sábado, 25 de abril de 2015

O PT como ele é

Definitivamente, o PT disse adeus à sanidade. Ao que tudo indica, o partido comandado por Lula concluiu de forma irrevogável que recorrer à publicações de resoluções delirantes é o bastante para justificar as falcatruas perpetradas por seus líderes desonestos e purificar o caráter tíbio de seus tesoureiros corruptos. Arrogantes por natureza, suas lideranças menosprezam as consequências de suas decisões e, através de seus lacaios, usam desse expediente para buscar impor a pauta de sua ensandecida jornada contra o regime democrático, elegendo prioridades digamos, pouco republicanas, como:
a) construção de uma frente político-social unindo o partido, os sindicatos e o MST;
b) a convocação da bolivariana constituinte exclusiva destinada a efetuar a reforma política;
c) do alto dos quase 120 milhões de reais que deverão sair dos cofres públicos para abarrotar seus cofres através de recursos repassados pelo fundo partidário, estratégica e pornograficamente triplicado recentemente por decisão da presidente Dilma Rousseff, posa de virgem purificada reforçando a pregação do desgastado discurso defendendo o financiamento público de campanha. Como afirmou o ex-ministro Joaquim Barbosa “com um repasse desses, quem precisa ser financiado por empresas?”.
d) esperto, defende o voto em lista, que na prática cassa dos brasileiros o direito de escolher seus deputados. Populista, aposta na desmoralizada arenga da luta de classes apresentando medidas penalizando aqueles que julgarem ricos. Menos seus líderes e os amigos dos seus líderes, é óbvio;
e) mobilização contra o PL 4330, das terceirizações, o que só é bom para os sindicalistas, e
f) mobilização contra as PECs 371, que trata da redução da maioridade penal e é do interesse, antes de tudo, da bandidagem e 215, que dá ao Legislativo uma participação mais efetiva na demarcação de terras indígenas, que é do agrado dos picaretas.

O desvario petista, salvo engano, retomou, com mais vigor, a temporada de ódio à democracia. Uma leitura mais minuciosa do conjunto da obra do partido estrelado ao longo desses mais de doze anos à frente da política brasileira e do tom sempre belicoso adotado por suas lideranças nos comunicados oficiais, permitem vislumbrar nas entrelinhas uma advertência sombria caso seja apeado do poder, chamando atenção para a possibilidade de uma ruptura marcada por dias de tensão, cujo desenlace poderá desembocar em grave retrocesso democrático. Estampa, ainda, nuances da fragmentação de um partido político que não suportou a grandeza democrática que jamais teve e sobrevive da ética diminuta que sempre o acompanhou. Sua trajetória conturbada fala por si.

Cansada da mesmice política que predominava no período pós-ditadura, e guardando a esperança de que algo inovador se apresentasse, a sociedade brasileira se pegou encantada com a mensagem muito bem articulada de um partido que, comandado por um ex-trabalhador, se intitulava o emissário do Brasil renovado, senhor de todas as virtudes, arauto da magnificência administrativa e cidadela indevassável da retidão. Para convencer os eleitores que a salvação do Brasil passaria inexoravelmente pelo virtuosismo petista, seus dirigentes não desperdiçaram uma única oportunidade de ocuparem os espaços generosos que a mídia lhes proporcionava. Astutos, foram preenchendo o vácuo político que se formou depois da morte do presidente Tancredo Neves entrincheirando-se na mais selvagem oposição que o Congresso já abrigou. A desestabilização a qualquer preço era o mote. E a tática mostrou-se eficaz: em janeiro de 2003, o PT chegou ao poder.

Forjada na têmpera podre da falsidade, a decantada probidade dos petistas não resistiu a mais do que dois anos à frente do governo. Os rastros deixados pelo dinheiro sujo derrubou a máscara que escondia a verdadeira face dos democratas de araque e deu visibilidade a ação devastadora da mais sórdida canalha instalada nos porões da politicalha. Visando perpetuar-se no poder, os companheiros atuaram com a desenvoltura dos cafajestes e arquitetaram um dos mais atrevidos esquemas de corrupção da história republicana cujo sucesso passava necessariamente pela compra do apoio de partidos que porventura estivessem à venda. Talvez até mesmo os próprios petistas tenham se surpreendido com disponibilidade tamanha. Estava inaugurado o mensalão.

