domingo, 22 de março de 2015

Dia Mundial das Águas

Dia-da-falta-de-agua

Não te rendas

Não te rendas, ainda é tempo
De se ter objetivos e começar de novo,
Aceitar tuas sombras,
Enterrar teus medos
Soltar o lastro,
Retomar o vôo.

Não te rendas que a vida é isso,
Continuar a viagem,
Perseguir teus sonhos,
Destravar o tempo,
Correr os escombros
E destapar o céu.

Não te rendas, por favor, não cedas,
Ainda que o frio queime,
Ainda que o medo morda,
Ainda que o sol se esconda,
E o vento se cale,
Ainda existe fogo na tua alma.
Ainda existe vida nos teus sonhos.

Porque a vida é tua e teu também o desejo
Porque o tens querido e porque eu te quero
Porque existe o vinho e o amor, é certo.
Porque não existem feridas que o tempo não cure.

Abrir as portas,
Tirar as trancas,
Abandonar as muralhas que te protegeram,

Viver a vida e aceitar o desafio,
Recuperar o sorriso,
Ensaiar um canto,
Baixar a guarda e estender as mãos
Abrir as asas
E tentar de novo
Celebrar a vida e se apossar dos céus.

Não te rendas, por favor, não cedas,
Ainda que o frio te queime,
Ainda que o medo te morda,
Ainda que o sol ponha e se cale o vento,
Ainda existe fogo na tua alma,
Ainda existe vida nos teus sonhos
Porque cada dia é um novo começo,
Porque esta é a hora e o melhor momento
Porque não estás sozinho, porque eu te amo.
Mario Benedetti (1920/2009) 

Reforma é tanto urgente quanto imprescindível

É isso que o título sintetiza: a presidente Dilma Rousseff, embora negue, no fundo tem consciência de que a reforma ministerial é fator imprescindível para os rumos de seu governo, além de urgente. A reportagem de Simone Iglesias, Cristiane Jungblut, Júnia Gama e Carolina Alencastro, O Globo de sexta-feira 20, focalizava nitidamente o tema e sua profundidade. Na mesma edição, cobertura de Luiza Damé à visita de Dilma a Goiania, reforça a ideia. Na solenidade ao lado do governador Marconi Perilo, PSDB, a presidente da República pediu tolerância e diálogo. Tolerância de quem? Diálogo com quem? São perguntas inevitáveis.

Dirigiu-se portanto à sociedade; à opinião pública. Tolerância traduz insatisfação com algo concreto. Logo, quem pede tolerância, tacitamente admite que não está indo bem e assim necessita compreensão para, presume-se, superar obstáculos. Mesma coisa quanto ao diálogo. Pois se este está faltando, a culpa é de quem exerce o poder, não da população, que obviamente não tem acesso ao Planalto, centro das decisões do governo. Se está faltando diálogo, está havendo falta de comunicação pública. A responsabilidade é de quem? Só pode ser do próprio Executivo.

E, nesse ponto, nos deparamos com a publicação de documento editado pela Secom, dirigida pelo ministro Thomas Trauman, criticando fortemente a atuação governamental. Trauman ainda é o ministro chefe da Secretaria de Comunicação. Mas, logo, logicamente, não pode permanecer no cargo. Mais um aspecto da desarticulação em torno da qual se movimenta o Palácio do Planalto. A desarticulação não é o único fator do desgaste. Pois temos o depoimento silencioso de Renato Duque à CPI da Petrobrás agravando a situação política.

Renato Duque foi o diretor da estatal que, embora preso em Curitiba, através de terceiros, tentou transferir em saldo de 31 milhões de euros de um banco na Suíça para outro, localizado em Mônaco. Além disso em sua residência a PF, cumprindo determinação do Juiz Sérgio Moro, apreendeu 131 obras de arte de autores renomados. São fatos que se acumulam e desacreditam o governo. A presidente, portanto, deve realizar com urgência a reforma de sua equipe, a reforma ministerial. Inclusive, uma das reivindicações populares está na diminuição do número de ministérios. Trinta e nove é demais.

