quarta-feira, 11 de março de 2015

Manifestação ou rebelião?

Não há somente organizações empenhadas em promover protestos pacíficos nas manifestações marcadas para sexta-feira e domingo em todo o país. Existem grupos, melhor dizendo, quadrilhas, em intensa preparação para transformar o movimento em baderna. Chamem-se ou não Black blocs, estejam ou não estimulados e subordinados a traficantes e a bandidos instalados dentro e fora de presídios, prepara-se a banda podre da sociedade para tirar proveito e transformar as ruas num campo de batalha. Haverá que relacionar, também, setores ligados ao PT, à CUT e ao MST mobilizando-se há dias para neutralizar, até pela força, os gritos de protesto contra a presidente Dilma e o governo.

São três, assim, as correntes que irão misturar-se, com amplo risco de explosão. A pergunta que se faz é sobre as atitudes do poder público diante dos fatos. A preservação da ordem cabe aos Estados, sabendo-se que as respectivas Polícias Militares e Civis já se preparam para a missão. Ocuparão as ruas das capitais e principais cidades com o ânimo de acompanhar as manifestações sem interferir nelas, apenas garantindo o direito dos cidadãos exprimirem seus sentimentos. Claro que essas intenções angelicais acabam esbarrando na necessidade de evitar excessos como invasões, depredações e similares. Para isso as forças policiais não estarão desarmadas, mas estarão preparadas?

Indaga-se sobre a hipótese de não conseguirem conter a baderna, mesmo promovida pelas minorias de sempre. Ousarão os governadores apelar a Brasília pedindo a intervenção das forças armadas? Tudo está previsto, até mesmo a prontidão de contingentes federais, que à sua maneira já terão examinado a situação. Se tiverem de sair dos quartéis, saberão para onde ir e, ao menos na teoria, como agir.

Em suma, impossível ignorar o potencial de confrontos e conflitos, ainda que votos se façam para tudo transcorrer pacificamente. A experiência de anteriores manifestações terá servido para o poder público reduzir os limites do inesperado. O resto será torcer os dedos para impedir a repetição de parte dos acontecimentos de julho de 2013. Em se tratando de Brasília, por exemplo, serão previamente impedidas invasões do Congresso, do Planalto e do Itamaraty, além de outros palácios, por conta de numerosas e ostensivas tropas de guarda. O difícil é saber como.

Os olhos da nação voltam-se para a expectativa maior, de que manifestações não venham transformar-se em rebeliões.

Um saco de cretinice

"Nós tiramos o tapete da sala" 
Lula

Chamem Lula de volta. Ele é o culpado de tudo

Se fosse o caso de cobrar responsabilidades pelo imbróglio em que meteram o país, que não se aponte o dedo para parte do eleitorado, destituído de noções básicas sobre o regime democrático e o processo eleitoral, pois o pronunciamento das urnas nas eleições de outubro dificilmente seria outro. Contudo, escolha houve, por mais que se possa criticá-la, no âmbito de uma série de fatos e circunstâncias que se juntaram para induzir uma consequência que se aproxima do desastre, repetida e movida por uma das maiores operações de engodo no segundo turno.

Apesar de longe estar da pretensão de fazer o papel de analista do pronunciamento popular, tenho comigo a convicção de que dois fatores pesaram na catástrofe que se abateu sobre o Brasil. A prova de um mandato inteiro ruinoso já se cumprira, mostrando um lastro de experiência que não deixara dúvidas para o corpo eleitoral. Disparada a bala no primeiro mandato, era mais do que conveniente que se evitasse cometer uma segunda tragédia.

Lula, de um lado, e o marquetismo político desvairado, de outro, cumpriram bem a operação sinistra a que se propuseram realizar. Lula pelo autoritarismo político, primário e ignorante. Falo da velha história do candidato do bolso do colete, invariavelmente danoso e, no campo político, antidemocrático e deseducador. O que me aprofunda a convicção do despreparo do ex-presidente é a incapacidade que deixa escapar de avaliador canhestro das pessoas e do comportamento humano.

De fato, chefe de governo por oito anos, teve a acompanhá-lo por esse longo período a doutora Dilma, como ministra de Estado. Na segunda vez, deslocou-a para uma pasta difícil, que exige do titular segura sensibilidade política e um mínimo de intimidade com o presidente da República que permita conhecer, com relativa profundidade, aspectos fundamentais da sua personalidade, da sua maneira de reagir diante de situações de preocupante gravidade, o que é quase o dia a dia do exercício das funções.