A partir desse episódio que manchará sua história para sempre, o partido estrelado experimentou um processo célere de degeneração e o desgaste evidente serviu de justificativa para que seus dirigentes intensificassem uma campanha avassaladora que tinha como objetivo a dominação absoluta. Para atingir tal fim, os meios, liberados, encontraram na receita da promiscuidade o fermento mais indicado para fazer crescer aquela massa indigesta. Sem o menor trauma de consciência, cercaram-se de inimigos viscerais para inaugurar a forma mais abjeta de amizade, trouxeram para debaixo de suas asas parte significativa da imprensa e fizeram da miséria seu maior trunfo eleitoral. Dispostos a percorrer as últimas instâncias da inconsequência, desbravaram os caminhos da corrupção como ninguém jamais ousara.

Num repente, encantaram-se com a biografia de José Sarney e o consagraram como político respeitável. Este, por sua vez, fez do Maranhão uma extensão do palanque petista e da presidência do Senado reduto dos interesses do governo federal. Uma mão suja emporcalha a outra. Defensores intransigentes da liberdade de imprensa a favor, se dispuseram a patrocinar jornais televisivos, principalmente os de alcance nacional, e blogs na internet abrindo os cofres das estatais e dos ministérios.

Embora viesse a ser reconhecido alguns anos depois como projeto embrionário que abriria o caminho para o bilionário esquema de corrupção batizado como Petrolão, evento que feriu com gravidade e enlameou um dos principais símbolos do orgulho nacional, ainda assim o episódio do mensalão serviu para desencadear um vendaval de denúncias envolvendo o partido comandado pelo ex-presidente Lula e aqueles que formavam a base de apoio ao seu governo em um rosário interminável de falcatruas, cujo acúmulo de malfeitos resultou na queda de quase duas dezenas de ministros de Estado em menos de dez anos. Muitos deles exonerados por envolvimento em casos de corrupção. Pelo menos um, condenado e preso.

Em pouco mais de doze anos, o Partido dos Trabalhadores conseguiu transformar o propalado conjunto de políticos notáveis acima de qualquer suspeita que o mantinha em mero ajuntamento de notórios trambiqueiros, abaixo de qualquer moral, que o sustenta. O PT como ele é.

'Errando se aprende'. Aprende?

Estará o Brasil aprendendo com os próprios erros? Aprendem algo os homens públicos observando a história e os fatos do presente? Parece pouco provável. O erro costuma ser a mais perigosa e a menos produtiva forma de aprendizagem. A expressão que dá título a este artigo surge com freqüência, em forma de argumento, por exemplo, nas altercações entre pais e filhos quando estes desejam fazer algo que aqueles afirmam ser errado. A frase se esgotaria na própria insensatez, se a sensatez não fosse qualidade cada vez mais rara na vida social. Por isso, a pedagogia do erro, o "errando também se aprende" ganha dimensão de sabedoria conquistada a duras penas e justifica muita conduta imprópria.

Entendamos bem a questão. Há uma diferença fundamental entre o erro cometido por quem quer acertar e o erro praticado por quem deliberadamente busca o mal. É provável que o primeiro cumpra, sim, uma função didática, não tanto por causa do erro em si mesmo, mas devido ao anterior e posterior desejo de agir bem. Pela razão inversa, aquele que erra sabendo que vai fazer algo incorreto, dificilmente aprenderá qualquer coisa que lhe venha a ser útil porque, tendo buscado intencionalmente o mal, não está animado para uma aprendizagem adequada.


Na maior parte dos casos em que essa expressão costuma ser empregada é importante verificar se não se trata de uma artimanha, coisa de quem, na verdade, já aprendeu, mas está seduzido por algum erro tentador. “Deixem-me errar porque errando se aprende”, pedia a mocinha de certa novela. Ora, “deixem-me errar” implica o prévio reconhecimento de que se vai em direção a um erro e, portanto, quem diz isso já sabe o que é errado e o que é certo. Já aprendeu. E o mais provável é que acabe desaprendendo.

Ademais, o erro não pode ser usado indiscriminadamente como forma de aprendizado pois, como regra, existem outros métodos mais vantajosos, tais como os proporcionados pela observação, pela sadia orientação e pelos bons livros. Em outras palavras: dentre todas as formas de aprender, a pior - a que devemos relegar à posição mais remota - é aquela que o erro pode facultar, principalmente quando dele podem advir graves problemas a quem erra e/ou aos demais. Viu, dona Dilma?

