domingo, 15 de fevereiro de 2015

Carnaval da presidente


Impeachment, uma ideia discutível


Acho inteiramente equivocada essa onda de impeachment. Dilma Rousseff é uma das pessoas mais incompetentes a ocupar a presidência, mas foi eleita pela maioria dos votos válidos. Se os seus eleitores foram incapazes de enxergar além das imagens enganosas da propaganda, se caíram no discurso petista de ódio e de desconstrução dos adversários, se o seu marqueteiro era melhor do que o do Aécio ou o da Marina, se genuinamente acham a “presidenta” a pessoa ideal para o cargo, azar (de fato) o nosso.

Não há nada que não se saiba hoje que já não se soubesse antes.

Sim, Dilma disse uma coisa na campanha e fez outra após a reeleição; mas isso é surpresa? Ela já havia dito, com todas as letras, que em campanha faz-se o diabo; pois fez. Esperavam outra coisa de uma pessoa que falsifica currículo Lattes?

Sim, ela está metida até os cabelos no escândalo da Petrobras, seja por omissão, seja (mais uma vez) por incompetência pura e simples: o tempo dirá. Mas qual é a novidade? Ou seus eleitores maiores de idade, alfabetizados e vacinados não sabiam disso?

É claro que, se estiver ativa e diretamente implicada na roubalheira, a coisa muda de figura; corrupção é crime com o qual não se deve ter contemplação, e aí impeachment é o mínimo que se espera. Mas, até aqui, não existem provas reais do seu envolvimento.

O impeachment é uma péssima ideia por muitos motivos. Ao contrário do que pregam os governistas aos quatro cantos, ele não é uma ruptura do tecido democrático; é uma das suas ferramentas essenciais. Ou alguém consegue imaginar um processo de impeachment contra Kim Jong-Un ou Raúl Castro?

Mas o que é que o país tem a ganhar nesse momento com um eventual impeachment? Michel Temer na presidência? Novas eleições, ainda por cima num clima de total instabilidade política? Com a militância petista em grau de histeria máxima e o MST cumprindo a promessa de parar o país, chantagem que já havia sido explicitada quando Marina disparou nas pesquisas? Para quê?

Ninguém vai conseguir consertar o Brasil de uma hora para outra. A inflação não vai diminuir por passe de mágica, as crises de água e de energia não vão desaparecer, o estado não vai encolher, ou no mínimo se “desaparelhar” do dia para a noite. Tudo isso vai tomar tempo, e a conta vai ser alta para todos nós; mas vai ser alta, sobretudo, para quem quiser sanear o governo.

Se Dilma for defenestrada, seu sucessor, ou sucessora, vai amargar as consequências do que ela plantou, enquanto o PT posará como vítima de golpe em mais um 3 x 4 photoshopado para a História.

Não haverá melhor cenário para a reeleição de Lula em 2018. Até lá, tudo o que estiver dando errado no país será culpa de quem estiver no lugar de Dilma, a Incompreendida.

Que ela termine o mandato que recebeu dos eleitores, e que a conta metafórica da sua incompetência vá para quem de direito. A conta real já estamos pagando.

Brasília abandonada


Caso desembarcasse em Brasília neste Carnaval, o ET tomaria o poder, podendo ancorar o seu disco-voador no palácio do Planalto, no Congresso ou no prédio do Supremo Tribunal Federal. Faria da Esplanada dos Ministérios pista para as aeronaves de apoio e palco para uma exposição sobre as excelências do governo alienígena em substituição aos três poderes da União, ausentes da capital federal desde sexta-feira.

A presidente Dilma refugiou-se na Base Naval de Aratu, na Bahia, disposta a não atender telefones nem dedilhar as diabólicas maquininhas capazes de conectá-la com o mundo exterior. O vice-presidente Michel Temer permanece em São Paulo.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, viajou para o exterior sem informar qual o país, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, aproveita o sol da praia da Barra de São Miguel, em Alagoas. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, passeia entre a Itália e a Espanha. Dos ministros palacianos sabe-se encontrarem-se em seus estados de origem, assim como os demais integrantes da equipe governamental, até os da área econômica. Deputados e senadores descansam em suas bases, fora os convidados para os desfiles no Sambódromo, no Rio. Até os tradicionais colunistas dos principais jornais escafederam-se.

