domingo, 29 de março de 2015

Esboço do sonho do líder

Pib Pequeno Dilma insonia relogio cama
O sono do líder é agitado. A mulher sacode-o até acordá-lo do pesadelo. Estremunhado, ele se levanta, bebe um pouco de água, vai ao banheiro onde se vê diante do espelho. O que ele vê? Um homem de meia-idade. Ele alisa os cabelos das têmporas, volta a deitar-se. Adormece e a agitação do mesmo sonho recomeça. "Não! Não!", debate-se com a garganta seca.


É que o líder assusta-se enquanto dorme. O povo ameaça o líder? Não, se foi o povo que o elegeu como líder do povo. O povo ameaça o líder? Não, pois escolheu-o em meio de lutas quase sangrentas. O povo ameaça o líder? Não, porque o líder cuida do povo. Cuida do povo?

Sim, o povo ameaça o líder do povo. O líder revolve-se na cama. De noite ele tem medo. Mesmo que seja um pesadelo sem história. De noite vê caras quietas, uma atrás da outra. E nenhuma expressão nas caras. é só este o pesadelo, apenas isso. Mas cada noite, mal adormece, mais caras quietas vão-se reunindo às outras como na fotografia em branco e preto de uma multidão em silêncio. Por quem é este silêncio? Pelo líder. É uma sucessão de caras iguais como numa repetição monótona de um rosto só. Parece uma terrível fotomontagem onde a inexpressão das caras dá-lhe medo. Nesse painel monstruoso, caras sem expressão. Mas o líder se cobre de suores porque os milhares de olhos vazios não pestanejavam. Eles o haviam escolhido. E antes que eles enfim se aproximassem definitivamente, ele gritou: “Sim, eu menti!”
Clarice Lispector, 31 de maio de 1969 

Dilma está mesmo numa sinuca de bico

A presidente Dilma Rousseff (PT) entrou numa espiral de desgaste que parece não ter fim. Para qualquer lado há desgaste. E o pior, apesar de o pano de fundo ser, sim, uma crise econômica internacional, o maior desafio da governabilidade do país é o isolamento total do Planalto. A opção dos últimos anos de abraçar ao mesmo tempo Deus e o diabo para se manter no poder cobra agora o seu preço. Dilma é pressionada pela base, pela oposição, pelos movimentos sociais, pelos empresários, pelos banqueiros, pelos estudantes e até pelo próprio PT. Se anda para a direita, para a frente, para trás ou para a esquerda, desagrada a alguém e se vê com a faca no pescoço. E, para quem está com popularidade na casa dos 10%, qualquer ruído de insatisfação pode se transformar num catalisador de aprofundamento da crise de representatividade pela qual passa o país.

Esta semana, por exemplo, dois projetos em tramitação no Congresso mostraram o tamanho da contradição e da cilada política na qual o governo Dilma se meteu. O pacote de ajuste fiscal apontado como a salvação ou única alternativa para as finanças da administração federal, neste momento, só agrada a agências internacionais, comentaristas econômicos e uma pequena parcela do empresariado. E não poderia ser diferente. Aumentar tributos, cortar benefícios, suspender isenções não são nem nunca serão medidas populares, ainda mais quando são tomadas por um partido autodenominado dos trabalhadores e logo após um pleito eleitoral no qual se prometia (ou se esperava) um governo mais voltado para o social.

E cobrar da oposição coerência chega a ser ridículo. Mesmo sendo em sua maioria tacanha, conservadora e raivosa, ela está no seu papel de criticar quem prometeu uma coisa e está entregando outra.

O problema de Dilma são seus aliados e sua própria indefinição de como governar. Enquanto ela e a equipe econômica maquinavam como protelar a regulamentação da entrada em vigor de um novo indexador para as dívidas do Estado com a União, a Câmara aprovava, com ampla maioria, um projeto obrigando o governo federal a aplicar uma nova taxa de juros justamente sobre essas dívidas dentro de 30 dias.

O ex-ministro e ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, um dos fundadores do PT e defensor da renegociação da dívida dos governadores, definiu bem o atual momento. Segundo Tarso, essas ações do Planalto, rasgando promessas feitas anteriormente em nome da viabilidade econômica, conseguem em uma só tacada desagradar a todos e ainda fortalecer falsos aliados.