No caso brasileiro, a situação se agrava. Estabeleceu-se, aqui, ativa e até agora dominante, uma pedagogia que dissemina o erro, serve o mal como bem e a mentira como verdade. Interpreta ardilosamente os fatos, muda a história e, por isso, nada aprende sequer das grandes catástrofes políticas e econômicas vividas por outros povos. É uma pedagogia maligna por excelência. Quando se depara com as consequências dos erros a que conduz, jamais faz o mea culpa. Com o ar indignado, gira o dedo indicador para qualquer direção, exceto à do próprio peito.

O Brasil dorme


A presidente Dilma Rousseff, com todo respeito que se deve ao cargo que ela ocupa, é surda, ou teimosa, ou preguiçosa, ou despolitizada, ou amarrada, ou insensível, ou tudo isso junto, porque não é possível que alguém, com as suas responsabilidades, insista nas atitudes que tem ou em não tê-las. Isso é óbvio? É e, lamentavelmente, é a realidade.

Na semana passada foi preso o tesoureiro do PT, partido do qual Dilma é (ou deveria ser) sua maior liderança. Pelo menos protocolarmente, é Dilma quem tem a maior expressão política dentro do partido, embora se saiba que o ex-presidente Lula lá dê as cartas. Mas nem por isso, nunca se soube de ambos, Dilma e Lula, o empenho em retirar de cena o tesoureiro João Vaccari Neto, que todos esperavam que fosse enjaulado a qualquer momento.

Deixaram que se chegasse a essa vergonhosa e tardia exposição, muito embora a própria Dilma já o tivesse impedido de ser o tesoureiro de sua campanha. Não à toa, mas talvez por já reconhecer em Vaccari as habilidades que a Polícia Federal e o Ministério Público, com toda certeza, identificaram e buscarão condenar.

Desde a aposentadoria do ex-ministro Joaquim Barbosa, há oito meses, que está vaga sua cadeira no STF, com flagrante prejuízo às decisões que demandam o escrutínio do pleno, isso é, que todos os ministros examinem e votem as matérias de competência do Supremo Tribunal.

Falou-se insistentemente na perspectiva de indicação pelo Planalto do nome do atual presidente nacional da OAB, Marcos Vinicius Furtado. Senadores avisaram que não passaria na aprovação da Casa nenhum nome com nítidas vinculações partidárias. Dilma, ao contrário de todas as expectativas, indicou para a vaga o jurista Luiz Edson Fachin, respeitado advogado, de inquestionável currículo, reconhecido profissional e estudioso do Direito Civil e de Direito de Família. Dependendo dos fatos políticos da semana, o Senado Federal, varejista e fisiológico como é, vai reprová-lo. Porque esse é o jogo que Dilma deixou que ganhasse corpo e força.

A operação Lava-Jato, que a inteligência do Palácio do Planalto sabia que andava a passos de ganso, não tinha como não ter sido antecedida por uma medida da Presidência, afastando da Petrobras toda a sua diretoria e os conselhos, para que se apurasse com rigor e isenção a real responsabilidade dessa corja hoje presa em Curitiba. Esse pessoal que está em cana no Paraná não é jovem aprendiz. Vários já saíram com tornozeleira eletrônica da maternidade. Não há bandido de primeiro emprego.

A própria relação com as lideranças dos partidos da base aliada, ou mesmo da oposição, os chamados “vacas sagradas” do Congresso, é de uma postura ginasial. Com o poder que tem a Presidência da República, é inaceitável que se tivesse deixado encorpar os tipos a quem o poder político hoje no país está terceirizado.

E nesse diapasão cantam todas as vozes de poder, contagiadas por essa mesma inércia. O Brasil ressente-se da falta de controle, de comando, de um projeto de autoridade. Somos um país com demandas sérias e inadiáveis. Não podemos viver do que será a operação Lava-Jato, das inúmeras CPIs que fazem de conta que investigam alguma coisa, do humor de Sarneys, Aécios, Renans Calheiros e Eduardos Cunha, dessa inércia congelante que nos impõe uma classe política que não sabe onde está parada. Não crescemos econômica e socialmente, o povo está com fome, há desemprego, inflação, favelamento, falta de políticas sérias e atualizadas de educação, segurança, saúde, habitação, financiamento da produção industrial e agrícola. A nação está perdida, sem saber para onde ir.

Corrupção... e algo mais

Problemas da petroleira brasileira vão além do desvio de dinheiro

Dando a volta por cima. A nova direção da Petrobras finalmenteapresentou as contas auditadas da petroleira, algo que não fazia desde agosto de 2014, e revelou a difícil situação da empresa, além da trama de corrupção em que está envolvida a maior empresa pública da América Latina. Mas expor os erros do passado não garante por si só um novo começo.

