segunda-feira, 27 de abril de 2015

Vai acabar dando bode

Sem solução, a presença ostensiva do bode proverbial no dia a dia nunca acaba bem. Traz confusão, gera complicação, atrai encrenca, perturba a ordem

Capra aegagrus ou capra hircus. Segundo a Wikipédia, estes são os nomes oficiais do animal que, recentemente, parece estar na moda. Para os mais íntimos se referem a ele como bode.


O proverbial bode tem habitado assiduamente salas de todo tipo. E tem funcionado. Uma vez no recinto, o bode trata de criar artificialmente problemas que desviam a atenção sobre o problema mais difícil e para o qual não se quer dar solução. E funciona.

O fato é que, reduzir as expectativas a simples expulsão do caprino torna a solução simples, rápida e errada. Mas o fato de a solução ser mais simples, não implica que os efeitos de longo prazo sejam desprezíveis.

Talvez o pior efeito do bode na sala seja a redução das expectativas e ambições. Com o bode na sala, os objetivos são modestos, medíocres ou simplesmente desimportantes. O que seria normal, enfim, é comemorado como grande vitória. É desta maneira que o povo que vaia até minuto de silencio agora comemora até publicação de balanço.

Mas embora o bode não tenha causado o problema, é natural que os poderosos de plantão queiram sempre eliminar as próprias culpas. E, para isso, o nosso proverbial caprino é sempre o candidato de plantão. Fabricar bodes expiratórios não requer sacrifício ou esforço. Basta flexionar o dedo indicador. O bode expiatório preferido nos últimos anos, não parece ter nome definido. São apenas “eles”. E, dizem, faz parte da elite.

Nestes dias em que, parece, o piloto sumiu, tudo parece se resumir ao aperto do cinto. Ficar zangado, de cara amarrada, mal-humorado é normal. Amarrar o bode é esperado, mas não resolve. O bode, coitado, não tem nada a ver com isso.

Mesmo sabendo que para quem gosta, catinga de bode é perfume, convém não abusar. Existe um limite parar bodes na sala e bodes expiratórios. Paciência tem limite. E enganação tem preço.

Sem solução, a presença ostensiva do bode proverbial no dia a dia nunca acaba bem. Traz confusão, gera complicação, atrai encrenca, perturba a ordem. Dá bode, enfim.

Mensagem dos 'ratos'

A gente não quer ser rato, que foge do porão do navio quando entra a primeira água, mas também não queremos ser o comandante do Titanic que ficou no barco até ele afundar
Carlos Lupi, ex-ministro de Lula e Dilma, presidente nacional do PDT, faxinado por suspeitas de irregularidades no último mandado

Balanço, mas não caio



O panorama em torno do fosso moral e financeiro da Petrobras não é alentador
O balanço da Petrobras, a “joia” das estatais brasileiras, é uma confissão pública da abissal incompetência da presidente Dilma Rousseff. Bastaram dois anos, 2013 e 2014, para que 23 anos de lucros e distribuição de dividendos da Petrobras fossem abortados pela mãe do PAE (Programa de Aceleração do Endividamento). O lucro de R$ 23,6 bilhões virou prejuízo de R$ 21,6 bilhões. Os desvios das propinas foram de R$ 6,2 bilhões. A desvalorização de ativos da Petrobras chegou a R$ 44,6 bilhões. Perdão pelo enfileiramento de bilhões que nenhum de nós consegue sequer visualizar. Mas a divulgação do balanço foi tão elogiada como início de um novo ciclo de transparência e profissionalização da Petrobras que os números precisam ser trombeteados.

Dilma Vana Rousseff não concluiu os cursos de mestrado e doutorado em ciências econômicas na Unicamp, apesar de constarem em seu currículo (ela já admitiu o erro). Mas sua vida foi pautada por números. Seu primeiro cargo executivo foi como secretária municipal da Fazenda em Porto Alegre, em 1985, há 30 anos. Ao deixar a Secretaria, em 1988, tentou convencer seu substituto a não assumir o cargo: “Não assume não, que isso pode manchar tua biografia. Eu não consigo controlar esses loucos e estou saindo antes que manche a minha”.