A presidente, sobretudo, não possui tempo para debater as questões importantes com todo esse time. É impossível. Resultado: há ministros que nunca podem ser recebidos. Sua comunicação tem de se realizar através da Casa Civil, cujo titular Aloizio Mercadante, tem sua presença questionada e abalada pelas manifestações públicas do ex-presidente Lula.

Como já ocorreu em crises anteriores, os integrantes do ministério deveriam agora ser os primeiros a tomarem a iniciativa de libertar a presidente dos constrangimentos a ocorrer se a iniciativa de substituí-los partir deles. A se dirigirem ao Palácio do governo colocando seus cargos à disposição da presidente da República, como ocorre inclusive nos países mais qualificados.

Libertemos a presidente, a meu ver, deve ser a palavra de ordem. Com base nela, Dilma Rousseff encontraria melhores condições para reformular a equipe, mantendo alguns e exonerando outros, conforme sua visão sobre um campo político livre de injunções partidárias. Só assim poderá tentar recuperar o diálogo com o eleitorado que a levou a seu segundo mandato. Prisão para os ladrões da Petrobrás, liberdade para o pensamento da população.

Pedro do Coutto

Governo na lona, oposição zonza

Dilma telefone responde pesquisa aprovação queda
Cerca de dois milhões de brasileiros ocuparam as ruas no último domingo. Vestidos de verde e amarelo uniram-se em repúdio à corrupção, berraram fora Dilma, fora PT. Bateram panelas na mesma noite e na seguinte em protesto aos ditos patéticos de ministros e da própria presidente. Não foram ouvidos. Nem pelo governo nem pela oposição.

Apenas dois dias após as manifestações que deveriam ter mexido com os brios de quem se opõe ao estado de calamidade do país, partidos de oposição, incluindo o maior deles, o PSDB, agiram na contramão do Brasil, da lógica e das ruas.

Não só endossaram a tri-multiplicação do fundo partidário - de R$ 372 milhões para quase R$ 870 milhões -, como receberam, de bom grado, R$ 10 milhões para emendas de parlamentares novos, presentinho do PMDB, por meio do relator do orçamento, senador Romero Jucá (RR).

Um desatino.

Ainda que o completo desacerto da economia tenha sido provocado pelos governos petistas - Lula que não aproveitou a bonança e Dilma que nada sabe e arrota todo o saber -, fazer oposição inviabilizando o país é coisa para o PT, e não para gente que se diz responsável.

No vácuo, o PMDB - sempre ele -, aquele que é aliado de Dilma e não o é, que está no governo e não está, arvorou-se como o principal interlocutor das insatisfações populares. Contrariando o peemedebista Jucá, anunciou que defenderá o veto ao aumento do fundo partidário, dizendo-se “sensível” às vozes das ruas.

Também parte do PMDB a proposta para que Dilma reduza de 39 para 20 o número de ministérios.

O PT, por sua vez, tenta se reconectar com as ruas. Usa o pedaço fiel, personificado nas centrais sindicais, no MST e nos movimentos pró-moradias. Não raro, causa mais estragos ao governo do que a oposição. E para atender a esse público cativo, visto que o resto dá-se por perdido, faz Dilma recuar no ajuste fiscal. Claro, onde ela não devia.

Sem uma ação política articulada, as oposições, PSDB à frente - que aglutinou o antipetismo de quase metade do país no candidato Aécio Neves -, perdem-se em questões periféricas, na crítica verbal.

Rechaçar as bobagens diárias de um governo que se movimenta entre o exército de robôs e o exército do Stédile é pouco, muito pouco. Milhões de brasileiros foram e continuarão indo às ruas para por fim à corrupção institucionalizada pelo PT. Para estacar a sangria. Não querem mais pagar impostos e não ter serviços, muito menos enriquecer uns e outros privilegiados.

Não têm respostas prontas. Sabem mais o que não querem.

Mas, se é natural que o governo Dilma opte pela tangente com um requentado decreto anticorrupção que nada resolve e talvez até crie entraves para punições, é inadmissível que as oposições não se cocem.

O cambaleante governo Dilma está nocauteado. Nas ruas e fora delas. PSDB & cia têm pouco tempo para compreender as demandas e agir à altura.