As contas da Petrobras revelam a existência de uma corrupção sistemática e sistêmica. Os 6,2 bilhões de reais que se declaram perdidos são apenas uma estimativa da nova diretoria, que atribui às 27 empresas que participavam da trama um desvio de 3% do valor dos contratos. Poderia ser assim ou poderia ter funcionado de forma diferente segundo as empresas, o alcance dos contratos, a duração dos mesmos... Ainda não foi esclarecido o funcionamento da rede de corrupção. O Barclays calcula que a investigação sobre a Petrobras continuará nas manchetes durante, pelo menos, os próximos “dois ou três anos”. Assim não é fácil inaugurar uma “nova etapa”, como afirmava o presidente da petroleira, Aldemir Bendine. São necessárias mais medidas.

Apesar dos anos de auge nas matérias-primas, é a empresa com a maior dívida do mundo

Apesar de importante, a corrupção não é o único problema da Petrobras. A empresa reconheceu uma deterioração do valor por 44,6 bilhões de reais, pela queda do preço do petróleo, superfaturamento em vários projetos e mau planejamento. Tudo isso a levou a fechar 2014 com perdas líquidas de quase 21,6 bilhões de reais. No ápice de sua trajetória, o valor de mercado da Petrobras chegou a rondar os 275 bilhões de euros (825 bilhões de reais). Hoje é avaliada em apenas em 53 bilhões de euros.

“Esses dados oferecem a possibilidade de a empresa e a economia brasileira começarem a recuperar certa confiança, mas não acabam com o sentimento negativo do mercado”, resume Neil Sharing, economista chefe para mercados emergentes do Capital Economics em Londres.

Apesar dos anos de glória que viveram as matérias-primas, a Petrobras é a empresa com a maior dívida do mundo, acima dos 120 bilhões de euros. Desde novembro, a petroleira não pode ir aos mercadosem busca de financiamento. Sua volta seria um sinal de confiança do mercado no futuro da companhia e na economia do país, a que está tão estreitamente ligada.

Suíte Peer Gynt, de Edvard Grieg

Saudades do Waldomiro

Da crise das empreiteiras surgiu um peculiar nacionalismo petista: é melhor ser roubado por patrícios do que pagar a estrangeiros por bons serviços

Por onde anda Waldomiro Diniz, braço-direito do Zé Dirceu na Casa Civil e o anjo anunciador do mensalão, flagrado em vídeo pedindo a Carlinhos Cachoeira propina para o PT — e 1% para ele mesmo? O flagrante está comemorando dez anos, os mensaleiros já foram julgados e condenados, mas nunca mais se ouviu falar do histórico Waldomiro. Não escreve, não telefona, não manda WhatsApp, estamos com saudades. Até seu chefe já puxou cadeia, mas ele continua livre, leve e solto. Que borogodó tem Waldomiro? O que ele sabe que não sabemos?



Saudades de Fernando Cavendish e sua pequena Delta, dos Vedoin, da máfia das ambulâncias, dos sanguessugas, desses ladrõezinhos dos tempos pré-petrolão, que disputavam trocados enquanto os profissionais armavam e operavam na Petrobras uma máquina monstruosa de corrupção e um projeto de manutenção do poder que nem canalhas megalomaníacos ousariam imaginar.

A crise das empreiteiras brasileiras fez surgir um peculiar nacionalismo petista: é melhor sermos roubados por compatriotas do que pagar a estrangeiros por serviços (bem) prestados.

Toda vez que Dilma diz que os malfeitos de alguns indivíduos são fatos isolados na devastação da Petrobras, debocha da inteligência alheia, fingindo que não sabe que o petrolão não tinha só ladrões vocacionais, que roubariam em qualquer governo, para qualquer partido e, principalmente, para eles mesmos, mas eram parte de uma organização criminosa formada por empreiteiras, partidos, funcionários e políticos, para saquear a empresa e os seus acionistas — o povo brasileiro — e sustentar um projeto de poder que desmoraliza a democracia e as instituições.

Se fossem só “alguns individuos”, seriam uns Waldomiros, estariam soltos por aí, ninguém repararia. Mas em dez anos a arguta Dilma nunca desconfiou de nada, de como eram feitas as nomeações para diretorias, como funcionavam as concorrências e os aditivos contratuais. Como quem nunca tivesse comido melado, se lambuzava no óleo do pré-sal.