Exerci o cargo no governo Aureliano Chaves, claro que no âmbito de atribuições muito mais limitadas, e sei o que implica manter o equilíbrio, a ponderação, tendo em vista as especificidades do fato político vis-à-vis ao fato administrativo.

Reações destemperadas, temperamento irascível, impaciência, falta de educação, incontinência jamais são compensadas com eficiência ou com os atributos da “gerentona”, que, ao contrário do anunciado e proclamado pelo dono do colete, nunca chegaram sequer a ser percebidos pelos governados. A razão é simples: o ser enérgico, o saber exercer, sem perder a lhaneza, o princípio da autoridade, é inestimável característica dos estadistas. Churchill foi o maior deles no século XX. Não chegaria a essas alturas se não conseguisse diferenciar o tom e o comportamento para uma conversa reservada de uma declaração pública.

A presidente Dilma está numa encruzilhada da sua vida e do país que dirige. Tem de saber sempre fitar os Andes, mesmo pequena, em sua condição humana.

Márcio Garcia Vilela

Não sabem o que fazem



Os regimes mais canalhas nascem e prosperam em nome da liberdade
Nelson Rodrigues (1912-1980)

Panelaço é só a ponta do iceberg


Corremos sério risco de ter uma presidente, por quatro anos, aprisionada nas redomas do Palácio do Planalto. Que reina, mas não governa
O que foi dito pelo Palácio do Planalto logo após ser surpreendido pelo panelaço do último domingo não convence sequer o mais crédulo e fanático petista. Acusar a classe média, a burguesia e a oposição de querer um terceiro turno eleitoral, e desqualificar a barulhenta manifestação, é mero discurso para consumo interno. É a única e quase desesperada linha de defesa ao alcance das mãos de uma presidente isolada de tudo e todos.

Dilma PsIcanalista Freud panela panelaco vaiaDilma e seus estrategistas sabem muito bem que o panelaço foi a ponta do iceberg de um estado de espírito existente em diversos segmentos da sociedade.

A ira dos brasileiros vem crescendo desde as eleições e tende a se avolumar cada vez mais. Não é difícil entender as razões.

No mundo conectado de hoje, ninguém muda de discurso, da noite para o dia, impunemente. A transparência passou a ser um valor a partir do qual os brasileiros julgam seus políticos.

Ora, a presidente adotou durante a campanha o discurso de Alice no País das Maravilhas. Fez mais: acusou seu adversário, afirmando que, se vencesse, ele promoveria desemprego, recessão, aumento de juros e o diabo a quatro.

Pois bem, eleita Dilma deu um cavalo de pau na economia, e fez tudo o que disse que seu adversário faria. Legitimamente, os brasileiros, mesmo parte dos seus eleitores, se sentiram logrados, vítimas de grossas mentiras.

Perceberam que o país não vivia em um conto de fadas, como vendia a candidata Dilma, mas em um filme de terror, uma crise econômica gravíssima, na qual recessão e inflação andam de mãos juntas.

A ira do povo aumentou ao constatar que a presidente vinha com mais uma história da carochinha: a conversa de que a crise econômica era produto da situação externa e da seca, que ela repetiu no pronunciamento na TV no Dia da Mulher, na tentativa de transferir responsabilidades, de livrar a cara de seu governo.

Leia mais o artigo de Hubert Alquéres

Classe política não entende a raiva que está nas ruas

Nas últimas semanas, as autoridades brasileiras debocharam além dos limites. Cada dia a população tem nova surpresa. O presidente da Câmara oferece aos deputados o direito de custearem viagens de suas esposas com recursos públicos e apresenta o projeto para um novo edifício ao custo de R$ 1 bilhão; um juiz é fotografado dirigindo o carro de luxo de um réu; uma escola de samba ganha o título graças a financiamento de um ditador estrangeiro; a presidente da República coloca a culpa da degradação da Petrobras no antecessor que deixou o governo há 12 anos; outro ex-presidente ameaça colocar um exército na rua; o ministro da Justiça recebe advogados de réus do maior caso de corrupção da história; o ministro da Fazenda adota medidas totalmente opostas às promessas de campanha da candidata; o governo adota o slogan “Pátria educadora” mas corta parte importante do orçamento para a educação; as tarifas de eletricidade reduzidas no período eleitoral são substancialmente elevadas logo depois da eleição, o mesmo acontecendo com os preços dos combustíveis.

