sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Das pessoas que atingem posições elevadas

Das pessoas que atingem posições elevadas,
cerimônias, riqueza, erudição, e similares:
para mim tudo isso a que chegam tais pessoas
afunda diante delas — a não ser quando acrescenta
um resultado qualquer para seus corpos e almas —
de modo que elas muitas vezes me parecem
desajeitadas e nuas, e para mim
uma está sempre zombando das outras
e a zombar dele mesmo ou dela mesma,
e o cerne da vida de cada qual
(a que se dá o nome de felicidade)
está cheio de pútrido excremento de larvas,
e para mim muitas vezes esses homens e mulheres
passam sem testemunhar as verdades da vida
e andam correndo atrás de coisas falsas,
e para mim são muitas vezes pessoas
que pautam as suas vidas por um hábito
que a elas foi imposto, e nada mais,
e para mim é gente triste muitas vezes,
gente afobada, estremunhados sonâmbulos
tateando no escuro.
Walt Whitman (1819 – 1892)

'Eu não erro'



Parte dos efeitos da crise foi amenizada pelo modelo de desenvolvimento econômico que adotamos, com forte ênfase na inclusão social e nas políticas anticíclicas no que se refere ao crescimento econômico
 Dilma em discurso na III Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos

Dilma continua em campanha. A primeira reunião ministerial desse segundo mandato não foi mais do que outro palanque para requentar as proposições que dão ibope. Sabem o mundo e o universo que a presidente não erra. Os problemas, segundo o dilmês, são causados pelos outros: mercado externo, a oposição (sempre ela), a direita, Deus e agora até São Pedro. Freud explica essa necessidade de se afirmar superiora e eximir-se da responsabilidade. Perdeu a grande oportunidade de se chancelar como presidente. Passou a imagem de mera ocupante do cargo.

Pela enésima vez falou em ajuste de rumos para continuar o plano petista entronado há 12 anos. Mas que plano? Em 2005 foi jogado no lixo e se tornou estratégia de poder. O que se fez foi usar os pobres, os tais programas sociais, como massa de manobra, cortina de fumaça e cabide eleitoral para estabelecer uma dinastia em Brasília quiçá em todo o país.

Dilma na reunião demonstrou a arrogância de que fará o diabo custe o que custar ao povo, para transferir o cargo ao patrão. Não está nem aí para o sofrimento da população, em especial os pobres, com a desastrada administração. É como sempre afirma: “Eu não erro”.

Brasil de hoje


Sabedoria vegetal

Se as mangueiras atinavam com a escassez das chuvas, por que não sabiam os homens, aparelhados com tecnologias ultrassofisticadas?
Sou um especialista em “mangomancia”. Não sei se na literatura profética existe essa modalidade, mas aprendi, ainda criança, com os caboclos da colônia italiana de Rodeiro, a arte de adivinhar o regime de chuvas por meio da quantidade de frutos das mangueiras. E compartilho com o leitor esse conhecimento que acredito milenar, pois a manga, originária do sudeste asiático, já é citada em poemas clássicos indianos do século IV a.C. Antecipo também uma possível explicação lírico-científica para compreender o comportamento desse vegetal, e arrisco, enfim, uma moral, como aquelas encontradas nas fábulas antigas.

Viajei bastante nos últimos meses do ano passado pelo interior de São Paulo e de Minas Gerais, muitas vezes por rodovias secundárias, cruzando enormes áreas desabitadas. De vez em quando, surgia à beira da estrada uma casa simples, sempre no quintal um cachorro e uma galinha e sua ninhada, uma mangueira a protegê-los, os bichos e os moradores, do sol impiedoso – a temperatura facilmente ultrapassa, nesses lugares, os 30 graus. O carro avançava e por todos os lados a mesma desolação: as mangueiras, árvores exuberantes, mostravam-se anêmicas, com poucos e pequenos frutos em seus cachos.

Comentava então com os motoristas, Este ano será de pouca chuva. E eles, curiosos, indagavam, Como você sabe? Eu respondia, É só ler as mangueiras. Em ano de fartura de água, elas exibem cachos carregados com enormes pomos, que de tão pesados vergam os galhos mais robustos. Fica parecendo uma sombrinha de abas largas voltadas para o chão. Em época de escassez, lembram uma boca quase sem dentes ou a tosse intermitente de alguém enfermo ao longo da madrugada. Eles me miravam com um misto de desprezo e admiração. Assim são encarados os vaticinadores no século XXI...

Mas, talvez, a explicação para esse sortilégio seja bem mais pedestre. As mangueiras, como organismos vivos, necessitam de estratégias para garantir sua sobrevivência e conservar a espécie. Prospectando o futuro, com instrumentos por nós desconhecidos, percebem se o ano será de estio ou de umidade, definindo, a partir do resultado desse exame, a intensidade da floração. Se a perspectiva for de seca, a floração será minguada – se for de chuva, abundante. De nada adianta uma floração copiosa em tempos ruins, pois sem água não há vida – portanto, elas acumulam forças para tempos melhores... Essa é uma explicação lírico-científica...