Dos 1% de Waldomiro aos 260 milhões de dólares de Pedro Barusco e Renato Duque, se passaram dez anos. Crescemos muito, mas para baixo.

Lula 2018 já nas ruas

Como antecipou a campanha de 2014, Lula se acha com todo o direito de tratar a política brasileira como a sua "política" e o país como "seu". Com a redução no aperto do governo na última semana e para retomar a "luta guerreira do povo brasileiro", o ex-presidente, através do Instituto Lula,  disparou o modelito de campanha na mídia através de vídeo mostrando a forma aos 69 anos. Típica marquetagem no melhor estilo dos programas de tevê matinais para mulher e saúde.
Veja
Lula na academia    

O que é roubar um partido perto de fundar um partido

No começo do século 18, o dramaturgo inglês John Gay lançou peça ambientada no submundo de prisão londrina. Batizou-a de “A ópera do mendigo” (1728). Era protagonizada por ladrões, prostitutas, policiais corruptos, magnatas do crime. A tragicomédia musical em três atos sobre corrupção, pobreza e injustiça social teve a mais longa temporada teatral da década de 20 daquele século.

Duzentos anos mais tarde, Bertolt Brecht e Kurt Weill inspiraram-se nela para criar “A ópera dos três vinténs” (1928). Os adaptadores alemães mantiveram a trama básica e os nomes das personagens – Macheath, apelidado “Mackie Messer” (“Mac Navalha”), Polly, sr. e sra. Peachum, Jenny. Chico Buarque fez uma adaptação da adaptação com sua excelente “Ópera do Malandro” (1978), na qual Jenny vira Geni, a travesti que todos jogam pedra e bosta.


O criminoso Mac Navalha, em uma das falas da peça de Brecht/Weill, reflete sobre mudar para um ramo de negócios mais fácil e lucrativo: “O que é uma chave-mestra comparada a uma ação da bolsa? O que é o assalto a um banco comparado à fundação de um banco? O que é o assassinato de um homem comparado à contratação de um homem?”.

A política brasileira encontrou na Ópera do Malandro seu ambiente natural. A polêmica questão do aumento do fundo partidário estimula que se jogue bosta para todo o lado, com Genis travestidas de excelências parlamentares. As reportagens a respeito salientam que a presidente Dilma não vetou a proposta de aumento de gasto, que deve atingir agora quase R$ 900 milhões por ano. Poucos foram as menções ao propositor: o senador Romero Jucá (ex-vice-líder do governo tucano, ex-líder do governo petista), que continua onde sempre esteve, no velho PMDB de Roraima.

De janeiro a março de 2015, o PT recebeu R$ 7,8 milhões do fundo partidário. O PSDB levantou R$ 6,4 milhões. O PMDB ganhou R$ 6,2 milhões. O PP, R$ 3,8 milhões; o PSB, R$ 3,7 milhões, o DEM, R$ 2,4 milhões. Outros 26 partidos receberam verbas cujo valor mínimo foram os R$ 100 mil destinados ao PCO. No total, em três meses os partidos receberam R$ 58, 3 milhões para sua manutenção.

Como funciona a distribuição do Dinheiro do Fundo Partidário? 95% dos recursos são distribuídos entre os partidos políticos, proporcionalmente a quantidade de votos obtidos na última eleição a Câmara dos Deputados; 5% são divididos em partes iguais entre todos os partidos políticos que tenham seus estatutos registrados no TSE.

O velho Mac Navalha poderia completar: o que é roubar um partido comparado a fundar um partido?

Aumentar limite do crédito consignado é novo crime


É inaceitável a notícia de que vai ser elevado o limite de endividamento dos empréstimos consignados de 30% para 40% da renda dos tomadores. O consignado já é um dos maiores responsáveis pelo endividamento das famílias. Como é totalmente seguro para os bancos, porque é descontado diretamente do salário ou da aposentadoria do tomador, e este não tem como adiar ou não pagar as prestações, os bancos fazem uma campanha cerrada para que as pessoas contratem estes empréstimos.

Depois que me aposentei, se vou a um caixa eletrônico surge na tela, assim que coloco o cartão, a opção para contratar um empréstimo. Recebo telefonemas de bancos com os quais nunca tive nenhum relacionamento, que se valem dos arquivos do INSS para saber nome e telefone dos aposentados, oferecendo tais empréstimos.

Aumentar este limite num momento destes é mais do que irresponsabilidade, é um crime.