domingo, 21 de junho de 2015

Que legado grandes eventos trazem para os direitos humanos?


Fiscal e guardas na Vila Autódromo, no Rio
Moradores pobres sendo vítimas da gentrifricação e de remoção forçada sem consultas adequadas, canteiros de obras sem condições adequadas à saúde e à segurança de trabalhadores, manifestantes violentamente detidos por forças de segurança. Cenas como essas têm sido comuns no Brasil.

Uma das maiores dificuldades quando se discute os impactos das empresas sobre direitos humanos é prevenir e proteger contra abusos dos direitos decorrentes de suas operações. O desafio é ainda maior quando megaprojetos são necessários para sediar Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, os quais infelizmente foram e têm sido acompanhados de abusos e violações de direitos humanos.

Recentemente, Moradores da Vila Autódromo denunciaram que a prefeitura do Rio teria negociado com empresas privadas a construção de prédios para classe média no bairro onde vivem, causando a remoção de ao menos mil famílias pobres. Segundo os moradores, nas obras de renovação, a prefeitura e empresas privadas têm excluído os pobres do que chamam de “progresso”.

Outro problema é a poluição da Baía da Guanabara, que em parte decorre da atuação irresponsável de empresas, principalmenteindústrias e refinarias de petróleo, que contribuem com vazamento de óleo e não cuidam adequadamente do lançamento de resíduos.

A poluição da Baía da Guanabara, em parte, decorre da atuação irresponsável de empresas

Qual a resposta de empresas e governos para prevenir e remediar abusos de direitos humanos decorrentes de operações empresariais?

O governo brasileiro, em resposta à pesquisa Plataformas de Ação de governos e empresas sobre empresas e direitos humanos que desenvolvemos, demonstra interesse no tema de empresas e direitos humanos. Apontou iniciativas relevantes como o combate ao trabalho escravo, por meio da Lista Suja. Contudo, afirma que um dos entraves mais importantes às ações no tema é a “falta de entendimento ou conscientização sobre questões envolvendo empresas e direitos humanos no governo”. É inaceitável que isso impeça o país de cumprir e implementar leis voltadas à prevenção e proteção dos direitos.

Em geral, instrumentos de direitos humanos disponibilizados por empresas são interessantes, mas ainda não conseguem ser eficazes para prevenir, mitigar e reparar os abusos decorrentes de suas atividades.

Ideologia é só desculpa

Com truques, mentiras e hostilidade, o governo da Venezuela impediu que senadores brasileiros entrassem em Caracas. Uma besteira sem igual para Nicolás Maduro, um déspota despreparado, cada dia mais agonizante e aflito frente à profunda crise em que seu padrinho Hugo Chávez e ele próprio meteram o país.

Não bastasse, o governo brasileiro aumentou a lambança: o embaixador Rui Pereira recebeu, mas não acompanhou a comitiva; o Itamaraty tardou a se pronunciar e o fez de forma tímida, meramente protocolar. E a presidente Dilma Rousseff não deu um pio.


Em uma visita que poderia ser corriqueira, desprovida de charme, os dois governos ficaram na berlinda.

Mas por que raios ambos se expuseram tanto?

Não há como negar os laços do PT com o bolivarianismo e tudo que essa corrente autodeclarada de esquerda representa. Uma estranha identidade que associa a redenção dos pobres a práticas nada dignificantes: partidarização e ocupação do Estado, corrupção, enriquecimento ilícito, mutretas. Gente disposta a fazer o diabo para se manter no poder.

Fora o público cativo, os militantes cegos que a tudo dizem amém, é difícil crer que o ideário seja o principal elo.

As recentes descobertas da Polícia Federal apontando o envolvimento da petroleira estatal venezuelana com lavagem de dinheiro no Brasil que o digam.

Tudo indica que há muita linha para se desembaraçar no novelo. E que os nós são mais mundanos, monetários e pragmáticos do que ideológicos.

No auge de sua popularidade, o todo-poderoso Lula fazia mesuras a Chávez, cedendo-lhe mais do que o máximo. Celebrou com fogos de artifício a parceria da Petrobras com a PDVSA para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Mas Chávez não colocou um tostão. Orçada em US$ 2 bilhões, a obra bateu na casa dos US$ 20 bilhões, 100% bancada pela estatal brasileira, que hoje amarga o prejuízo.

