terça-feira, 12 de maio de 2015

É preciso punir os generais do exército em retirada


Uma das manobras mais difíceis de se executar, por parte de um grande exército, é a retirada. Ceder território é desmoralizante e passa o sentimento psicológico de que a derrota se aproxima. Mas, independentemente dessa situação ser constrangedora, um bom general precisa garantir que seus exércitos consigam se reagrupar, ganhando condições operacionais para enfrentar as próximas batalhas.

Ao realizar a manobra de retirada, é costumeiro que o exército em recuo deixe, no caminho, uma parcela de suas tropas com a função de obrigar o inimigo a perder algum tempo enfrentando-as. Assim, quem se retira troca espaço por tempo, conseguindo as condições para se reorganizar e melhor poder defender suas posições, a seguir.

Observe-se o que aconteceu com Graça Foster, presidente da Petrobras: ela foi submetida a um desgaste desumano, nesse último ano. Enquanto ficava evidente que a Petrobras teve seus recursos dilapidados e foi literalmente implodida em nome dos interesses do partido que se apoderou da máquina de governo, Graça Foster atraiu o fogo da bateria do exército da oposição, enquanto o ex-presidente da empresa, o ex-presidente da República e a liderança partidária do PT ganharam um tempo precioso que lhes permitiu vencer a eleição presidencial e se organizarem para o grande embate judicial que se aproxima.

Como “tropa retardadora”, Graça Foster (além de um grupo de diretores da Petrobras), deu o melhor de si, sacrificando-se com ardor missionário – sabe-se lá por quê– em benefício de Lula da Silva e de Dilma Rousseff.

Diante desses fatos, observa-se que o exército da oposição não pode esquecer que é necessário levar à rendição quem assinou o contrato que levou a Petrobras a perder mais de um bilhão de reais com a Refinaria de Pasadena. E quem assinou esse contrato foi o Conselho da empresa, dirigido – na época – por Dilma Rousseff.

Deve ser levado ao tribunal de crimes de guerra o camarada que fez o acordo com a Venezuela para se construir a Refinaria Abreu e Lima, o que levou a um prejuízo de aproximadamente 20 bilhões de dólares. E quem realizou esse acordo foi Lula da Silva.

Deve ser levado à rendição quem doou petróleo para a Venezuela (no período da crise que quase derrubou Hugo Chávez. E quem fez isso foi Lula da Silva.

Precisa ser derrotado quem alterou o contrato de exploração das jazidas de petróleo, criando o sistema de partilha que exaure os recursos da Petrobras. É necessário levar à rendição quem resolveu combater a inflação mantendo congelado os preços dos combustíveis fósseis, destruindo o equilíbrio financeiro da Petrobras.

E, para não perder a viagem, a oposição deve levar às barras dos tribunais, quem destruiu o equilíbrio das empresas que produzem energia elétrica. E também quem entregou os recursos do BNDES – com juros subsidiados – para algumas empresas que, posteriormente, faliram.

A oposição também precisa punir (sempre dentro da lei) quem doou dinheiro para se construir um porto, em Cuba, e uma linha de metrô, na Venezuela, com os recursos do contribuinte brasileiro, enquanto há tantas deficiências de infraestrutura em nosso próprio país.

Graça Foster é desimportante: o que interessa é penalizar os mandantes. Trata-se de capturar os generais desse exército em retirada.

Marx e Engels serão reconhecidos como benfeitores da humanidade

É impressionante como o mundo evolui tecnologicamente numa velocidade assustadora, mas politicamente se mantém estagnado. As discussões sobre capitalismo e comunismo já deveriam estar totalmente sepultadas, mas continuam despertando emoções, como se ainda estivéssemos em meados do século XX, em plena guerra fria. Chega a ser patético.

A evolução da humanidade atingiu tal ponto que hoje a discussão política precisa ser travada em outros moldes, mais consentâneos com a realidade da vida, sem essa conversa fiada de direita e esquerda, porque está mais do que provado que capitalismo e comunismo, em suas concepções originais, já estão completamente superados.

A teoria de Karl Marx e Friedrich Engels, concebida em 1848, provocou uma revolução intelectual e se transformou num marco na História da Humanidade. Quase dois séculos depois, é preciso entender que a principal consequência do Manifesto do Partido Comunista não foi a difusão da possibilidade de haver um regime político-administrativo mais humano, justo e igualitário. O resultado mais notável da genialidade de Marx e Engels seria outro, que eles jamais haviam imaginado — a evolução do capitalismo rumo ao Estado de Bem-Estar Social (Welfare State).

