quinta-feira, 19 de março de 2015

Leitura equivocada do PT

Não será radicalizando que o PT vai reverter o quadro. Vale lembrar outro chavão também usado por Genoíno: “Muita calma nessa hora!”

Em reunião realizada ontem em Brasília, a bancada do PT na Câmara dos Deputados resolveu que é hora de o partido “radicalizar” para sair do corner imposto pelas circunstâncias. Na avaliação de José Guimarães, líder do PT na Casa, o governo está sangrando e “é preciso ir para a ofensiva”. Na mesma linha, Rui Falcão, presidente nacional da legenda, disse que o partido vai aumentar os gastos nas redes sociais para se contrapor aos movimentos em favor de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Guimarães teria dito, também, que “não podemos ficar emparedados pelo PSDB. Precisamos radicalizar, ir para a ofensiva”.

A propósito, me lembro de uma frase que José Genoino, irmão de Guimarães, sempre repetia: “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.” Pois bem, o PT já foi melhor de análise e de estratégias. A solução preconizada por Guimarães e Falcão é simplista e atende, apenas, ao público interno do partido. E parte do pressuposto (errado) de que o PSDB é a oposição a ser vencida. Não se vê nenhuma autocrítica frente ao espantoso montante de equívocos políticos protagonizados pelo governo nos últimos tempos, nem tampouco ao assombroso volume de recursos desviados da Petrobras!

Ora, a voz das ruas que derrubou a popularidade de Dilma e colocou mais de 2 milhões em protesto no último domingo não é nem será liderada pelo PSDB. Nem é apenas, apesar de maioritariamente, composta de eleitores do candidato tucano derrotado à Presidência Aécio Neves. A insatisfação é ampla e generalizada. A derrubada da popularidade e a aprovação do governo por apenas 13% de brasileiros são sintomas de uma grave anemia política contra a qual estão reagindo todos os eleitores. Existem largos focos de insatisfação em todos os estratos sociais.

Não será radicalizando que o PT vai reverter o quadro. Vale lembrar outro chavão também usado por Genoíno: “Muita calma nessa hora!” O PT deveria fazer uma ampla autocrítica sobre o aburguesamento do partido e sobre como o aparelhamento do Estado eliminou as bandeiras mais puras da agremiação. Outro equívoco é considerar que a radicalização é o caminho. Pelo contrário, é hora de harmonizar os interesses daqueles que ainda se dispõem a apoiar o Planalto e construir uma nova narrativa.

Jamais o PT será um partido hegemônico no Brasil. Tanto por conta do sistema político nacional quanto pela ausência de uma percepção clara de como funcionam o país e seu sistema. Nesse sentido, Lula, de longe, é o melhor estrategista político do partido. Certamente ele, que sempre gostou de apontar a linha imaginária que dividia as mesas de negociação, não recomendaria a radicalização. Não foi radicalizando que o PT chegou ao poder e não será pelos radicalismos que recomporá seu prestígio.

Para a oposição, o anúncio do radicalismo infantiloide do PT é uma boa notícia. Mostra que sua leitura da realidade continua errada e que mais equívocos estão a caminho. Se a oposição é incompetente para criar uma narrativa poderosa que derrote o governo, o PT tem sido soberbo em destruir a narrativa sobre a qual construiu o seu sucesso. São coisas que só acontecem ao Brasil.
Murillo de Aragão

A hora certa para discurso de Dilma


Haverá sinceridade?

A presidente Dilma falou em humildade, democracia, direito de manifestação e até em exageros que terá cometido nas medidas de ajuste econômico. Mais do que indagar se ela foi sincera, coisa que apenas as próximas iniciativas revelarão, a pergunta é sobre se conseguirá dar a volta por cima e mudar os rumos do governo. Conselhos não lhe têm faltado, em seguida à explosão nacional de repúdio à sua postura, suas concepções e suas diretrizes. Há dúvidas quanto a suas intenções e sua imaginação.

Para começar: a presidente mudará o ministério, substituindo pelo menos a metade de seus ministros inoperantes e incompetentes e aproveitando para extinguir pelo menos a metade das 39 pastas inócuas? Sua reaproximação com o Congresso envolverá a nomeação de auxiliares desvinculados dos interesses e das sinecuras partidárias, conhecidos apenas por sua capacidade nos diversos setores da administração pública?


Com relação ao combate à corrupção, passará o rodo na Petrobras e outras empresas estatais, mudando todo mundo e afastando a sombra da influência dos partidos na nomeação de seus diretores? Determinará a quarentena das empreiteiras envolvidas na lambança ou continuará permitindo que o BNDES as sustente?