Como se esses deboches ativos não bastassem, a classe política se comporta com um generalizado deboche passivo: não reconhece a dimensão da crise, não debate suas causas nem aponta caminhos para reorientar o rumo do Brasil.

A sensação é de que a política está doente: não ouve, não vê, nem raciocina. Não ouve as vozes do futuro chamando o Brasil para um tempo radicalmente diferente, em que a economia deverá ser baseada no conhecimento, produzindo bens de alta tecnologia; em que a principal infraestrutura deverá ser educação, ciência e tecnologia.

Não ouve as vozes do exterior que mostram que não há futuro isolado e que precisamos agir para ingressar no mundo da competitividade internacional, na convivência econômica e cultural com o mundo global. E, pior, não ouve o clamor das ruas que indicam a necessidade de romper com os vícios do presente e reorientar o rumo para um futuro com economia dinâmica e integrada, e uma sociedade harmônica e sustentável.

A política tampouco vê as dívidas que os políticos têm com o país: com os pobres sem chance, com as crianças sem futuro e os jovens sem emprego; com a natureza depredada; a dívida decorrente da corrupção generalizada. Ao não reconhecer suas dívidas, a classe política não vê a raiva que está nas ruas.

Tudo isso leva a um comportamento esquizofrênico, pelo qual, de tanto vender ilusões, o governo e seus partidos passam a acreditar nelas. E os demais políticos se acostumam a elas.

Talvez esta seja a explicação para o deboche: não vemos, não ouvimos, nem pensamos. Até que o fim da paciência do povo nos desperte. Mas o custo poderá ser muito alto para a democracia, para a eficiência econômica, para a harmonia social e a sustentabilidade ecológica. Salvo se o despertar vier antes, com a descoberta de que o deboche é muito perigoso, como percebeu o presidente da Câmara, forçado a voltar atrás em sua decisão inicial.

Sob suspeição

Toffoli presidirá julgamento da Lava-Jato no STF
 (Chamada de capa de O Globo)
PS: Com Teori Zavascki na relatoria e Dias Toffoli 
na presidência, são dois votos chapa branca, na largada do julgamento 

Um discurso para outro país e outro povo

Será exagero afirmar que foi um fracasso o pronunciamento da presidente Dilma na noite de domingo. Houve quem o entendesse e até aplaudisse. Mesmo assim, não se convenceu a maioria dos que assistiram as explicações da chefe do governo. Nenhuma pesquisa de vulto havia sido divulgada até a redação final destas linhas, mas está no ar que a gente respira a rejeição aos argumentos expostos por Madame. Acima e além dos buzinaços e panelaços verificados em todas as capitais e principais cidades, tem-se a impressão de um discurso feito para um país distante.

De início, não faltou a tradicional agressão aos meios de comunicação, quando disse que o noticiário mais confunde do que esclarece. Confunde quem, cara pálida? Depois, a falta de sintonia com a realidade pela afirmação de não haver crise, mas problemas conjunturais, diferentes do passado, quando quebravam o Brasil. Quebrados estamos, pois as medidas de ajuste do ministro Joaquim Levy, pelo contrário do que se ouviu, comprometem as conquistas anteriores. Aí estão a redução de direitos trabalhistas e a desoneração das folhas de pagamento das empresas, sem falar na elevação de impostos e de preços.

Nunca se comprovou que aumentos de impostos fossem temporários. Paciência e compreensão constituem produtos em falta nas prateleiras do cidadão comum. União de governo, Congresso e povo, uma ilusão. Chamar maldades de esforços é um eufemismo mas sua adoção não favorece as classes trabalhadoras e médias. Se a crise afetou os Estados Unidos, a Europa e o Japão, realmente já passou por lá, mas países em desenvolvimento, como o nosso, amargam suas conseqüências. Difícil aceitar que não temos crise financeira e cambial com o dólar passando dos 3 reais e o crédito sendo restringido. Como preservamos empregos se os índices revelam o contrário e os gêneros de primeira necessidade ficaram mais caros?

A presidente anunciou mudança de métodos, precisamente a razão da queda de sua popularidade. O controle dos gastos públicos atinge a educação, a saúde e a segurança. Se cada um deve fazer a sua parte, precisaria começar reduzindo o número de ministérios e dispensando parte dos 32 mil companheiros incrustados em cargos em comissão, com ênfase para as empresas estatais. Prometeu a normalização para o final do segundo semestre, sem saber se chegaremos ou se ela mesmo chegará lá. Suportáveis para quem serão essas “medidas de esforço”? Para as elites, por certo, já que o imposto sobre grandes fortunas continua sonho de noite de verão e a elevação do preços dos combustíveis, das tarifas de água e luz e dos transportes públicos tornou-se uma realidade.

