sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Vitória com sangue


Dilma precisa oferecer algum tipo de esperança

Em momentos de ajuste na economia – de “saco de maldades”, como agora – Dilma precisa oferecer à população algum tipo de esperança. Alguma palavra de conforto. De que o sacrifício de hoje – o aumento de impostos, o reajuste da luz, da gasolina, de juros para casa própria, a restrição de acesso a benefícios como o seguro-desemprego – vai valer a pena mais para frente.

De otimista no Brasil, restou o “mercado” – aquelas instituições financeiras e bancos que lucram com a dívida pública brasileira. O “ajuste” é para isso, para manter a dívida pública administrável.

A pesquisa Datafolha divulgada recentemente apontou que o brasileiro, pela primeira vez em muitos meses, está francamente pessimista: 81% acham que a inflação vai aumentar, 62% acreditam na piora do desemprego, 57% acham que o poder de compra dos salários vai cair e 55% dizem que sua situação econômica pessoal vai piorar.

Todos esses números de pessimismo dispararam do início do ano para cá. De uma hora para outra, o brasileiro sentiu a piora da situação econômica, que já se anunciava há tempos, mas que o “saco de maldades” divulgado pelo governo desde dezembro parece ter tornado palpável. Acompanhado, é claro, de medidas que afetam diretamente o bolso, como o aumento das tarifas de ônibus.

A economia se tornou preocupação crucial para as famílias, o que não era três meses atrás, quando Dilma se reelegeu por um triz e o otimismo ainda prevalecia, segundo as pesquisas.

Seja como for, cabe a Dilma agora, como caberia a qualquer governante, dirigir-se ao país. Não vale aparecer cozinhando na propaganda eleitoral, como se íntima do eleitor fosse, para depois desaparecer da vida das pessoas.

Lula soube falar à população em seu primeiro mandato (2003-2006), quando também promoveu um ajuste forte na economia, mas de algum modo cultivou a esperança (de que o país mudaria, de que a situação melhoraria, em especial para os mais pobres). Lula teve a seu favor, é verdade, a conjuntura econômica internacional, basicamente a valorização nos preços das chamadas commodities, como minério de ferro e soja para exportação. Isso ficou no passado.

Dilma não conta com ventos econômicos favoráveis. Transmitir esperança diante desse horizonte é mais difícil ainda, mas necessário. Talvez a única coisa que Dilma tenha a fazer (e que não pesa no orçamento federal).

Prefeitos testam 'vacinas' contra violência

Crianças em centro recreativo em Cáli, na Colômbia
Três cidades com alta taxa de homicídio aplicam fórmulas que não passam pela linha dura
É uma discussão que se repete nos meios de comunicação e nas campanhas políticas dos países mais afetados pela violência criminosa: é preciso aplicar em maior escala a linha dura, ser mais implacável e até considerar a possibilidade da pena de morte para os casos mais graves.

Mas alguns governantes locais da América Latina estão mostrando em seu território que nem sempre usar a violência para reduzir a violência é a melhor opção. E que às vezes, com medidas simples, práticas e de muito baixo custo, são obtidos resultados positivos.
Durante uma visita à sede do Banco Mundial, em Washington, três prefeitos de cidades consideradas entre as mais violentas da região compartilharam suas fórmulas pouco convencionais para resolver um problema que em muitos países afeta principalmente os jovens e é a principal preocupação da população.
Há muito tempo essa instituição considera a insegurança da população como um dos grandes temas do desenvolvimento no futuro e trabalha junto aos Governos dos países, mas também de Estados e municípios, para apoiar enfoques diferentes e soluções práticas e inovadoras para o tema da violência.
Um exemplo é Rodrigo Guerrero, prefeito de Cali (Colômbia), que em seus dois mandatos como governante local (1992-1994 e 2012-2015) aplicou seus conhecimentos de médico epidemiologista para tratar as altas taxas de homicídios em sua cidade da mesma forma que se faria com uma doença de origem desconhecida.

"É um método que chamo de 'Epidemiologia da Violência' e que já é aplicado em várias cidades da Colômbia e também em outros países."
Essa análise científica da realidade fez com que as autoridades tomassem medidas diferentes em regiões diferentes. Em alguns lugares foi melhorada a iluminação pública, em outros foi proibida a venda de álcool depois de determinado horário, em outros, foi aumentada a presença da polícia.
O desafio para Guerrero, quando aplicou esse método pela primeira vez, há mais de 20 anos, foi demonstrar que isso que ele pretendia tratar como se fosse uma epidemia poderia efetivamente ser erradicado.
"Cali tinha um índice de 126 assassinatos por 100.000 habitantes, quando entrei estava em 83, agora está em 62. É uma taxa de homicídios que ainda consideramos inaceitável, mas continuaremos a baixá-la, porque já sabemos como atacar o problema criteriosamente", diz Guerrero.
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Despacho


O PT não piorou, sempre foi assim

A estratégia, agora, é apresentar o PT que vemos como deturpação do PT de outrora, honrado defensor dos mais elevados valores morais. Que papo mais furado (desculpem a vulgaridade da expressão)! Trata-se de pura mistificação, para transmitir a ideia de que esse partido, no convívio de 35 anos com os demais alinhamentos políticos, descuidou-se e absorveu os maus exemplos que estes lhe transmitiram.