Mesmo deixando ao Congresso a condução da reforma política, cruzará os braços ou influirá na definição de aspectos fundamentais, como o fim da reeleição, a proibição de doações empresariais nas campanhas eleitorais, a diminuição do número de partidos, a coincidência das eleições e outras?

Ousará rever cortes orçamentários em atividades imprescindíveis ao Estado, como educação e saúde públicas? Deixará em aberto a redução de direitos trabalhistas ou reconhecerá o erro?

O que não adianta é Dilma mudar a linguagem, mas preservar o modelo cruel do aumento de impostos, taxas e tarifas sem apresentar a compensação do imposto sobre grandes fortunas, sobre herança e o abusivo lucro dos bancos.

A presidente e seu governo encontram-se acuados e gradativamente abandonados pelo Congresso. Seu partido, o PT, acha-se em frangalhos e faltam sinais de que ela defende um expurgo profundo em sua banda podre. Fracassará se deixar apenas ao Judiciário a missão de promover a limpeza por meio de sentenças e condenações. A liderança do palácio do Planalto torna-se imprescindível para a renovação dos companheiros, com ou mesmo sem a participação do Lula.

Quem diria, hein?!


“Acabou a corrupção no Brasil”
José Dirceu, então chefe da Casa Civil, em abril de 2004. Preso no mensalão, sob investigação no Petrolão, em ambos os casos pela corrupção que diz ter sido extinta

Depois de roubar,crie-se a lei


Política é a arte de governar com o máximo de promessas e o mínimo de realizações
Júlio de Camargo 
Dilma, mais uma vez, apela a medidas requentadas para se apresentar como revolucionária do bem. A presidente, na fala de ontem, quis ser a paladina da batalha contra a corrupção. Patética, como sempre, lembrou aquela personagem de Chico Anísio, a Maria Teresa, que só abria a boca para falar besteira.

Foi o que fez a presidente esquecida que há dez anos Lula, "Deus", também lançou um pacote anticorrupção logo depois de estourar a crise do mensalão. Mas Dilma foi mais longe com sua conversa fiada. Acrescentou que os governos petistas foram os únicos a dar combate à corrupção, o que não faz sentido.

Foi sob a governança de Lula que se institucionalizou o roubo na Petrobras e continuou sob as passagens de Dilma pelo governo anterior, no ministério das Minas e Energia e na Casa Civil, e continuou em seu mandato. Que combate foi esse em que a corrupção se alastrou devido ao aparelhamento petista?

Nem ela nem Lula sabiam que o roubo grassava à vontade, livre, leve e sem rédeas por todos os cantos em que a administração petista adentrava. Acreditar que mesmo convivendo com toda a cambada corrupta nunca souberam de nada é muita infantilidade, senão imbecilidade.

O pacote era prometido para "breve". Surgiu com uma rapidez estonteante de quem programou tudo nas coxas ou requentou papel velho. O objetivo, mais do que claro, é estancar o quanto puder o desgaste da imagem presidencial. Evitar que os casos judiciais batam às portas do Planalto e do Instituto Lula. Mesmo que a lama não entre porta adentro, os dois "paladinos" ficarão com as fichas sujas, e biografias enlameadas, para sempre. Não haverá pacotaço que possa limpar essa sujeira.

A apresentação do pacotinho de ontem, enfim, foi um jogo de cena, mais um. Quando diante de um público aliado e salvas de palmas, se saudava a nova iniciativa, chovia no noticiário para um temporal de corrupção, dinheiro desviado para petistas. Mas Dilma continuou surda ao barulho da lama subindo. Em nenhum momento, citou Moisés, que há muitos séculos já resumia em 11 letras como combater a corrupção: "Não roubarás".

A presidente armou o circo, quando basta que a lei seja cumprida. Foi o que pediu a população no domingo.

Mais Médicos para ajudar Cuba

Uma das poucas medidas concretas do governo federal após a onda de protestos de junho de 2013 foi mascarada por assessores do Ministério da Saúde. Acompanhe o vídeo

Doutora, ouça o Carvalhosa

 Dilma admitiu corrigir erros, se ler o livro do advogado, verá que sua lei anticorrupção é ‘para inglês ver’
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que a Lei Anticorrupção sancionada pela doutora Dilma há 19 meses ainda não foi regulamentada porque exige delicadas compatibilizações. Tudo bem, isso dá trabalho, mas a Constituição de 1988 fez seu serviço em 20 meses. Durante a Constituinte os parlamentares fizeram 19 mil intervenções. É difícil acreditar que regulamentar uma lei pega-ladrão dê mais trabalho que redigir uma Constituição. O comissário Miguel Rossetto certamente achará que cabe ao povo esperar que os guias geniais de sua vanguarda trabalhem em paz pela construção de uma nova sociedade mais justa (se ele der um trato no cabelo antes de ir a uma entrevista coletiva, a aliança operário-camponesa agradecerá).