Na prática, depois da Revolução Russa, foi a ameaça do comunismo se espalhar pelo mundo que obrigou o capitalismo a ir progressivamente se reciclando, com abrandamento da exploração do homem pelo homem que Marx e Engels tanto denunciaram. Pouco a pouco, os países ocidentais mais desenvolvidos foram aperfeiçoando os direitos trabalhistas e as regras de amparo social, com adoção de salário mínimo, férias, assistência médica aos carentes, educação pública, aposentadoria e pensão.

Embora muitas nações continuem vivendo em condições medievais e a metade dos 7 bilhões de habitantes do planeta ainda esteja em situação de abandono, com dificuldades de sobrevivência, não há dúvida de que o capitalismo já teve uma evolução verdadeiramente extraordinária e a Humanidade conseguiu esboçar um regime político-administrativo que no momento pode ser considerado ideal, adotado na Escandinávia e que tende a ser aceito universalmente.

Portanto, o que se deve debater hoje, no Brasil, é a forma de evoluirmos para atingir o estágio político-administrativo dos países nórdicos, que estão no ápice das estatísticas em termos de qualidade de vida (IDH – Índice de Desenvolvimento Humano), estabilidade econômica, educação pública, assistência médica e justiça social.

Este é o grande desafio, porque o Brasil ainda está muito longe do patamar alcançado pelos escandinavos, que conseguiram um fabuloso progresso econômico e social,apesar de viverem sob condições climáticas adversas. Nos países nórdicos, as instituições públicas e privadas convivem em harmonia, a livre iniciativa é respeitada, os três poderes funcionam, a ninguém é dado o direito de enriquecer na política ou na administração pública, não existe abismo entre o menor e o maior salário, essas nações não estão dominadas pelo sistema financeiro.

É claro que os escandinavos não atingiram a perfeição. Uma das falhas ainda existentes, por exemplo, é a assistência médica de qualidade inferior para quem não possui plano de saúde. Outro problema é a necessidade de aprimorar a educação pública. Mas isso é fácil de resolver, e fica evidente que os próximos passos serão a universalização do atendimento médico-hospitalar e a garantia de um ensino gratuito de qualidade para todas as crianças e jovens.

Marx e Engels jamais poderiam imaginar que houvesse esta maravilhosa evolução do sistema capitalista, assim como nem desconfiavam que a adaptação de suas ideias acabaria provocando esses importantes avanços, que um dia o Brasil haverá de alcançar, para felicidade de nossos filhos, netos e bisnetos.

Agora, discutir capitalismo e comunismo nos dias de hoje, francamente, é uma tremenda perda de tempo.

Que Estado é esse de justiça?

Tá tudo dominado. Perdeu, cidadão. Fachin ou não Fachin é a questão do momento. O Brasil fica de repente envolvido pela campanha, descaradamente é uma campanha, de candidatura de Luiz Fachin para o Supremo Tribunal Federal. Nunca antes neste país se viu esse descaramento de se apelar para as redes sociais, com página criada pelo PT, a fim de se conseguir a aprovação de um nome para a corte mais importante do país.

Assiste-se verdadeiramente a uma corrida partidária em defesa de um nome indicado pela presidente Dilma com a maior naturalidade.

Como não importam os meios, o PT é o grande patrocinador da página nas redes para pressionar os senadores a fim de Fachin se tornar mais um juiz petista no STF.

Aparelhamento descarado da Justiça que não causa, pasme-se, nenhum rubor nas faces do meritíssimo. Para o futuro juiz do STF, sua página de apoio contar com o líder de criação do PT/Dilma e da Agência PT de Notícias é de uma exemplar naturalidade.

Estamos à beira de contar com um membro no STF que trata com naturalidade ser o juiz partidário, depois de nomeados os simpatizantes.

É um escracho com a justiça num país que tem mais de 200 juízes ameaçados de morte não apenas por marginais e organizações criminosas, mas também por grupos de políticos corruptos. Quando o judiciário vive sob ameaça da bandidagem, se assiste de arquibancada um juiz recorrer a redes sociais para passar na sabatina do Senado.

Perdeu Brasil. A justiça aqui se escreve como o PT quer. Um perigo para o Estado de Direito à beira de se tornar um Estado Partidário.

Conselho

O PCdoB celebra um genocida

Com a desculpa de celebrar um capítulo da vitória dos Aliados contra a Alemanha nazista, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) fez uma verdadeira homenagem ao genocida Josef Stálin, responsável pela morte de mais de 60 milhões de seres humanos.

