domingo, 12 de abril de 2015

Hora e vez de Sibá Machado

 Mais uma vez, o povo na rua. Grande parte de nossa esperança está depositada na sociedade. Ela é quem pode dinamizar a mudança. A maioria vai gritar “Fora Dilma”, “Fora PT”. Não há espaço agora para outras palavras. No entanto, a saída de Dilma é apenas o começo. Vai ser preciso um ajuste econômico. Todos deveriam se informar e tomar posição sobre ele. O governo Dilma não se mexe na redução de ministérios e cargos de confiança. Não há um projeto sério de contenção de gastos com a máquina. E sem isso, o impacto do ajuste, aumentando impostos e cortando benefícios sociais, dificilmente será digerido pelo Congresso e pela própria sociedade.


O Congresso é passível de suborno com verbas e cargos. A sociedade, não. Mas um simples ajuste econômico merecia um pouco mais de reflexão para além deste domingo.

Vale a pena retomar um crescimento apoiado no consumo de carros e eletrodomésticos? É possível superar a limitação do voo da galinha na economia brasileira, achar um caminho sustentável?

Os rios brasileiros estão exauridos. Vamos continuar a destruição? A Califórnia luta há anos com a escassez de água. É um estado que sempre soube se reinventar. Abriga a indústria do cinema, o Vale do Silício. Apesar de toda a experiência, a crise atual ameaça seu futuro.

Cada vez que um grande movimento vai às ruas pedindo a saída de Dilma, ela, na realidade, vai saindo aos pouquinhos. Hoje não controla a política, nem a economia. Inaugura, faz discursos para a claque. Apegado à negação de seus erros, o PT é quase um fantasma. Seu líder na Câmara é Sibá Machado. Ele acha que as manifestações do dia 15 e também as de hoje são organizadas pela CIA. E foi ao ministro da Fazenda pedir novos financiamentos para as empreiteiras do Lava-Jato.

A tendência é achar que o Sibá Machado não existe, que é criação de algum escritor dedicado ao realismo fantástico. Mas Sibá existe e ocupa a liderança de um partido com 64 deputados na Câmara. Como foi possível Dilma ser presidente do Brasil? Como foi possível Sibá Machado tornar-se o líder de um partido que está no poder há 12 anos?

Não há espaço para explicar tudo. Mas Dilma é fruto da vontade de Lula, que detesta a ideia de surgirem outros líderes no partido. Sibá é o fruto da disciplina de quem espera na fila a hora do revezamento. Todos podem ser líderes, independentemente de estarem preparados. É a hora e a vez de Sibá Machado.

Estamos atravessando uma atmosfera de “Cem anos de solidão”. Sibá pede mais dinheiro público para quem nos roubou. Dilma afirma que sua tarefa é recuperar a Petrobras, que ela e o PT destruíram. Não acredito que sejam cômicos por vocação, embora o Sibá leve muito jeito. Isaac Deutscher, o grande biógrafo de Trotsky, demonstra que muitas vezes os governos fazem bobagem porque já não têm mais margem de manobra.

O buraco em que o PT se meteu é mais grave do que a estreiteza da margem de manobra. É a escolha de quem se agarra à negação para fugir da realidade. Por isso é que, além dos incômodos da crise, do assalto às estatais e fundos de pensão, o PT irrita. São muitas as pessoas simples que se sentem não apenas assaltadas como contribuintes, mas desrespeitadas pelo cinismo oficial.

Já é um lugar comum afirmar que vivemos a maior crise dos últimos tempos. Nela, entretanto, há um dado essencial: aparato político burocrático segue afirmando que a realidade é a que vê e não a compartilhada por milhões de pessoas na rua.

O que pode acontecer numa situação dessas? Collor saiu de nariz empinado e submergiu alguns anos. Ele chamava verde e amarelo, aparecia preto. O PT chama vermelho, aparecem verde e amarelo.

O curto circuito pictórico parece não dizer nada para eles. No fundo, havia em Collor uma espécie de orgulho pessoal. No PT, há uma confiança na manipulação. O partido no poder escolheu o caminho mais espinhoso. Seu líder na Câmara parece delirar, mas apenas quer cumprir suas tarefas elementares de negação.

O assalto à Petrobras não existiu. As manifestações foram arquitetadas pela CIA, e as empreiteiras, coitadinhas, precisam de grana oficial para financiar nossas campanhas. E os marqueteiros nos observam como jacarés tomando sol. Daqui a pouco vão entrar em ação para convencer a todos que o Brasil é maravilhoso e vai ficar melhor ainda.

É assim que a negação se reflete numa alma simples como a de Sibá Machado. Ele vem de uma região marcada pelas experiência místicas com a ayahuasca, planta que provoca visões. Um pouco distante dali, mas também na Amazônia, o pastor Jim Jones comandou um suicídio coletivo.

Na hora e vez de Sibá, o próprio inferno será refrigerado. Ganha-se muito dinheiro quando se passa pela cadeia, como fez José Dirceu. E há sempre Cuba e Venezuela para um recuo estratégico.