Sabe-se pouco ainda das transações de Lula-Chávez-Odebrecht, empreiteira que na última sexta-feira teve seu presidente preso na Operação Lava Jato, suspeito de envolvimento direto na roubalheira que correu solta na Petrobrás.

Reportagem da revista Época, publicada em abril, informa que em um encontro com Chávez em Salvador, em 2009, Lula acertou, pessoalmente, o financiamento de US$ 747 milhões do BNDES para que a Odebrecht tocasse as obras do metrô de Caracas. Hoje, o valor do financiamento teria ultrapassado a casa de US$ 1,6 bilhão.

Já era muito, mas não parou por aí. À Venezuela ceder tudo virou mantra.


Durante o primeiro mandato de Dilma, Chávez conseguiu entrar no Mercosul depois de o Brasil apoiar e convencer seus pares a suspender temporariamente o Paraguai, único país que ameaçava a presença da Venezuela no bloco.

E João Santana, marqueteiro responsável pela vitória da pupila de Lula, desembarcou em Caracas para coordenar a campanha de Maduro. Com vídeos do metalúrgico que chegou à Presidência do Brasil e a repetição da fórmula de críticas às elites, Santana venceu apertado. Mas chegou lá.

Difícil apostar que a proximidade ideológica tenha orientado toda essa cooperação nada convencional entre os dois governos e provocado o clima de barata tonta na visita frustrada dos senadores a Caracas.

Na política não há espaço para ingênuos. E é ingenuidade crer no inverso.

Vou dizer a verdade


Senhor Juiz, sobre essa Bíblia Sagrada, vou dizer a verdade, nada mais que a verdade. O Brasil é a terra da ética, do respeito aos valores morais que dignificam o Homem. Aqui, nenhum cidadão deixa de cumprir a lei.

O caráter do povo é imaculado, fruto de uma herança cultural profundamente alicerçada no civismo, na solidariedade, no culto às tradições, na religiosidade, no respeito aos mais velhos, no carinho e proteção às crianças e na repartição justa dos bens produzidos.


Somos uma Nação onde a justiça não tarda, onde os juízes decidem sob o véu que cobre os olhos de Themis, a deusa da Justiça. Neste território, atingir a honra de um cidadão equivale a ferir a alma da Pátria. Preservamos o abençoado lema: "todos por um e um por todos". Longe daqui o bárbaro costume de “tirar vantagem em tudo”.

Os representantes do povo cumprem religiosamente suas promessas. São exemplos de civilidade, magnanimidade, correção e desinteresse pessoal. Estão todo tempo próximos dos eleitores, não aparecendo em suas regiões apenas no período de campanhas eleitorais.

Nosso sistema federativo vive em harmonia e equilíbrio. Estados e Municípios repartem equitativamente com a União suas partes do bolo federativo. Os recursos recebidos são suficientes para prover as necessidades fundamentais da população, principalmente nas áreas da saúde, onde os equipamentos são de última geração e o corpo médico propicia atendimento rápido, sem filas.

Nossas escolas são de primeiro mundo, desde as do ensino básico às Universidades. Professores dão aulas magníficas, não faltam às suas obrigações, nunca fazem greve porque ganham salários dignos.

Não se vêem assaltos nem criminosos nas ruas.

Nosso povo é pacífico e a igualdade entre as camadas da população é responsável por inserir o Brasil nos primeiros lugares mundiais do PNBF – Produto Nacional Bruto da Felicidade.

Os potenciais das regiões se somam e a racionalidade administrativa gera bolsões de riquezas, que se repartem pelas comunidades. O excedente é exportado e acarreta bilhões de divisas que, da mesma forma, são distribuídos pelas áreas exportadoras.

Os estoques reguladores suprem todas as carências, não havendo crise hídrica e nenhuma ameaça de crise energética. Fornecemos energia aos nossos vizinhos mais necessitados.

E até abrimos os cofres do nosso Tesouro para a consolidação de projetos de infra-estrutura em Nações mais distantes.

