segunda-feira, 6 de abril de 2015

E agora, camaradas, vamos seguir o exemplo de Cuba?

Os governos do Brasil, Argentina e Venezuela, entre outros que dançavam ciranda-cirandinha com Cuba no Foro de São Paulo, devem estar atônitos.

Toda essa turma dos partidos de esquerda da América Latina formou seus quadros e suas milícias com corações e mentes seduzidos pelo lero-lero de Fidel Castro. Cuba, mais que o modelo, era a inspiração. Era o ponto final da peregrinação. Era Roma, Santiago de Compostela, Jerusalém, Meca das esquerdas ibero-americanas.

Por ali foram e por seus fundamentos andaram os governos de Chávez, Maduro, Kirchners, Evo Morales, Rafael Correa, Lula, Dilma e muitos outros. Depois de uma década, há mais burros n’água do que fora d’água. Aqui na nossa volta, onde a gente acompanha melhor, os três países mencionados acima, os mais ruidosos e ativos no neocomunismo, estão com as respectivas economias aos pandarecos e os governos com o prestígio no chão. Exatamente como Cuba, há mais de meio século, para quem a conhece.

Imagino, então, a surpresa de todos ao verem que os negócios daquela ilha pertencente à firma Castro&Castro Cia. Ltda. passam a ser feitos com o Império, com os ianques, com o grande satã do Norte, sob cujo guarda-chuva passaram a se abrigar os proprietários de Cuba. A imagem da charge acima é simplesmente brilhante!

Percival Puggina

Contra a corrupção, a alternância no poder

Nunca antes na história do país, os brasileiros deram tantos sinais de indignação com a roubalheira generalizada
Poder (Foto: Antonio Lucena )

Em setembro de 2012, um mês e pouco depois do início do julgamento do mensalão, até então o maior escândalo de corrupção da história do país, o ex-ministro da Justiça dos governos Lula, Márcio Thomaz Bastos, advogado de um dos 38 réus, comia uma banana em uma dependência reservada do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, quando ouviu a pergunta de um amigo: “O que houve para chegarmos até aqui?”

Thomaz Bastos parou de comer, temperou a garganta e respondeu em voz baixa sem olhar diretamente para o amigo: “Perdemos o controle da situação”.

Seguiu-se um longo silêncio antes que completasse: “Agora, só a alternância no poder poderá acabar com tudo isso”.

O amigo nada mais lhe perguntou. Ele voltou a comer a banana, uma fruta rica em potássio e que faz bem ao coração.

Saudades do mensalão! Movimentou uma ninharia se comparada com os valores desviados dos cofres da Petrobras. De resto, foi um escândalo que se limitou às fronteiras do Congresso e dos partidos.

É verdade que a “sofisticada organização criminosa” que operou o mensalão ambicionava controlar o aparelho de Estado. Foi descoberta a tempo. Dos 38 réus, 24 foram condenados.

O número de envolvidos com a roubalheira da Petrobras chega a 50. Gira em torno de R$ 2 bilhões o dinheiro que serviu para financiar partidos e enriquecer políticos e diretores da Petrobras.

O avanço das investigações da Operação Lava-Jatos reforça a cada dia que passa o sentimento de que a corrupção disseminou-se por toda parte com a cumplicidade dos governantes. E também com a decisiva ajuda de bancos e de empresas que sonegam impostos.

O PT dirá junto com a presidente Dilma Rousseff que a corrupção é uma velha senhora que nunca vai embora.

Ocorre que nos últimos 12 anos, ela foi uma senhora que engordou alimentada pelo projeto do partido de não se afastar do poder. De evitar por todos os meios legítimos ou não a alternância no poder, única saída sugerida por Thomaz Bastos para a situação que atravessamos.

Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa, uma das 14 empreiteiras que pagaram propinas para fechar negócios com a Petrobras, confessou à Justiça que sua empresa fez a mesma coisa para executar obras na Ferrovia Norte-Sul, iniciada em 1987 ainda durante o governo José Sarney. Quando concluída, ela terá 4.155 km e cortará 10 Estados. Um banquete para apetites insaciáveis.

As principais empreiteiras do país formaram um cartel para operar trechos da ferrovia. Houve também superfaturamento de contratos com a doação legal e ilegal de dinheiro a partidos e políticos.

