sexta-feira, 6 de março de 2015

País maravilha

Somos um país, mas não somos uma nação. A ignorância é o terreno fértil para a propagação de ideias conservadoras – o escritor sérvio Danilo Kis, em seu romance Um túmulo para Boris Davidovich, afirma que quem lê vários livros busca a sabedoria, quem lê um único, busca a ignorância. O desdém pela cultura, que atinge o Brasil de alto a baixo, envenena nossa percepção: aqui, o que é de todos, não é de ninguém. Todos nos aferramos às nossas pequenas conquistas e, para não perdê-las, abraçamo-nos a qualquer discurso reacionário, que ao fim e ao cabo, prega sempre o egoísmo, o cinismo, a mediocridade

Fidel


Fidel morreu (um início óbvio para um texto, naturalmente). Chegou ao inferno (outra obviedade, mas não tem jeito, é inerente à narrativa vindoura).

Aí, o Diabo ficou de frente para El Comandante e mando

u essa diabólica frase: “Como tu és o bacana lá de Havana, vou te dar uma possibilidade a mais aqui”.

El Comandante fez aquela cara de revolucionário macho-alfa de la Sierra Maestra que só ele sabia fazer (e o Korda sabia fotografar).

Entretanto, apesar de curtir um discursozinho de 17 horas de duração, Fidel ficou estranhamente na dele, dentro de seu uniforme Adidas vintage.

O Diabo prosseguiu: “É o seguinte. Apesar de nunca ter aberto isso para ninguém – nem para a princesa Diana –, vou te fazer uma concessão. Tu mereces: décadas e décadas em cima da rapadura… Merece demais!”.

O comunista-mór deu um risinho.

“Vais poder escolher se quer ficar aqui comigo ou lá no céu com aqueles querubins consumistas. É pegar ou largar!”, bradou Satã.

Fidel falou pela primeira vez, num quase sussurro: “Conte-me um pouco sobre cada opção”.

“O céu”, disse o Diabo, aboletando-se numa mesa em chamas, “além de ar condicionado, tem moeda sólida, cartão de crédito, Disney World e cada mulher que até você, octogenário e alquebrado desse jeito, ia querer entrar no Viagra para desfrutar”.

“E o inferno?”, perguntou um Fidel já mais desenvolto.

O Demônio soltou uma gargalhada tão roufenha que o bafo de enxofre fez o ditador latino-americano engulhar: “O inferno você já conhece!”.

“Como assim, já conheço?”, interpelou o Torquemada latino ligeiramente confuso.

“É que nem Cuba: todo mundo é igual, tem direito à mesma ração, aos mesmos hospitais, às mesmas escolas. As mulheres também são lindas, só que quem mora no inferno não pode ter relações sexuais com elas. Só os visitantes…”

A sorte estava lançada. Satanás lançou um olhar mefistofélico na direção do dirigente cubano. Este analisava seu destino com a frieza e o materialismo típico de um Netchaiev dostoievskiano.

“O tempo acabou”, vociferou o Cramulhão. “Céu ou inferno?” Sem titubear, Fidel respondeu: “céu”.

O Diabo não acreditou no que ouvia: “Mas e a Revolução?”.

Fidel concluiu, antes de subir para o firmamento: “Hay que endurecerse, mas com financiamento em 120 meses e juros de 0,5% é mais fácil…”

A lenda do ódio aos pobres

Entre no YouTube e veja os últimos 10 anos de discursos de Lula em cima de palanques e tente achar uma palavra de concórdia, de união nacional, um só gesto de grandeza
Os ricos odeiam o PT porque ele faz um governo voltado para os pobres, disse o antigo ministro tucano Bresser Pereira, e provocou frenesi nas redes sociais.

Fiz a respeito um inocente comentário, dizendo que os pobres amam o autor do Plano Bresser, que congelou salários e achatou poupanças. Fui admoestado pela minha rasa crítica, e o conceituado jornalista Luiz Fernando Emediato, dono da editora Geração, disse que esperava mais, e pedia que usasse argumentos para contestar a entrevista de Bresser.

Peço licença para registrar o que argumentei:

Ele acha que os ricos odeiam o PT. Ele argumentou o que sobre isso? É o que ele acha. Não é o que eu acho. Eu acho que o PT está se fazendo odiar e não é só pelos ricos, pelos remediados, pela classe média, pelos pobres ou por qualquer pessoa que tenha alguma coisa dentro do cérebro.

E por que? Por que está fazendo uma gestão economicamente desastrosa por causa do voluntarismo da presidente da República que tem a crença arraigada e inextirpável que o mercado é ela. Tão desastrosa que temos o pior crescimento da história depois de Floriano Peixoto e Collor.

