sábado, 13 de junho de 2015

Cidades educadoras


Faz quase seis meses que a presidente Dilma lançou o lema, mas até hoje não definiu como seria a Pátria Educadora, nem o que seu governo fará para construí-la.

Por falta de definição da presidente ou dos marqueteiros que criaram o lema, devemos imaginar como seria a Pátria Educadora e o que fazer para construí-la.

A condição fundamental, óbvia, é ter todas as suas crianças em escolas com a máxima qualidade, o que exige: professores muito bem preparados, escolhidos entre os melhores jovens da sociedade, para isso eles precisam estar entre os profissionais muito bem remunerados, todos bem selecionados e avaliados permanentemente; os prédios das escolas entre os mais bonitos, limpos e confortáveis, com os mais modernos equipamentos de tecnologia da informação, bibliotecas, ginásios poliesportivos e facilidades culturais; todas as crianças em horário integral, durante os 220 dias de aulas por ano, sem paralisações.

Quando todas as suas cidades forem assim, a Pátria Educadora não terá analfabetismo de adultos e todos os seus jovens concluirão, na idade certa, o ensino médio, com a qualidade ofertada nos países mais educados do mundo.

Para isso, a Pátria Educadora precisará ter todas suas Cidades Educadoras.

A Pátria Educadora só pode ser construída escola por escola, cidade por cidade, mas cada uma necessita de esforço nacional para apoiá-la. Para fazer suas Cidades Educadoras, o Brasil precisa adotar a educação de suas crianças, independentemente da cidade onde vivem e estudam.

Isso não será possível cortando recursos do Ministério da Educação nem prometendo os simbólicos 10% do PIB ou os royalties de um pretenso pré-sal de tamanho insuficiente para as necessidades da educação brasileira. Muito menos deixando a tarefa de construir a Pátria Educadora para as pobres e desiguais prefeituras do Brasil.

Deixar a educação nas mãos das cidades é manter as escolas sem os recursos humanos, financeiros e técnicos necessários e também continuar com nossas crianças em escolas desiguais, conforme a renda dos pais e o orçamento da cidade onde vivem.

A simples evolução do atual degradado sistema escolar municipal não vai permitir construir a Pátria Educadora; o Brasil precisa implantar um novo sistema educacional, substituindo as atuais escolas em um processo ao longo de anos.

Uma cidade educadora custa R$ 10 mil por aluno por ano; para atender a 51,7 milhões de alunos em 2035, seriam necessários R$ 517 bilhões. Se o PIB e a receita do setor público crescerem a uma taxa de apenas 2% ao ano, em 2035 o Brasil vai precisar de 6,2% do PIB para transformar o atual sistema da pátria deseducadora no novo sistema federal da Pátria Educadora; ou seja, 0,5% acima dos 5,7% do PIB gastos atualmente, metade dos 10% determinados pela Lei do PNE.

Isso só será possível com a união de todos os brasileiros assumindo a responsabilidade pela educação de todas as crianças do Brasil, não importa a receita fiscal nem a vontade do prefeito da cidade onde elas vivam.

Os novos malignos

OS NOVOS MALÍGNOS

Existem pessoas que pensam vinte e quatro horas por dia em fazer o al, como tirar dinheiro principalmente da classe média e dos menos favorecidos, tanto na esfera pública como na área privada. São os malignos, criaturas do mal. Nero, Calígula, Herodes. Foram sucedidos pelos novos malignos, mais sutis. No setor público, criam dificuldades para gerar facilidades. Há dezenas de impostos, taxas, contribuições tarifas e cobranças de toda ordem. Aumentam arbitrariamente as alíquotas.

Inventam justificativas pueris para extorquir o cidadão. Agora, a prefeitura do Rio de Janeiro, ao transferir da Santa Casa para a iniciativa privada a administração dos cemitérios, criou um verdadeiro IPTU dos mortos. Vai começar a ser cobrada dos proprietários dos jazigos uma taxa de até R$ 500,00 por ano a título de manutenção, para começar, sob pena de perda da propriedade em três anos. Isto é para começar. Depois, o céu é o limite.
Ao mesmo tempo, diminuíram a alíquota do IPTU de supermercados para quase a metade e beneficiam os segmentos financeiro e bancário, que, apesar de usufruírem o maior lucro da história, praticamente nada pagam de imposto de renda em comparação com o assalariado. É a tática “Hood Robin”: tirar dos pobres e remediados para dar aos ricos, ao contrário do lendário aventureiro Robin Hood. A indústria de multas prospera inclusive com a sociedade de empresas privadas.