Petrobras, Ferrovia Norte-Sul... O que mais? Ah, sim, a Usina de Belo Monte, no Sul do Pará, uma obra orçada em R$ 19 bilhões. Ali funcionou o mesmo modelo nefasto de atuação das empreiteiras.

Thomaz Bastos não era inocente a ponto de pensar que a alternância no poder fosse capaz por si só de pôr um fim à corrupção.

O que ele quis dizer, segundo o amigo que o interrogou, foi que a alternância desmonta ou enfraquece esquemas de corrupção em pleno funcionamento. Até que outros venham a substitui-los, se vierem, levará muito tempo.

Nunca antes na história do país, os brasileiros deram tantos sinais de indignação com a roubalheira generalizada.

Quem sabe não estamos às vésperas de mudanças de comportamento que afetarão certamente o que hoje se pratica à luz do dia, sem a mínima inibição, pudor ou receio, amparado na certeza de que ao fim e ao cabo a impunidade prevalecerá?

É preciso tirar as pessoas da miséria sem se aproveitar delas


Aqueles que dizem defender as camadas mais necessitadas da sociedade agora falam em ódio social. É a forma de se defenderem dos equívocos que cometeram na busca de ajudar os irmãos, fizeram tudo só para si e fugiram de suas reais responsabilidades.

Primeiro, eram contra os governos que “distribuíam esmolas”. Lula até denunciou isto. Quando chegaram ao poder, porém, não apenas mantiveram a prática que maldiziam, mas aumentaram as “esmolas” e não deram seguimento a segunda etapa que também cobravam dos outros: a reciprocidade. Diziam que era necessário oportunizar a melhoria cultural e intelectual dos carentes como única maneira destas camadas se livrarem das esmolas. Mas quantas famílias foram recuperadas? Basta pegar o cadastro atual e compará-lo com as relações dos últimos 15 anos.

Para o PT, os pobres servem de escada para o poder. Alimentar os carentes e mantê-los vivos é a tarefa de primeira necessidade, para ambos os atores: os beneficiados com o “bolsa” e os beneficiados com os votos.

O discurso do ódio quem fomentou e fez crescente foi o próprio PT. Afinal, o que os petistas querem? Mais Petrobras? Mais BNDES? Mais urnas eletrônicas inconfiáveis? Mais vagas no Judiciário?

É preciso que os petistas façam um exame de consciência e assumam sua parte na corrupção que aí está. Há quem não tenha participado? Claro que sim, até acredito. Mas todos ajudaram a construir a máquina que se apoderou do Estado brasileiro para fundir a corrupção à estrutura pública e tudo o mais. Esta é a realidade.

Hoje, não basta tirar Dilma Rousseff. É muito pouco. Quem assumir terá de se comprometer com uma devassa no setor público nacional. E o mesmo deverá ser feito nos estados e municípios. É o que se espera.

Mudam-se os tempos...


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soia.
Luís de Camões

Rombo na caverna do Ali Babá

A febre privatizante dos tempos do governo Fernando Henrique chegou às raias da irresponsabilidade, conforme afirmação de um de seus ministros. Era preciso facilitar o financiamento de grupos privados empenhados em adquirir patrimônio público, já que dinheiro eles tinham muito pouco. O BNDES abriu seu cofre, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, também, mas mesmo assim não dava. Os compradores queriam comprar patrimônio público com dinheiro público, um negócio pirata que nenhuma CPI conseguiu investigar, porque quem mandava no Congresso eram os tucanos.

Para fechar a lambança, alguém lembrou dos fundos de pensão das estatais, verdadeiras fortunas amealhadas com a poupança de dezenas de milhares de funcionários que todos os meses contribuíam com parte de seu salário, imaginando dispor de uma aposentadoria mais justa, complementar. Era o governo que designava os gestores desses fundos, tornando-se fácil que se dispusessem a aplicar o vasto montante sob seu controle onde o palácio do Planalto mandasse, como nas privatizações.


