 'A Rebelião das Massas'

Um dia a casa cai

Como nos velhos faroestes, chamaram a Sétima Cavalaria. Ela chegou a galope, Joaquim Levy Mãos de Tesoura, o implacável Chicago Boy, à frente.

Levy veio a chamado da presidente, que passou a campanha eleitoral inteira ameaçando o Brasil com as maldades de Armínio Fraga e, para surpresa geral, convocou um discípulo.


Levy veio porque Trabuco, presidente do Bradesco, não aceitou o convite e indicou um braço direito para arrumar as contas públicas que Dilma Roussef e Guido Mantega passaram quatro anos bagunçando.

Na falta de um banqueiro presidente, o Partido dos Trabalhadores se contentou mesmo com um banqueiro vice, que chegou parecendo disposto a fazer chover no deserto.

O mercado sorriu para o ortodoxo, as agências de risco adiaram seus planos de rebaixar o grau de investimento do País, a presidente se acomodou desconfortavelmente e posou para as fotos ao lado do homem mau, e assim se passaram seis meses.

O ajuste fiscal deveria fazer uma primeira limpeza nas contas públicas da ordem de uns 66 bilhões de reais. Mais aumento de impostos, corte de alguns benefícios trabalhistas e nem sinal de corte nas despesas de custeio do governo.

Aproveitando a onda de desamor entre a base aliada e o governo, agravada pela falta de coordenação política e pela escandalosa impopularidade da presidente Dilma, o Congresso aprovou algumas leis criando despesas novas, acabando com o fator previdenciário, e jogando alguns reajustes de salários um tanto alucinados, como os do Judiciário, no colo do Tesouro.

O ônus do veto fica com a presidente, e a eventual glória da derrubada do veto fica como arma secreta dos parlamentares: pode servir para barganha ou para um jogo de cena para ficar bem com a corporação do Judiciário.

A dificuldade de aumentar mais impostos, de reduzir despesas, de controlar as ações um tanto irresponsáveis do Legislativo criando novas despesas, foi esvaziando os números do ajuste fiscal, que de um superávit de 1,1% do PIB foi caindo, caindo, até chegar a um potencial déficit primário de 0,3%.

O embate de bastidores entre Levy-mãos-de-tesoura e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, tornou-se público pela primeira vez num suposto resfriado que impediu a presença do ministro da Fazenda numa coletiva para anunciar cortes no orçamento. Barbosa anunciou sozinho um corte que não estava no tamanho apropriado para Levy.

O governo vacilou entre não cumprir a primeira meta anunciada e anunciar uma nova meta, muito pior, porém mais realista. Desta vez optou por assumir a nova e desastrosa meta. Mentir seria pior, sentenciou Raul Velloso, uma espécie de oráculo das contas públicas brasileiras.

Enfim, a meta fiscal caiu de 66,7 bilhões para 8,7 bilhões, isso se algumas medidas previstas pelo governo- como repatriação de recursos e recuperação de débitos tributários- derem certo. Se não derem, o esquálido superávit pode virar um déficit de 17,7 bilhões.



Levy fracassou, mas mantém-se impávido como uma estátua grega. Posa ao lado de um sorridente Nelson Barbosa e finge que o desastre não é com ele.

E na verdade não é só com ele, que fez o que pôde. E pela advertência dos economistas Marcos Lisboa, Mansueto Almeida e Samuel Pessoa, num denso texto publicado na Ilustríssima de domingo, dia 19 de julho, não é nem só com Dilma, apesar de todas as barbeiragens que ela fez em seu primeiro governo.

O problema é com o Brasil: desde 1991, a despesa pública sobe mais do que a receita. E o ritmo da diferença só aumenta. Um dia a casa cai.

Lula e a lenda do Golem

A rejeição ao governo da presidente Dilma alcançou, em junho deste ano, a marca de 65% de ruim e péssimo. No ABC paulista, o berço do PT, chegou a 75%.

No dia 18 de junho, durante uma reunião no Instituto Lula, com várias lideranças religiosas, o ex-presidente Lula analisou esses resultados e disparou contra sua pupila, chegando a dizer que ela está no “volume morto”, numa alusão ao volume de água nos reservatórios de São Paulo.