Poder, corrupção mentiras e algumas perguntas

“Hey, o que você está fazendo agora?
Não vá cair no caminho errado
Olhe para trás de onde você veio
Conte até dez antes de você errar
Você tem que manter sua cabeça erguida
Você sabe que não é tarde demais para tentar
Você consegue carregar esse peso
Você tem que voltar a estar no controle”
O leitor pode entender estranho que uma coluna sobre Direito Tributário seja iniciada com versos. Mas estes fazem parte de uma das faixas do álbum de 1983 lançado pelos músicos ingleses New Order , cujo título tem tudo a ver com o momento que vivemos: “Power, Corruption & Lies”. Aliás, 1983 foi um ano fértil para o rock: no Brasil surgem Ritchie (Menina Veneno), Titãs e Capital Inicial e nos Estados Unidos aparecem Metallica, Red Hot Chili Peppers e Megadeth.

Ao ler com atenção os versos, os brasileiros podem crer que foram feitos hoje e dedicados à nossa Presidente. Nossa sim, prezado leitor! Todos queremos viver numa democracia, excluídos os óbvios filhotes e viúvas das ditaduras. Dilma não preside apenas a parte dos brasileiros que votaram nela, mas a todos. Parece pouco provável que seu afastamento melhore o que temos.

Assim, tudo indica que não lhe resta apenas afinar a silhueta e perder uns ou muitos quilinhos, mas também, como dizem os versos da música: não cair no caminho errado, contar até dez antes de errar, manter a cabeça erguida, carregar esse peso que tem sobre seus ombros e, sobretudo, voltar a estar no controle.

Poder é um anagrama muito óbvio da palavra podre. Em alfarrábios da cabala afirma-se que anagramas possuem poderes misteriosos, muitas vezes trágicos. Exemplo disso é o fato de que uma importante reunião de nazistas teria ocorrido no antigo Hotel Florida no Rio de Janeiro. O nome do hotel é anagrama perfeito de Adolf Hitler.

Isso talvez explique porque o poder é capaz de tornar podre a pessoa que o conquiste ou seja por ele conquistado. O poder é extremamente fascinante e a fascinação é maior nos espíritos menores. Para conhecer bem uma pessoa, dê-lhe o poder, já se disse alhures.

Os podres poderes foram cantados por Caetano Veloso que perguntou:
“Será que nunca faremos senão confirmar na incompetência da América católica que sempre precisará de ridículos tiranos?

Pois nessa terça-feira (24/02), a sessão do Congresso Nacional (minúsculas apropriadas) nada resolveu sobre as questões que deveriam ser resolvidas, dentre as quais a do percentual de 4,5% de correção do IRPF. Esgotou todo o tempo na tentativa grotesca de mudar as regras do jogo depois dele iniciado. E o assunto ficou para amanhã. No comando da balbúrdia, o incrível presidente Renan Calheiros!

Mas o poder legislativo já decidiu algumas coisas: aumento das vantagens a seus integrantes e até mesmo a relevante questão de colocar o nome de uma torcida de time de futebol numa data qualquer. Bem, se já temos o dia oficial do Saci Pererê, já não falta quase nada! A não ser os bilhões que querem enterrar em novos palácios brasilianos.

O poder executivo não fica atrás: sem dinheiro para consertar banheiro de uma escola, a prefeitura paulistana gasta milhões em ciclovias, pistas de skate e outras coisas mais importantes. Se, como aprendi no 1º ano de direito na PUC que “governar é administrar prioridades”, a conclusão é óbvia: não temos governo.

E o Judiciário, hein? Enquanto se esforça com muita sabedoria na promoção da conciliação e assim luta pela redução da litigiosidade, pouco faz no combate ao comportamento aético ou criminoso dos grandes usuários de seus serviços.

Deixa, por exemplo, de punir com adequada condenação honorária o poder executivo quando este promove execuções de débitos prescritos, não paga suas dívidas e pratica atos claramente abusivos contra o povo. Também incentiva os bancos, as concessionárias de serviços públicos e grandes grupos econômicos que abusam dos consumidores, na medida em que, quando os condena, deixa de aplicar multas pesadas, que os façam mudar de comportamento.

