terça-feira, 26 de maio de 2015

Educação: motor do desenvolvimento

Na educação, o corte representa mais de 19% do orçamento previsto. Não me parece razoável eliminar 9 bilhões de reais e afirmar que este montante não fará diferença

Quando ainda vivíamos a sociedade industrial era habitual dizer que um indivíduo era um analfabeto funcional se, mesmo em condições de identificar letras e números, fosse incapaz de interpretar textos e de realizar operações matemáticas, até mesmo as mais simples.

Entretanto, na sociedade do conhecimento, onde grupos expressivos das populações estão conectados, este conceito vem sofrendo alterações, e entende-se que os indivíduos, para serem considerados alfabetizados funcionalmente devem compreender os textos, habituar-se a refletir criticamente sobre as informações recebidas, desenvolver um raciocínio lógico e matemático, e ainda usar os procedimentos e as ferramentas que possibilitem explicar situações e prevê-las, bem como buscar soluções para a infinidade de problemas que enfrentarão em suas vidas. Por isso, a aprendizagem por meio de jogos vem adquirindo relevância em todos os níveis de ensino, inclusive na educação infantil.

Das qualidades que mencionei, podem ser tiradas duas conclusões: boa parte da população mundial é agora constituída de analfabetos funcionais e estes não têm as habilidades indispensáveis para os postos de trabalho majoritariamente oferecidos pelas empresas, cada vez mais interessadas em agregar valor aos seus produtos. Por isso, devemos saber enfrentar estes novos paradigmas na educação e, no caso brasileiro, assegurar a sua contínua melhoria, mesmo numa época em que é preciso encontrar soluções para os graves problemas econômicos trazidos pela gestão infeliz e que estão impondo expressivas reduções orçamentárias. Bom senso e equilíbrio serão fundamentais para que a educação continue prioritária.

Um estudo realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgado há poucos dias, mostra resultados muito interessantes sobre a influência da educação no crescimento do Produto Interno Bruto das nações, considerando um grupo de 76 países que realizaram o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes).

Inicialmente traz alguma esperança para países como o Brasil, o México e a Turquia, que embora estejam no fim da lista (nós somos o 60º), conseguiram expressivas melhorias nos seus respectivos desempenhos. No nosso caso, a taxa de escolarizados cresceu, entre 2003 e 2012, de 66% até 78%.

Outra importante conclusão do documento é que, se conseguirmos melhorar as condições de aprendizagem de nossos estudantes e garantirmos resultados melhores no PISA, estaremos aumentando o PIB de nosso país, em valores que compensam largamente os investimentos em educação.

Qual o raciocínio utilizado pelos autores do relatório? Eles construíram um modelo que possibilita idealizar qual será a situação se conseguirmos que em 2030 todos os estudantes com até 15 anos atinjam os níveis de escolaridade adequados para as suas idades.

Com a escolarização total, o PIB em 2095 será 750 vezes maior que o PIB atual. Sem ela, será de 440 vezes. Como falamos de um PIB atual de 5 trilhões de reais, o valor agregado à ele em consequência da escolarização ultrapassa em muito o investimento anual em educação.

É plenamente justificável e necessário que o ajuste fiscal chegue aos 70 bilhões de reais. Entretanto, na educação, o corte representa mais de 19% do orçamento previsto. Não me parece razoável eliminar 9 bilhões de reais e afirmar que este montante não fará diferença. Ou a proposta orçamentária enviada ao Congresso foi mal feita, ou não existe qualquer compromisso com a educação.

Como disse Franklin Roosevelt, "nem sempre conseguimos construir o futuro para a nossa juventude, mas podemos construir a juventude para o futuro".

Jornal-âncora da democracia


Não há um único assunto relevante que não tenha nascido numa pauta do jornalismo de qualidade. Os temas das nossas conversas são, frequentemente, determinados pelo noticiário e pela opinião dos jornais. A imprensa é, de fato, o oxigênio da sociedade. As redes sociais reverberam, multiplicam, agitam. Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de conteúdo independentes. Sem elas a democracia não funciona.

O jornalismo não é antinada. Mas também não é neutro. É um espaço de contraponto. Seu compromisso não está vinculado aos ventos passageiros da política e dos partidarismos. Sua agenda é, ou deveria ser, determinada por valores perenes: liberdade, dignidade humana, respeito às minorias, promoção da livre-iniciativa, abertura ao contraditório. Por isso os jornais são fustigados pelos que desenham projetos autoritários de poder. O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia.