Veio o governo do PT, passando a nomear companheiros para presidir os fundos, e a prática continuou. Claro que não mais para impulsionar as privatizações, mas para onde o Lula e sua turma indicassem. Acudir projetos oficiais, ajudar grupos em dificuldades e, certamente, partidos políticos. Não se tratava apenas de encontrar boa destinação para garantir o futuro dos funcionários das estatais, pois os empréstimos produziam juros, mas, em especial, socorrer empreitadas duvidosas e amigos em dificuldade. Com a eleição de Dilma, tudo continuou como antes. Os fundos de pensão eram a caverna do Ali Babá, onde os detentores do poder iam encontrar recursos mais do que vultosos, destinando-os às suas aventuras e fracassos.

O escândalo estourou semana passada. Os fundos dos funcionários dos Correios, da Petrobrás, da Caixa Econômica, do BNDES, do Banco do Brasil e de muitas outras empresas públicas investiram em bancos falidos, obras inviáveis e aventuras descabidas, até no exterior, tudo por ordem lá de cima. Resultado: estão falidos. O dinheiro das aposentadorias sumiu. Os funcionários atuais precisarão contribuir com adicionais extras, também tirados de seus salários, para tentar a recuperação de seu futuro. O total do rombo ultrapassa os 30 bilhões de reais.

Trata-se de um logro monumental. Uma vigarice que nada fica a dever a mensalões e petrolões. Com a diferença de que a Polícia Federal e o Ministério Público não podem entrar nesse sistema fechado de previdência complementar. A lei dispõe que os fundos são investidores de longo prazo, correndo riscos como os demais. Azar de seus funcionários…

Carlos Chagas

É preciso criticar ainda mais


Nunca na historia deste país (obrigado, Lula, pelo chavão) o brasileiro apanhou na cara desde que acorda. Nem escapa de pesadelos aterradores: fome, doença para ser atendido no SUS, desemprego eterno, inflação "galopante", assaltos de mascarados do Planalto, cavaleiros políticos do Apocalipse.

Acordou, ligou o rádio, a tevê, o computador, o smartphone, e aí vem a escarrada na cara de quem trabalha, sua e é condenado a pagar o pedágio de viver à milícia governamental.

Em país sério, ou a cambada de canalhas faria seppuku, ou arrumava as malinhas correndo para entrar no xilindró. Fariam tudo rapidinho porque os cidadãos já sairiam de casa armados para começar uma revolução. Todo pronto para um dia (ou uma semana, ou um mês) de fúria. Cada um por si mesmo seria bomba humana partindo para o quebra-quebra, marchando em bloco de manifestação contra as arbitrariedades ou a bandidagem governamental.

Aqui depois de socos na boca do estômago, das taponas e das escarradas cretinas na cara, o brasileiro sai engolindo as ofensas à sua dignidade de trabalhador. E pelas ruas, espremido em transporte público, com o salário minguando, engarrafado com o carro que está pagando cada vez mais caro, baixa a cabeça de um torturado, escravo de poderes de uma gangue que assalta o país.

Vai cada um, aos poucos, engolindo os sapos que lhe enfiam goela abaixo. De povo cordial, como fazem acreditar – e ele acredita -, passa a povo acomodado, cabisbaixo diante do Poder, enfraquecido pela praga política. Escorraçado.

Direis, mas o povo vai às ruas! Vai, bem menos do necessário para pressionar efetivamente um governo desgovernado. Ainda é preciso bem mais, insistentemente, por todas as vias, repudiar todos os cretinos, do partido que for, de direita, esquerda ou os costumeiros de cima do muro. Denunciar com fotos a porcaria que nos oferecem como maravilhas, obras de milhões que fedem longe como outras galhofas. Gritar nas redes ainda mais, promover panelaços de ensurdecer o surdo poder. Não temer a bandidagem política, porque somos donos de nós e livres, dignos, o que não são nem serão.

O cecê dos idiotas

Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos
Nelson Rodrigues

Lula e Dilma no papel de 'Exterminadores do Futuro'



O ex-presidente Lula e sua criatura, Dilma Rousseff, vêm acusando cada vez mais o golpe que se auto-infligiram nos últimos anos, com escândalos no campo criminal e atrocidades na economia.

“O PT não pode ficar acuado diante dessa agressividade odiosa”, disse Lula nesta semana. E conclamou dirigentes do partido a aprofundar relações com movimentos sociais como CUT e MST.