“O PT ficou inerte total, e o PMDB, ‘aliado’, já com projeto próprio, é claro, ‘esnucou’ o governo na questão da dívida dos Estados. Resultado: em face dessa inércia, aliado ‘mui amigo’ desgasta governo, que não reestrutura dívida, e partido da presidenta que emudeceu”.

Paim, o bravo?

Sou o último dos parlamentares do PT que participou da Constituinte e hoje ainda está em atividade, sempre em uma linha de coerência. Como é que a essa altura do campeonato eu vou votar contra pescador, contra a viúva, contra o trabalhador desempregado? Não tem sentido. Não tem como mexermos nesses direitos trabalhistas.
Petista histórico, o ex-deputado constituinte e senador Paulo Paim (RS) está prestes a deixar o partido a que se filiou há 30 anos

Os convencidos da vida

Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.
Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força.


Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista.

Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?

(...) No corre-que-corre, o convencido da vida não é um vaidoso à toa. Ele é o vaidoso que quer extrair da sua vaidade, que nunca é gratuita, todo o rendimento possível. Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes. É tão capaz de aceitar uma condecoração como de rejeitá-la. Depende do que, na circunstância, ele julgar que lhe será mais útil.

Para quem o sabe observar, para quem tem a pachorra de lhe seguir a trajetória, o convencido da vida farta-se de cometer gafes. Não importa: o caminho é em frente e para cima. A pior das gafes, além daquelas, apenas formais, que decorrem da sua ignorância de certos sinais ou etiquetas de casta, de classe, e que o inculcam como um arrivista, um "parvenu", a pior das gafes é o convencido da vida julgar-se mais hábil manobrador do que qualquer outro.
Daí que não seja tão raro como isso ver um convencido da vida fazer plof e descer, liquidado, para as profundas. Se tiver raça, pôr-se-á, imediatamente, a "refaire surface". Cá chegado, ei-lo a retomar, metamorfoseado ou não, o seu propósito de se convencer da vida - da sua, claro - para de novo ser, com toda a plenitude, o convencido da vida que, afinal... sempre foi.
Alexandre O'Neill (1924-1986)

Agora só falta a Câmara querer um parque de diversões

É inacreditável, inaceitável e inviável a iniciativa da Câmara dos Deputados, que pretende construir mais três prédios e uma área de lazer e serviços, com orçamento de R$ 1 bilhão, incluindo lojas, restaurantes e tudo o mais, além de uma garagem subterrânea, para ocupar um gigantesco espaço de 332 mil metros quadrados.

O edital de consulta à iniciativa privada sobre interesse em construir os novos prédios já foi publicado no site da Câmara dos Deputados, com nome de Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI).


Chamado de anexo IV-B, um dos prédios previstos irá abrigar um auditório para 700 pessoas, que poderá funcionar como plenário alternativo. Além disso, outros auditórios de menor capacidade e salas de reunião voltadas para o uso dos parlamentares estão previstas. Mas para que tudo isso? A Câmara já tem o auditório Ulysses Guimarães, de bom tamanho, e cada Comissão Técnica tem seu próprio salão de reuniões, e alguns são enormes, como o da Comissão de Relações Exteriores. Além disso, existe no Senado o imenso auditório Petrônio Portela, com 500 confortáveis poltronas, equipamento de tradução simultânea e tudo o mais.

O anexo IV-D será um edifício de 10 andares na superfície e três no subsolo, com 256 gabinetes parlamentares de 60 m² cada. O terceiro edifício, chamado de anexo IV-D, abrigará “órgãos” da Câmara e garagens para funcionários. A área de lazer, chamada no edital de “praça de serviços”, terá restaurantes, cafés, lojas e “áreas de convivência”. As garagens dos três prédios, juntas, conterão 4.400 vagas cobertas.

Para sair do papel, o projeto terá de ser desenvolvido por meio de Parceria Público-Provada (PPP), ou seja, os serviços seriam explorados por meio de concessão a uma empresa, em contrapartida, para recuperar o valor investido.

Este obra megalomaníaca e abusiva não é da atual gestão. Foi desenvolvida durante a presidência de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que acaba de ser agraciado com o cargo de ministro do Turismo. Mas se tornou mais uma mancada do atual presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que deveria simplesmente ter arquivado o projeto.

A justificativa é de que a ampliação é totalmente necessária, em função do gigantismo da Câmara, cujos funcionários não têm vagas para estacionar. Afinal, são mais de 15 mil servidores permanentes ou temporários na folha de pagamento e o Senado tem outros 9 mil funcionários, perfazendo 24 mil pessoas.