O mesmo Judiciário ainda não consegue resolver com rapidez boa parte das causas e isso decorre principalmente do mau uso de seu tempo com atos dispensáveis e inúteis. Solenidades quase diárias para outorga de medalhas e diplomas, homenagens inúteis, festas e salamaleques medievais onde pessoas cheias de capas e medalhas empregam o tempo pago pelo povo em coisas alheias ao trabalho e placas ridículas colocadas em palácios ou edifícios que pertencem ao povo, tudo com a única finalidade de satisfazer vaidades de pessoas que, pelo seu talento, honorabilidade e reconhecido saber jurídico, sabem que não precisam disso!

A corrupção é a doença nacional mais antiga do país. Veio com os piratas portugueses e continua até hoje com piratas de todas as nacionalidades, inclusive os aqui nascidos. Para que tenhamos uma pálida lembrança: a reconstrução de Portugal após o terremoto de 1755 fez-se toda com ouro roubado daqui. O tesouro lusitano à época possuía o maior estoque de ouro do planeta.

De lá para cá pouco mudou. Sempre fomos o país da piada pronta. Quanto todos falavam que o petróleo era nosso quem ganhava dinheiro com isso era a Shell, a Esso, a Atlantic. Veio a indústria brasileira de veículos, para produzir carroças a preço de cadilacs. Investiu-se em ferrovias, mas todas viraram sucatas quando estatizadas. Temos grande bacia hidrográfica e nos tornamos reféns de caminhões! E vamos parar por aqui para não baixar o nível musical da coluna, que algumas pessoas já chamam de calúnia semanal.

No campo das mentiras, ninguém nos supera. Dos números, os únicos ainda confiáveis são os do jogo do bicho. Discursos, documentos e pronunciamentos oficiais são discursos sobre a falsidade, tratados da enganação. Tudo mentira!

 Leia mais o artigo de Raul Haidar

E como fede, né, presidente?

Como um animal morto fede, a corrupção fede, a sociedade corrupta fede, e um cristão que deixa entrar a corrupção fede. Todos têm a oportunidade de ser corrupto e resvalar para a delinquência
Papa Francisco

Pré-sal e marketing da mentira do PT

“Recentemente descobrimos o pré-sal”, é o que diz campanha publicitária veiculada nas televisões e rádios do Brasil. Atribuir ao governo “o descobrimento” da camada do pré-sal é falácia do mais baixo nível. A nova fronteira exploratória do petróleo brasileiro é fruto do investimento de mais de quatro décadas e da competência técnica da Petrobras, reconhecida mundialmente.

Nas décadas de 80 e 90, foram perfurados mais de 150 poços no pré-sal brasileiro, com sucesso variável entre 25% e 30%. A fantasia criada por um marketing político, engajado na mistificação, atropela a verdade histórica, como demonstraremos. Em um país de memória rala é fundamental desmistificar os assaltantes de feitos que tiveram outros autores.

A descoberta de petróleo no mar, na Bacia de Campos, tem um único responsável: o geólogo Carlos Walter Marinho Campos. Foi sua coragem e determinação que gerou a descoberta da maior província petrolífera do Brasil. Em 1973, demonstrou que havia existência de petróleo na parte submersa do poço 1-3-R-157, na área de Macaé. Diretor da área de exploração, aprofundou as pesquisas em parte rasas da costa oceânica, com investimentos limitados. Na época, o presidente da estatal, o general Ernesto Geisel, determinou o cancelamento do projeto pela inviabilidade da existência de óleo na área.


Corajosamente, ele enfrentou a resistência de Geisel, argumentando que havia sinais indicativos de petróleo na formação geológica batizada de “calcário de Macaé”. No ano seguinte, em 1974, era descoberto o poço de Garoupa, na Bacia de Campos. Ali se mudava a história do petróleo no Brasil. A exploração “off-shore” (no mar), onde antes predominava a exploração “on-shore” (em terra), surgiu há 40 anos e teve em Carlos Walter Marinho Campos, o seu autor e desbravador.