Vamos para a rua fingindo que os agentes da CIA nos organizam. No fundo, sabemos que se dependêssemos deles, correríamos o risco de uma grande trapalhada.

Mas pra que contrariar Sibá Machado e o PT na sua fase tardia ? De uma certa forma, já não estão entre nós. Morreram para o debate racional.

Fernando Gabeira

Não dá para esperar 2018


Confirma-se, por mais uma etapa da Operação Lava Jato, a extensão da roubalheira que assola o governo. Agora são a Caixa Econômica e o ministério da Saúde acusados de manipular contratos de falsa prestação de serviços em benefício de deputados e empresas afins. Dentro de pouco tempo não sobrará mais nenhuma instituição pública que não tenha sido atingida pela corrupção. Do mensalão ao petrolão, às hidrelétricas, ferrovias, rodovias, refinarias e demais atividades do poder público, a sujeira é uma só. Sem esquecer a Receita Federal. Dilma não sabia de nada. Nem o Lula, antes.

Vamos confiar em que não sabiam mesmo. De que planeta, então, governavam o país? Com que auxiliares trabalhavam, não se podendo omitir a participação de muitos deles na lambança?

Não dá para imaginar que continuaremos assim por mais quatro anos, com a Polícia Federal diariamente elucidando malfeitos e prendendo malfeitores de alta e de baixa estirpe. Incrustados no governo, é grande o número de políticos e de empresários que já estão e mais irão parar na cadeia. Louve-se a ação de policiais, procuradores e juízes encarregados de investigar e punir, mas as indagações vão mais fundo: como tudo pode acontecer nessas proporções olímpicas? A quem debitar a responsabilidade maior? Fazer o quê?

Esperar as eleições gerais de 2018, positivamente, não é solução. Antecipá-las será inconstitucional, além de perigoso. Acreditar que da noite para o dia bandidos se transformem em anjos, também não. Quem quiser que opine, mas por muito menos Fernando Collor foi defenestrado.

Deve acautelar-se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, porque são coincidências demais acontecendo. Em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, João Pessoa e Natal, nos trabalhos da Câmara Itinerante, ele foi recebido por grupos de arruaceiros empenhados em impedir suas palavras. É coisa organizada, mudando apenas os personagens.

Governar


 Os garotos da rua resolveram brincar de governo, escolheram o presidente e pediram-lhe que governasse para o bem de todos.

– Pois não – aceitou Martim. – Daqui por diante vocês farão meus exercícios escolares e eu assino. Clóvis e mais dois de vocês formarão a minha segurança.

Januário será meu Ministro da Fazenda e pagará o meu lanche.

– Com que dinheiro? – atalhou Januário.

– Cada um de vocês contribuirá com um cruzeiro por dia para a caixinha do governo.

– E que é que nós lucramos com isso? – perguntaram em coro.

– Lucram a certeza de que têm um bom presidente. Eu separo as brigas, distribuo tarefas, trato de igual para igual com os professores. Vocês obedecem, democraticamente.

– Assim não vale. O presidente deve ser nosso servidor, ou pelo menos saber que todos somos iguais a ele. Queremos vantagens.

– Eu sou o presidente e não posso ser igual a vocês, que são presididos. Se exigirem coisas de mim, serão multados e perderão o direito de participar da minha comitiva nas festas. Pensam que ser presidente é moleza? Já estou sentindo como esse cargo é cheio de espinhos.

Foi deposto, e dissolvida a República.

Carlos Drummond de Andrade 

Domingo de rezar para mudar

Todo dia é dia de protestar, e se protesta até sem se dar conta. Nos momentos de agora no Brasil, o protesto até se tornou de toda hora. Não porque seja moda, ou só para zoar. É uma necessidade de não se calar para não se submeter. Se quem cala consente, grite-se. Ou não estamos numa democracia na qual há o direito de se falar, se reunir, criticar sem pedir licença ou sentir o cassetete no lombo?

Mais do que nunca é preciso protestar mesmo sem o chamado "foco", que só não vê quem não quer. O grito é mudar, tirar o que está com desgaste material, fazer recall. Precisa-se dar outra arrumação na casa, arejar os pútridos ares de miasma político-administrativo.

Nenhum país aguenta ser paraíso para marginais no poder, que promovem ou são coniventes, cúmplices da corrupção. Isso é roubar o pão de todos, ainda mais dos necessitados que ficarão em maior penúria. Chega de usar o pobre como fachada, propaganda política, e dar aos mesmos que defende apenas as migalhas, quando não a miserabilidade da saúde, da educação, da segurança pública, do saneamento básico.

Fazer o que der na cabeça, tresloucadamente, com o único intuito de se manter no governo, é crime que deve ser punido. Se a justiça não pega os bandidos e os tira do convívio da sociedade, há que gritar: "Pega ladrão!".

Estourem os ouvidos dos políticos, porque o grito é mais forte. E bem que domingo é uma ótima escolha para sair às ruas num velho "footing" político. Se manifesta sem vale passeata, tíquete sanduíche de mortadela e cachê de R$ 50. Vai-se com a cara e a coragem, as mesmas com que todo o dia enfrentamos as mazelas da cretinice político-governamental. Quem vai à rua, quem protesta contra a canalha, só tem mesmo essa cara de revolta e com ela é que vamos lutando sempre nossa prece de cada dia. 