Nossas Casas congressuais votam apenas leis fundamentais. E fazem reformas necessárias ao aprimoramento e moralização dos costumes políticos. Agora mesmo, uma reforma política está em tramitação, podendo-se garantir que acentuará a modernização dos costumes, por meio de uma revolução de métodos comprometidos com a ética e com a moral. Em nossas plagas, não se produzem coisas desnecessárias.

Quase não se fazem emendas a projetos de lei, do Legislativo ou do Executivo, porque eles são tão bem feitos, que dispensam reparos.

Temos uma Constituição concisa, precisa e clara. Por isso, não há necessidade de interpretações da Letra Constitucional por parte da Corte Maior, o Supremo Tribunal Federal. Não se perde tempo com discussões inócuas.
Gasta-se dinheiro com parcimônia e cada tostão é comprovado. Os credos evangélicos cobram dinheiro também com parcimônia, sem prometer o paraíso como troco ao dízimo. Não há ficção orçamentária, razão pela qual o Tribunal de Contas da União não encontra um real fora do lugar.

Nas CPIs, tudo é muito rápido e objetivo. Os convocados aparecem nas sessões e respondem a todas as perguntas, sem fazer pressão sobre os componentes.

Os políticos de maior renome recebem o mesmo tratamento emprestado aos mais simples e modestos. Temos uma representação regrada pela solidariedade, amizade, companheirismo, modéstia e simplicidade. Graças à modéstia do caráter, nossos parlamentares preferem se refugiar nos espaços do trabalho a encenar no palco do Estado-Espetáculo.

Os fatos estão sempre acima das pessoas. Afinal de contas, não se cultiva no Brasil aquele sentimento exibicionista e sensacionalista de países do Hemisfério Norte. Aqui o sim é sim, o não é não. Nunca se emprega o talvez, o mais ou menos ou o “depende”.

Nas campanhas políticas, não se gasta acima das posses de um candidato. Tudo às claras. Mesmo os mais ricos se impõem um compromisso ético de não usar o poder financeiro. Mandato é missão, não profissão.

Empreiteiras, bancos, grupos econômicos estão longe de campanhas; isso é uma vergonha de países bárbaros. Os lucros dos bancos são repartidos em obras sociais. Por isso, o povo brasileiro exibe um dos mais altos índices de qualidade de vida do mundo.

Quando um partido chega ao poder, executa fielmente seu programa. A honestidade é comum a todas as siglas. As entidades da sociedade civil se alimentam do pão cívico, que é, aliás, o grande alimento da Pátria.

Por aqui, a vaidade passa longe. Nosso Poder Judiciário não se corrompe como em Nações retrógradas. Não se conhece o caso de um juiz sequer que tenha sido flagrado cometendo um desvio.

Adotamos uma linguagem de decência, de pureza e de respeito. Aboliu-se o palavrão. As mídias sociais são o espaço de respeito, compreensão e diálogo entre interlocutores. A cordialidade irmana a todos e não existe desamor. As mães são o símbolo da virtude e não geram imprecações desastradas na boca de ímpios.

Sobre a capa desta Bíblia Sagrada, juro que sei a verdade!

Estado, não se meta!

Está em curso, no Ocidente, um enorme projeto de reengenharia da sexualidade humana. É a Ideologia de Gênero, ou da ausência de sexo. O igualitarismo é seu objetivo, e a diferença, o inimigo a ser atacado mediante desconstrução. Para tanto pasme leitor! , sem nenhuma evidência científica, contra o que a observação da natureza revela, seus difusores sustentam que ninguém nasce homem ou mulher, macho ou fêmea.

Afirmam que a sexualidade é uma construção social, sujeita a mudanças, definida e redefinida de inúmeros meios e modos, desde quando o bebê é vestido de tal ou qual cor. Assim, o sexo deixa de ter significado para a definição do masculino e do feminino.