As redes sociais e o jornalismo cidadão têm contribuído de forma singular para o processo comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera pública, de mobilização do cidadão. Suscitam debates, geram polêmicas, algumas com forte radicalização, exercem pressão. Mas as notícias que realmente importam, isto é, que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, e sim de um trabalho investigativo feito dentro de rígidos padrões de qualidade, algo que está na essência dos bons jornais.

A confiança da população na qualidade ética dos seus jornais tem sido um inestimável apoio para o desenvolvimento de um verdadeiro jornalismo de buldogues. O combate à corrupção e o enquadramento de históricos caciques da política nacional, alguns sofrendo o ostracismo do poder e outros no ocaso do seu exercício, só são possíveis graças à força do binômio que sustenta a democracia: imprensa livre e opinião pública informada.

Poucas coisas podem ter o mesmo impacto que o jornal tem sobre os funcionários públicos corruptos, sobre os políticos que se ligam ao crime, que abusam do seu poder, que traem os valores e os princípios democráticos. Os jornais, de fato, determinam a agenda pública e fortalecem a democracia. Políticos e governantes com desvios de conduta odeiam os jornais. Mas eles são, de longe, os grandes parceiros da sociedade, a âncora da democracia.

Navega-se freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a inteligência. Fica-se refém da superficialidade e do vazio. Perde-se contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente. Penso que há uma crescente demanda de jornalismo puro, de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma nostalgia de reportagem. É preciso recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e o fascínio do jornalismo de sempre.

Jornalismo sem brilho e sem alma. É uma doença que pode contaminar redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e investir poderosamente no coração. É preciso dar novo vigor à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, ético. É preciso contar boas histórias. É preciso ir além do factual, contextualizar, aprofundar.

A fortaleza do jornal não é dar notícia, é se adiantar e investir em análise, interpretação e se valer de sua credibilidade. Não é verdade que o público não goste de ler. Não lê o que não lhe interessa, o que não tem substância. Um bom texto, para um público que adquire a imprensa de qualidade, sempre vai ter interessados.

Carlos Alberto Di Franco

Democracia como fantasia de carrasco

"A dor é outra coisa, ela oprime, ela corrói, ela humilha, ela degrada. A dor degrada. Então, resistir é algo muito difícil"
Dilma Rousseff

A presidente teve um rompante para uma frase lapidar. Foi na entrevista ao jornal "La Jornada", do México. A ex-guerrilheira e presa política filosofou como qualquer um dos milhões de brasileiros degradados pela dor. Todos sabem a degradação por que passam com a dor, principalmente essa provocada pela incúria do governo de Dilma.

Estão degradados os doentes nos hospitais da miserabilidade, entregues a uma caixa-preta de saúde pública; os velhos sem asilos e assistência em hora que mais precisam; as crianças sem pediatria dia e noite obrigadas a chorar de dor.

Estão degradados milhões de brasileiros vítimas de uma governança petista dos infernos, que frequenta casamentos dos poderosos, mas não atende à segurança, à saúde e à educação, no mínimo, como devia. Choram de dor os parentes de vítimas de acidentes de trânsito, da violência urbana e rural, das drogas.

Os degradados do país não precisam de frases lapidares, das lágrimas de crocodilo depois de se fartar com a carniça, ou da hipocrisia de algibeira. Precisam de governo voltado à assistência de suas necessidades, não de governos dedicados à picaretagem, à malandragem, à pirotecnia do marketing.

Precisamos urgentemente de políticas público-sociais que possam minorar a dor desse país, desmoralizado pelo assalto marginal e público, roubado de ânimo, com esperança assassinada pelos decretos, que assinam como dádivas lançadas à exaltação.



Dilma bem sabe que quando se sofre na mão dos carrascos ainda se tem, no fundinho, esperança de paz, mas quando se apanha na cara, sofre as dores psicológicas do trauma do roubo, do assalto, do assassinato, numa terra dita democrática, que esperança há de se ter? O consolo da frase presidencial, eivada de cretinice barata?

O país pode ter se livrado dos carrascos ditatoriais, mas ainda pululam por aí como vermes os carrascos da ideologia vesga, do proselitismo de fachada, do tudo pelo poder. E o brasileiro vai sentindo as dores de ser refém em plena democracia pelo governo que elegeu na esperança.