Morto em 2000, o grande técnico brasileiro é ignorado e desprezado pelas direções da Petrobrás, aparelhadas nos últimos anos. Pioneiramente alertava que as rochas onde o petróleo se armazenava eram compostas de carbonato de cálcio de enorme obstáculo à penetração das brocas perfuratrizes. Era preciso desenvolver tecnologia pioneira sobre as rochas carbonáticas, caracterizadas por porosidade e permeabilidade diferenciadas. Sendo viscoso pode se desprender para dentro do poço de petróleo, se a penetração da sonda não for adequada, fechando o veio de extração do óleo.

A memória geológica de Carlos Walter Marinho Campos era notável. Aperfeiçoada nas viagens de observação que fazia ao Oriente Médio, fundamentariam a sua obsessão na descoberta do petróleo no mar brasileiro. No Irã e no Iraque constatara que a existência de “rocha de calcário” no mar produz grandes quantidades de petróleo. Foi muito importante a associação da estatal brasileira com a estatal petrolífera do Iraque, na descoberta da província de “Majnoon” que se transformaria em uma das áreas mais produtivas de petróleo no país de Sadam Hussein. Fato pouco conhecido pelos brasileiros.

No final das décadas de 70 e 80, quando da crise e preços astronômicos do petróleo mundial, o Brasil teve no Iraque um parceiro privilegiado no abastecimento interno do petróleo, em situação vantajosa. Paralelamente, o mercado interno iraquiano, foi aberto e garantido para empresas brasileiras, como Volkswagen, vendendo o carro Passat na escala de milhão; Engesa, que fornecia armamentos desde os tanques Cascavel a armamentos sofisticados, inclusive foguetes de mediano alcance; a construtora Mendes Junior, foi a executora do asfaltamento da rodovia de Bagdá a Basra, no sul do país. Igualmente na execução de serviços ferroviários na região norte, na área de Mossul. Outras empresas brasileiras forneceram bens e serviços ao governo iraquiano. Posso testemunhar a existência dessa realidade porque na época estive no Iraque.

A exploração petrolífera brasileira no mar, inicialmente com a camada do “pós-sal” na Bacia de Campos e agora no “pré-sal”, não foi fruto de “milagre marqueteiro”, nem bandeira de exploração política, como os governos Lula da Silva e Dilma Rousseff vêm fazendo, usando e abusando da boa fé dos brasileiros. Atestada na propaganda falsária que vem sendo veiculada nas rádios e televisões nacionais.

Enfatizar a descoberta do “pré-sal” como êxito governamental é mentir deliberadamente de maneira criminosa. Hoje, após superar a crise ética, financeira e econômica em que o conluio de políticos, empresários poderosos, diretores delinquentes e um governo que fez vistas grossas à corrupção nos últimos anos, a Petrobrás terá no “pré-sal” a certeza de que voltará a ser uma empresa que orgulhará os brasileiros. A notável figura humana e incansável pioneirismo do saudoso geólogo Carlos Walter Marinho Campos, será sempre lembrada pelos brasileiros que tem memória. E acreditam no futuro.

Hélio Duque

Aviso presidencial


Vigília permanente

O governo precisa, em primeiro lugar, fazer uma análise crítica das causas de nossa atual situação e dos erros cometidos

Nas democracias, o povo vai às ruas quando o descontentamento com o governo se alia à descrença com a oposição; e quando governo e oposição não se entendem para promover a reorientação do país, superando as razões de descontentamento e descrédito.

Após as últimas manifestações, o governo afirmou que os que foram às ruas eram os eleitores do opositor da candidata Dilma.

Em vez de estimular esse terceiro turno eleitoral, a presidente Dilma deveria reconhecer que os brasileiros têm razões para estarem descontentes: a imensa diferença entre as promessas do marketing de campanha e as medidas tomadas nos primeiros dias de governo; a inflação e o aumento nas tarifas de luz e no preço dos combustíveis; o desemprego crescente; a corrupção e a devastação da Petrobras; o corte de verbas na Educação; os equívocos do Fies, o baixo desempenho no Enem; a sensação de desamparo, insegurança e incerteza da população; o sentimento de falta de rumo do país.