E temos um desastre tão grande nas contas públicas que foi preciso chamar um Chicago Boy para consertá-las, apesar do nariz torcido da chefe.

E também porque cometeu um estelionato eleitoral sobre o qual não vou me estender demais, mas até os paralelepípedos da rua sabem que Dilma aplicou o velho truque de atribuir ao adversário todas as coisas que começou a fazer depois de empossada.

E também porque o partido tem no seu DNA o vírus totalitário, claramente confessado em seu desejo de hegemonia, expresso numa resolução de seu diretório nacional, e também em sua indomável vontade de controlar o direito de livre expressão através da metáfora da "regulação econômica".

Leia mais o artigo de Sandro Vaia 

Gesto de economia

Só devíamos tirar o chapéu para as pessoas honestas, unicamente para aquelas que merecem a nossa saudação. E seria um hábito muito econômico
Eduardo Frieiro

Dilma pensou (?) que iria intimidar Renan e Cunha

Lista grande
A arrogância, a prepotência e o despreparo político da presidente Dilma Rousseff destruíram o que restava do governo dela, pois sem base parlamentar ninguém consegue administrar este país, conforme já ficou provado nos casos dos presidentes Jânio Quadros, João Goulart e Fernando Collor.

Como se sabe, Jânio nunca ligou para partidos. Tentou imitar Fidel Castro e renunciou, na ilusão de voltar ao poder nos braços do povo, e nada disso aconteceu. Jango era bem intencionado, mas despreparado, cometeu muitos erros, sua base parlamentar se diluiu e foi logo derrubado pelo golpe civil/militar. E Collor era como Jânio, também não ligava para partidos, julgava-se inatingível.

Agora, a inacreditável presidente Dilma Rousseff repete o erro desses antecessores. Despreza acordos políticos, não respeita os partidos de sua coalizão, ataca os próprios aliados e agora está totalmente isolada, sem a menor condição de continuar governando.

Ao mandar que os assessores do Planalto vazassem a informação de que os nomes de Renan Calheiros e Eduardo Cunha constam da lista de envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras, ingenuamente Dilma Rousseff pensou (?) que iria intimidar os presidentes do Senado e da Câmara, para submetê-los à sua vontade.

A justificativa, aparentemente, era esplêndida. O Planalto vazaria a informação de que, por solidariedade e companheirismo, Dilma fizera a gentileza de alertar Renan e Cunha sobre a inclusão de seus nomes na lista, para que pudessem começar logo a se defender. E os dois nem poderiam reclamar, pois Dilma apenas estaria tentando ajudá-los…

Mas acontece que Renan e Cunha não nasceram ontem. São duas raposas políticas de larga experiência. Se Dilma tivesse informado a eles, sigilosamente, a inclusão na lista, eles com toda certeza ficariam agradecidos e poderiam até ajudar o Planalto a reconstruir a base aliada, fragmentada desde a atuação dos aloprados de Mercadante que tentaram derrotar Eduardo Cunha na eleição da Câmara.

É claro que Renan e Cunha imediatamente perceberiam que o erro grosseiro e grotesco de Dilma foi proposital. O Planalto fez questão de vazar ardilosamente a notícia altamente desabonadora, embora em Brasília todos saibam que o ministro Teori Zavascki, relator dos processos no Supremo Tribunal Federal, não iria divulgar de imediato os nomes dos 54 listados pelo procurador Rodrigo Janot. E até teve o cuidado de avisar que somente vai fazê-lo de uma vez só. Todos juntos, para não prejudicar uns mais do que os outros.

E como procedeu o Planalto? Simplesmente fez o oposto do que sugeriu Zavascki, vazando propositadamente para a imprensa apenas os nomes de Calheiros e Cunha, sem que se tenha uma maior noção das provas sobre o envolvimento dos dois no esquema de corrupção montado pelo PT para se eternizar no Poder.

Com dizia o genial Chico Anysio, na pele de seu personagem “Bento Carneiro”, o vampiro brasileiro, a vingança de Renan e Cunha “será maligna”. A base aliada foi definitivamente para o espaço, não existe mais a menor condição de governabilidade. Para o bem de todos e felicidade geral da nação, esta senhora deveria renunciar e ir cuidar do netinho.