Os escravos da mediocridade


Nesses homens, imunes da paixão da verdade, supremo ideal a que pensadores e filósofos sacrificaram a sua vida, não cabem impulsos de perfeição. Suas inteligências são como as águas mortas: povoam-se de germes nocivos e acabam apodrecendo. Aquele que não cultiva a sua mente, vai direto no sentido da desagregação da sua personalidade. Não desbastar a própria ignorância, é como perecer em vida. As terras férteis tornam-se más, quando não são cultivadas; os espíritos rotineiros povoam-se de opiniões que os escravizam.
José Ingenieros

O papel do jornalismo na polêmica da xenofobia ideológica

As redes sociais não são a causa mas sim meras facilitadoras do discurso do ódio
Um debate sobre o ódio ideológico nas redes sociais recentemente realizado numa dependência da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul foi interrompido por um grupo de manifestantes porque o evento, do qual participavam vários jornalistas, foi promovido pela deputada estadual Manuela D’Ávila, do PC do B.

A suspensão do debate marcou o grande paradoxo da situação que estamos vivendo: oradicalismo e a xenofobia impediram a discussão sobre as causas e consequências da radicalização ideológica que tomou conta das redes sociais na internet e ameaça contaminar toda a sociedade.

As redes sociais são hoje a principal arena da batalha ideológica no Brasil, mas o problema não está na internet, ao contrário do que deixam transparecer muitos órgãos da imprensa e diversos formadores de opinião. A internet é apenas a plataforma na qual se expressam as tendências políticas e a xenofobia ideológica. O problema está nas pessoas, e não na plataforma por onde circulam as mensagens.

Jornais, revistas e telejornais jogam a responsabilidade sobre a internet tentando não assumir um papel proativo na questão que envolve toda a sociedade, pois as consequências de uma radicalização política serão sentidas por todos. As páginas noticiosas online adotam a tradicional atitude de “olhar para o outro lado”, tentando não se meter numa polêmica que envolve os seus usuários.

O problema é grave porque envolve questões conjunturais e estruturais. A margem de tolerância ideológica que caracterizou a politica nacional e a cobertura da imprensa entre 2002 e 2013 ( períodos Lula e primeiro governo Dilma) acabou em 2014 por conta da possibilidade de o Partido dos Trabalhadores ganhar a eleição presidencial de 2018, na mais longa dinastia partidária desde a redemocratização do país.

A conjuntura política criada pelo temor de um continuísmo do PT sacudiu a estrutura ideológica do país onde as diferenças sociais e políticas continuam tão profundas quanto a desigualdade econômica. O ambiente de tolerância evaporou-se quando o segmento conservador da sociedade brasileira se deu conta que o populismo reformista de Lula poderia entranhar-se na estrutura governamental do país.

A partir daí criaram-se as condições para que o discurso do ódio e da xenofobia ganhasse corpo tanto num lado como no outro do espectro político-ideológico. A imprensa acabou refém desta polarização. Ora participa dela apoiando um lado, ora lamenta, mas não examina as causas e consequências. Os poucos jornais e jornalistas que decidem tocar no problema acabam pagando o preço da radicalização. Começamos a reviver parcialmente o clima prévio e posterior ao golpe de 1964.

O ódio nas redes sociais é protagonizado por segmentos sociais que integram a mesma audiência de veículos como a televisão e o público leitor da imprensa escrita. A xenofobia aparece nas redes sociais porque o ambiente virtual facilita a manifestação do discurso do ódio ideológico. Mas a causa do fenômeno não está na internet, que é apenas um facilitador. Levado ao pé da letra, o problema poderia reviver a metáfora da eliminação do mensageiro para acabar com as más notícias.

As consequências também não serão restritas ao terreno cibernético. Todos nós acabaremos pagando a conta da radicalização, por meio de um eventual novo retrocesso na busca de uma justiça social no país. A imprensa e os jornalistas precisam tomar consciência de que o avanço da radicalização leva ao agravamento do impasse ideológico que, por sua vez, tende a gerar situações extremas, em que o jornalismo quase sempre é uma das primeiras vitimas. Não importa qual q plataforma em que ele é exercido, online ou offline.

Já foi assim em 1964, no Brasil. Acabou se repetindo na versão oposta, na Venezuela. A sobrevivência do que chamamos de jornalismo depende de que os profissionais assumam hoje o seu papel de patrulheiro (watchdog) da preservação de tolerância como condição essencial para a sobrevivência da profissão.

O episódio do debate em Porto Alegre mostrou que uma eventual tomada de posição de jornais e de jornalistas pode acabar sendo associada a um dos lados envolvidos na polarização ideológica. Este é o risco histórico de uma profissão que, aqui e no resto do mundo, sempre teve que enfrentar opções pouco confortáveis.