A cada mudança na legislação ocorre mais um assalto ao contribuinte. Tanto na esfera federal, como na estadual e na municipal. Os governantes estão cada vez mais ricos. Vão ao Exterior como o cidadão comum vai à Niterói. Gastam fortunas em festas suntuosas e segurança para si e para seus parentes. Transmitem o mandato legislativo de pai para filho, de marido para mulher, de avô para neto, ancorados em uma sólida base assistencialista e clientelista, usando a corrupção. O empreguismo é desenfreado. E o pior. Pouco é dado em contrapartida. As estradas estão resumidas a uma sucessão de crateras (vide BR-101), a energia vai entrar em colapso em mais um ano caso o Brasil volte na crescer acima de 3 % ao ano. A corrupção campeia em todos os segmentos.


As comunicações foram entregues a corsários alienígenas. A saúde pública está abandonada. A educação pública, refém de cotas, forma analfabetos funcionais. A segurança pública desapareceu. A previdência pública está sendo deliberadamente quebrada, para propiciar o crescimento da previdência privada. Os fundos de pensão estão sendo saqueados. O país cresce como rabo de cavalo. Para baixo. Enquanto isto, países pertencentes aos BRICS, em especial China, e Índia crescem. São nações soberanas e em desenvolvimento. Mas lá os corruptos são exterminados com um tiro na nuca e a família ainda paga a bala.

Na esfera privada, progressivamente toda a atividade produtiva vai sendo comprada pelo segmento financeiro. De fato, o segmento especulativo no Brasil agora usa empresas comerciais e industriais para captar clientes cativos e lucrar, de fato, no giro do dinheiro. É por esta razão que, atualmente, é muito difícil comprar à vista em qualquer loja. O desconto oferecido não compensa, quando é comparado com a possibilidade de pagamento no cartão de crédito, em várias parcelas, “sem juros”. É óbvio que o valor dos juros já está embutido no preço estipulado da mercadoria oferecida. Vejam as ofertas das principais lojas de varejo no Brasil. Aceitam o pagamento em 12 vezes, com início até dois meses depois da compra, sempre anunciando, com raras exceções, que o valor é o mesmo tanto para o pagamento à vista como em “suaves” prestações. Evidentemente, não pode ser. Outro exemplo marcante é o empréstimo com consignação em folha para aposentados e pensionistas, com risco zero para os Bancos, que chegam a cobrar até 5% ao mês. É uma das maiores crueldades perpetradas contra os menos favorecidos, os quais estão se endividando brutalmente, estimulados por irresponsáveis meios de comunicação, sem o menor controle por parte das autoridades econômicas.


Mais um exemplo é a chamado Bolsa Família, que agrupou vários benefícios de caráter assistencialista, com finalidade nitidamente eleitoreira. É inclusive um obstáculo à mobilidade social, pois se o beneficiário conseguir algum rendimento adicional legal, perde a doação, abrindo caminho para uma grande quantidade de desvios e descaminhos, favorecendo a economia informal. É criada a cultura do “coitadinho”, onde não é necessário esforço para conseguir o sucesso. Não precisa estudar, nem trabalhar, pois o Grande Pai proverá tudo aquilo necessário. Surgem as quotas e bolsas. Se não possui casa própria é só invadir que lhe será dada.Só que a fonte fornecedora dos recursos está secando, pois cada vez mais existe menos renda na população pagadora de impostos e mais “benefícios” criados pelos malignos.