Livre pensar é só pensar, ensinava insistentemente Millôr Fernandes. É livre o direito de teorizar, de ideologizar, de expor teses. O problema é quando se transforma um disparate qualquer em objeto de ação do Estado. Foi o que aconteceu há alguns anos com a produção de material didático sobre sexualidade infantil para distribuição nas escolas. O conteúdo era tão abusivo e tão absurdo, que foi rejeitado pela própria presidente Dilma. Pois aquilo já era produto da Ideologia de Gênero, que pretendeu, posteriormente, se tornar conteúdo obrigatório no Plano Nacional de Educação, o PNE. Quando o projeto do governo foi submetido ao Congresso Nacional, as duas Casas suprimiram todos os dispositivos relativos a esse assunto, mantendo uma regra simples e correta: “erradicação de todas as formas de discriminação”. No entanto, como costumam fazer quando contrariados, os promotores da desconstrução das diferenças buscaram outros caminhos para chegar onde pretendiam. Optaram pelo mais comum. Reuniram-se consigo mesmos noutro fórum e decidiram segundo queriam. Foi o que aconteceu na Conferência Nacional de Educação, quando os mesmos conteúdos suprimidos da lei federal retornaram oficialmente como orientação para os programas estaduais e municipais.

Agora, deputados estaduais e vereadores em todo o país deliberam sobre o tema nos respectivos planos, desatentos à lei federal e em obediência à ideologia hegemônica da burocracia educacional.

O Estado, os governos, seus funcionários, jamais receberam da sociedade, e tampouco das famílias, poderes para orientar a sexualidade e o comportamento sexual das crianças e dos adolescentes. Esse é um papel da natureza e dos pais. O Estado não é nem pode ser educador sexual. Além de ensinar os conteúdos curriculares, nos quais falha clamorosamente, que ensine a não discriminação, o respeito mútuo e a responsabilidade. E, no mais, que não se meta!

Jabor: 'Venezuela é uma caricatura das velhas ditaduras latinas'

Foi preciso que nossos senadores fossem humilhados em Caracas, cercados por milícias, para que o Brasil emitisse uma tímida nota de preocupação. 

A democracia na América Latina está sendo usada como fachada para uma ditadura cínica. E aí pensamos: “até quando vão enganar os pobres ignorantes que ainda o apoiam o chavismo? E quais são as mentiras que proclamam?”

Ah, é tudo culpa do imperialismo norte americano! Chegaram a dizer que o Chávez morreu porque os Estados Unidos injetaram câncer nele.


Quando o petróleo estava alto, entrou muito dinheiro, mas foi desperdiçado por estupidez e quase tudo roubado pela nova e corrupta burguesia bolivariana. E está tudo ali, escrito na cara do Maduro. A cara dura de maldade, grossura e violência com aquele bigodão tentando exibir macheza.

A Venezuela é uma caricatura das velhas ditaduras latinas. É uma ditadura fora de hora, uma tardia vontade de imitar Cuba.

Como disse o próprio Marx: “na história, as tragédias se repetem como farsa". Não é apenas uma questão política. É um caso de polícia internacional. É coisa para a ONU.

Com a falta de comida e remédios, agora talvez digam que o verdadeiro chavista não precisa de muito consumo burguês, assim como... Papel higiênico.

Será que querem que o povo use jornal? Mas os jornais estão acabando...

E seus donos expulsos do país. 

Gozando com obra alheia


A situação está tão feia para Dilma que, na sexta-feira, teve que apelar para fazer “agenda positiva”. Foi inaugurar o complexo acrílico da Basf, em Camaçari, na Bahia. Sem ter mesmo o que fazer de espetáculo como obra governamental, o jeito é mesmo pedir um espacinho em inaugurações privadas.

Não é caso único ou inédito na carreira do petismo. Tem prefeito que “inaugura” até condomínio de luxo para compor uma “agenda”, viaja para como “corretor imobiliário” e chegou mesmo a convidar empresas ligadas a estaleiros para conhecer o município, aproveitando para anunciar um porto que já teve, no mínimo, uns cinco “donos”.

O comunismo e o PT

O ex-presidente Lula pode até dizer, como já disse, que seu PT e o Partido Comunista da China são os dois maiores partidos de esquerda hoje existentes no planeta. Em tom parecido, o atual presidente do PT também pôde encerrar o discurso no recente congresso partidário, em Salvador, citando Guevara, ícone de um caminho armado para o socialismo que logo se perdeu em algum momento do século passado, depois de ser a causa de sucessivas derrotas em países minimamente articulados, refratários à tática dos focos insurrecionais – entre eles, o Brasil da ditadura militar.