Dilma começou a escalar o setor de Minas e Energia. Foi dona da Pasta no ministério de Lula. E presidiu o Conselho de Administração da Petrobras até 2010, quando se elegeu presidente. Seu fiador era Lula. Ela foi a escolhida com base nos seguintes quesitos: era especialista em energia, eficiente como “gerentona” (gerente durona), mulher e mãe. Sua escolha não contou com o apoio do Partido. Dilma foi imposta por Lula. Era considerada um poste. E um poste sem luz própria, sem flexibilidade, sem gosto pela conversa e sem dom de oratória. Por tudo isso, Dilma é hoje presa fácil dos políticos profissionais, que fazem dela gato e sapato.

O balanço da Petrobras revela o imenso desastre de uma presidente perdida em seu primeiro mandato e, mais ainda, no segundo. Percebam que não dá para aceitar sem ressalvas o balanço divulgado. Quem diz que a propina foi de “apenas” R$ 6,2 bilhões? Ah, os delatores, que confessaram uma percentagem tal sobre os contratos. Quem diz que o prejuízo foi de “apenas” R$ 21,6 bilhões em 2014? Ah sim, o balanço foi auditado.

O balanço não foi aprovado por unanimidade. Dois dos cinco conselheiros fiscais não assinaram o documento. Eles representam acionistas minoritários e trabalhadores. Só para refrescar a memória, a ex-presidente da Petrobras, Graça Foster, caiu porque havia calculado a perda total da Petrobras em R$ 88,6 bilhões, o dobro do que foi admitido agora, de R$ 44,6 bilhões. Graça – ou “Graciosa”, o apelido dado pela chefe – era, segundo o staff do Palácio da Alvorada, a única assessora que podia dormir na residência oficial de Dilma quando ia a Brasília. Caiu em desgraça por querer divulgar números mais catastróficos que os revelados agora. Por que, então, eu ou você devemos crer no balanço?

Devemos crer porque queremos que o Brasil passe a dar certo. O brasileiro não quer perder o otimismo, quer ver uma luz no fim do túnel. Mesmo que a reconstrução leve anos. Essa é uma boa razão. Mas não é alentador o panorama em torno do fosso moral e financeiro da Petrobras. O novo presidente, Aldemir Bendine, pede desculpas e se diz envergonhado pelo que encontrou na estatal. Desmandos, corrupção, roubalheira, péssimas decisões de investimento, interferência política. Só que Bendine acabou de entrar. Ele não tem nada a ver com isso. E Dilma? E Lula? Nada, nada mesmo?

Precisamos crer na boa intenção de Dilma. Ela não quer ficar na História como a pior presidente do Brasil. Suas ações são, no entanto, claudicantes. Típicas de alguém que não sabe mais o que fazer. Dilma insiste em manter 38 ministérios. Isso não tem desculpa, não tem perdão. Ela está paralisada. Com receio de retaliação do Congresso, Dilma triplicou o Fundo Partidário para R$ 868 milhões neste ano, a pedido do senador Romero Jucá, do PMDB. As raposas esfomeadas do Congresso querem compensar a perda de doações empresariais. O presidente do Senado, Renan Calheiros, tirou proveito para alfinetar sua ex-amiga Dilma. Criticou-a por esbanjar em momento de ajuste. Ela tentou se defender. Disse ter cedido a um apelo do Legislativo. Tá ruço, Dilma. Não é mais “ou dá ou desce”. É “dá e desce”. Por tudo isso, pela carestia da vida e pelas mentiras desmascaradas, as panelas fazem estardalhaço nas janelas. Não é só pela Petrobras.