É difícil combater os malignos, pois seu poder é incomensurável. Controlam os meios de comunicação, elegem representantes no Poder Executivo e no Legislativo. Influenciam até o Judiciário, nomeando “adeptos”. O povo brasileiro merece respeito e dignidade. É chegada a hora de todas as pessoas de bem unirem-se para que, algum dia, nossa Pátria volte a ser o que já foi em tempos passados. Um Brasil soberano, em ritmo de desenvolvimento, funcionando quase a pleno emprego, com uma classe média pujante e com a contrapartida de serviços coletivos dignos.

Drama, comédia ou farsa?

CUT / PT (Foto: Amarildo)
Parece cômico, mas é dramático: “A CUT defende a imediata redução dos juros, para investir mais em políticas sociais, crescimento, geração de empregos, redução da desigualdade e da pobreza.” A pergunta é: quem não quer? Até bancos e especuladores malvados, inimigos do povo, que são os que mais ganham com os juros altos, que ganham sempre, querem ganhar mais com os juros baixos da CUT.

No início do primeiro mandato, Dilma se sentiu poderosa para baixar os juros no grito, na “vontade política”, ignorando as leis econômicas e suas consequências, tudo por amor ao povo, e deu no que deu: juros a 13,75% e inflação a 8,25%.

O mesmo com a energia elétrica. Baixou os preços na “vontade política”, rompendo contratos, desorganizando o mercado e dando no que deu: o seu querido povo — o beneficiário — hoje paga tarifas escorchantes, muito mais altas do que antes do “ajuste social” de Dilma.

Um dos grandes temas do congresso do PT vai ser a “taxação das grandes fortunas”, que pagaria a conta dos descalabros fiscais do governo no lugar dos pobres. Enquanto isso, as verdadeiras fortunas estão prontas para migrar seus investimentos, legalmente, num clique de mouse, para países onde serão menos taxados, justo na hora em que o país mais precisa de investimentos.

O PT comemorara o aumento do imposto sobre o lucro dos bancos, como ajuda para o ajuste fiscal, tomando mais de quem ganha mais. É justo e faz sentido. Faria, se os bancos não fossem aumentar as tarifas e serviços para compensar a perda com o aumento do imposto. Pagarão a conta todos os correntistas dos bancos, principalmente os pobres, e os bancos ficarão ainda mais ricos.

“Eu não vou tomar medidas impopulares porque sou sempre a favor do povo”, prometia Dilma nas eleições. Seria cômico, se não fosse trágico. Se tivesse tomado as medidas necessárias, mas impopulares, a tempo, talvez não ganhasse a eleição, ou até ganhasse mais fácil, com mais moral, mas certamente melhoraria muito a vida dos brasileiros e evitaria o atoleiro em que estamos hoje.

Parece que eles acreditam mais em Plano Cruzado do que em Plano Real
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Nelson Motta

'Prisão é maior vacina contra corrupção', diz juiz que julgará Petrobras

A desobediência civil, de uma maneira engraçada, pressupõe um certo respeito pela lei, Ela prega: 'Vamos desobedecer, mas vamos sofrer as consequências legais, não vamos fugir'
Jed Rakoff  
Quando Minerva Rodriguez teve a palavra no julgamento dos homens que haviam torturado e assassinado seu filho em Nova York, o juiz Jed Rakoff se lembrou de seu próprio irmão mais velho, morto a pauladas dentro de casa, nas Filipinas, em 1985.

"Estava praticamente em prantos quando ela falou", conta Rakoff à BBC Brasil. "Sabia exatamente o que ela estava sentindo."

Rodriguez esperava que os algozes de seu filho fossem executados, mas, numa decisão que reverberaria bem além daquele julgamento, Rakoff considerou que a aplicação da pena de morte era inconstitucional nos Estados Unidos.

"Foi a (decisão) mais difícil para mim, porque eu era a favor da pena de morte quando meu irmão foi assassinado", diz o juiz, hoje responsável pela ação que tramita na Justiça americana contra a Petrobras.

A sentença acabou anulada por uma corte superior naquele mesmo ano (2002), mas sua posição faria dele uma das figuras mais destacadas no Judiciário americano.

Rakoff recebeu a BBC Brasil em sua sala na última sexta-feira com a ressalva de que não poderia falar sobre o caso da Petrobras, já que o código de conduta dos juízes os proíbe de comentar processos em curso.