Nenhuma dessas alusões, ou qualquer outra desse tipo, tem o poder de anular a irrecuperável distância entre a experiência (encerrada) do comunismo histórico, com seus partidos “totais”, fundidos à máquina do Estado e propugnadores de uma ruptura integral com o capital, e a modesta experiência reformista de um partido como o PT e seus governos nos últimos 12 anos. Não há filiação possível, a não ser aquela produzida pela má retórica que diferentes esquerdas, a de antes e a de agora, muitas vezes insistiram, e insistem, em produzir, danificando paradoxalmente sua efetiva capacidade de incidir produtivamente no mundo real.

Em política conta muito a linguagem que os partidos utilizam, os termos e os modos de pensar que introduzem no uso comum. Para ficar estritamente nesse plano e estabelecer algum paralelo, partimos do ritual da “autocrítica” bolchevique, tantas vezes exercido hipocritamente na falta de mecanismos formalmente democráticos, como alguns “hereges” da própria esquerda a seu tempo apontaram.

Desse mal importantes dirigentes petistas também parecem não ter escapado, e os sinais estão em torno de nós. Em Salvador, a intervenção congressual de Lula não se preocupou em explicar, com um mínimo de argumentação racional, o desarranjo econômico que obrigou a uma guinada radical de orientação no segundo governo Dilma. Para o dirigente máximo do petismo, a única verificação possível de erros e acertos jamais virá do debate com os demais atores da vida institucional, mas de um movimento interno próprio do PT e de seus próprios seguidores supostamente cativos:

“Quem pode nos ensinar, quem sempre nos ensinou o caminho a seguir, são os trabalhadores e o povo mais pobre deste país”.

Na visão do ex-presidente, a imprensa oligopolizada, que demite jornalistas, não pode perturbar o círculo virtuoso entre partido e povo mais pobre. Muito menos podem fazê-lo os personagens da oposição, pintados, todos, em cores tenebrosas. Se pudessem, tais personagens reduziriam a maioridade penal, “mandando para a cadeia quem deveria estar na escola” – como se os governos petistas tivessem tido uma política de segurança corajosa, que pelo menos atenuasse a devastação causada pelos crimes contra a vida. Não só: os opositores do PT mandariam “pobres e negros” de volta ao lugar de origem, sem oportunidade de ascensão; sancionariam “o preconceito contra a população LGBT”; e, evidentemente, fariam o Brasil “voltar à idade média social” em que vegetava antes da redenção acontecida a partir de 2003. Sem falar que iriam querer até destruir a Petrobrás...

Esse mundo em branco e preto, avesso a distinções e a nuances, era também o mundo visto da perspectiva do stalinismo. A Revolução Russa, resposta ao desastre da Grande Guerra num país atrasado, muito cedo perdeu seu impulso transformador e sua energia criativa. Com Stalin viria a produzir uma singular espécie de fanatismo burocrático, que – salvo em ocasiões críticas, como por ocasião da frente antifascista na 2.ª Guerra – enxergava o mundo povoado de traidores e inimigos: os social-democratas foram por muito tempo “social-fascistas”, mais perigosos do que os fascistas. Na URSS, enquanto isso, nascia o “homem novo”, na marcha batida da coletivização forçada e da ditadura de partido único.

Certamente, aquele era um mundo radicalmente diverso do Brasil de agora. E, no entanto, apesar da distância incomensurável, há algo comum entre categorias do velho comunismo e setores da nossa esquerda. O homem novo do realismo socialista, por exemplo, empenhado como estava na construção do socialismo (de Estado), não podia ter defeitos graves. Decretava-se, na edulcorada versão oficial, que às vezes se irritaria com atrasos na realização do plano ou esqueceria uma tarefa. Pois existe algum traço desse personagem fantasioso na alma do presidente do PT quando declara – ainda por cima com terminologia militar – que o partido se vê submetido a campanha de “cerco e aniquilamento” não “por nossos erros”, mas por “nossas virtudes”. Para Rui Falcão, na pior hipótese o petista médio poderá enraivecer-se ou esquecer alguma missão, mas sempre será mais virtuoso do que qualquer adversário e, por isso, perseguido.

O velho comunismo, com seus feitos e malfeitos, foi também uma tentativa de conduzir a inevitável e potente irrupção das massas no século 20. Era portador de um desafio global, que, no entanto, já na virada dos anos 1930 se mostrava com capacidade de expansão política atrofiada, entre outras dificuldades, por operar com categorias acanhadas e jamais superar a mentalidade de “cidadela sitiada”.