É assustador perceber que o Brasil está mergulhado em tamanha crise sem que o governo reconheça seus erros, e sem que a oposição perceba que, embora a culpa seja do governo, o problema é de todos, e devemos tomar as decisões necessárias para salvar o Brasil e reorientar o futuro.

O governo precisa, em primeiro lugar, fazer uma análise crítica das causas de nossa atual situação e dos erros cometidos, na administração das contas públicas, na gestão de economia e na montagem da infraestrutura.

Em segundo lugar, precisa fazer um mea culpa. E em terceiro, em vez de acenar com essa vaga ideia de que está aberto ao diálogo, fazer um convite a todas as forças políticas e sociais rumo a um entendimento para reorientar o país.

Não basta diálogo, é preciso entendimento. Que oposição e governo componham um programa de médio prazo com um ajuste fiscal imediato, que:

— Tenha eficiência para cobrir o rombo das contas públicas;

— Seja justo para proteger os mais pobres dos custos necessários;

— Defina uma estratégia que preserve os investimentos essenciais ao crescimento econômico;

— Tenha legitimidade decorrente desse entendimento entre os partidos da base governista e políticos de todos os matizes, além de trabalhadores, empresários e comunidade intelectual;

Para que seja possível combinar esses princípios, em parte contraditórios, o ajuste deve ser gradual, programado ao longo do tempo, sem o choque que sacrifique o presente, nem o populismo que sacrifique o futuro.

Dificilmente isso será proposto pelo governo, ou aceito pela oposição.

Por isso, a porta para o entendimento necessário à superação da crise só será aberta se a população estiver em clima de manifestação permanente, pacífica, dentro da rotina do dia a dia, carregando faixas e falas aos seus locais de trabalho, usando as redes sociais. Fazendo do Brasil uma imensa praça, em vigília permanente, até que as lideranças nacionais se entendam no propósito de salvar o Brasil.

Cristovam Buarque

Pacote agrada, mas precisa de medidas de prevenção


O pacote de medidas contra a corrupção anunciado na última quarta-feira pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro da Justiça José Eduardo Cardozo reúne iniciativas positivas, mas pode ser insuficiente na prevenção de delitos. Esta é a opinião de duas autoridades especializadas em crimes de corrupção consultadas pela BBC Brasil.

As medidas, anunciadas em Brasília, incluem um projeto de lei para criminalizar o caixa dois, uma proposta de emenda constitucional para confisco de bens adquiridos ilicitamente, um projeto para que a Lei da Ficha Limpa inclua nomeados para cargos de confiança e um pedido de aceleração na tramitação de projetos de lei que criminalizam o patrimônio injustificado e o enriquecimento ilícito de agentes públicos.

A presidente também assinou decreto de regulamentação da Lei Anticorrupção, que aguardava aprovação desde agosto de 2013.

O problema é a fiscalização, que é feita pelo próprio órgão (por exemplo, ministérios, autarquias e demais órgãos públicos) que contrata serviços. Nem sempre essa fiscalização é adequada. Na maioria dos casos, a chefia do controle interno é um cargo comissionado por quem tem que ser fiscalizado. Então, o que se pode esperar dele? No âmbito de um ministério, admitir que o próprio ministro possa nomear seu controle interno é muito equivocado. É preciso adotar outro critério
Rocha Furtado


As demais medidas ainda precisam ser aprovadas pelo Congresso Nacional, cuja relação com o governo Dilma vem se deteriorando em meio às investigações de corrupção na Petrobras e um racha na base aliada.

Embora vejam o pacote anunciado como positivo, em comum nas visões do promotor Roberto Livianu, autor de Corrupção e Direito Penal – Um diagnóstico da corrupção no Brasil, e Lucas Rocha Furtado, autor de As raízes da corrupção no Brasil, está a defesa da inclusão de mais medidas focadas na prevenção de desvio de verbas, como a maior fiscalização do poder público, a redução de cargos comissionados no governo e - algo que independe do Executivo - uma ação mais firme do Poder Judiciário.

"Não acho errada a produção de legislação para estas questões. O problema é apresentar diante do clamor da torcida, para depois debater", diz Livianu.