A ação contra a empresa abarca todos os acionistas que compraram papéis emitidos pela companhia nos Estados Unidos entre 2010 e 2014. Segundo a acusação, a Petrobras divulgou informações falsas sobre suas operações e omitiu denúncias de corrupção, que vieram à tona com a operação Lava Jato.

Também são réus no processo 13 executivos da estatal, entre os quais seus ex-presidentes Graça Foster e José Sérgio Gabrielli, 15 bancos que coordenaram as emissões de papéis da empresa, duas subsidiárias e a consultoria PwC.

Leia mais a reportagem sobre o juiz Jed Rakoff
Quando alguém me diz que 'a lei sempre foi assim', isso para mim não é a questão final. A lei muda, a lei progride, e você tem de olhar para os efeitos práticos antes de decidir 

A onda conservadora

O PT, na tentativa de explicar a rejeição geral de que padece, denuncia o advento de “uma onda conservadora” no país.

A direita, financiada sabe-se lá por quem, estaria por trás da insatisfação popular que penaliza o partido, confinando-o aos ambientes fechados, imunes a vaias e panelaços.

Tudo, no fim das contas, não passaria de um artifício perverso, vitimando gente boa e inocente.

Onda conservadora (Foto: Arquivo Google)

Na realidade, porém, não há um elo ideológico entre os insatisfeitos, que, segundo as pesquisas, já passam de 90%. Entre os que pedem a saída do PT do poder, há de tudo: progressistas decepcionados, liberais ortodoxos, socialdemocratas, até os que pedem intervenção militar.

A maioria, porém – quer na classe média, quer entre os mais pobres, onde a rejeição aos petistas atingiu níveis inéditos -, não professa nenhuma ideologia. Quer apenas ser governada por gente decente e com alguma competência. E o que vê é o contrário: um governo ruim, cercado de escândalos por todos os lados.

Os ajustes na economia pressupõem a vigência de desajustes, construídos em doze anos de governo petista. Não é possível atribuí-los a antecessores, até porque os três últimos eram do próprio PT. Não bastasse, há os escândalos. Nada disso é conservador ou progressista: simplesmente é.

Se os 90% que rejeitam o governo do PT, segundo pesquisas encomendadas pelo próprio Planalto, compusessem uma “onda conservadora”, o Brasil estaria protagonizando um fenômeno mundial: um país conservador sem um único partido a vocalizá-lo. Todo o espectro partidário se diz de esquerda ou centro-esquerda. Até o DEM se diz um partido de centro. Ninguém é de direita.

O conservadorismo brasileiro é muito mais na esfera comportamental, relacionado a valores de índole religiosa, decorrentes de sua formação cristã, que de ordem político-doutrinária. O brasileiro médio continua a crer mais no Estado que na iniciativa privada - mas não, obviamente, num Estado criminoso.


O de que se trata, pois, é de simples rejeição ao crime e à incompetência. Nada mais. E o crime, como a incompetência, não é de direita, nem de esquerda, nem de centro – é simplesmente crime. O próprio PT, ao propor, neste 5º Congresso que realiza em Salvador, uma volta a seu projeto original, reconhece desvios e “malfeitos”. Ninguém volta ao lugar de onde não saiu. E o partido, que chegou ao poder como paladino da moral, não apenas profanou seu projeto de origem: tornou-se a síntese do que rejeitava.

Aliou-se aos que, no passado, chamava de facínoras, e superou-os na arte da rapina. Elevou-a à casa dos bilhões. Pedro Barusco, o gerente que servia a Renato Duque – o homem do PT na Petrobras – confessou ter recebido R$ 200 milhões em propinas. E, para não deixar dúvida, devolveu-os.

Se a confissão é a rainha das provas, adquire ainda mais majestade quando acompanhada da devolução do roubo.

Todo o escândalo mundial da Fifa, até aqui, revelou o desvio de R$ 150 milhões. Ou seja, a ladroagem futebolística perde de goleada não para a do PT, mas apenas para de a de um de seus subalternos. Pelo montante em jogo e evidências de que o padrão criminoso se estendia a outras estatais, sabe-se que é impossível que tenha sido fruto, como declarou a presidente Dilma, apenas da ação de um “quarteto de delinquentes”.