Brasília, sede dos poderes da União, está deserta. Abandonada, até por parte de sua população. Vivêssemos os tempos bicudos da ditadura e o palco estaria armado para a eclosão de mais um golpe dentro do golpe, já que os soldados permanecem nos quartéis. Como o regime é democrático, fica apenas o vazio, sempre propício aos inusitados, mesmo os indesejados.

O singular nessa constatação é que não se fala nas malvadas medidas de ajuste financeiro e supressão de direitos trabalhistas. Nem da progressiva alta de preços. Sequer no perigo da inflação ou de novos lances do escândalo na Petrobras. Apesar da ausência de chuva, a crise hídrica e a falta de energia deixaram de preocupar. Nem a vergonha do mau funcionamento da saúde pública merece as referências de sempre. Como as escolas e universidades estão fechadas, vale o mesmo para as carências do ensino.

Convenhamos, Brasília abandonada parece tranquilizar o resto do país. A inexistência do governo federal em nada prejudica a vida de 200 milhões de habitantes. O diabo é se a moda pega e a experiência frutifica. A menos, é claro, que o ET se disponha a desembarcar… 

A vaca no brejo - e tossindo

A política brasileira, na Era PT, ganhou novos cenários: tribunais, camburões, carceragem da Polícia Federal, Papuda. Nenhum governista dorme hoje tranquilo

O PT reage à hipótese de impeachment, em curso, dentro e fora do Congresso, com argumentos de pretenso fundo moral, os mesmos que desprezou quando na oposição. O partido, que teve protagonismo no impeachment de Collor, tentou reeditá-lo, sem êxito – e sem fundamento -, no início do segundo mandato de FHC.

Hoje, prova do próprio veneno.

No caso Collor, não teve o monopólio da causa, bem-sucedida porque fundamentada e com apoio na sociedade. No caso de Fernando Henrique – o inacreditável “Fora, FHC!”, de 1999 -, pretendeu impugná-lo com base em acusações ideológicas. Não havia um só fato concreto – e não encontrou ressonância.

Hoje, o partido, que protagoniza o maior escândalo financeiro de que se tem notícia, o Petrolão, alega que o impeachment não passa de manobra golpista. Não é: o instituto está na Constituição, que prevê seu rito e circunstância; acioná-lo, portanto, é ato legítimo, que não fere as regras do jogo.

Se não houver consistência, a parte questionada tem meios para reverter a situação e dela até sair fortalecida. Há dias, o senador Lindbergh Faria (PT-RJ) chamou a atenção, em tom perplexo, para o fato de que, tendo o governo menos de dois meses de empossado, não pode ser submetido a tal cobrança.

Ora, o “Fora, FHC!” teve início aos vinte e cinco dias do mandato do presidente reeleito. Tarso Genro, cabeça coroada do partido, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, no dia 25 de janeiro de 1999, propôs não o impeachment, mas a deposição pura e simples do presidente e novas eleições.


O uso ilegal da máquina administrativa – como no caso dos Correios em Minas Gerais, que não distribuiu o material de campanha da oposição, postado e pago, e usou gratuitamente os estafetas da empresa como garotos-propaganda do PT – é suficiente para impugnar uma eleição.

Reconhecia não haver tal demanda na sociedade – que, no entanto, dizia ele, precisava “superar o estupor e a letargia e desencadear um amplo processo de articulação” -, nem os meios legais, o que o impelia a conclamar o Congresso a que votasse emenda à Constituição para depor o presidente recém-reeleito. Nem ousava propor o impeachment, por sabê-lo plenamente descabido. Aquilo, sim, seria golpe.

Apenas um argumento de então, com relação a prazos, aplica-se ao que hoje ocorre. A reeleição impõe ao novo mandato a responsabilidade pelo anterior, já que se trata de continuidade. Nesse caso, Dilma não está sendo cobrada pelos dois meses atuais, mas também pelos quatro anos anteriores.