Apesar do PT

“Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar”
A manifestação do dia 15 de março de 2015 foi a manifestação dos “apesares”. Apesar de a propaganda petista tentar rotulá-la de golpista, o povo brasileiro foi às ruas em nome da república. Apesar da chuva em algumas cidades, famílias inteiras saíram de casa para manifestar sua indignação. Apesar de a esquerda manter durante anos o monopólio das ruas, milhões de pessoas lotaram as vias públicas do país para confrontar o governo, sem receber nem um centavo para isso. Apesar de possuir tudo, o Partido dos Trabalhadores percebeu que já não é mais nada.

É difícil compreender o que o dia 15 significará para a história, posto que ainda estamos no olho do furacão e qualquer julgamento definitivo esbarraria em nossos anseios e vontades. Apesar disso, sabemos o que ele significou para a população: um ato de bravura e independência em defesa da república brasileira. As ruas pediram mais justiça e menos advogados partidarizados, mais república e menos totalitarismo, mais Brasil e menos Brasília. A manifestação fez os alicerces do Palácio do Planalto tremerem como nunca antes.

Apesar disso, o governo fingiu não sentir vibração alguma. Colocou as mãos nos ouvidos como uma criança mimada e esperneou, teimosamente, insistindo na mentira de que o povo pedia reforma política, de que o povo pedia ações governamentais. A negação da realidade, comum entre loucos e infantes, passou a ser o discurso uníssono dos dirigentes do país, e reverberava nas trombetas dos blogueiros chapa-branca a mensagem oficial: Dilma haveria de conduzir as massas em uma cruzada contra a corrupção! Vida longa à nossa rainha!

O estado geral de insanidade do governo termina coroado pela ação política do homem mais poderoso da nação no momento, o deputado Eduardo Cunha. Aproveitando-se da inanição de uma oposição covarde e desorientada, valeu-se dos gritos de “fora Dilma!” do dia 15 e tomou para si o capital político conferido pelas ruas. Tratou de colocar o governo federal contra o córner e firmou-se como o primeiro-ministro de facto da república. Herdeiro ilegítimo do clamor popular, será alvo de intensa pressão neste dia 12 de abril. Os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, se ignorados novamente, passarão a minar seu exótico projeto de poder. A se observar.

Apesar de Cunha, porém, o saldo continua extremamente positivo. Irmanados na indignação, brasileiros vestidos de verde e amarelo fizeram uso de cornetas e vuvuzelas que permaneceram caladas durante a já esquecida “Copa das Copas”. Num fenômeno único em nossa história, milhões se mobilizaram em todos os estados da federação sem o incentivo e o patrocínio de quaisquer lideranças político-partidárias. Na era das celebridades instantâneas, imperou o anonimato – uma trágica ironia para um governo em busca de espantalhos para combater. É um novo momento, em que a oposição se dá nas ruas e a classe política, seja situação, seja oposição, permanece passageira de um fenômeno que não consegue compreender.

Apesar do PT, amanhã há de ser outro dia. Dilma vai ter de ver a manhã renascer e esbanjar poesia. Como vai se explicar, vendo o céu clarear, de repente, impunemente? Como vai abafar nosso coro a cantar na sua frente, em todas as ruas do país: “Fora PT, impeachment já!”?

Operário para subir; poderoso para ficar


Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana.
Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (1814 -1876)

Com Temer na articulação, Dilma dorme com o inimigo


A rápida viagem do vice-presidente Michel Temer a São Paulo, quinta-feira, para se encontrar com o ex-presidente Lula, tem um significado muito importante. Demonstra que Temer sabe quem realmente está no comando, pois é evidente que o fracasso fez Dilma Rousseff desistir de tocar o governo sozinha e aceitar novamente Lula à frente de tudo, como ocorreu nos primeiros dois anos do mandato inicial dela.

Para uma pessoa pretensiosa e arrogante como Dilma Vana Rousseff, ter de se curvar perante Lula é uma espécie de interminável Via Crucis, que ela precisará suportar durante quase quatro anos, caso consiga permanecer no cargo, o que já parece altamente improvável.

Temer é um profissional da política. Embora nunca tenha sido bom de voto, conseguiu construir uma sólida carreira, iniciada como secretário de Segurança Pública de São Paulo, em 1985. No ano seguinte, elegeu-se deputado constituinte pelo PMDB e depois seguiu se reelegendo, tendo sido presidente da Câmara em três oportunidades. Na eleição de 2006 ficou como primeiro suplente, mas acabou conseguindo uma maneira de assumir o mandato que o levaria à vice-presidência da República em 2010 e 2014.

Pode não ser bom de voto, mas em matéria de bastidores é um grande mestre do ilusionismo. A tal ponto que conseguiu fazer com que Dilma e Lula sonhem que podem contar com ele para reestruturar a base aliada e dar uma sobrevida ao governo e ao PT. Sonhar ainda não é proibido, mas tudo tem limite.