Reclamou de Dilma pela falta de notícias positivas e disse ter perguntado a ela quando tinha sido a última notícia boa para o país. Não teve uma resposta, o que mostrou a situação dramática atual do governo petista e do próprio Partido dos Trabalhadores.

Evidente que Lula está tentando de todas as formas sair mais uma vez como uma vítima ao invés do grande articulador e responsável pela situação atual.

Essa sua posição lembra a história do Golem na cabala judaica. O Golem era um ser artificial e sem vontade própria, criado para satisfazer as vontades de quem o criou.

Embora sem inteligência, ele podia executar tarefas simples. O problema era que, repentinamente, ele ficava sem controle, se tornava muito perigoso e desativá-lo, era tarefa muito difícil, mesmo para os maiores rabinos e cabalistas.

Na tradição esotérica, o Golem tinha a palavra Emeth, que significa Verdade em hebraico, na sua fronte ou debaixo de sua língua e para desativá-lo, seu criador precisava apagar a primeira letra e transformar a palavra em Meth, que significa morte. Na lenda original, para desativá-lo, o preço custou muitas vidas, inclusive a de seu criador.

Lula criou um Golem e agora está tentando desativá-lo. Não vai ser fácil e, se a lenda estiver correta, isso irá custar muitas vidas.

No meio desse caos político, Lula foi citado, na 14ª fase da Operação Lava Jato, como facilitador de negócios de empreiteiras fora do país. Mensagens interceptadas pela Polícia Federal revelaram que o ex-presidente tinha o apelido carinhoso de “Brahma”, junto aos empreiteiros investigados.

Em um trecho da conversa gravada pela Polícia Federal, os executivos das construtoras falam sobre as diferenças do governo Brahma e da senhora atual que, segundo eles, tem um discurso fraco, confuso e falta carisma.

O criador agora tenta se salvar da tormenta que bate à sua porta. Para isso, como sempre, vale tudo, até sacrificar sua criatura.

Ricos deveriam financiar ensino, afirma brasileiro reitor nos EUA

UNCW
José Sartarelli
O sistema de sucesso tem de permitir o acesso a todos os alunos competentes. Por outro lado, o país tem também que focar em algumas áreas específicas de excelência, onde vai ser muito difícil entrar, não vai ter proteção por minorias, onde você tem que ser realmente bom
Brasileiros ricos deveriam seguir o exemplo de americanos e doar parte de suas fortunas para melhorar a educação do país, diz à BBC Brasil José "Zito" Sartarelli, reitor da Universidade da Carolina do Norte Wilmington (UNCW), nos Estados Unidos.

Tido como o primeiro brasileiro a dirigir uma universidade americana, Sartarelli afirma que muitos brasileiros ricos agem como se fossem "levar à tumba todo o dinheiro".

"Na nossa cultura ibérica, esperamos que a educação seja provida pelo Estado, grátis. Agora, com o Estado em dificuldades, as pessoas de sucesso se voltam para proteger e investir na própria família", critica.

Sartarelli foi escolhido reitor da UNCW em abril, em seleção com 95 candidatos. A instituição figura nos rankings das melhores universidades públicas do sul dos Estados Unidos.

Nascido há 65 anos em Ribeirão Bonito, cidade com 12 mil habitantes no interior de São Paulo, ele migrou para a educação após uma carreira internacional no setor farmacêutico.

Depois de passar pela Eli Lilly e pela Bristol-Myers Squibb, Sartarelli foi presidente da Johnson & Johnson na América Latina, Japão e Ásia-Pacífico entre 2001 e 2010.

Formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, em 1973, ele fez MBA e doutorado na Universidade de Michigan State, nos Estados Unidos, quando conheceu sua esposa, Katherine.

Sartarelli voltou ao meio universitário em 2010, desta vez como diretor da Faculdade de Economia e Negócios da Universidade de West Virginia, cargo que deixou neste ano.

Em entrevista à BBC Brasil, Sartarelli defende que universidades se aproximem de empresas e diz que o Brasil abriu mão de investir em centros de excelência, o que terá um alto custo no futuro.

Ele afirma ainda que, para que a universidade que dirige possa competir com as melhores instituições americanas, será essencial atrair bons estudantes.
Leia a entrevista de Sartarelli