O PCdoB publicou em seu site o editorial “Em 9 de maio, os 70 anos da gloriosa vitória de um ideal”, no qual confunde propositalmente a derrota dos nazistas com “a vitória do ideal comunista”, uma falsificação da História que lembra as profecias de Orwell:

“O 9 de maio representa a derrocada da ideologia mais reacionária, terrorista e criminosa que o capitalismo produziu, o nazi-fascismo[…] Marca também uma retumbante vitória dos povos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e do movimento comunista internacional, indubitavelmente os principais protagonistas da luta antifascista.”
Stalin_and_Hitler

Os falsificadores da História que escreveram a frase mentirosa acima certamente querem nos fazer esquecer o pacto Nazi-Soviético, assinado agosto de 1939 pelo camarada Stálin e Adolf Hitler, dois adoradores do Estado forte, intervencionista e autoritário.

O pacto celebrado entre Stálin e Hitler proibia agressões mútuas, vetava alianças com inimigos dos signatários e determinava que possíveis discordâncias fossem resolvidas com uma “amigável troca de opiniões”. Ou seja, nazistas e comunistas estiveram no mesmo barco.

Com a eminente deflagração da guerra, Stálin e Hitler queriam partilhar as conquistas entre eles, criando duas grandes esferas de influência, uma alemã, outra soviética. A Polônia, rasgada em duas na altura do rio Bug, seria apenas o primeiro prêmio a ser dividido.

Mas esta bonita história de amor entre nazistas e comunistas terminou abruptamente em junho de 1941, quando a Alemanha, sem prévio aviso, invadiu o território soviético. Foi então que Stálin decidiu se travestir de antifascista e lutar ao lado dos capitalistas burgueses.

O editorial do PCdoB é tão mentiroso que vende um passado surreal no qual a verdadeira guerra foi travada entre comunistas e anticomunistas, ignorando o fato de que Hitler, Mussolini e Stálin se admiravam mutuamente e odiavam a democracia liberal.

Os falsificadores do PCdoB apresentam um Stálin bondoso e libertador que seria exatamente o oposto do malvado e tirano Hitler:

Na arena internacional, Stálin tentou incansavelmente estabelecer alianças militares contra o nazismo, especialmente com a Inglaterra e a França, sempre recusadas, pois havia o desejo secreto de que Hitler derrotasse os comunistas soviéticos.

O historiador Timothy Snyder lembra que havia mais semelhanças do que diferenças entre nazistas e comunistas. Na verdade, eram dois impérios totalitários da Europa mantidos pela escravização de povos inteiros, coletivizações e, é claro, genocídio:

“Hitler e Stálin dividiam certa estratégia de tirania: eles causavam catástrofes, culpavam o inimigo de ocasião e depois usavam as mortes de milhões para alegar que seus atos eram necessários. Os dois tinham utopias transformadoras, um grupo para culpar quando suas realizações se provavam impossíveis e uma estratégia de assassinato em massa que podia ser proclamada como uma vitória ersatz (falsa)”

Os nazistas mataram milhões de judeus; os comunistas mataram de fome milhões de ucranianos. Calcula-se que 3,3 milhões morreram de inanição na Ucrânia dominada pelos soviéticos, na fome de 1993 que se seguiu à coletivização destrutiva de Stálin.

Snyder ainda lembra os cerca de 250 mil cidadãos soviéticos, predominantemente poloneses, mortos devido à sua origem étnica entre 1937 e 1938. Às vezes, a polícia pegava nomes poloneses de guias telefônicos, ou fazia prisões em massa em igrejas polonesas.

O camarada Stálin foi também responsável pela morte de cerca de 700 mil bolcheviques e militares nos chamados Processos de Moscou, no qual a maioria das “confissões” era obtida por meio de tortura. Matou, torturou e fez desaparecer seus adversários no partido.

Stálin é celebrado pelo partido de Jandira Feghali, que recentemente literalmente tentou calar o senador Roberto Freire e, com a reação dele, fez um escândalo como se fosse uma vítima de stanilistas.

Stálin é herói do partido de Manuela D’ávila, a patricinha comunista que adora passear em Nova Iorque, o coração do imperialismo ianque.

Stálin, enfim, é a figura de louvor do PCdoB, o mais fiel e antigo aliado do PT, aquele partido que quer "humanizar as redes" e "democratizar a mídia".

Thiago Cortês
ATUALIZAÇÃO: Após centenas de mensagens negativas em sua fanpage, o PCdoB retirou a postagem com o texto do editorial supracitado e a foto de Josef Stálin. Mas o texto continua no site do partido.