O PT, nem é preciso dizer, atua em registro infinitamente mais modesto, o que, aliás, está longe de ser desvantagem. Seu grupo dirigente e os representantes mais expressivos de sua “sociedade civil” talvez ainda não tenham percebido a necessidade de assumir plenamente as responsabilidades decorrentes de viver e atuar em sociedade afortunadamente democrática e pluralista. O partido parece querer operar sob o paradigma da revolução, ainda que esta seja a rota segura para o gueto e a subalternidade. A democracia brasileira nada ganha com isso
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Maioridade aos 16

Após muito tumulto e debates acalorados, a comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou por maioria ampla o projeto que reduz a maioridade penal para 16 anos em casos de crimes hediondos. Deixando as polêmicas um pouco de lado, não se pode negar que é a primeira vez que uma ação concreta é colocada em prática, desde a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente.

O projeto faz o cidadão comum refletir melhor sobre os problemas de insegurança pública que o afligem, além de tirar autoridades e estudiosos da cômoda situação de “apenas” receber ou desferir críticas.


Particularmente, apesar de todos os argumentos de quem é contra a lei em gestação, considero que estão ocorrendo avanços. Ao contrário do que alegam os críticos, pelo menos nesse assunto, a sociedade brasileira está, sim, sendo atendida.

A grande maioria das pessoas é favorável à redução da maioridade penal, talvez porque, no mundo real, não há nada que impossibilite um jovem com dois anos de diferença fazer aquilo que bem entende e que lhe venha à cabeça. Portanto, mesmo com todas as consequências que a nova lei possa ocasionar, no cômpito geral, a população sai ganhando, mesmo que seja em seu anseio de ser ouvida.

Também não há de se considerar essa uma visão simplista. Talvez simples, por sua objetividade. Mas simplista, não. Tampouco pode ser considerado um argumento conservador. Muitos do que torcem para a maioridade aos 16 também são a favor da legalização da maconha e do aborto, por exemplo.

Assim, argumentos contrários são vários, como também padecem de vulnerabilidades.

As cadeias vão ficar ainda mais lotadas. Sim, obviamente. Mas aí já é outro problema. O Estado que se programe e planeje melhor sua infraestrutura carcerária. Jovens se transformarão em bandidos profissionais. E isso já não ocorre? Futuros serão destruídos. Para alguns desses adolescentes, a sensação de impunidade é que os coloca bem mais próximo da criminalidade.


Fora isso, a maioridade aos 16 anos pode exercer um papel pedagógico importante. Também pode melhorar a sensação de segurança, um aspecto importante na hora de se promover a segurança pública.

Por fim, a redução da maioridade não inviabiliza a proposta da presidente Dilma Rousseff de criar leis mais duras contra adultos que utilizem crianças e adolescentes na facilitação de crimes.
Tampouco a punição de jovens homicidas ou autores de crimes de grande perversidade impede políticas públicas que cuidem de nossas crianças, tirando delas um futuro incerto e melancólico.

Essa é a riqueza

O melhor do Brasil é o brasileiro que sabe ler
Marcelino Freire

Os cortes chegam à literatura

O Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens era para ser só festa, como tem sido há 17 anos, mas o que encontrei lá foram editores arrasados com notícias oriundas dos governos federal, capitaneado pelo PT, e do Estado de São Paulo, comandado pelo PSDB. Ambos estão suspendendo compras de livros que deveriam ser entregues a estudantes e professores. Os dois partidos rivais na última disputa presidencial aproximam-se no desprezo à leitura. 


O governo de Dilma Roussef deverá prorrogar para o próximo ano os programas de distribuição de livros literários a escolas públicas previstos para este ano. A informação foi repassada a editores do segmento infantojuvenil por técnicos vinculados ao Ministério da Educação (MEC). Os cortes orçamentários são responsabilizados pela suspensão das compras, não anunciada oficialmente. Mas que, na prática, já está acontecendo no âmbito do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) em função da morosidade no cronograma de atividades, o que equivale a um adiamento.