Os fatos são incontestáveis. A presidente Dilma já não dispõe de apoio popular, foi eleita por um partido em decadência vertiginosa e atolado num oceano de lama, a crise econômica e social não tem a menor chance de ser resolvida a curto prazo e a ameaça de impeachment aumenta progressivamente.

Pois em meio a este quadro sinistro, a solução encontrada por Dilma foi entregar a articulação política justamente ao vice-presidente Temer, que é de outro partido e pode ser o grande beneficiário da derrocada do governo, pois assumirá o poder em caso de impeachment ou renúncia.

Sinceramente, é muita ingenuidade e até primarismo político achar que Michel Temer, aos 74 anos, vai abandonar o futuro que lhe resta, a pretexto de garantir a preservação de uma companheira de chapa que jamais lhe deu o menor prestígio e apoio. Na verdade, do alto de sua prepotência, Dilma Rousseff sempre fez questão de manter Temer numa espécie de freezer político. Foram quatro longos anos dentro do congelador, sofrendo um desprezo muito difícil de ser esquecido.

Agora, o poder já não está com Dilma, nem com Lula ou com o PT. Quem dá as cartas na política são os três mosqueteiros do PMDB – Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Mas exatamente como acontece no romance de Alexandre Dumas, no qual os três mosqueteiros na verdade são quatro, a história se repete em Brasília, com a participação ostensiva do ex-deputado Henrique Eduardo Alves nas decisões do PMDB. Desde a posse de Dilma, em 1º de janeiro, Alves não tira os pés da capital e será nomeado ministro nos próximos dias.

Detalhe final: em política, jamais se pode dizer que exista vácuo de poder. Quando o pseudo detentor do poder revela fraqueza, seu espaço é imediatamente ocupado por algum adversário. Por isso, Temer não deve ser considerado aliado do PT, do governo, de Dilma ou de Lula. Ele trabalha exclusivamente para ele mesmo e para o PMDB, partido que ainda preside. O resto é folclore político e delírio de afogado, que tenta se abraçar a um tubarão para não submergir.

#ForaDilma2

Corrupção é mesmo uma velha senhora. Só que esta senhora hoje tem RG, CPF, passaporte. E dá as cartas no sistema que o PT montou para financiar o seu projeto de poder

Manifestação em São Raimundo Nonato, Piauí, 15/03/2015 (Foto: 180graus.com)
Manifestação em São Raimundo Nonato (PI) volta às ruas



Com a participação confirmada de quase 400 cidades de diferentes portes, o Brasil volta às ruas neste domingo com o bordão Fora Dilma, expressão maior para tudo aquilo que se abomina no petismo, a começar pela institucionalização da corrupção.

Mais do que a absoluta inabilidade da presidente para gerir o apetite da base aliada e do amigo da onça PMDB, a combinação do caos na economia – inflação e desemprego em alta – com a roubalheira generalizada derrotou o que o PT considerava impossível: o apoio popular, incluindo aí os mais pobres, para quem o partido dizia governar.

As manifestações que os petistas adorariam poder limitar aos “coxinhas”, aos que não suportam ter de dividir viagens de avião com pobres, e a golpistas, ganharam apoio farto entre todas as faixas sociais e em lugares impensáveis.

A pequena cidade maranhense Satubinha, com pouco mais de 13 mil habitantes, que em outubro deu 81,9% de seus votos a Dilma, vai às ruas. São Raimundo Nonato, situada a 576 quilômetros de Teresina, que no último dia 15 de março abarrotou a praça em frente à Prefeitura, promete voltar hoje contra a mesma Dilma que arrebatou 77.6% dos votos de seus 32 mil habitantes. São apenas alguns exemplos.

A partir dos critérios absurdos da Secretaria de Assuntos Estratégicos, que define como classe C renda entre R$ 291 e R$ 1.019, Dilma propagou aos quatro ventos que fez o maior salto social do planeta, elevando mais de 40 milhões de brasileiros à classe média. Viu tudo ruir em segundos.

Bastou o aumento nas contas de luz para quebrar o encanto. E esse foi apenas o primeiro dos ajustes necessários para corrigir a quantidade de besteiras feitas no primeiro mandato. Outros virão. Talvez ainda mais graves e mais caros.

O curto-circuito se completa com as roubalheiras descobertas, uma atrás de outra, que, além da Petrobras, chega às obras de energia e de transporte, na sagrada Caixa Econômica.

Corrupção, como disse Dilma, é mesmo uma velha senhora. Só que esta senhora hoje tem RG, CPF, passaporte. E dá as cartas no sistema que o PT montou para financiar o seu projeto de poder.

Com índices de desaprovação nos píncaros – 64%, de acordo com o Ibope – e míseros 12% de avaliação positiva, ao governo petista resta apenas uma torcida: que os números das manifestações de hoje fiquem aquém dos de 15 de março. Tendo a desfaçatez como marca registrada, um milhão e meio será cantado como vitória. Menos de um milhão, então, o Planalto fará festa.