Escudos sem sentido

Lenda antiga, citada por autor latino do século 13 a.C., cujo nome segundo alguns historiadores era Panfilus, segundo outros era pseudônimo de um cara chamado Porfirus, nascido em Siracusa. A lenda garante que em Creta fora criado o primeiro sinal de trânsito do mundo.

Um preboste riquíssimo mandou fazer um escudo com as cores auriverdes e um símbolo que parecia o pênis ereto de um anão apontando o caminho do único lupanar daquela ilha no Mediterrâneo.

O falo era uma indicação. Marinheiros de todas as cidades costeiras ao Mediterrâneo faziam fila diante do tal lupanar, e para evitar que batessem em sua porta, o preboste mandou fazer o escudo para indicar o caminho da casa onde os visitantes pudessem saciar o desejo daqueles que passaram meses no mar.
Em Pompeia, sepultada pelas cinzas e fogo vomitadas do Vesúvio, havia também a sinalização mais simples, sem escudo mesmo, apenas com o falo monumental de um gigante.

Este início erudito de crônica tem um sentido. No escudo oficial do Brasil há uma folha de café e outra de tabaco, que hoje sofre bem nutrida campanha contra o câncer. Pior é o escudo do Rio de Janeiro, onde aparecem dois golfinhos que eram abundantes na baía de Guanabara. A medonha poluição de suas águas chega a ameaçar a realização das Olimpíadas no próximo ano.

Pompeia não existe mais, foi sepultada pelo Vesúvio em 79 d.C., restam apenas os corpos calcinados de seus habitantes surpreendidos em suas tarefas comuns. Há até um casal transando, não há registro confiável se antes, durante ou depois do orgasmo. Mas Pompeia resiste, ao contrário do tabaco proibido e dos golfinhos que deram no pé, deixando a cidade com seu escudo sem sentido.

O urubu



A José Alcides Pinto

Plana pleno sobre a praia
deserta.
Dunas aparam nas costas
a sombra vigilante de seu voo.

Heráldico
espia do alto as horas tombando
sobre a eternidade dos
elementos.

Negro
parceiro do sol recolhe na
areia
(qual poeta de asas pensas)
o podre
do tempo.
Adriano Espínola

A intervenção de Dilma na queda de Lugo

O livro dos jornalistas uruguaios Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz revela que a presidente Dilma Rousseff interveio diretamente para punir o Paraguai depois que o congresso do país votou pelo impeachment do presidente Fernando Lugo, em 22 de junho de 2012. "Uma Ovelha Negra no Poder", sobre o ex-presidente do Uruguai José Mujica, é a mesma obra que revelou confidências do presidente Lula sobre o mensalão.

O trecho do livro foi publicado no semanário Busqueda, do qual Danza, um dos autores da obra, é diretor de redação:
Quando Lugo foi destituído pelo Senado paraguaio e antes que se celebrasse a cúpula do Mercosul para resolver as sanções, uma das pessoas de maior confiança de Mujica recebeu uma chamada de Marco Aurelio García, mão direita de Dilma.
"Dilma quer transmitir uma mensagem muito importante para o presidente Mujica", disse o funcionário brasileiro em uma mistura de português e espanhol.
"Não tem problema, vamos estabelecer uma comunicação entre os dois presidentes", foi a resposta do uruguaio.
"Não, não pode haver comunicação nem por telefone, nem por email. É pessoalmente", argumentou o brasileiro.
Um encontro tão fugaz e repentino entre presidentes levantaria suspeitas, motivo pelo qual o governo brasileiro resolveu enviar um avião a Montevidéu para transportar o emissário de Mujica à residência de Dilma, em Brasília.
 Assim foi feito, e quando uruguaio chegou, Dilma estava lhe esperando em seu escritório. A conversa formal sobre questões gerais durou apenas poucos minutos porque não havia muito tempo.
"Vamos ao que interessa", interrompeu Dilma e o emissário tomou uma caderneta e começou a anotar o que a presidente brasileira informava. "Sem anotações", disse ela e fez com que ele rasgasse o papel. "Esta reunião nunca existiu".
Durante a conversa, Dilma mostrou a ele fotos, gravações e informes dos serviços de inteligência brasileiros, venezuelanos e cubanos, que registravam como foi gestado um "golpe de estado" contra Lugo por um grupo de "mafiosos" que, a partir da queda do presidente, assumiram o poder. "O Brasil necessita que o Paraguai fique de fora do Mercosul para, dessa forma, acelerar as eleições no país", concluiu Dilma.
Na semana seguinte, no início do julho de 2012, todos os presidentes do Mercosul votavam, em uma cúpula na cidade argentina de Mendoza, a suspensão do Paraguai.
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O Chile de Bachelet, uma lição para Dilma Rousseff?