A fossa presidencial

PT, um partido definitivamente fora da lei

Os discursos habituais do ex-presidente Lula constituem expressões de boquirroto. Coisas de falastrão. Manifestações de incontinência verbal. Estou falando difícil para não escrever o que realmente sinto vontade... Então, vai lá, no "popular": ele diz muita besteira. O fato é que depois de ouvi-lo durante tantos anos, habituamo-nos a seus atropelos de forma e conteúdo. Não se poderia esperar nada mais aprimorado de alguém com o perfil de nosso ex-presidente. Não há como Lula ser melhor do que Lula, mesmo porque nunca lhe ocorreu fazer algo melhor de si mesmo. Portanto, ele pode passar a vida repetindo que é filho de uma mulher analfabeta, incapaz de fazer um "O" com um copo, pois sempre encontrará quem ria de tal grosseria, e mesmo quem reconhece o desrespeito contido na frase acaba aceitando-a como "coisas do Lula".

No dia 23 de fevereiro, ele participou de um ato em defesa da Petrobras. Enquanto assistia o vídeo com a fala do ex-presidente fiquei pensando no velório do prefeito Celso Daniel e nas coisas que a alta nomenclatura petista dizia naqueles primeiros momentos, logo após o crime. Espero que a entendam a analogia: Petrobras, Celso Daniel, velório, lágrimas, culpa aos adversários. Pois é. Lula, no evento sobre a Petrobras, trovejava sua indignação com as zelites que não suportavam a prosperidade dos pobres. O motivo pelo qual as elites veriam com tão maus olhos uma suposta prosperidade dos mais humildes fica envolto na névoa do mais denso mistério. Havendo normalidade das funções mentais é muito fácil entender que a prosperidade de todos beneficia a todos e a todos faz felizes. O inverso, como Lula pretende sugerir, só pode ser aceito e aplaudido por imbecis de prontuário médico, com foto, diagnóstico e medicação.

Pois bem, nesse discurso, lá pelas tantas, referindo-se às mobilizações da oposição contra o governo da presidente Dilma, que nem ele haverá de considerar probo e bem sucedido, Lula afirmou: "Também sabemos brigar. Sobretudo quando o João Pedro Stédile colocar o exército dele do nosso lado". Foi delirantemente aplaudido pelo público que se concentrava no pequeno auditório.

Desta feita, as coisas mudam de figura. Não se trata de fanfarronada. Não é besteira. Em uma dúzia de palavras, Lula reconheceu vários fatos: 1) o MST é um "exército"; 2) tem comandante; 3) tem regimento próprio e fora da lei; 4) obedece ordens do partido e serve a seus fins políticos. Ora, a Lei dos Partidos Políticos (Lei Nº 9.096 de 29 de setembro de 1995), em seu artigo 28, estabelece quatro motivos para o cancelamento do registro e do estatuto de uma organização partidária. Um deles é estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros (Foro de São Paulo, por exemplo) e o outro é "manter organização paramilitar".

O PT, senhores membros do Ministério Público Eleitoral, se enquadra em pelo menos duas das quatro situações previstas na lei! E quanto à última, a milícia petista do MST tem bandeira, boné, orientações para ação guerrilheira, centros de treinamento, e seus membros, quando atacam, brandem foices de cabo longo, luzidias como baioneta de desfile. E Lula concitou sua milícia ao estado de prontidão. Estão esperando o quê, senhores do Ministério Público Eleitoral?

 Percival Puggina

O golpe que não é golpe

A batalha de Itararé entrou para a história, mesmo registrando mortos, como a batalha que não houve. Seria a primeira e a única em que entre mortos e feridos salvaram-se todos, simplesmente por que não aconteceu.

O conflito concedeu a Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, (1895-19712) o também inédito título de nobreza único da República: Barão de Itararé, um dos mais nobres críticos da avacalhada política nacional.

Tantos anos passados já ouvimos troar os canhões do Golpe da Oposição. Sem armas, sem exército e apenas com luvas de pelica e não me toques, que sou virgem, estaria orquestrando uma revolução. Capaz de estremecer a democracia popular petista. Segundo as mais bem desinformadas fontes vermelhas de raivas seria o grande golpe comparável ao Armagedon. No dicionário de Glauber Rocha, seria o Santo Guerreiro contra o Dragão da Maldade.

Espera-se novo fiasco histórico. Desta vez haverá um exército Brancaleone do MST partindo contra um adversário de superpoderes que não existe.

Mas aí está o Golpe do Mestre. É uma receita colorida: dizem que os outros vão tomar a poupança, e tomam eles; dizem que os outros vão governar com banqueiros, e lá vão eles enriquecer as burras dos banqueiros; os outros vão acabar com os direitos trabalhistas, acabam eles.

Agora vem o “golpe”. Já se vê quem está disposto a mais uma vez jogar a receita no caldeirão das crises que vão varrer o país.

O golpe é dos outros, mas quem verdadeiramente se prepara e ameaça derrotar a democracia, fazendo o diabo como nunca ante na História, para, custe o que custar se manter no governo, são os esfarrapos petistas. Osso bom cachorro não larga.