Nesta altura, o alvo não é Dilma, mas Lula, que a criou, o PT e tudo aquilo que ele passou a simbolizar: um governo que enganou, fez pouco, mentiu a quem nele apostou. O partido que privatizou o Estado para si, que se elegeu para combater todos os males e se tornou o senhor absoluto de todos os males. Que fez e faz o que condenava com veemência. Que enriqueceu em nome dos pobres.

O Fora Dilma é o Fora Tudo Isso.

Brasil: entre a utopia e a descrença

Diz-se que o Brasil cresce como uma galinha voa. Um salto, uma queda; outro salto, outra queda e assim sucessivamente. No alto, todos acreditamos que lá ficaremos e que o futuro nos reserva bondades. Em baixo, achamos que logo estaremos por cima. Se as coisas andam mal, logo melhorarão e o Deus brasileiro se encarregará de consertar nossos desacertos.

Há toda uma literatura sobre os estados de espírito brasileiros. Desde Caminha que, em sua carta ao Rei, assegurava que, mesmo não se tendo visto coisa alguma, na terra descoberta havia prata e ouro e que, "querendo-a aproveitar, dar-se-ía tudo nela!"

Belmiro de Almeida, "Os descobridores" (1899)
No mesmo espírito, o Conde Affonso Celso, lá pelos idos de 1900, na crise do início dos tempos da República Velha, dizia, em seu “Porque me Ufano de Meu País”: “Ninguém querendo trabalhar morrerá de fome. Parece país de milionários tão largamente se gasta.” E assegurava que “todos os nossos homens políticos brasileiros levam as suas famílias à miséria. Não se locupletam à custa do benefício público.” Parecia realmente acreditar na ilusão...

Realista e objetivo, Capistrano de Abreu nos “Capítulos da História Colonial” (1928), anotou nas conclusões em que descreveu o Brasil de 1800: “Os proprietários rurais... prosseguiam na lavoura aleatória de drogas de luxo para o estrangeiro, esbanjando as riquezas naturais... Vítima dessa latronicultura, a escravidão africana condenava-se à imobilidade e ao vácuo.”

Seu grande discípulo e admirador, Paulo Prado, resumiu na primeira frase do “Retrato do Brasil” (1928) o sentimento profundamente descrente de que era possuído: “Numa terra radiosa vive um povo triste.” E, ao concluir o livro, comenta nosso “profundo indiferentismo, feito de preguiça física,..., de submissão resignada diante da fatalidade das coisas.... Explosões esporádicas de reação e entusiasmo apenas servem para acentuar a apatia cotidiana.”

E como se fosse capaz de antever o estado em que nos encontramos hoje anota: “A administração pública faliu... Assoberbada num afobamento tonto, ficou atrás: é quase um empecilho e um trambolho ... Os homens, de incapazes, tornaram-se desonestos e, pela cumplicidade dos apaziguamentos eleitorais, aceitaram. O consórcio das funções administrativas com os interesses mercantis. A fragilidade humana fez o resto, que é a vergonha da nação”.

E assim fomos atravessando o Século XX: uma crise política, institucional e econômica atrás da outra. A expectativa benevolente do futuro, porém, a que se manifesta no alto do voo da galinha e se mantém mesmo nas épocas más, esteve sempre presente.

No ano 2000, quando o Brasil festejava o Quinto Centenário em tempos de crescimento modesto indagava-me em artigo publicado na revista “Política Externa” sobre os valores absolutos que todos os brasileiros – independentemente de seu status social ou de sua origem regional– partilhavam. Cheguei a três: a unidade, a coesão territorial, linguística e nacional que caracteriza o país aos olhos de todos os que nele nascemos e/ou vivemos; a grandeza física, a dimensão gigantesca de um dos cinco maiores países do mundo; e o que qualifiquei então de crença de futuro, ou seja, naquele momento esperado em que a grandeza física e a unidade virão a criar o grande país presente desde tempos imemoriais no nosso imaginário coletivo: a utopia brasileira. Não mais voos de galinhas, mas um crescimento sempre voltado para o alto da curva.

À época, tomei conhecimento de uma intrigante tela intitulada “Os Descobridores”, pintada em 1900 por Belmiro de Almeida para as comemorações do Quarto Centenário. Longe do ufanismo de Affonso Celso e mais próximo do fatalismo de Paulo Prado, Belmiro, em vez de se fixar nos momentos mais grandiosos do descobrimento, decidiu figurar os dois degredados aqui deixados por Cabral. Dois seres humanos em condições patéticas. Belmiro os mostra em situações polares: um, de pé, olha para fora, para o mar, onde já velejava a esquadra a caminho das Índias, busca o horizonte, a Europa, a metrópole perdida; o outro recostado à sombra de uma árvore, olha para dentro do país descrito por Caminha, em atitude aterrorizada e desesperançada.