O que se espera dos políticos é que caiam em si e entendam que o poder público precisa economizar em custeio para poder investir. Mas quem se interessa? No Congresso há o exemplo do senador José Antônio Reguffe (PDT-DF), que reduziu de 55 para 12 a quantidade de assessores, abriu mão de 100% da verba indenizatória e da cota de atividade parlamentar. O impacto dessas duas medidas gera uma economia de quase R$ 17 milhões, isso sem contabilizar economias indiretas com custos de férias e encargos sociais de servidores que deixou de contratar. O senador recusou ainda carro oficial, consequentemente economizará com combustível e manutenção. E foi além, abrindo mão de plano de saúde que garantiria acesso a tratamentos médicos e odontológicos tanto dele (senador) quanto de toda família. E mais que isso, preferiu contribuir com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) do que ter direito à aposentadoria especial de parlamentar.

Outro exemplo é o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, que mostrou ao mundo a possibilidade de exercer o poder com simplicidade e ostentação. Sempre que o elogiamos, muitos comentaristas protestam, criticando Mujica por ser esquerdista. Mas não é este o caso, o que se discute é o poder público ser exercido ostensivamente, como ocorre no Brasil, cuja governanta se hospeda no exterior em hotéis de altíssimo luxo e frequenta os mais caros restaurantes com sua equipe, com tudo pago pelos cartões corporativos, cujos gastos são até secretos, vejam a que ponto vai a desfaçatez dessa gente.

Não devemos nos preocupar se Reguffe ou Mujica são do partido A ou B, se pertencem a esta ou aquela ideologia. O importante é o exemplo que nos dão, fazendo com que possamos cultivar um resquício de esperança, que dê algum sentido a nossas vidas neste país absurdo, onde predomina a falta de caráter, de ética e de espírito público nos três podres poderes da República, como diz Caetano Veloso.

Vitória dos outros

Nossa derrota sempre esteve implícita na vitória dos outros. Nossa riqueza sempre gerou nossa pobreza por nutrir a prosperidade alheia: os impérios e seus beleguins nativos. Na alquimia colonial e neocolonial o ouro se transfigura em sucata, os alimentos em veneno.
A chuva que irriga os centros do poder imperialista afoga os vastos subúrbios do sistema. Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes - dominantes para dentro, dominadas para fora é as maldições de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga.
Eduardo Galeano 

Dilma, Lula e o diabo

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Esperto e experiente, Lula faz o diabo sempre. E a altíssima conta que o capeta cobra ele empilha nos ombros dos outros
Em abril de 2013, durante encontro com prefeitos na Paraíba, Dilma Rousseff surpreendeu a todos com sua sinceridade: “Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”. Confessou e fez, como é sabido. E o belzebu cobrou. Com juros e correção, sem carência ou parcelamento. Pior, encarnado em gente experiente nesse tipo de pacto.

Mais do que a paralisia do país, a economia estagnada, a inflação e o desemprego em alta, os demônios que assombram Dilma estão incorporados nos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), antigo desafeto, e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fiel aliado até poucos dias. E em seu padrinho Lula.

Cunha e Renan têm se divertido em lançar chamas, assustar e pregar peças no governo.

Ainda que os objetivos de ambos não sejam nada republicanos, há muito não se via um Parlamento tão ativo. Até altivo. Câmara e Senado passaram a reivindicar suas prerrogativas, falar alto, questionar o governo.

Não há, no entanto, o que comemorar. O Legislativo só parou de dizer amém a partir das diabruras dos peemedebistas. E só se manterá assim enquanto for do interesse do PMDB, partido que mais do que qualquer um sabe o momento de aderir – e gozar as benesses do paraíso -, e a hora de escapar do incêndio, não raro colocando mais lenha na fogueira.

Mas é Lula quem melhor personifica o inferno de Dilma.

Safo como ninguém, Lula é senhor do bem e anjo do mal. Reúne-se com a afilhada, presta-lhe solidariedade, lhe acarinha o ego. Chegou a defender o ajuste fiscal proposto pela pupila, mesmo se o PT ficasse contra. E o fez na cerimônia de aniversário do partido. Registre-se: uma única, apenas uma vez.

Ao mesmo tempo, estimula a reação petista contra as medidas econômicas do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e incita o exército de Stédile a ir às ruas. Aposta na esquizofrenia de uma tropa comandada – e paga - que carrega cartazes de apoio a Dilma e grita contra o que o governo dela tem de fazer.