Governo, Petrobras e propaganda


Para cuidar da sua imagem, o governo do PT gasta perto de R$ 2,4 bilhões por ano, o equivalente a R$ 6,5 milhões por dia, em propagandas. Esse dinheiro falta na Saúde, Educação, Infraestrutura, mas sobe à razão de 15% ao ano para fazer propaganda.

É a quarta “empresa” que mais gasta no Brasil e só perde para Unilever (R$ 4,6 bilhões), Casas Bahia (R$ 3,4 bilhões) e Laboratório Genomma (R$ 2,5 bilhões), fabricante de produtos farmacêuticos e de beleza. A gigante AMBEV, por exemplo, gasta perto de R$ 1,8 bilhão por ano.

A grande diferença é que o governo gasta o dinheiro do nosso imposto nessa área, quando falta tudo em outras áreas prioritárias. Corta-se verba para tudo, menos para a manutenção de 39 ministérios com um gasto aproximado de R$ 60 bilhões por ano e sua máquina de propaganda para mostrar ao povo suas “conquistas”.

Enquanto isso, a inflação e o desemprego aumentam, as verdadeiras conquistas sociais diminuem e o povo não sabe o que fazer. Recentemente foi descoberto que a Petrobras tem 1.146 funcionários em sua área de comunicação. Desse total perto de 60% são terceirizados e trabalham dentro da própria empresa, com crachás especiais. Esse batalhão de funcionários era comandado desde o início do governo Lula pelo sindicalista Wilson Santarosa, indicado pelo PT, que foi demitido pela nova diretoria, após a saída de Graça Foster durante a Operação Lava Jato.

Esse pessoal não inclui os blogueiros, atores e cantores que a Petrobras compra com projetos culturais e verbas de publicidade. Para termos uma ideia, uma empresa do mesmo ramo de negócios, a Shell, fatura o triplo da estatal brasileira e tem menos de 50% de gente nessa área. A norueguesa Statoil fatura mais da metade da Petrobras com aproximadamente 170 pessoas na área de comunicação.

Esse quadro absurdo de pessoas nessa área gasta cerca de R$ 1,8 bilhão por ano. Esses números de funcionários e gastos não contam subsidiárias, como a Transpetro e BR Distribuidora. Se formos comparar com grandes empresas de outros ramos, a diferença fica ainda mais gritante: a Cia Vale, por exemplo, emprega perto de 35 funcionários nessa área, o Banco do Brasil tem, aproximadamente, 105 funcionários, e assim por diante.

Temos que passar esse País a limpo e mudar essa situação. Governo e empresas estatais são para servir o povo, trazer divisas para o País e não para cabide de empregos, desvios absurdos de dinheiro (vide Mensalão, Petrolão, etc..) e serviços de propaganda para mostrar um mundo de fantasias para o povo.

'Vai pra Cuba!' e o crime de PT-fobia

Todos já sabem que o tal “Humaniza Redes” é jogada de marketing saída da cabeça do João Santana. Ou assemelhado. Resulta em bem concebida forma de censura a todos que não amam o PT, o petismo, o governo petista, a presidente Dilma e o ex-presidente Lula. Portanto, é violência disfarçada. É a “criminalização” do antipetismo.

As organizações, personalidades e práticas políticas construídas em torno do partido da estrela, na cabeça dos que conceberam o Humaniza Redes, devem ser objeto de devoção e reverência nacional. Saudados com “Hasta la vitoria, siempre!”.


A expressão “Vai pra Cuba!”, aliás, tem sido apontada como sólido indício de ódio contra o PT. Entretanto, poucas coisas tão ansiosamente desejadas por qualquer petista, da base ao topo da pirâmide partidária, quanto uma excursão a Cuba. Viajar a Havana, com ou sem a companhia de Lula, já foi prêmio disputado pela militância. Toda visita à ilha de Fidel Castro constitui ato litúrgico, uma espécie de batismo de fogo simbólico. Encontro-me frequentemente, em debates, com muitos desses “compañeros” que estudaram por lá com aval do partido, ou que fazem peregrinações periódicas à ilha, de onde retornam como quem transpôs os umbrais do paraíso socialista.

Portanto, todo petista que se preze deveria responder a um “Vai pra Cuba!” com um “Se Deus quiser!”, principalmente porque a expressão poderia substituída por coisa muito mais desagradável e ofensiva, tipo “Vai pra Miami!” ou “Vai pra Nova Iorque!”. Mas isso sim, seria coisa de gente mal-humorada, intolerante, do tipo que se irrita com o Mensalão, o Petrolão, os sucessivos escândalos, as mordomias, as “pedaladas”, a irresponsabilidade fiscal, as mentiras e mistificações, as explicações esfarrapadas, a carestia, a inflação, o aumento de impostos e o crescente desemprego. Para ficar no que se sabe.