As sucessivas investigações da Operação Lava-Jato mostram que figurões do partido – e do governo - estiveram à frente do maior assalto aos cofres públicos de que se tem notícia.

A própria Petrobras admite, em seu balanço recém-divulgado, o roubo de R$ 6 bilhões – que a ex-presidente, Graça Foster, havia dito que era de R$ 88,6 bilhões. Os números, por enquanto, dão mais credibilidade às contas de Graça Foster que às de seu sucessor na presidência da estatal, Aldemir Bendini.

O presidente do PT, Rui Falcão, diz que jamais nenhum governo investigou tanto a corrupção quanto os do PT. No entanto, o mesmo governo, que diz promover as investigações, se empenha no Congresso em barrar CPIs, como a do BNDES. E protesta contra o enquadramento de seus delinquentes na Justiça.

O que está claro é que o governo não investigou coisa alguma; apenas não conseguiu impedir que órgãos do Estado, como Polícia Federal e Ministério Público, o fizessem.

Se estivesse a seu alcance impedi-lo, não há dúvida de que o faria, como o faz no Congresso ao acionar sua maioria para impedir a instalação de CPIs ou sabotar as já instaladas.


Nada disso tem relação com “onda conservadora”. Se há sinais de que esse pensamento revive em alguns âmbitos (universidades, meios de comunicação) – e isso é saudável, pois o contraponto ideológico está na essência da democracia -, claro está também que nem de longe ameaça a hegemonia do pensamento esquerdista e não tem forças para levar milhões às ruas. As multidões não saíram em protesto por inspiração de Adam Smith, mas pelo conjunto da obra dos governos Lula e Dilma.

A onda de rejeição está mais relacionada à letra do Código Penal que à dos manuais de doutrina política. Se se quer conservar alguma coisa, é o que resta de decência e bom senso no país.

O PT no divã do analista

O PT está deitado desde ontem, em Salvador, no divã do analista, tentando achar o núcleo de sua personalidade perdida.

Quem sou eu, doutor? Sou o partido que nasceu para ser diferente dos outros e no entanto estou fazendo tudo igualzinho aos outros, e muitas vezes até pior, e não consigo achar mais o meu norte ético.

Estou no governo - ou pelo menos parte de mim está no governo - e no entanto outros pedaços de mim mesmo estão saindo às ruas para protestar contra o que eu mesmo estou fazendo no governo.

Sou de esquerda, de centro ou de direita ou não sou nada disso - mas apenas um partido como os outros, que quer o poder pelo poder e nada além do poder?

Há pelo menos 8 tendências internas representadas nesse 5º Congresso Nacional e elas não estão de acordo nem sequer no fato, agora incontornável, de que discutem até hoje se deveriam mesmo estar reunidos em congresso exatamente num momento de tantas dúvidas existenciais que abalam a própria identidade do partido.

Eles se reuniram, no mínimo, para ouvir as palavras de seu grande e indiscutido (entre eles, claro) “condottiere” Lula, para ver se ele, com suas palavras, ilumina o mundo, como diria a Chauí. Em momentos de dúvida, as massas militantes apelam ao Grande Timoneiro que está mais à mão. Cada fé tem seu Santo Expedito a quem apelar na hora das causas impossíveis.

Petrolão, estagnação, inflação, desemprego em alta, ajuste fiscal operado pelas mãos de um estranho no ninho, alimentado pela ortodoxia econômica inimiga, um plano mirabolante de concessões, uma atribulada convivência com uma base aliada sôfrega, rebelde e desrespeitosa- eis o cenário perfeito para o inferno astral que o PT está levando para o divã.

Enquanto o governo de Dilma, na perfeita analogia musical do professor Luiz Werneck Vianna, sociólogo e pesquisador da PUC-Rio, faz como o velho marinheiro, que em meio ao nevoeiro, leva o barco devagar, a rapaziada sente falta do pandeiro e do tamborim.