Na avaliação de Rocha Furtado, que é subprocurador-geral do MP junto ao TCU, as medidas anunciadas pelo governo são "ótimas", mas é preciso dar mais ênfase em controles preventivos à corrupção.

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Marqueteiro avisou que Dilma poderia virar rainha

“A República brasileira não produziu uma única grande figura feminina, nem mesmo conjugal”, pontificou João Santana em dezembro de 2010. “O espaço metafórico da cadeira da rainha só foi parcialmente ocupado pela princesa Isabel. Dilma tem tudo para ocupar esse espaço”. Com duas frases, o marqueteiro da corte comunicou a milhões de súditos que eram apenas questão de tempo a Proclamação da Monarquia, a transformação do gabinete presidencial em sala do trono e a coroação de Dilma Rousseff.

Nesta semana, depois do fulminante despejo de Cid Gomes — a primeira demissão de um ministro anunciada não pela presidente da República, mas pelo presidente da Câmara —, o palavrório declamado há quatro anos pelo vidente aprendiz pareceu menos amalucado: cada vez mais, a cara, o jeito e o falatório de Dilma lembram uma rainha cujos poderes foram amputados pelo regime parlamentarista.

Se fosse mesmo bom de bola de cristal, Santana teria também previsto que a segunda rainha do Brasil — no início do século 19 houve Maria I, mãe de dom João VI — acabaria forçada a conviver com o primeiro-ministro Eduardo Cunha. Ela faz reinações, ele manda. Ela promete em discurseiras desconexas o que não pode cumprir. Ele demite ministros indicados pela soberana, decide quem deve liderar a bancada governista e, simultaneamente, chefia a oposição a Maria II.

Pena que Maria I não ressuscitar só para ter uma conversa com Maria II. Depois de três ou quatro frases sem pé nem cabeça, Dona Maria, a Louca, entenderia que doida é a outra. Aos gritos, exigiria aos gritos que o epíteto, junto com o trono e a coroa, fosse imediatamente repassado à rainha de João Santana.

Passageira da agonia

Dilma voltou a falar pelos cotovelos para tentar reconquistar sua plateia. Só que fala muito, mas não explica, nem muito menos com humildade e diálogo. O destemperamento é o de sempre.

Ainda não explicou o que considera esse "em curto prazo de tempo" que está dando para acabar com a crise financeira, da qual é a gerentona. Mesmo que suas medidas, quer dizer as de Joaquim Levy, com mãos de tesoura já podadas, possam dar algum resultado, nada será imediato. No mínimo dois anos para se começar a sentir seus efeitos. Mas ninguém combina com o destino.

Dilma e seus planos mirabolantes ainda estão cercados pela condicional "se". E aí vem um rosário: se a crise política terminar; se o Congresso não mexer nos ajustes; se a Petrobras e o país não forem rebaixados ainda mais; se as empresas conseguirem se recuperar; se a Lava-Jato não causar mais turbulência do que já causa. A lista é interminável.


A presidente e o PT estão mais contando com o ovo na galinha com os cortes "significativos" de Orçamento. Uma promessa para a próxima semana, a fim de se saber até quanto o governo está disposto a cortar na carne.

A meta fiscal proposta por Joaquim Levy de 1,2% do PIB já começa a ser torpeada dentro do próprio governo. Para os aliados ministros, está difícil trabalhar (ministro trabalha?) com tão pouco dinheiro para atender "seus" projetos. Afinal dinheiro em maior quantidade sempre é bom para qualquer miserável, e para ministro então nem se fala. Há que se perguntar que se a meta for mantida os ministros cruzarão os braços em sinal de greve?

Apesar dos pedidos, a reforma ministerial com o corte de ministérios está descartada. Dilma acha uma "panaceia" que não resolve nada por no olho da rua um batalhão comissariado que vem sugando há 12 anos o país. Mas esquece do placebo que enfiou por todo um mandato pela goela da população com fins eleitorais.

Há ainda muito "se" correndo por fora. O principal deles é a Petrobras implicada interna e externamente. A Lava-Jato explodindo empresários, empresas, políticos e partidos; as ações contra a empresa no exterior; o rebaixamento do país em agências de risco serão suficientes para mudar todo o quadro proposto pelo governo descer ladeira abaixo. Não haverá "se" que segure.