Quem comprar a tese, fica convencido de que o PT, ao contrário das outras siglas, teve um passado límpido, com cheirinho de talco Johnson para bebês, podendo voltar às suas boas raízes, como novo filho pródigo. Os outros estão eternamente condenados. A salvação para o Brasil, portanto, só poderia vir de um PT repaginado, saído do Photoshop. Dá-me forças para viver!

Mais uma vez, erro e falsidade. O PT sempre foi assim, como venho registrando desde 1988, quando comecei a escrever para as páginas grandes do velho Correio do Povo. Desde o início, o partido foi movido por um projeto de poder inspirado nas piores e mais fracassadas teses políticas que a humanidade experimentou no século passado.

Na origem de suas concepções e condutas está, também, a essência da perversão política: a regra de que os fins justificam os meios. Muitos de seus principais dirigentes, antes mesmo de o partido existir, sequestravam aviões, exigiam resgate, recebiam recursos de potências comunistas, viveram décadas às custas do produto de assaltos que praticaram em dezenas de empresas, joalherias e em mais de uma centena de agências bancárias.

Mesmo antes de o PT existir, esses mesmos dirigentes estavam comprometidos com uma visão perversa de Estado. Eram contra a democracia representativa, adversários da economia de mercado, organizavam movimentos fora da lei, que afrontavam a Justiça, a ordem pública e o direito de propriedade. Levaram à Constituinte de 1988 teses com o confessado e documentado objetivo de implantar no Brasil um Estado socialista com enorme ingerência nas atividades econômicas e na vida privada.

Em nenhum momento de sua história, seja como partido oposicionista dedicado a assassinar reputações, seja como condutor do governo, o Partido dos Trabalhadores mostrou qualquer apreço pelas nações democráticas, pelas economias livres, pelos países que prosperaram sob sólidas instituições liberais. 


Todo o apreço do PT fluiu, sempre, para regimes totalitários, arautos do atraso e do subdesenvolvimento. Durante o regime militar, os que deixavam o país buscavam refúgio no Chile comunista de Allende, na Argélia de Boumédiènne, em Cuba de Fidel, e atrás da Cortina de Ferro. Mantiveram e mantêm estreitas relações com os movimentos de guerrilha e terrorismo comunista da América Latina, os quais foram convocados por Lula e Fidel para integrar o Foro de São Paulo. No poder, a atração pelas más companhias se voltou, também, para os piores líderes africanos, corruptos, ditadores e genocidas. Faz e distribui sorrisos a governos fundamentalistas islâmicos e jamais repreendeu um terrorista sequer.

A corrupção que arrasou a Petrobras e fez jorrar dinheiro do Tesouro aos amigos do rei e da rainha através do BNDES reproduz, em escala bilionária, o que acontecia em muitas das primeiras prefeituras do partido nos negócios com coleta de lixo.

Percival Puggina

Democracia não se negocia


O perigo não são os artistas, mas os assassinos, eles é que devem ser encontrados e detidos. Não se negocia com conceitos como a democracia ou a liberdade de expressão. Não podemos deixar que as ameaças nos condicionem e nos levem a duvidar de nossas leis. Não podemos sucumbir. Não podemos mudar nossa ideia de democracia só porque alguns assassinos não gostam dela
Lars Vilks, o desenhista sueco queera alvo do atentado em Copenhague

Escolas de corrupção


É paradoxal que os políticos cometam o crime de alta traição, roubando o povo, e este siga votando neles
Existem termos, como bondade e justiça, que todos aspiramos a atingir, sem conseguir, e outros, como corrupção, que todos queremos combater, também sem conseguir. A corrupção se tornou a enfermidade incurável das democracias e está roendo, no Brasil, no México, na Espanha e em muitos outros países, as bases do sistema de convivência e a credibilidade política.

Ao se analisar sua origem —independentemente de sua justificativa histórica de herança da Espanha a suas colônias—, não é um problema que se esclareça ou se corrija apenas com leis, com iniciativas mais ou menos intermitentes da Justiça ou com grandes campanhas de denúncia na imprensa. Com ela acontece, geneticamente, como com o instinto democrático, o respeito às leis ou à vida: há coisas que não são aprendidas porque a lei obrigue, mas porque são mamadas desde o berço. Pois bem, o mundo latino não mamou o desprezo à corrupção.