O quadro é inquietante. Sugere uma quantidade de reflexões sobre a origem do Brasil e da sociedade brasileira. Nada de imagens heroicas. O quadro de Belmiro apresenta-se como uma poderosa metáfora da relação do Brasil consigo mesmo e do Brasil com o mundo: uma vaga sensação de degredo, de afastamento que se expressa nas atitudes ambivalentes de oferecimento e recusa; de busca e de alheamento; de integração e de ensimesmamento.

Inspirado nas perspectivas otimistas que o novo milênio nos abria então, vi no quadro de Belmiro a expressão de uma extraordinária grandeza potencial. Grandeza, unidade e visão do futuro. As possibilidades ilimitadas abertas mesmo aos projetos que se iniciam da forma mais modesta. A ideia de que aqueles dois miseráveis seres humanos largados na costa da Bahia vieram a se transformar em milhões de brasileiros, ocupando uma imensa extensão territorial, unidos em sua brasilidade.

Hoje, vendo o país novamente no rés do chão do voo da galinha, às voltas com gravíssimos problemas de corrupção, pergunto-me se ainda partilhamos da visão do futuro que sempre nos uniu. Ou se nos recolhemos fatalmente à descrença, como sugere Lima Barreto no “Triste fim de Policarpo Quaresma”: “Entre nós tudo é inconsistente, provisório, não dura."

Luis Felipe de Seixas Corrêa  (Diplomata, chefiou a missão do Brasil na ONU e na OMC, e foi por duas vezes secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores (1992 e 1999-2001)

A dura vida política

Dilma Temer fontoche Ventriloquo marionete Lula da banana

É mais fácil encontrar uma mulher resignada a envelhecer do que um político resignado a se retirar de cena
Amado Nervo (1870-1919)

Frente ampla do atraso


Observando o que acontece com o PT fica-se a pensar na possibilidade desse partido não ter construído sozinho suas estratégias para alcançar o poder e lá permanecer. Afinal, parece não haver mentes brilhantes na grei petista.

Tampouco Lula da Silva é um gênio do jogo político ou um estadista como exageram alguns. Sem dúvida, foi escolhido pela cúpula petista e algo acima por sua retórica verborrágica que faz dele um enganador bem-sucedido. Além disso, Lula se ajustou hipoteticamente à ideologia marxista como uma espécie de proletário. Ajudou sua origem simples e o fato de ter passado rapidamente pelas lides metalúrgicas. Construiu-se, então, a imagem do homem comum tão bem aceita pela massa por transmitir aquela agradável sensação de identidade: ele é um de nós que chegou lá.

Habilmente a propaganda consumou o culto da personalidade que ampliou o poder de enganação do “pobre operário”, contra o qual toda crítica foi tomada como preconceito e heresia. Lula da Silva consagrou o detestável politicamente correto que inibiu os que poderiam arranhar seu santo nome.

Com medo de sua popularidade qualquer oposição, partidária ou institucional, calou-se diante de seus desmandos, de suas gafes, de seu linguajar chulo e insultante à língua portuguesa. E essa aceitação incondicional, mais a propaganda de fazer inveja a Goebells deram aos “mandarins” petistas e a Lula da Silva a força que parecia os tornar invioláveis.

No entanto, se Lula foi hábil como orador de porta de fábrica, perito como politiqueiro, nunca administrou o país. Seu negocio foi jogar futebol, comer churrasco e fazer viagens dignas de um emir. Em suma, Lula é um falsário e uma fraude construída não só pelo PT, mas por uma organização internacional, o Foro de São Paulo, fundado por Lula, Fidel Castro e outros do figurino esquerdista. O objetivo do Foro é promover a integração da América Latina e formar a Pátria Grande Comunista através de partidos, entidades de classe, ONGs, movimentos sociais.

Na quarta tentativa o PT chegou ao poder mais alto da República. Não foi preciso dar um tiro sequer. Lula vestiu Prada, mudou o discurso, deslumbrou a hoje achincalhada classe média composta por intelectuais, estudantes, professores, artistas, religiosos, profissionais liberais, jornalistas, funcionários públicos, que fizeram de sua ideologia uma religião, do PT uma seita e sentiram-se guerreiros imortais da luta de classes. Lula prometeu tirar os pobres da pobreza. Aos ricos garantiu mais lucros.

Ao tomar posse a nova classe dirigente deu continuidade a politica macroeconômica do governo anterior, antes criticado de modo estridente, inclusive, aos berros de fora FHC. Não foi dado calote no FMI nem se rompeu com os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, utilizou-se a política econômica antes xingada de entreguista e neoliberal.

Por outro lado, avançou a centralização do PT que dominou o Legislativo, o Judiciário e significativa parcela dos meios de comunicação. Na mesma linha intervencionista e autoritária houve várias tentativas de censurar a imprensa, como as Comissões de Redação, a criação da ANCINAV (Agência Nacional de Cinema e Áudio Visual) e a instituição do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo). Agora o governo petista fala em regulação da mídia e Rousseff apontou a necessidade de punir os “crimes” cometidos na Internet.