A cultura e a corrupção


Qualquer um pode ser bom no campo. Lá não há tentações. É por isso que as pessoas que não vivem na cidade são tão terrivelmente bárbaras. A civilização não é de modo nenhum uma coisa fácil de atingir. Há duas maneiras de um homem a alcançar. Uma é pela cultura e outra é pela corrupção. As pessoas do campo não têm qualquer oportunidade de praticar nenhuma delas e, por conseguinte, estagnam
Oscar Wilde (1854 - 1900) , "O Retrato de Dorian Gray"

Venderam a esperança


A gente era feliz e não sabia. O clichê velho serve ainda, e muito, para pensarmos o quanto perdemos de nossa felicidade, de nossa confiança, de nossa esperança pelo caminho. Ou mais precisamente nos últimos 13 anos, de número aziago.

No tempo em que nenhuma vovó mentia – hoje mente descarada e publicamente em rede – também se era mais pobre, nunca pobre de faixa eleitoral. Tudo pão-pão, queijo-queijo.

Mas o melhor naqueles tempos era sonhar com o milhão da loteria. O país parava para acompanhar o sorteio das bolinhas. As acumuladas levavam multidões às filas. Quem seria o próximo milionário? Como eram esperados os jogos do fim de semana e o sorteio dos números em cadeia nacional!

Bons tempos em que se pagava para ver, quando agora se paga e não se vê. O dinheirinho era suado e sempre dava para uma fezinha. Tudo pouco para um país que vivia de sonhos e de esperança. Disse-nos adeus.

Espera-se hoje, ao acordar, o próximo escândalo, o número bilionário do roubo, a falcatrua político-governamental mais inovadora, o mais recente nome no extenso prontuário de corruptos e o novo vigarista no rolo higiênico.

Se antes um roubo de milhão era de assustar, ninguém mais se espanta. Vacinados, assistimos às cifras bilionárias dos assaltos públicos, à dilapidação do patrimônio de todos.

Em nome de um projeto político canalha, se rouba, se faz maracutaia, se empanzinam os bolsos da pilantragem generalizada.

Venderam a esperança e a confiança e ainda posam de bons moços e moças que mais poderiam bem servir a um lupanar, porque depois do que fizeram não merecem respeito. Querem agora sair com o bolso cheio e um atestado de vítimas, impecavelmente puras. São mais dignos de achincalhe, enquanto não lhes chega a hora da condenação.

Se vivemos, injustamente, um período de presos políticos, que cometeram o “crime” de lutar contra a ditadura, vivermos agora legalmente sob um regime de políticos presos, que roubam na cara de pau e ainda agraciados com pompas e medalhas de heróis.

Eu só troco a nossa história por uma melhor

Eu só troco a nossa história por uma melhor.
Por um bando de pássaros que nunca abandone o voo,
Por um jardim onde não morram flores,
Por uma lua que nunca mude de tamanho.
Eu já disse que não troco a nossa história por mais nenhuma?
Talvez a troque por um bonsai no lugar do coração.
Para cuidar com arte. Distraidamente.

Marta Vaz

Jornais, papel insubstituível

Perdemos a capacidade de sonhar e a coragem de investir em pautas criativas. Há espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo


A Operação Lava Jato avança. A prisão preventiva de João Vaccari Neto, o segundo tesoureiro do PT a parar atrás das grades, aproxima o lodaçal do padrinho de Dilma Rousseff e do núcleo duro do partido. Não é um preso qualquer. Ele sabe das coisas. Conhece o PT e o ex-presidente Lula por dentro.

A Operação Lava Jato é o resultado direto da solidez institucional da nossa democracia. É o lado bom da história. É consequência do insubstituível trabalho da imprensa independente e de qualidade. Todos são capazes de intuir que a informação tem sido a pedra de toque do processo de moralização dos nossos costumes políticos.