Por que?

O PT diz que toda a corrupção deve ser combatida e apurada. E que os responsáveis por ela devem ser punidos.
Muito bem. Mas por que quando as denúncias de corrupção batem à sua porta, o PT tudo faz para compartilhá-las com os demais partidos?

Quando o diabo é conselheiro

Pelo menos dois milhões e meio de pessoas saíram às ruas no dia 15 de março. Diziam, em essência, quatro coisas: Fora Dilma! Fora PT! Chega de corrupção! E a que estava escrita na camiseta que eu usava: Impeachment! A desaprovação da presidente, em março, segundo levantamento da Datafolha, chegou a 62%. Em fevereiro, o mesmo instituto dizia que para 52% dos brasileiros Dilma é falsa, para 47% é desonesta e para 46%, mentirosa. Nada surpreendente quando esses números se referem a quem disse que "a gente faz o diabo em época de eleição".

Num sistema de governo bem concebido, do tipo parlamentarista, tal situação levaria ao voto de desconfiança. O governo cairia. No presidencialismo, tem-se o que está aí: uma crise institucional. Então, era preciso contra-atacar. Qual o conselho do diabo numa hora dessas? "Diz que teus opositores não gostam de pobre!", recomendaria o Maligno. Foi o que fez Lula, num discurso à porta do hospital onde a Petrobras, por culpa dele e de seus companheiros, respira por meio de aparelhos.

Disse o ex-presidente: “O que estamos vendo é a criminalização da ascensão social de uma parte da sociedade brasileira. (...) A elite não se conforma com a ascensão social dos pobres que está acontecendo neste país”. Por toda parte, o realejo da mistificação, da enganação, da sordidez intelectual passou a ser acionado por gente que se faz de séria. Colunistas chapa-branca, artistas subsidiados pelo governo, intelectuais psicologicamente enfermos se alternam na manivela do realejo, a repetir essa tese.

O líder do MST, João Pedro (quebra-quebra) Stédile, falando ao lado de Dilma no RS, enquanto eu escrevia este artigo, rodou a manivela: "A classe média não aceita assinar a carteira da sua empregada doméstica. A classe média não aceita que o filho de um agricultor esteja na universidade. A classe média não aceita que os negros andem de avião. A classe média não aceita que o povo tenha um pouco mais de dinheiro”. Suponho que na opinião dele, os patrocinadores do MST são santos cujas meias deveriam ser guardadas para fazer relíquias, apesar de esfolarem a nação e encherem os próprios bolsos e os bolsos dos ricos. Quão tolo é preciso ser para se deixar convencer de que o povo sai às ruas porque pobres e pretos andam de avião e não por estar sob um governo que se dedicou a fazer o diabo? Como pode a mente humana entrar em convulsões e a alma afundar em indignidades de tais proporções?

Leonardo Boff, foi outro. Perdeu boa parte de sua fé católica, mas não a fé em Lula, a cujo alto clero não se constrange de pertencer. Dia 16, em Montevidéu, declarou: "No Brasil há uma raiva generalizada contra o PT, que é mais induzida pelos meios de comunicação, mas não é ódio contra o PT, é ódio contra os 40 milhões (de pobres) que foram incluídos e que ocupam os espaços que eram reservados às classes poderosas". É assim que o petismo age. Deve haver um lugar bem quente no inferno para quem se dedica a esse tipo de vigarice intelectual.

Vigarice, sim. E tripla vigarice. Primeiro, porque transmite a ideia equivocada de que o PT acabou com a pobreza, quando o partido está empobrecendo a todos, a cada dia que passa. Segundo, porque a nada o petismo serviu mais do que à prosperidade material de sua alta nomenklatura e a dos muitos novos bilionários que, há 12 anos, servem e se servem do petismo. Terceiro, porque só o PT se beneficia da pobreza dos pobres, aos quais submete por dependência.O desenvolvimento econômico e social harmônico é generoso. A ascensão dos pobres, quando ocorre de fato e não por doação ou endividamento, beneficia a todos. Isso até o diabo sabe.