Ódio não é um sentimento que se deva cultivar. Por isso, sugiro um programa “Harmonize PT”, para acabar com a semeadura de ódio que o partido, há anos, semeia onde quer que a imaginação humana possa vislumbrar uma fissura em grupos sociais. Foi por esse caminho que o PT foi jogando os brasileiros uns contra os outros até darem conta do que estava acontecendo.

Mas se o ódio faz mal, tampouco seria benéfica e respeitável a passividade tolerante que o petismo apreciaria neste momento. O fiapo de democracia que nos resta está sustentado nos movimentos de rua e nas redes sociais porque as instituições, bem, as instituições estão com a vida ganha. E o país tem um governo petista com uma oposição tucana. Pode haver infortúnio maior?

Já vimos esse filme

A expressão “nova vida feliz” correu várias vezes. Ultimamente, caíra no goto do Ministério da Fartura.
(...) “Fabulosas estatísticas continuaram saindo da teletela. Em comparação com o ano anterior havia mais comida, mais roupas, mais casas, mais móveis, mais panelas, mais combustíveis, mas navios, mais helicópteros, mais livros, mais recém-nascidos – tudo aumentara, exceto a doença, o crime a loucura. Ano após ano, minuto após minuto, todo mundo, tudo, tudo o mais ganhava as alturas

George Orwell, "1984"

'Tenho ódio de política'

Descia no elevador de um prédio comercial no centro de Belo Horizonte. Na mesma viagem, estavam jovens que aparentavam ter entre 20 e 25 anos, falantes e risonhas. O ascensorista só olhava e ouvia, cuidando para que o trajeto consumisse o tempo suficiente para que ele se inteirasse do assunto das moças. Um monitor de TV no elevador expunha slides de propaganda e ainda trazia o ocorrido no dia. Eis que aparece a presidente Dilma falando sobre os cortes que sua tesoura operará no orçamento. De das jovens, em alto e bom som, partiu sua avaliação do momento da economia brasileira, com impressionante delicadeza: “essa vaca ainda vai tomar meu emprego; por isso que eu detesto política”. Essa é a dimensão que o cidadão comum tem do momento brasileiro. Importam o emprego, o vale-transporte, a mensalidade da escola, o aluguel ou a prestação da Caixa, a compra do supermercado, o consórcio da moto ou do carro, a escova progressiva, a balada no fim de semana. É justo. 

O cidadão é a primeira parada do arrocho. É ele que está na linha de tiro, que vai pagar pela irresponsabilidade do gestor público que corrompe, que inverte as opções, que troca a nomeação de parentes-assessores por cargos necessários para que a educação, a saúde, a segurança aconteçam como uma prestação obrigatória do Estado. É ele que pagará a conta se o seu prefeito preferir custear, com milhões de reais, uma escola de samba do Rio. Tudo para que leve o nome do município no próximo Carnaval. Enquanto isso, na mesma cidade, faltam medicamentos nos postos de saúde, falta merenda nas escolas e as contas da prefeitura seguem atrasadas, definhando servidores e fornecedores. Isso não é apenas uma suposição. É fato e foi cogitado numa cidade da Grande Belo Horizonte. O assunto, mesmo polêmico, não está sepultado. Pode acontecer. O cidadão paga também a farra das câmaras municipais, com vereadores sentados em gabinetes inchados de apadrinhados, inservíveis quase todos.

Os legislativos pontualmente decotam do orçamento de todos os municípios até 5% de suas receitas líquidas para custear essa orgia. As assembleias estaduais, a Câmara dos Deputados e o Senado têm o mesmo tratamento: chova ou faça sol, receberão sempre sua grana, terão abastecidos seus carros, pagas todas as verbas parlamentares, de gasolina à moradia, passando pela contratação de assessores que lá nunca vão.

Esse mesmo cidadão – que tem ódio de política – paga com sua omissão, permitindo que tudo isso ocorra e nunca mude. A política, gostemos ou não, é o único espaço onde pode o cidadão discutir o seu trabalho, pode brigar pela construção de políticas públicas, pode exigir a contraprestação do poder público aos impostos que se arrecadam. Não participar, escolher mal, ter ódio de política é o caminho natural para se chegar a lugar nenhum. É preciso mudar o destino dessa viagem.