Felizmente, tendo ouvido o ronco da rua, a doutora Dilma disse que está pronta para reconhecer erros cometidos pelo governo e fez isso numa entrevista em que mostrou inédito desembaraço. Poderia fazer mais. O advogado Modesto Carvalhosa acaba de publicar um livro (“Considerações sobre a Lei Anticorrupção de Pessoas Jurídicas”) com uma triste conclusão: ela é produto da “malfadada cultura de legislar para dissimular, ‘para inglês ver’”.

Carvalhosa diz e prova: o artigo 8º da lei diz que, havendo uma denúncia, caberá à “autoridade máxima de cada órgão” tratar do assunto, nomeando uma comissão formada por dois servidores. Tudo o que eles precisam é ser “estáveis”. Em suma: surgida a denúncia de roubos na Refinaria Abreu e Lima, o comissário Sérgio Gabrielli nomeia os doutores Pedro Barusco e Renato Duque para cuidar do caso. Seria muito mais lógico e eficaz colocar a Controladoria-Geral da União no lance desde a primeira hora (em São Paulo, numa construção radical desse mesmo ralo, vigora um decreto pelo qual pode-se recorrer da decisão dos Baruscos e Duques. Recorrer a quem? Ao prefeito que os nomeou).

Como a lei é para inglês ver, o seu artigo 9º diz que competirá à CGU a “apuração, o processo e o julgamento” quando as ladroagens forem praticadas “contra a administração pública estrangeira”. Ou seja, se estiverem roubando dinheiro da Petrobras, Barusco e Duque investigarão, cabendo à CGU apenas “competência concorrente”. Se estiverem roubando do companheiro Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial, a CGU entrará logo em cena, apurando, processando e julgando, sem Baruscos nem Duques.

Se a doutora Dilma der uma lida no final do livro de Carvalhosa, poderá achar pelo menos mais dez aberrações na lei que sancionou. Algumas são espertas, outras são produto da inépcia, até da preguiça. Quando trata dos cartéis, a lei praticamente copia dispositivos da legislação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Coisas semelhantes não são iguais. O Cade mira na proteção do mercado; uma lei contra a corrupção deveria mirar na defesa da bolsa da Viúva. Num caso, (inciso III do artigo 16) a simples cópia de um dispositivo de leis americanas chega a ser constrangedora. Diz que a empresa acusada deve comparecer “sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos processuais”. Isso é coisa de americano. No Brasil ninguém cuidou do táxi de alguém que é chamado a depor num processo.

Elio Gaspari

Pacote premia corruptos

RENAN PACOTEEE humor

O pacote anticorrupção do governo de Dilma Rousseff é uma farsa. Uma das primeiras medidas é garantir os acordos de leniência que a Controladoria-Geral da União quer fechar com as empreiteiras do petrolão, ao largo da Justiça.
Por esses acordos, as empreiteiras pagariam uma multa, fariam um mea-culpa e ficariam livres para continuar a fechar contratos com a administração pública. Em troca tácita, não seriam obrigadas a contar tudo o que sabem sobre os mandantes do maior esquema de corrupção da história do Brasil -- a cúpula do PT, da qual fazem parte Lula e Dilma.
O pacote anticorrupção premia os corruptos. É vergonhoso que estejam fazendo uma porcaria como essa, e nas nossas fuças.
O Antagonista

Roubam, mas fazem?

O Brasil da Petrobras oferece um exemplo contrário, como o México de Iguala e a Argentina de Nisman
A política foi inventada para que as pessoas não saiam às ruas. Quando isso acontece, a política fracassa. É o que está acontecendo no Brasil. A razão para que mais de um milhão de pessoas tenham deixado suas casas para protestar em um domingo, sob garoa, é bastante compreensível: o escândalo da Petrobras coincide com um doloroso ajuste econômico. Ambos os fenômenos estão relacionados.


Os investidores internacionais olham com preocupação como se expande a crise na empresa. A imoralidade empresarial desencadeia turbulências financeiras e resulta em uma paralisação institucional.