Mas se o Foro de São Paulo é comunista, como poderia dar certo se esse sistema fracassou em todo mundo? Quer melhor exemplo de fracasso econômico e social do que o da Venezuela, Bolívia, Argentina? Quanto a Lula da Silva, se surfou por 12 anos na demagogia encontrou o fim de todo malandro: foi engolido por sua esperteza. Isso se deu quando ele elegeu o “poste” Rousseff. Nos quatro anos em que continuou como presidente de fato, ele e sua criatura que não consegue juntar uma frase com outra, detonaram a economia Brasileira, enquanto a corrupção desenfreada atingia seu auge com o escândalo do petrolão.

O PT tenta resistir, fala em hegemonia do partido, propõe tirar verbas da imprensa não domesticada, proclama-se inocente. Entretanto, não há governo que resista quando a economia vai mal. Em pânico, os dirigentes petistas percebem que até Lula da Silva não é mais o mesmo. Rousseff, a incompetente, totalmente desacreditada é descartável e já foi substituída por seu vice Michel Temer (PMDB), mas sem Lula o PT acaba, pois quem poderá substituí-lo em 2018? Mercadante? Haddad? Marco Aurélio Garcia? Rui Falcão? Impossível.

Então, quem sabe se por inspiração do Foro de São Paulo, Lula da Silva já sonha com a criação de uma Frente Ampla, que esconderia o PT desmoralizado e englobaria partidos de esquerda, ONGs, ditos movimentos sociais, enfim, tudo que compõe a tranqueira esquerdista do Brasil. Os candidatos não sairiam pelo PT, mas da Frente Ampla do Atraso. Uma ideia engenhosa. Resta saber se vai dar certo.

E depois do dia 12?


Queremos todos, ou pelo menos 95% da população brasileira, retirar esse grupo do poder central. Não há mais dúvida. E isso é ótimo pois dá uma brecada nos planos do Foro de São Paulo, que quer implantar um novo modelo de socialismo. No fundo, todos são iguais, pois suprimem os valores da Sociedade Humana – a liberdade, a propriedade e a vida. Sim, a vida, pois transformam todos em zumbis.

Dia 12 é mais um dia especial para o Povo Brasileiro forçar a saída de quem ainda insiste em ficar no Poder. Quem sabe esse grupo insólito saia do poder de uma vez já na próxima semana. Seja por renúncia, seja por impeachment. E isso é absolutamente democrático. Mas, e depois? O que faremos? Um novo grupo político ao entrar, assume e ainda vai ter que enfrentar os problemas e desafios cujas dimensões ainda não se tem muita certeza, verdadeiros icebergs, cujos pedaços vem sendo revelados dia após dia, em cada nova operação policial.

O que é melhor e mais efetivo? Combater efeitos ou causas? Certamente, a causa. O Brasil está adoentado há longa data, desde o início de sua existência, quando o Estado se instalou antes do Povo. Ok, nada podemos fazer em relação ao passado, mas em relação ao futuro, sim. Qual é a causa então? Simples, atávico, lógico demais para ser despercebido, mas assim sempre o foi: a concentração excessiva de poderes e dos recursos públicos.


Cerca de 75% de toda a arrecadação tributária vai para Brasília. Praticamente todo o poder político se concentra em Brasília. E os modelos de organização, tanto do Estado, quanto dos Poderes, quanto das esferas de poder, que colocaram o município como “ente federativo” criaram esse Frankenstein federativo, que é na verdade, um modelo absolutista disfarçado de democracia.

O que fazer? Refundar o Brasil. Sim, parece radical, mas se você observar todo o sistema, em todos os setores da vida pública e até empresarial do País, tudo apodreceu. Uma constituição que tem 2/3 que nada valem, garante esse quadro cada vez mais surreal. Um conjunto de normas tributárias que passam dos 4,2 milhões desde 1988, juntamente com mais de 80 emendas constitucionais, revelam o mar de insensatez tupiniquim.


A solução é desconcentrar os poderes, em todos os sentidos. Financeiro, político, legislativo, administrativo e judiciário. Refundar o Brasil para uma verdadeira Federação de estados autônomos e cidades que possam escolher seus prefeitos sob contrato ou eleição sem partidos políticos. E porque não conselheiros voluntários no lugar de vereadores pagos? Precisa mexer no queijo de todos.

Quais os benefícios de uma refundação? Um novo modelo federativo, sob um novo texto constitucional, de princípios, tal como a Carta americana com 7 artigos e apenas 27 emendas ao longo de 225 anos desde sua independência.
Tal modelo permitirá todas as reformas que tanto queremos: do sistema tributário, do sistema político, do sistema legislativo reformando o modelo de representatividade, possibilitando a completa abertura do mercado brasileiro, interno e externo. Rever o papel das empresas, que devem deixar de ser recolhedoras de impostos para apenas produtora de bens e serviços. Nenhuma nação funciona sem o sangue monetário, sem atividade econômica.

Para quem compreendeu, por estas simples linhas, o que é CAUSA e o que é EFEITO, vai ficar fácil perceber que os benefícios advindos de um novo modelo federativo, pleno, colocará o Brasil olhando para o II Milênio, deixando de olhar para trás, como sempre fez até agora. E compreenderá que, como dizia Einstein, é insanidade imaginar que se possam obter resultados diferentes fazendo as mesmas coisas de sempre.