O país não vai parar, porque já parou, e se coisas continuam a acontecer, será através da revelação dos escândalos na Petrobrás e outras estatais. Grandes obras arrastam-se e atropelam as promessas, como o desvio das águas do rio São Francisco. Melhor qualidade não há nos serviços de saúde e transportes. É preciso provar com fatos que os corruptos serão punidos e que a corrupção se interrompeu. Por fim, com todo respeito ao feminismo e às feministas, crime hediondo é o assassinato de qualquer ser humano, independente de sexo, raça ou cor.

Em suma, o discurso da presidente parece ter sido feito para outro país e outro povo.

Carlos Chagas 


Atendendo a pedidos, Lula volta a controlar governo

Já que avião está desgovernado, é melhor deixar Lula no comando
O ex-presidente Lula tem uma sorte realmente invejável, não se pode negar. No início do ano passado, ele estava pronto para se candidatar à Presidência e achava que Dilma Rousseff gentilmente iria lhe ceder a vez. Mas a ingratidão falou mais alto, Dilma se esqueceu de que deve tudo a Lula, fincou pé, disse que sua popularidade estava em alta e tinha tudo para ganhar a reeleição.


Lula insistiu, Dilma então tirou as cartas da mangas e mandou que os assessores do Planalto começassem a plantar notícias desabonadoras sobre Rosemary Noronha, a favorita da corte. Nessa época, o escândalo da Petrobras já ocupava as manchetes, Lula estava enfraquecido e Dilma usou a bala de prata, ameaçando divulgar os gastos abusivos de Rosemary com o cartão corporativo da Presidência da República, em compras feitas no Brasil e no exterior, e Lula teve de jogar a toalha.

Dilma Rousseff se reelegeu com muita dificuldade, para dizermos o mínimo, e a crise política, econômica e social foi se agravando progressivamente. Na quinta-feira antes do carnaval, já entrando no desespero, a presidente deixou a arrogância de lado, embarcou no Aerolula e viajou a São Paulo para se desculpar e pedir ajuda a seu antecessor.

Lula disse-lhe poucas e boas, claro, e mandou que Dilma se reaproximasse do PMDB e prestigiasse Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, para tentar recompor a base aliada, fragmentada desde a malograda tentativa de eleger Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara.

Lula realmente tentou ajudar. Em nome da sobrevivência do PT, ele viajou para Brasília na primeira semana após o Carnaval e passou três dias fazendo contatos com o PMDB e outros partidos da coalizão.

O esforço de Lula foi em vão, porque Dilma é como o cavalo da Átila – por onde passa, destrói tudo, não nasce mais grama. Ao invés de se aproximar de Renan e Cunha, a presidente fez exatamente o contrário. Recebeu do procurador-geral Rodrigo Janot as informações secretas sobre a lista de políticos envolvidos no esquema da Petrobras e mandou que fosse “vazada” para a mídia a notícia de que o Planalto “avisara” Renan e Cunha de que eles estavam incluídos na reação.

Ao publicarem as reportagens, os jornalistas que cobrem a Presidência da República tiveram o cuidado de registrar que a informação havia sido passada por “assessores do Planalto”. Foi o que bastou para Renan Calheiros e Eduardo Cunha entrarem em rota de colisão com a presidente da República, criando uma das mais graves crises institucionais desde a redemocratização do país, em 1985.

Agora, o Planalto (leia-se: Dilma Rousseff e Aloizio Mercadante) sonha em se reaproximar de Renan e Calheiros. Sonhar ainda não é proibido, mas não têm a menor condição de concretizar nada, tudo depende hoje de Lula, que, atendendo a pedidos, volta a controlar o governo.

Esta terça-feira, Dilma viaja novamente a São Paulo para pedir a benção ao padrinho. O encontro com Lula está previsto para a hora do almoço, após agenda oficial da presidente na capital paulista. Dilma, é claro, vai receber nova reprimenda, pela sucessivas trapalhadas que andou aprontando com ajuda de Mercadante.

Já está provado que a Sra. Dilma Rousseff não tem a menor condição de governar este país. Portanto, é melhor deixar Lula no comando, porque parece que o piloto sumiu e o avião está quase caindo.

Carlos Newton