Desde que, há um ano, a investigação começou, a Petrobras perdeu 60% de seu valor de mercado. A essa desvalorização se soma a queda do preço do petróleo. A empresa tem uma dívida de 135 bilhões de dólares, a qual está 75% nas mãos de credores estrangeiros. E 70% está denominada em dólares.

Entre 2016 e 2017 a Petrobras deverá emitir dívida de 50 bilhões de dólares. No entanto, não pode publicar seus balanços, porque revelariam que as fraudes resultaram num prejuízo de 27 bilhões de dólares. Se esses dados contábeis não forem publicados até 30 de abril, os credores poderiam acelerar a dívida, ou seja, exigir que sejam pagas de imediato. A empresa negocia um acordo para evitar a catástrofe. A incerteza se projeta sobre a situação fiscal: Dilma Rousseff vai estatizar a dívida da Petrobras como fez Barack Obama com Freddie Mac e Fannie Mae em 2008?

Os mercados veem a petroleira como uma gigante em convulsão. Todo o setor energético, que constitui 10% do PIB brasileiro, está sob questionamento. As irregularidades afetam as grandes empreiteiras, os fornecedores e os bancos. Muitas companhias de serviços de petróleo estão à beira da falência. A OAS, segunda maior empreiteira do país, entrou em default porque a Petrobras suspendeu seus pagamentos. A mesma ameaça pesa sobre Odebrecht e Camargo Correa. Em Curitiba, 18 empresários estão atrás das grades.

Mercados veem a petroleira como uma gigante em convulsão. Todo o setor energético, que representa 10% do PIB brasileiro, está sob questionamento

A tempestade provoca impacto sobre a macroeconomia. O PIB pode cair 1,5% e a inflação chegar a 10%. Os juros da dívida pública representam 5% do PIB. A taxa de risco dos títulos soberanos do Brasil está 330 pontos acima dos papéis do Tesouro norte-americano. Peru, Colômbia, México e Chile não passam dos 150 pontos. A perspectiva de que o Estado precisará cada vez mais de dólares precipita a desvalorização. O real chegou aos 3,20 dólares, uma cotação prevista para dezembro. Para conseguir deter esse processo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, teria que realizar um grande ajuste fiscal.

Essa racionalização entra em choque com um limite político: precisaria passar por um Congresso que tem 22 deputados e 12 senadores na mira do Supremo Tribunal Federal por suspeita de corrupção na Petrobras. Entre eles estão os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ambos do PMDB, o principal aliado do PT na base governista.

Leia mais o artigo de Carlos Pagni

'Não temos nação'

Com ou sem Dilma, o Brasil não irá a lugar nenhum se não nos dermos conta de que não temos uma nação. Temos um amontoado de poderes, todos com a obstinada vocação de monetizar sua influência. Se você tem dúvidas, avalie os compromissos (ou a falta deles) dos políticos que você elegeu nas últimas eleições. E aproveitemos também para fazer uma análise de nossas responsabilidades como cidadãos. Somos todos responsáveis pelo que estamos assistindo e vivendo. Escolhemos mal, participamos nada, votamos pior ainda e achamos que nossa salvação está em bater panelas na janela
Luiz Tito 

A hora do cidadão comum

O povo se cansou de testemunhar que o crime compensa quando o roubo é feito por agentes públicos graduados

Passei a semana acompanhando a CPI da Petrobras, lendo os jornais mais importantes do Brasil e seguindo pessoalmente as manifestações. Não fui ao Rio, mas fiquei numa Niterói ilhada por obras que, espero, venham a melhorar a minha vida: a vida de um homem comum que, durante décadas, tem trabalhado no Rio e em todo lugar. Sujeito que subiu em ônibus, tomou barca, lotação e foi do tempo do andar de bicicleta e a pé.
Dizer que há uma guerra entre ricos e pobres ou afirmar, como fazem os áulicos da presidente Dilma, que “o contra” é mais motivador do que o “a favor” é ficar no mais imbecil dos sofismas.

Pois quem é a favor é contra e quem é contra é a favor. De alguém, de alguma causa ou coisa. No caso: o povo manifestou-se contra um governo paralisado por sua mendacidade, mas a favor da punição dos ladrões do mais pornográfico sistema de corrupção jamais montado no Brasil. Um sistema que vem do centro do poder e chega à periferia da sociedade É claro que as pessoas estão contra o governo Dilma, mas estão a favor daquilo que move todo povo trivial e idiota: a honestidade, a dor de consciência, a vergonha de testemunhar o furto daquilo que faria o progresso e o bem-estar de um Brasil que eles não acham que é atraso ou babaquice amar.