A rigor, não apenas: sendo herdeira do governo Lula, responde não por quatro, mas por 12 anos e dois meses de gestão – período em que vigeu o Petrolão -, cujo teor ético faz com que seu governo ocupe hoje mais as páginas policiais que as de política.

A política brasileira, na Era PT, ganhou novos cenários: tribunais, camburões, carceragem da Polícia Federal, Papuda. O Congresso tornou-se caixa de ressonância daqueles ambientes. É o que lá acontece que hoje move as peças do tabuleiro de xadrez (sem trocadilho) da política. A nomeação de ministros passa pelo exame das chances de que não venha a ser imputado criminalmente. Nenhum governista dorme hoje tranquilo.

Enquanto o “Fora FHC” alegava, para sustentar a deposição do presidente, um suposto “estado de ingovernabilidade do país” – e o acusava de transferir “a responsabilidade constitucional de governar” para “os gestores dos organismos financeiros das grandes potências e para os especuladores internacionais” – Dilma vê-se diante de questões bem mais concretas e palpáveis.

Leia mais o artigo de Ruy Fabiano

Todo mundo de preto

A troika governamental que se reelegeu. ou a Turma da Escuridão
O sustento nababesco dos companheiros com dinheiro público é uma das poucas instituições realmente sólidas no Brasil
Depois do carnaval, Dilma Rousseff fará um pronunciamento à nação, em cadeia nacional de rádio e TV, para defender a Petrobras. Providência oportuna. A maior estatal brasileira está afundando, e isso é grave.

Como se sabe agora, uma boa fatia do dinheiro que ajuda o PT a ficar para sempre no poder é sugada da Petrobras. É o orçamento da revolução companheira que está em jogo — e com isso não se brinca.

Em defesa da Petrobras, Dilma deveria começar sua fala aos brasileiros condenando esse absurdo, esse descalabro que é a ação da polícia e da Justiça.

De forma golpista e neoliberal, os homens da lei insistem em tentar sabotar o duto entre a estatal do petróleo e o Partido dos Trabalhadores.

O sustento nababesco dos companheiros com dinheiro público é uma das poucas instituições realmente sólidas no Brasil do século 21 — e esses invejosos são assim mesmo, não podem ver nada funcionando direito que já querem melar.

Só falta exigirem que os guerreiros do povo brasileiro devolvam as centenas de milhões de dólares que ganharam da Petrobras com o suor dos seus rostos e das suas mãos ágeis. Dilma não pode permitir esse golpe da elite branca.

No seu pronunciamento pós-carnavalesco, a presidenta mulher e oprimida precisa denunciar o preconceito. Como se não bastasse o trauma do mensalão, lá vêm as vozes reacionárias perseguir novamente as estrelas do proletariado.

Será que o Brasil, esse insensível, não se lembra do sofrimento imposto ao nosso Delúbio, só porque o tesoureiro zelava pela segurança das transferências do Banco do Brasil para os cofres da revolução?

Não, não se lembra. Senão não estaria impondo a mesma tortura a Vaccari. Só pode ser preconceito contra a categoria dos tesoureiros.

Agora está aí, nas manchetes da imprensa burguesa: João Vaccari e José Dirceu recebiam pessoalmente parte da propina da Petrobras destinada ao PT, segundo a investigação da Lava-Jato. Prezado brasileiro, você não está desconfiando de nada?

Não percebe que são sempre os mesmos personagens implacavelmente perseguidos, só porque dão ao dinheiro do contribuinte a honra de financiar a rave deles no Palácio do Planalto?

Chega de discriminação contra o governo popular, chega de humilhar essa gente sofrida e milionária. Se vocês querem saber, seus conspiradores, os heróis do PT nem precisam desse dinheiro.

Como acaba de ser revelado, o partido criou e oficializou a propina por dentro. Está dito e confirmado pelas testemunhas do petrolão: o suborno requerido aos fornecedores da Petrobras era convertido em doação legal ao PT. Propina oficial – com recibo, à luz do dia, tudo direitinho. Parem de perseguir quem está roubando honestamente.

Leia mais o artigo de Guilherme Fiuza