A mídia, festejada pela unanimidade nacional, necessita fazer um balanço honesto, precisa ter a coragem de também promover a sua CPI interna. De algum tempo para cá, setores da grande imprensa manifestam preocupante ambiguidade ética. O que é sensacionalismo barato numa publicação popular é informação de comportamento nas respeitáveis páginas de alguns veículos da chamada grande imprensa. O que interessa não é a informação. O que importa é chocar. Ao tentar disputar espaço com o mundo do entretenimento, alguns setores da imprensa estão entrando num perigoso processo de autofagia. Esquecem que a frivolidade não é a melhor companheira para a viagem da qualidade.

Ao atribuírem à televisão e à internet a responsabilidade pela perda de audiência, partiram, num erro estratégico, para um perigoso empenho de imitação. A força da imagem, indiscutível e evidente, gerou um perverso complexo de inferioridade em algumas redações. Perdemos a capacidade de sonhar e a coragem de investir em pautas criativas. Há espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo.

Na outra ponta do problema, estão as recaídas no anacronismo do engajamento informativo. A neutralidade não é sinal de bom jornalismo. É, frequentemente, sintoma de covardia editorial. Mas a isenção, árdua e difícil, é uma meta que deve ser perseguida. A batalha da imparcialidade enfrenta a sabotagem da manipulação, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. A apuração aparente é uma das maiores agressões à imprensa de qualidade. Matérias previamente decididas em guetos engajados buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não se apóia na busca da verdade, mas num artifício para transmitir um simulacro de imparcialidade. Busca-se, no fundo, a confirmação de uma tese. Isso não é jornalismo.

O Brasil depende, e muito, da qualidade técnica e ética da sua imprensa. O bom jornalismo é insubstituível.

Piada, não. Tem outro nome

A Cedae, empresa estadual de saneamento e água, anuncia que vai aumentar em maio a tarifa em 4,5%, abaixo do índice de 7% liberado pela Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico. É mais um escárnio com a população tanto da Cedae quanto da federal Agenersa.

A grande piada é que não há água em grande parte dos municípios atendidos e assim o usuário vai pagar mais pelo “vento” que entra em seus canos e faz marcar o hidrômetro, quando “abrem” a água para servir a alguns poucos. E de centavo em centavo, míseros reais arrecadados, a espertíssima empresa governamental enche a burra de dinheiro.

Sem contar que os usuários se cadastram e agendam entregas de carro-pipa agora para agosto. Mas ainda há populações, e muitas, que sequer sabem o que é saneamento básico.

Uma extorque, no estadual, e a outra vira a cara, no federal. E assim cresce o Brasil Bandido.

Corrupção


O regime político da pós-democracia latino-americana
O termo está nas manchetes dos jornais. Descreve a vasta maioria dos governos latino-americanos. Sem dúvida, o vírus em questão não é exclusivo desta parte do mundo, mas a variedade endêmica pareceria ser resistente e estar em fase de propagação. É matéria de epidemiologia, e também acontece na saúde pública: os governos que negam a existência do mal, ao mesmo tempo, se apresentam como os campeões da luta contra ele; neste caso, a tão maldita corrupção.

O problema não são apenas as atividades criminosas, que não são escassas, mas também a reprodução de condutas que nem sequer são consideradas ilegítimas, muito menos delitos. É que, além de afetar o uso dos recursos públicos, esta epidemia modificou o marco cognitivo da elite política latino-americana. Não entendem, por exemplo, a noção de conflito de interesse, tanto quanto a de tráfico de influências. A corrupção se naturalizou, e a linha que separa a legalidade da ilegalidade tornou-se flexível e porosa. Aqueles que ocupam as alturas do poder se eximiram da terrenal obrigação de render contas, de responder pelos atos de seu governo. Com o contágio se generalizou a impunidade.

Na Venezuela, as contas de funcionários em bancos da Suíça e de Andorra, e as cifras delas, são lendárias. Representam vários pontos do produto interno bruto. Qualquer denúncia a respeito é traduzida pelo aparato oficial de propaganda como uma conspiração desestabilizadora. Nesse sentido, têm razão: a informação pública sobre corrupção às vezes pode gerar instabilidade política.