Do mesmo modo, todo rico tem quem seja mais rico e todo pobre conhece alguém mais pobre. Trata-se de uma oposição segmentar, como diziam os antigos sociólogos ou, como dizem os mais jovens, é um fractal. Como acontece com a oposição entre a casa e a rua na sociedade e, na política, entre direita e esquerda. Não é preciso pensar muito para descobrir que a casa tem uma rua (e vice-versa) e que cada direita tem a sua esquerda. Ou o velho Trotsky não foi assassinado? Quem o matou foi a direita ou a esquerda do stalinismo?

Quando eu fiz uma pesquisa num bairro periférico de São Paulo com pessoas que se definiam como “pobres”, fiquei parvo ao descobrir que todos, rigorosamente todos, se diziam pobres. Assim como os porta-vozes de Dilma que dizem querer um “diálogo” que termine por calar a nossa boca: a boca que foi calada por tanto tempo do cidadão comum. O tal povo que, neste movimento histórico, sai das asas dos partidos. Seja porque eles são todos falidos, mentirosos, malandros — maquinas de enricar seus membros; seja porque ninguém atura mais os Lulas, as Dilmas, as Gleises, os Cardozos (com z), os Dirceus (o “capitão do time”) os seus mensaleiros-jogadores, os Mantegas e as Rosemarys com suas pachorras e bebês.

O homem e a mulher comum se cansaram de pagar a conta da bomba de hidrogênio que foi o roubo ordenado, calculado, com um óbvio viés político-ideológico-partidário na maior e mais querida empresa do país.

Ouvir o Sérgio Gabrielli na CPI foi uma aula e um insulto. Ouvir novamente as reuniões do Supremo ou dos outros tribunais não pode mais ser um outro ato de autoflagelação. Ou mais uma aula de douta malandragem. O povo se cansou de testemunhar que o crime compensa quando o roubo é feito por agentes públicos graduados, eleitos para redimir e não sacanear o Brasil. Pois cada oitiva não termina numa lição de justiça, mas numa pedagogia de corrupção. Numa demonstração dos dotes necessários para bem roubar o Brasil: ter cara de pau, cinismo, frieza, ousadia, ausência absoluta de espírito publico, de patriotismo e, acima de tudo, de gosto pela malandragem que não dá em nada!

O outro aprendizado tenebroso é o seguinte: para roubar nesta escala e com tanta legitimidade, é preciso ser governo. Quem rouba não é o partido, nem as empresas, nem o papel de deputado, governador, prefeito, senador ou presidente. Quem rouba é a urdidura partidária relacional que mete na cabeça uma utopia ou um ideal revolucionário, o qual vai tirar a sociedade de sua miséria de pessoas comuns que trabalham, casam e fazem filhos misturados, que comem arroz com feijão e adoram carne-seca, samba e cerveja. Aceita a ideologia e implementado o partido como governo, começa a ação de “cuidar” ou revolucionar a sociedade. E, já que não se pode acabar com o mercado e a eleição, por que não comprá-los?

A nobreza das utopias — alimentar os famintos, vestir os nus, dar abrigo aos sem-teto — são as palavras magicas dessa cosmologia política pervertida, segundo a qual o governo, sabendo tudo e tudo possuindo, sabe mais e melhor do que a sociedade.

Mas eis que, depois uma década no poder, nada disso ocorre, exceto a utopia de enricar sem fazer nada — apenas governando e politicando: vendo onde, quando e quanto se pode tirar sem dolo, culpa ou remorso porque o dinheiro era do lucro e o lucro, como na Idade Média, é roubo e pecado. E quem rouba o ladrão tem mil anos de perdão...
Leia mais o artigo de Roberto Damatta

Pátria educadora

No mesmo dia em que Dilma, ao apresentar o "pacotaço" anticorrupção, falou de educação da sociedade para combater o problema, o ministro Cid Gomes (PROS), da Educação, deu exemplo da falta de educação que os aliados petistas demonstram quando se veem no poder. Se não bastasse a afronta aos "achacadores", ainda foi ao plenário e confirmou as acusações.

Se a situação governamental já está complicada, esses rompantes vão engrossar ainda mais o caldo e, convenhamos, que é avacalhar de vez a instituição. Com destemperados desse tipo, Dilma nem precisa de oposição.

Mas ao menos a educação brasileira está livre de um ministro que já havia inclusive demonstrado, como governador, que de educação só entende o autoritarismo.