Dia 12, nas ruas? SIM! Mas está na hora de revermos nossa agenda, nossa pauta como Nação.

Thomas Korontai

A inocência dos roedores

Se Dilma fosse uma ópera, ela se chamaria “Erenice”. Uma ópera em dois atos: 2010, a ascensão; 2015, a queda. A presidente ainda não caiu, mas o Brasil já está caindo. Ainda não se sabe se no abismo ou na real.

Dilma Rousseff declarou que sua campanha não recebeu “dinheiro de suborno”. Já o Lobo Mau declarou que não comeu a vovozinha. Cada um com a sua tática. Se os caçadores da floresta não tivessem aberto a barriga do Lobo, ele teria devorado também a Chapeuzinho. Os caçadores da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça estão abrindo a barriga do PT e tirando um mundo lá de dentro. Mas a cabeça falante do partido continua jurando inocência pela boca da presidente da República. E a Chapeuzinho verde-amarela, coitada, continua na dúvida se acredita.
Antes de voltarmos à ópera, uma última contribuição à fábula. Querida Chapeuzinho: se o seu plano é ser devorada, fique à vontade. Continue acreditando em Dilma quando ela diz, por exemplo, que vai salvar a Petrobras. O humorista inglês John Oliver já caiu na gargalhada diante da presunção de inocência da presidente brasileira — e riu não por ser humorista, mas por ser inglês. Se bem que já há estrangeiros em vários países não achando a menor graça nessa novela. São investidores lesados pelo petrolão e, ao contrário da cordial Chapeuzinho, resolveram chamar a polícia. E lá a chantagem emocional dos guerreiros do povo não protege ninguém. Bandido é bandido.

As delações premiadas de ex-diretores da Petrobras e de empreiteiras convergiram com a do doleiro Alberto Youssef e cravaram: o PT transformou propinas do petrolão em doação legal ao partido. Em mais uma contribuição progressista para a História, os companheiros inventaram a propina oficial. Nada dos arcaicos recursos não contabilizados do mensalão: tudo certinho, tudo declarado, enfim, um roubo absolutamente dentro da legalidade. E as delações indicaram que algumas centenas de milhões de reais escoaram do esquema para a campanha presidencial de Dilma — aquela que não recebeu “dinheiro de suborno”. O acusado de operar esse milagre é o tesoureiro do PT, João Vaccari, que por essas e outras acaba de virar réu no processo da Operação Lava-Jato.

Vejam como Dilma Rousseff realmente é uma ópera. Toda essa engenhosa sucção nacionalista foi montada sob a presidência dela no Conselho de Administração da Petrobras. Está gravado e filmado para quem quiser ver: o ex-diretor da estatal e protagonista do escândalo, Paulo Roberto Costa, acha “estranho” que Dilma não soubesse do esquema. Mais estranho ainda sabendo-se que a montagem do esquema é atribuída a figuras-chave do partido dela, às quais a presidente jamais negou solidariedade — inclusive àquelas condenadas pelo mensalão. O que a inocência de Dilma foi fazer no meio dessa podridão?

Melhor reler o libreto. Está lá, no primeiro ato. Ano de 2010, eleição presidencial (na qual, maldita coincidência, outro delator aponta “dinheiro de suborno” na campanha de Dilma). Ali, nasce uma estrela: Erenice Guerra, braço-direito da candidata à Presidência, entra para a História ao levar a Casa Civil para as páginas policiais, demitida e investigada por tráfico de influência. Erenice era a mulher de confiança de Dilma, preparada por ela para ser sua superministra. Claro que os métodos de Erenice Guerra e a inocência de Dilma Rousseff jamais se cruzaram nos corredores do palácio. É estranho à beça, como diria Paulo Roberto Costa, mas a vida é assim mesmo. Estranha.

Saltando para 2015, o libreto da ópera faz ressurgir a grande personagem. Na Operação Zelotes da Polícia Federal, quem surge no seio de um escândalo bilionário envolvendo a Receita Federal? Erenice Guerra, agindo como principal assessora da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Mas Chapeuzinho verde-amarela continua chupando o dedo e ouvindo Dilma dizer que vai limpar tudo e nunca viu dinheiro de suborno. Adivinhem o que vai acontecer com essa menina distraída em mais quatro anos de ópera?

Quando Vaccari entrou na CPI da Petrobras, ratos foram soltos no recinto. Mas logo se deixaram capturar. Amadores. Vaccari admitiu que esteve no escritório do doleiro Alberto Youssef, mas disse que não sabia por que foi parar lá. Questão de ginga.

Ficar assistindo a esse show de inocência não é para qualquer estômago. O Brasil já desceu da arquibancada uma vez, e vai descer de novo. Os roedores não estão nem aí — continuarão ostensivamente oprimidos, anunciando que o petróleo salvará a educação, e roendo em nome da lei. Até que os brasileiros se cansem dessa cândida obscenidade e os enxote da sala.

Guilherme Fiuza