Os oito pedaços de PT reunidos em Salvador se dividem entre aqueles que querem voltar a tocar o pandeiro e o tamborim em alto e bom som e aqueles que acham que é preciso criar esperanças de bom tempo para depois do nevoeiro.

Os pés do demiurgo Lula estão instalados nos dois barcos: para sonhar com 2018 ele precisa que o marinheiro leve o barco ao seu destino, mas ele precisa também tocar o pandeiro e o tamborim para fazer-se ouvir.

A crise de identidade que o PT, deitado no divã, está expondo ao analista, deriva em grande parte desse dilema: como ser contra e a favor do governo ao mesmo tempo?




Retomar o discurso de esquerda praticando um ajuste fiscal que eles estigmatizam como uma prática de direita? Defender a democracia e ao mesmo tempo proteger a Venezuela de sanções por práticas antidemocráticas como encarcerar líderes oposicionistas? Defender a ilusão do Mercosul ao mesmo tempo em que o comércio entre tão solidários hermanos despenca 30%?

Cortar despesas em educação e saúde ao mesmo tempo em que os 39 ministérios e seus cargos agregados incham como um balão? Tentar conter a inflação a laço enquanto ela vaza pela via dos preços controlados e pela irresponsabilidade fiscal?

É muito difícil que desse divã do analista saia um diagnóstico preciso sobre o processo de perda de identidade ou de esquizofrenia do PT.

Se a patologia se revelar benigna, pode ser que o PT encontre um mapa para sair de seu próprio labirinto. Caso contrário, a receita pode requerer o uso de uma camisa de força.

Passou!


                o senhor e a senhora
já viveram sua glória
o seu tempo acabou
agora a escória faz história

Arnaldo Antunes

Basta! Fora!

Volto a explicar, agora ponto por ponto, a catástrofe estratégica monstruosa com que o PT destruiu a si mesmo e à nação.

1. No incipiente capitalismo brasileiro, as grandes empresas são quase sempre sócias do Estado, o único cliente que pode remunerá-las à altura dos serviços que prestam.

2. Por isso elas acabam se incorporando ao “estamento burocrático” de que falava Raymundo Faoro: o círculo dos “donos do poder”, que fazem da burocracia estatal o instrumento dócil dos seus interesses grupais em vez da máquina administrativa impessoal e científica que ela é nas democracias normais.

3. Nesse sentido, o sistema econômico brasileiro não é capitalista nem socialista, mas sim patrimonialista, como destacaram, além do próprio Faoro, vários estudiosos de orientação liberal, entre os quais Ricardo Velez Rodriguez, Antonio Paim e o embaixador J. O. de Meira Penna.

4. Nos anos 70 do século passado os intelectuais de esquerda que sonhavam em formar um grande partido de massas tomaram conhecimento do livro de Raymundo Faoro, Os Donos do Poder. Formação do Patronato Político Brasileiro, então lançado em aumentadíssima segunda edição, e entenderam que o curso normal da revolução brasileira não deveria ser propriamente anticapitalista, mas antipatrimonialista: o ponto focal do combate já não seria propriamente “o capitalismo”, e sim – com nomes variados -- o “estamento burocrático”.

5. A definição do alvo era corretíssima, mas, ao mesmo tempo, o partido, como aliás toda a esquerda nacional, estava intoxicado de gramscismo e ansioso por tomar o poder por meio dos métodos do fundador do Partido Comunista Italiano, que preconizavam a infiltração generalizada e a “ocupação de espaços” destinadas a criar a “hegemonia”, isto é o controle do imaginário popular, da cultura, de modo a fazer do partido “o poder onipresente e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento divino”.

6. A aplicação do esquema gramscista obteve mais sucesso no Brasil do que em qualquer outro país do mundo. Por volta dos anos 80 o modo comunopetista de pensar já havia se tornado tão habitual e quase natural entre as classes falantes no país, que os liberais e conservadores, inimigos potenciais dessa corrente, abdicaram de todo discurso próprio e, para se fazer entender, tinham de falar na linguagem do adversário, reforçando-lhe a hegemonia ideológica mesmo quando obtinham sobre ele alguma modesta vitória eleitoral em troca. Entre os anos 90 e a década seguinte, toda política “de direita” havia desaparecido do cenário público, deixando o campo livre para a concorrência exclusiva entre frações da esquerda, separadas pela disputa de cargos apenas, sem nenhuma divergência séria no terreno ideológico ou mesmo estratégico.