Até quando a presidenta do Brasil vai resistir a tomar uma decisão, pelo menos simbólica, mostrando que aceita com humildade que o país está em crise e irritado?
Chile e Brasil se pareciam muito dentro do continente latino-americano. Ambos os países manifestavam orgulho em se sentir moralmente superiores aos outros e de ter criado um milagre econômico, como destacou neste jornal John Carlin.

Os dois países estão governados por duas mulheres de valor, ambas de esquerda. O pai de Michelle Bachelet foi assassinado pela ditadura do general Pinochet e Dilma Rousseff foi torturada durante outra ditadura militar. Hoje, ambos os países e Governos e suas duas mandatárias vivem momentos de baixa, fustigados por uma grave crise política, econômica e ética. Já não podem se apresentar no continente como líderes da mudança. A popularidade das duas presidentas despencou do céu ao inferno. A de Rousseff, muito mais do que a de Bachelet.

Acusadas de não reagir diante da queda da confiança de seus respectivos eleitores, ambas tentando minimizar uma crise que as pesquisas revelavam com evidência, Bachelet acabou tomando uma decisão drástica como resposta aos protestos populares: substituir todo o Governo e anunciar que o Chile terá um novo ministério em um prazo de 74 horas.

E Dilma? Os últimos eventos mostram um Congresso no qual sua maioria se desgasta a cada hora, ao mesmo tempo em que a presidenta se vê obrigada a isolar-se e a proteger-se da rua por medo de ser criticada. Tudo isso somado a um partido que põe obstáculos às suas medidas de ajuste e a uma opinião pública que continua gritando “Fora Dilma” e “Fora PT”, um partido que é recebido com panelaços em vários Estados durante seu programa transmitido em cadeia nacional na TV, apesar de ter sido protagonizado pelo carismático ex-presidente Lula, diante da ausência da presidenta.

Se as crises nunca são iguais, não resta dúvida que as vividas pelo Chile e pelo Brasil, protagonizadas por dois Governos de esquerda e progressistas, parecem reflexos uma da outra. Assim como Bachelet tentou fazer em vão —acusada de ser lenta em suas reações frente à crise—, Dilma continua na ilusão de negar a crise, classificando-a de “passageira”, sem entender o sentimento das ruas, cada vez mais crítico contra ela e seu partido.

A mandatária chilena rendeu-se e passou uma rasteira em seu Governo para começar de novo. Talvez isso não seja suficiente, mas é um gesto com o qual tenta dizer à opinião pública que entendeu o motivo pelo qual perdeu a confiança dos eleitores. Até quando Dilma vai resistir a tomar uma decisão, pelo menos simbólica, mostrando que aceita com humildade que o país está em crise e irritado, à espera de algo que resgate sua confiança?

Em entrevista recente ao jornalista Roberto D'Ávila na Globo News, o senador do PSDB José Serra afirmou que o problema do Brasil não é apenas a corrupção ou a economia, mas sobretudo a fragilidade do Governo Dilma. “É um Governo fraco”, afirmou. Tão fraco que, como demonstra diariamente, açoitado e humilhado pelo Congresso Nacional, perdeu sua iniciativa diante da crise.

Dilma, em um gesto de Pilatos, lavou as mãos frente à crise terceirizando suas duas maiores responsabilidades: a econômica, nas mãos de Joaquim Levy, mais próximo da visão liberal da oposição do que da sua; e a política, ao aliado PMDB, na figura de seu vice-presidente Michel Temer, do partido que hoje já é de clara oposição no Parlamento.

Será suficiente para Dilma lavar as mãos para recuperar a confiança perdida dos 54 milhões de brasileiros que a reelegeram nas urnas? Ou necessitaria fazer, como no caso chileno, um gesto de ruptura? Um reconhecimento de que a gestão econômica de seu primeiro mandato foi equivocada e que provocou uma crise que a obriga a fazer ajustes que afetarão os trabalhadores e os mais pobres. Reconhecerá que a crise da Petrobras, uma empresa que esteve tantos anos sob seus cuidados, não foi apenas ética, mas também de má gestão e de falcatruas de políticos e de executivos sem escrúpulos, seus aliados, que transformaram a companhia no quintal de sua própria casa?

Quando os brasileiros gritam nas ruas “Fora Dilma”, talvez estejam esperando, pelo menos, um gesto inequívoco dizendo que a presidenta entendeu a crise e está disposta a enfrentá-la. Não enterrando a cabeça, nem terceirizando, mas oferecendo uma medida radical como a de Bachelet.