E vai além. Depois de cada encontro com a presidente, o ex faz a imprensa saber que Dilma insiste em não ouvi-lo. Uma suposta briga entre os dois, ocorrida no Planalto, ilustra bem isso. Lula teria perdido a paciência, batido os punhos na mesa, gritado, disparado palavrões.

Quer porque quer que o distinto público creia que os desacertos do governo devem-se ao fato de Dilma não seguir os conselhos dele. Que ele, só ele, é a salvação.

É perverso, diabólico.

Pior para Dilma, que nada aprendeu e acha que tudo sabe. Que não tem como quitar a dívida de um pacto que não é para iniciantes, mas que ela contraiu. Que colocou o coisa ruim na roda, admitindo fazer o diabo na hora de eleição.

Esperto e experiente, Lula faz o diabo sempre. E a altíssima conta que o capeta cobra ele empilha nos ombros dos outros.

Das corrupções de todo dia

Sempre que possível caminho pelo bairro onde moro ou pelas redondezas do trabalho. Gosto de perceber o modo como a cidade se movimenta, ver as cores que se formam conforme as horas correm, compreender os encontros ou – exatamente o oposto – notar a maneira como deixamos escapar sentimentos, projetos e pessoas quando as distâncias passam a ser longas demais.


Outro dia, alguns antes da braveza em verde e amarelo que tomou conta o país, resolvi contar: em menos de dois quilômetros, quatro motoristas estacionaram sobre a faixa de pedestres, dois cruzaram por ela apesar dos que aguardávamos para atravessar, uma jovem de corpo esguio e passos largos jogou seu lixo na calçada, uma mãe incentivou o filho pequeno a fazer o mesmo no jardim do parque e um homem de meia idade saudou um ciclista com buzina e palavrões. Na volta para casa, peguei um táxi, pensando naquilo tudo enquanto o taxista nervosinho acessava o Facebook pelo celular grudado no painel do carro.

[Pois é].

Sou a favor dos protestos, desde que os participantes, para um lado ou para o outro, de fato compreendam o contexto das manifestações e suas consequências, tratem as diferenças com respeito e acreditem nas bandeiras que carregam. Sou contra a corrupção, indiscutivelmente. Mas acho, para além do que temos assistido, que está na hora de combatermos também as pequenas contravenções de todo dia.

Por que aceitamos e às vezes até cometemos desvios no trânsito, no trabalho ou na praça? Por que não protestamos, igualmente, contra as pequenas corrupções cotidianas? Por que ainda há tanta gente que fura fila, paga propina, atrasa religiosamente os compromissos, mente para os amigos, investe em desestruturar uma família ou sacaneia o colega de trabalho? Ofender quem pensa diferente faz parte do pacote? O que cada um de nós realiza, efetivamente, na construção diária do país de riso e glória de que nos falava o mestre Drummond?

[Um mundo enfim ordenado, uma pátria sem fronteiras, uma terra sem bandeiras, sem igrejas nem quarteis, sem dor, sem febre, sem outro, um jeito só de viver].

Temos todos os nossos desgastes, íntimos e intransferíveis, feitos das ausências alheias, das saudades, do frio que não termina nunca, de um amor não correspondido, de arrependimento ou vontade de dizer o que não se pode, vazio ou falta de sentido, da Lei de Murphy ou da Teoria dos Seis Graus de Separação, do sufoco cotidiano, da profissão ou do casamento, do vizinho barulhento, do computador com vírus, do açúcar que o médico mandou cortar, do trânsito engarrafado, do sono acumulado ou da tensão de um dia inteiro de trabalho.

Mas há, de fato, cansaços que deviam ser igualmente combatidos: a violência nas ruas, pedir atestado médico sem estar doente, aceitar o trabalho infantil, trair, contribuir com a poluição e o desperdício de água, o analfabetismo, o atraso, o desrespeito no trânsito, o preconceito, o racismo, a competição desleal, o lucro a qualquer preço, aquele jeitinho para quase tudo que aprendemos que faz parte.

A verdade é que não faz.

Protestar contra o sistema, a política ou a corrupção, na maior parte das vezes, é mais fácil que mudar em nós mesmos comportamentos nocivos, mas o fato é que atitudes individuais externas às regras da boa convivência e do bem coletivo também fazem mal, e muito, à vida pública e ao país que nos abriga.