7. O sucesso da operação produziu sem grandes dificuldades a vitória eleitoral de Lula numa eleição presidencial na qual, como ele próprio reconheceu, todos os candidatos eram de esquerda, o que canalizava os votos quase espontaneamente na direção daquele que personificasse o esquerdismo da maneira mais consagrada e mais típica.

8. Com Lula na Presidência, intensificou-se formidavelmente a “ocupação de espaços”, fortalecendo a hegemonia ao ponto de levar ao completo aparelhamento da máquina estatal pelo comando comunopetista, que ao mesmo tempo precisava da ajuda das grandes empresas para cumprir o compromisso assumido no Foro de São Paulo, coordenação estratégica da política comunista no continente, no sentido de amparar e salvar do naufrágio os regimes e movimentos comunistas moribundos espalhados por toda parte.

9. Inevitavelmente, assim, o próprio partido governante se transformou no “estamento burocrático” que ele havia jurado destruir. E, imbuído da fé cega nos altos propósitos que alegava, atribuiu-se em nome deles o direito de trapacear e roubar em escala incomparavelmente maior que a de todos os seus antecessores, sem admitir acima de si nenhuma autoridade moral à qual devesse prestar satisfações. O próprio sr. Lula expressou esse sentimento com candura admirável, afirmando-se o mais insuperavelmente honesto dos brasileiros, ao qual ninguém teria o direito de julgar – e isso no momento em que seu partido, abalado por uma tremenda sucessão de escândalos, já era conhecido no país todo como o partido-ladrão por excelência.

10. Assim, não apenas o PT fortaleceu o patrimonialismo, como frisou o cientista político Ricardo Velez Rodriguez, mas se transformou ele próprio na encarnação mais pura e aparentemente mais indestrutível do poder patrimonialista, soldando numa liga indissolúvel a ilimitada pretensão esquerdista ao monopólio da autoridade moral, os anseios do movimento comunista continental, os interesses de grandes grupos industriais e bancários, o aparato cultural amestrado (mídia, show business, universidades) e, last not least, o instinto de sobrevivência da classe política praticamente inteira.

11. Tal foi o resultado da síntese macabra que denominei faoro-gramscismo -- a tentativa de realizar por meio da estratégia de Antonio Gramsci a revolução antipatrimonialista preconizada por Raymundo Faoro: na medida em que, ao mesmo tempo, instigava o ódio popular ao “estamento burocrático” e, por meio da “ocupação de espaços”, se transfigurava ele próprio no inimigo odiado, personificando-o com traços repugnantes aumentados até o nível do absurdo e do inimaginável, o PT acabou por atrair contra si próprio, em escala ampliada, a hostilidade justa e compreensível da população aos “donos do poder”, aos príncipes coroados do Estado cleptocrático.

12. Ao longo do processo, a “ocupação de espaços” reduziu o sistema de ensino e o conjunto das instituições de cultura a instrumentos para a formação da militância e a repressão ao livre debate de idéias, destruindo implacavelmente a alta cultura no país e, na mesma medida, estupidificando a opinião pública para desarmar sua capacidade crítica. Ao mesmo tempo, no desejo de agradar a vários “movimentos de minorias” enxertados no Brasil por organismos internacionais, o governo petista fez tudo o que podia para desmantelar o sistema dos valores mais caros à maioria da população, contribuindo para espalhar a confusão moral, a anomia e a criminalidade, esta última particularmente favorecida por legislações que não se inspiravam propriamente em Antonio Gramsci, mas numa fonte mais remota do pensamento esquerdista, a apologia do Lumpenproletariat como classe revolucionária, muito em voga nos anos 60 do século XX.