Se as mangueiras atinavam com a escassez das chuvas, por que não sabiam os homens, aparelhados com tecnologias ultrassofisticadas? A eufemisticamente intitulada “crise hídrica” despontava no horizonte desde 2013, quando o regime de águas mostrou-se irregular. Mas, claro, em 2014, além de termos sucumbido traumaticamente à Copa do Mundo (e não estou falando de futebol, apenas), tivemos eleições. E os governantes, todos, trataram de camuflar a situação para garantir mais um mandato.

A “crise hídrica” não implica somente ausência de água em nossa residência – para beber, cozinhar, tomar banho, limpar a casa –, como impacienta-se nosso egocentrismo. A “crise hídrica”, para além da sensação de desconforto pessoal, significa inflação nos preços dos alimentos e dos serviços, e desemprego. Significa, principalmente, crise energética (90% da produção brasileira provém de geradores hidráulicos), que também, por sua vez, gera carestia e diminuição de postos de trabalho.

Por fim, a moral da história: as mangueiras não mentem jamais!

Luiz Ruffato

Vencerá a propaganda?

Do discurso da presidente, o único apelo que pode surtir algum efeito é o que conclamou os ministros a lutar para vencer “a batalha da comunicação"

Se a comunicação for entendida como propaganda, como foi na campanha eleitoral, o governo pode vencer de novo, com ajuda do alquimista João Santana.

E o País continuará perdendo.

Descaso pela educação é causa dos nossos males


A principal causa do abastardamento da “vida pública” no país, com uma ou outra exceção, resulta do descaso de todos os governos, não apenas pelo o ensino em si, mas pela educação, do primeiro e segundo graus à universidade. Além de sempre malremunerada, não há, hoje, profissão mais ingrata e difícil de ser exercida do que a de professor. O respeito entre mestre e discípulo acabou faz tempo, mas, ao que parece, ninguém se deu conta disso ou, então, concorda com isso.

Esse descaso pelo que deveria ser a primeiríssima preocupação de todos os governos leva ao desinteresse por nossa história. E o povo que não conhece sua história não tem como pensar nem encarar seu futuro. Ou, dizendo melhor: não tem projeto de futuro.

O slogan “Brasil, Pátria Educadora”, reeditado agora pela presidente Dilma Rousseff, cheira a achincalhe. Já nada inspirava quando foi criado e, agora, com a nomeação de alguém totalmente estranho ao setor, é mais uma confirmação de que a educação só serve mesmo como moeda de troca. Só pode merecer, portanto, o descaso!

Tanto isso é verdade que, mesmo eleita prioridade máxima deste segundo mandato, a educação foi duramente atingida pelo decreto presidencial, que valerá até a aprovação do Orçamento, com um corte de R$ 7 bilhões (dos R$ 22,7 bi já cortados). O decreto bloqueou, na realidade, um terço dos gastos administrativos das 39 pastas (um número absurdo, que só faz dificultar a administração pública). É essa, então, a prioridade das prioridades da recém-eleita presidente Dilma?

Se o corte na educação é mais uma prova do descaso que se tem por ela, a nomeação do novo ministro é outra zombaria. O ministério entregue a Cid Gomes é a contrapartida do apoio eleitoral que ele e seu irmão deram à presidente no Ceará. Diante das 529 mil redações que obtiveram nota zero no Enem, além de afirmar que “os estudantes estão lendo pouco” (que achado, hein?!), o próprio ministro concluiu: “Não dá para fugir, camuflar e dizer que o ensino público é bom. Está aquém do desejável. Estamos aqui para lutar para melhorar”.

Com que autoridade, porém, o novo ministro fará isso?

É evidente, caro leitor, que o histórico descaso pela educação nos levou à corrupção generalizada e sem limites que vivemos hoje. Embalada pelo princípio do “salve-se quem puder: dinheiro público não tem dono”, tomou conta, praticamente, de todos os nossos órgãos estatais. Os agentes públicos, por sua vez, com honrosas exceções, se transformaram em intermediários de negócios criminosos. A revolta surda que isso tem provocado entre os brasileiros, se não abrirmos os olhos, transformar-se-á numa avalanche, que, mais dia, menos dia, desencadeará reações fratricidas, como sempre ocorreu no mundo todo.

O brasileiro não é nenhum songamonga, incapaz de reagir aos constantes ataques a seus direitos, a seu dinheiro e a sua respeitabilidade, como, às vezes, pode dar a entender. A raiva perigosa e crescente que tem demonstrado por meio, sobretudo, das redes sociais, é assustadora. E, como se sabe, a raiva é inimiga terrível que se cozinha em fogo brando e provoca reações imprevisíveis, quase sempre trágicas. Nunca foi fácil controlar o desespero de ninguém. É ele que nos obriga a cometer atos que, em sã consciência, jamais seriam imaginados. É nessa hora que o ser humano se transforma em animal irracional.

Os exemplos estão na nossa cara!