O isolamento de Lula e do PT fica evidente quando apelam a movimentos que defendem justamente o contrário do que a presidente diz que vai fazer.

Dilma recriada pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda) agora promete um “grande corte” nos gastos públicos. E só, não passa disso. “Agora é nossa vez, vamos conter os gastos”, diz a presidente.

É a mesma pessoa que em 2005 (na Casa Civil) tachou de “rudimentar” proposta de equilibrar o déficit público no longo prazo e que, nos últimos 12 meses, permitiu que ele dobrasse.

Os movimentos de Lula e Dilma mostram o tamanho do atraso político e econômico em que estão metidos. Como ficaram ultrapassados e estão caindo de podres.
Anacronismo de Lula ao apelar para o “exército” datado do MST de João Pedro Stedile em oposição a manifestações de rua gigantescas; e derrota total de Dilma ao enterrar sem cerimônia toda e qualquer agenda sua para dar carta branca a um ministro que considera que ela age “não da maneira mais efetiva”.
No caso da presidente, a “tomada de poder” por Eduardo Cunha (na Câmara) e Renan Calheiros (no Senado) tem menos a ver com sua irrisória popularidade do que com um vácuo total de agenda e ideias para o país.

Depois de 30 anos de redemocratização e 20 de estabilização econômica é como se chegássemos no futuro voltando ao passado. E sem projeto de futuro.

Fernando Canzian

Se Deus quiser

A gente vai continuar comendo doce que nem criança em festa, como vamos almoçar sempre com o saleiro à mão, fechando os olhos para saborear a gordura da picanha, mas esperamos continuar com saúde se Deus quiser. Porque Deus ia querer maltratar os filhos seus?

Se Deus quiser vamos continuar comprando muita loteria, com esperança de um dia ganhar e, além de recuperar tudo que gastamos, ficar tão ricos que gerente de banco vão nos chamar de vossa excelência. Não é que a gente anseie ficar rico, é que temos muita esperança em Deus.Vamos continuar saindo em cima da hora para encontros e reuniões e, apesar do trânsito cada dia pior, e apesar dos imprevistos que o diabo manda, vamos chegar sempre pontualmente, se Deus quiser.

Como vamos deixar para amanhã tudo que podemos fazer hoje mas, se Deus quiser, no fim vai dar tudo certo.

Vamos obedecer à preguiça, porque Deus não pode ter criado à toa uma coisa tão gostosa, e assim iremos deixando de conversar sobre os problemas que surgem com a mulher, os filhos e os vizinhos, na esperança de que os problemas se irão como o nevoeiro da manhã, e no dia seguinte tudo estará limpo, se Deus quiser.

Também não iremos à reunião do condomínio nem da associação de pais e mestres porque, por Deus, coisa mais chata não há, e pode deixar de ir porque sempre tem quem vá, graças a Deus.

Não vamos beber e dirigir, vamos beber e deixar Deus dirigir, temos muita confiança em Deus.

Não vamos nos esforçar no trabalho nem nos aperfeiçoar – pra que? – se na vida a gente tem o que Deus mandar.

Quando alguém disser “se Deus quiser”, vamos interpretar como apoio a tudo que também esperamos de Deus, e vamos nos sentir como irmãos dessa pessoa tão boa para nós, pensando ah, Deus esteja conosco.

Se não soubermos responder alguma coisa, diremos “sabe Deus” e ficaremos em paz com a consciência.

Nas carências, diremos “Deus há de prover”, e deixaremos o problema em suas mãos, pois quem mais poderoso para tudo atender?

Se pecarmos, será porque Deus não ouviu quando pedimos “não nos deixeis cair em tentação”.

E, quando seguirmos o exemplo de Judas, será porque também Deus não ouviu quando pedimos “livrai-nos de todo mal”.

Quando errarmos, não pediremos desculpas e muito menos consertaremos, pois Deus tudo perdoa e tudo Deus conserta desde Adão, não?

Mas Deus que se cuide porque, se tudo der errado e a gente ficar muito mal, botaremos a culpa em Deus, que afinal tudo pode, então porque não pôde fazer mais por nós?

E o pior é que Deus nem responde, Castro Alves já clamava: Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?

Mas, por enquanto, e na falta de opção melhor, seguimos confiando: seja o que Deus quiser.