O Brasil que o PT criou é feio, miserável, repugnante, tormentoso e absolutamente insustentável. Cumprida a sua missão histórica de encarnar, personificar e amplificar o mal que denunciava, o único partido da História que fomentou uma revolução contra si mesmo tem a obrigação de ser coerente e desaparecer do cenário o mais breve possível.

Por isso a mensagem que o povo lhe envia nas ruas, nos panelaços, nas vaias e nas sondagens de opinião é hoje a mesma que, em circunstâncias muito menos deprimentes e muito menos alarmantes, surpreendeu o desastrado e atônito presidente João Goulart em 1964:

Basta! Fora!

No piloto automático

‘Afinal, quem cuida da quitanda?’, pergunta o povo
A versão oficial para a viagem de dona Dilma à Bélgica seria curiosa se não fosse o fato de o tour ter durado menos de 30 horas.

Vamos ser francos: cá para nós, se eu fosse a presidente com um avião à minha disposição no quintal de casa, eu também iria preferir ir à Bruxelas comer uns bons gauffres do que ir a Salvador, onde o PT estaria ensarilhado contra mim...

Pelo menos é o que corria à boca pequena, se bem que eu acho que na hora do aperto o PT vai aplaudir a esbelta presidente, já que o objetivo maior é que ela mantenha bem estofada e bem confortável a cadeira presidencial para o Lula se aboletar em 2018.

Mas o que dona Dilma foi fazer em Bruxelas? Simples: com a empáfia que lhe é costumeira, saiu de Brasília crente que ia apressar a resolução do impasse entre UE e Mercosul, pepino que perdura há 16 anos.

Não foi o que aconteceu. O impasse continua. Dona Dilma declarou que não saiu frustrada, que a Argentina apesar de ter travado um pouco as negociações, não é impedimento, muito pelo contrário.

A viagem, se não serviu ao Mercosul, serviu a nós brasileiros que ficamos sabendo, através da entrevista coletiva que dona Dilma concedeu em Bruxelas, que a inflação de 8,47% que sofremos é “atípica”, que o país está extremamente preparado para enfrentar o momento de crise e mais: “não acho que a população tem de consumir menos, pelo contrário, tem de continuar consumindo”.

Confesso que adoraria seguir o conselho de dona Dilma e ir às compras sem medo. Ou ao médico sem entrar em pânico pelos exames que ele vai pedir ou os remédios que vai receitar.

Na mesma entrevista, Dona Dilma, irritada com uma pergunta mais direta sobre assumir ou não suas responsabilidades no caso de ser comprovado seu envolvimento com a corrupção na estatal, declarou:

“Eu não respondo a esta questão porque eu não estou ligada. Eu sei que não estou nisso. É impossível. Eu lutarei até o fim para demonstrar que eu não estou ligada. Eu sei o que eu faço. E eu tenho uma história por trás de mim. Neste sentido, eu nunca tive uma única acusação contra mim por qualquer malfeito. Então, não é uma questão de ‘se’. Eu não estou ligada”.


Acontece que a vida real aqui na planície não comporta os delírios de dona Dilma. Aqui manda a realidade.

Exemplos:

Aqui, o mensalão existiu e foi uma desgraça.

Aqui, o petrolão foi um vexame inominável, numa estatal do porte da Petrobras.

Aqui, é até pior saber que numa empresa com 30 mil funcionários um grupelho de cinco conseguiu tecer o horror que teceu, sem que Dilma Rousseff como Ministra das Minas e Energia, ou Chefe da Casa Civil do Lula ou presidente do Conselho de Administração da gigante brasileira, chefe de dona Graça Foster, não desconfiasse de que algo estava muito errado.

Aqui, ficamos todos tontos com as cifras usadas na campanha política de 2014.

Lula uma vez disse que o Brasil era muito fácil de ser governado. Na hora não compreendi. Agora acho que sei o que foi. Temos um piloto automático da melhor qualidade. Não precisamos de comandantes em ação. Por isso fica fácil, no meio de tantos e tão absolutamente graves problemas, ter disposição para andar de bicicleta pelas ruas de Brasília, acompanhada de seguranças e de um personal trainer. (Fonte Brasil 247)

Uma quitanda como a nossa, claro está, não precisa de gerentes.