Os avisos dão conta ainda de que o presidente do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), Antônio Idilvan Alencar, nomeado pelo ex-ministro Cid Gomes (PROS), argumentou contra os cortes, sendo voto vencido. A justificativa dada pelos técnicos da equipe do novo ministro, Renato Janine Ribeiro, é que cortes precisam ser feitos e as obras de literatura são consideradas menos prioritárias. Prorrogada a entrega dos livros do PNBE, aproximadamente 6,7 milhões de exemplares deixarão de chegar aos leitores de escolas públicas de todo o País este ano.

O outro corte foi assumido semana passada, sendo mais expressivo em números, mas localizado em um só estado. O governo de Geraldo Alckmin informou aos editores a suspensão da chamada pública relativa ao ano de 2013 do Programa Estadual do Livro, responsável por abastecer os Programas Sala de Leitura, Leitura do Professor e Apoio ao Saber nas escolas de ensino fundamental e médio, além daquelas inseridas na Educação de Jovens e Adultos. Cerca de 18 milhões de livros que deveriam estar nas mãos de alunos e professores paulistas desde o ano passado não serão entregues. Os cortes orçamentários também foram responsabilizados pela atitude drástica. 



O menosprezo à leitura dissemina-se em outras instâncias: a Prefeitura de São Paulo, há quatro anos, não compra livros de literatura para os programas Minha Biblioteca, Acervo Inicial, Acervo Complementar e Sala de Leitura. Portanto, nas gestões do PSD, de Gilberto Kassab, e de Fernando Haddad, do PT. No município do Rio de Janeiro, a situação é melhor, pois permanecem os projetos de compra para creches e aluno concluinte, embora tenha sido suspenso o programa Biblioteca do Professor, que entregava 16 obras literárias aos docentes. Algo próximo de 370 mil exemplares. E, observo, a Prefeitura, via Secretarias de Cultura e Educação, manteve o apoio ao Salão FNLIJ, viabilizando a presença de 17 mil alunos e a compra de livros pelos professores – os outros patrocinadores foram a Petrobras e o Instituto C&A.

Ainda no âmbito federal, ações do Programa de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) 2014, considerado prioritário na campanha da presidente Roussef, também estão bastante atrasadas. Consultadas sobre atrasos e suspensão dos programas, as Assessorias de Comunicação do MEC e do FNDE, responsável pela execução dessas ações, deram resposta semelhante, que, analisada, só confirma o quadro de descaso


Primeiro roubo em 50 anos em ilha britânica


Canna é uma pequena ilha de apenas 7 km de extensão na Escócia onde vivem cerca de 20 pessoas. Um lugar bastante tranquilo, que foi abalado por um roubo na última semana.

O incidente aconteceu em uma loja gerenciada por voluntários que vendia comidas, produtos de higiene pessoal e outros utensílios. Doces, pilhas e chapéus de lã artesanais foram roubados, e a loja foi revirada pelos ladrões.

Parece pouco, mas o roubo chocou os moradores de Canna, que não viam nada parecido acontecer por ali havia 50 anos.

No Facebook, a Comunidade de Desenvolvimento da Ilha de Canna disse estar "extremamente decepcionada" com o incidente.

A loja ficava destrancada durante a noite para que pescadores pudessem utilizar o wi-fi local e comprar itens de primeira necessidade enquanto descansavam no píer até o dia seguinte. O pagamento era feito na "caixa da honestidade": eles deixavam o dinheiro junto com um bilhete descrevendo o que haviam comprado.

No entanto, após o roubo, os responsáveis pela loja já estão pensando em trancá-la durante as madrugadas.

A polícia escocesa afirmou que quer falar com todas as pessoas que atracaram no píer durante o final de semana.

Um porta-voz da polícia local disse que o incidente deve ter acontecido entre 20h da sexta-feira e 8h do sábado.

"Vários itens foram roubados, incluindo os chapéus artesanais de lã, confeitos e produtos de higiene pessoal. Um inquérito foi instaurado e vamos começar a ouvir moradores e outras pessoas que passaram pelo píer entre os dias do incidente."

A última vez que um roubo foi registrado em Canna foi na década de 1960, quando uma placa de madeira esculpida na igreja local foi levada. O caso nunca foi resolvido, e a placa nunca foi encontrada. A polícia escocesa não tem registros computadorizados para confirmar o caso.