Os governos que negam a existência do mal, ao mesmo tempo, se apresentam como os campeões da luta contra ele; neste caso, a tão maldita corrupção

Na Argentina, o oficialismo e seus testa-de-ferros acumulam dezenas de denúncias por contas sem justificativas, lavagem de dinheiro e negócios ilegais diversos. O rechaço do governo a essas acusações é sistemático, como também, todos os anos, ao aumento patrimonial que é visto nas próprias declarações de impostos de seus mais altos funcionários. A dissonância legal é produto da dissonância cognitiva, precisamente, a derivada do fato de que todos eles se enriqueceram sendo funcionários públicos. Difícil explicar, mas nenhum deles fica envergonhado.

No México, o governo castigou por corrupção a mais de cem funcionários nos últimos dois anos com multas de mais de 22 milhões de dólares. Apesar de benigna a pena, multa em vez de prisão, ninguém pagou um dólar. Isso sublinha um problema mais de fundo. É difícil que um governo corrupto imponha sanções por corrupção e que as mesmas sejam cumpridas. O presidente combate a corrupção em seu discurso enquanto sua esposa e seu Secretário de Fazenda tentam explicar a compra de suas casas de um empreiteiro favorecido pelo governo, que também lhes concedeu a hipoteca.

No Brasil, o caso Petrobras revela a profundidade da corrupção dentro do aparato do Estado e do partido do governo. A informação fala de perda de 2 bilhões de dólares só por corrupção e descreve um sistema institucionalizado de dinheiro ilícito, criado para terminar nas arcas do PT. O círculo completo, esse dinheiro era usado para financiar campanhas eleitorais e comprar votos de deputados no Congresso, o caso Mensalão. Assim se construiu uma organizada máquina financeira para a perpetuação no poder.

Até o Chile, cuja elite política achava que estava imune da corrupção e outras doenças tropicais da região, parece ter sido contagiada. Ao financiamento irregular dos partidos e seus dirigentes, deve-se agregar o escândalo que envolveu a nora da própria presidenta. Sua relação com a então presidenta eleita permitiu que tivesse acesso a informações privilegiadas sobre iminentes mudanças na regulamentação do uso do solo e a um crédito bancário para uma empresa sem trajetória nem garantias. O negócio especulativo de compra-venda de terras teve um lucro de mais de 3 milhões de dólares. Em sua primeira reação, Bachelet cometeu o erro de considerar um negócio entre privados, o que afetou severamente seu índice de aprovação.

Curiosamente, na academia, uma primeira geração de estudos minimizava o problema da corrupção, considerando-a um mecanismo benigno que servia para modernizar a burocracia, uma tarefa essencial de construção estatal sempre inconclusa no mundo em desenvolvimento. Uma segunda geração, no entanto, destacou as perdas de eficiência em sociedades com alta corrupção, postergando o desenvolvimento econômico e social, e criando, além disso, no longo prazo, uma dinâmica especialmente tóxica para o capital social e a credibilidade das instituições democráticas.

A América Latina se encontra neste último cenário, mas também precisa de uma terceira geração de estudos. Ela deverá dar conta da constituição de um novo tipo de regime político, no qual a corrupção é, justamente, o componente central da dominação. Em países onde os partidos políticos se debilitaram e se fragmentaram, além de ter perdido a confiança da sociedade, estão sendo substituídos pela corrupção. A corrupção cumpre as funções básicas da política: selecionar dirigentes, organizar a concorrência eleitoral e exercer a representação – e o controle essencial – territorial. Esta é a nova forma da política na pós-democracia.

Claro que este novo regime é de partido único, já que se baseia na perpetuação. Isso não é por ideologia, mas por sobrevivência. Fora do poder, os riscos são muito altos para os líderes do partido da corrupção. Até agora, os recursos e a retórica funcionaram e continuam no poder, mas isso não será eterno. Então, o grande desafio da América Latina será tirar a corrupção da política para poder reconstruir a democracia.

Héctor E. Schamis