Nesse contexto, caso se perguntasse a Lula da Silva por que durante seu mandato foi organizada a maior rede de corrupção da história, num sistema tão prostituído como o brasileiro, o ex-presidente e os membros de seu governo responderiam que o fim justificava os meios. Numa visão tática, a justificativa seria que, em vista de ser a primeira vez que a esquerda governava o Brasil, não se poderia deter o avanço da história em razão de pequenas considerações morais. Dessa maneira nasceu o caso do Mensalão (o escândalo das mensalidades, isso é, a compra de votos pura e simples no Congresso), e dele, o da Petrobras, e dali, a destruição do sistema.

Leia mais o artigo de Antonio Navalón

(...) A corrupção evidencia o que parecem esquecer os populares, de um lado, e os dirigentes, do outro: os políticos vêm do povo que traem, usando a corrupção como uma arma, ainda que aparente, de desenvolvimento social.
Ao final, parece que ninguém escapa da tradição da corrupção nos países latinos. Não é que essa não ocorra nos anglo-saxões, mas eles têm mais instinto de sobrevivência e um sentimento, não sei se de temor ou de convicção, inculcado desde o berço, de que a corrupção não fica impune, embora quando explode seja tão brutal quanto em nossa cultura, na qual nascemos obrigados ao direito de ser corruptos.

Dilma demarcou território com tratamento de 'presidenta'

A criação do Partido dos Trabalhadores (PT), que fez há dias 35 anos de vida, não foi uma tragédia que se abateu sobre o país. No início, suas ideias e sua pregação em favor da ética na política sensibilizaram alguns milhões de brasileiros bem-intencionados. Com sua chegada ao poder, porém, e obcecadas por um projeto autoritário (a cor pouco importa), suas principais lideranças o conspurcaram.

A decepção que manifesto em relação ao PT não é a de um brasileiro (como eu) sem nenhuma importância para o partido. Apenas repito o que já disseram muitos dos seus ex-filiados, imbuídos de belos sonhos e sinceros compromissos, mas que se desligaram dele faz tempo. O partido deixou a ética de lado para se fundir ao que há de pior na política brasileira. E, em relação a seus governos (dois do ex-presidente Lula e um de Dilma), a decepção só não é maior do que o medo causado pelo governo que se iniciou há pouco mais de um mês.

Na realidade, na (soberba) exigência do tratamento de “presidenta”, no início do seu primeiro mandato (uma bobagem, que depressa se transformou em chacota nas redes sociais), Dilma revelou sua personalidade autoritária. Que, aliás, já havia se revelado nas duas vezes em que foi ministra de Estado e, também, na Petrobras, ocasião em que atuou (ou deveria ter atuado), ainda como ministra de Minas e Energia, na condição de presidente do seu Conselho de Administração.

Não houve, naquele instante, um companheiro sequer para lhe dizer ao pé do ouvido que esse tratamento era forçado, inócuo, antipático e reforçava ainda mais o seu ímpeto voluntarista. Ao contrário, os puxa-sacos que a rodeiam não só a aplaudiram como insistiram em manter o tratamento castiço (para eles) do ponto de vista linguístico, pertinente e politicamente “personalizado”. Viu-se aí que Dilma demarcou com clareza seu território. A exigência, antes feita a seus auxiliares mais próximos, estendeu-se imediatamente aos demais, dos mais humildes aos mais graduados. Voluntariosa, governou de maneira autoritária e solitária e, por isso, colhe agora os frutos que semeou.

Depois de uma campanha raivosa, cheia de evasivas e mentiras, a presidente simplesmente se recolheu e desapareceu do mapa, sem dar satisfação, como se não tivesse a ver com o país que preside (preside?) pela segunda vez. O resultado não poderia ser outro: no dia seguinte à celebração dos 35 anos do PT, três meses após sua reeleição, sua popularidade simplesmente despencou, levando-a a córner, quase indefesa, segundo revela recente pesquisa do Datafolha.

O instituto registra, também, que 60% dos brasileiros consideram que ela mentiu na campanha e quase 70% a consideram desonesta. O imbróglio que envolve a presidente se agrava a cada dia. O termo “impeachment” – instrumento legítimo de autodefesa do regime democrático, mas que pode servir aos golpistas de ambos os lados – é feio, e mais feio é seu sentido, como disse Carlos Heitor Cony. Mas quem o acordou foi a presidente, que desdisse o que disse a candidata.

O economista André Lara Resende, no artigo “O choque de realidade”, no “Estadão” de 7.2.2015, propõe “uma coalizão suprapartidária para reconciliar o país, reconstruir o Estado e resgatar a capacidade de formular políticas para enfrentar a crise”. Isso impediria que “caminhemos no sentido da sua radicalização e da sua divisão”.

A outra opção é brincar com fogo, leitor…

Acílio Lara Resende