quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Austeridade palaciana


A vaca está tossindo




Gostaria que essa matéria recebesse o título “Falta alguém em Nuremberg”, como a série de reportagens e o livro do jornalista David Nasser, sobre as atrocidades cometidas pela polícia política da ditadura Vargas, chefiada por Filinto Müller. Quando puder, vou escrever o “fora” que dei certa vez, quando o mesmo Filinto, na época senador e presidente da Arena, me telefonou para obter uma informação e o mandei para aquele lugar, pensando que era um trote do amigo Orlando Vaz, useiro e vezeiro nesse procedimento. Fiz isso e depois quase morri de medo...

E por que “Falta alguém em Nuremberg”? Porque toda essa confusão que se espalha em nosso país tem no ex-Luiz o único responsável. Então: ele não tem nada a ver com mensalão, petrolão, dívida externa, corrupção endêmica e lasciva, enriquecimento ilícito. Descaradamente, nunca sabe de nada. Pai político de Dona Dilma, que também nada sabe, mas não seria capaz de fazer sozinha metade da confusão em que o Brasil está metido, não fosse ela parte complementar, como o décimo dedo (ou o primeiro, de lá pra cá). E o ex-Luiz ainda não foi processado?

Zé Dirceu está preso, mas fazendo reunião política para enquadrar os dois, ex-Luiz e Dona Dilma, nos termos do PT que eles, os presos e alguns soltos, como Palocci, Vaccari et caterva, querem. Ainda não desconfiou que voltar a “fazer o que fizeram em 12 anos” só com outra revolução... Imagino o quanto deve ser horrível ganhar e não levar uma eleição, mas...

Há mais de 30 dias, Dona Dilma não se digna a falar. Sumiu. Mas deixar de ir a Davos, onde estão os principais líderes do mundo, para falar, além de economia, sobre o problema maior, que é o clima do mundo, para ir à Bolívia prestigiar a posse do cocaleiro Evo Morales é menosprezar nosso país, ainda que hoje mais pareça um malcheiroso pântano de corruptos.

Ainda bem que Deus escreve certo por linhas tortas: de tanto falar dos militares e das eleições indiretas das ditaduras, o PT se viu obrigado a aceitar um governo de fato e a perder o de direito, exercido, para nossa sorte, pelo ilustre ministro Joaquim Levy, da Fazenda, indicado pela cúpula do poder econômico do país.

Dona Dilma nem sabe o que está acontecendo, ou talvez saiba demais que o governo está fazendo justamente o contrário do que ela e seus asseclas garantiram, durante sua campanha, que não fariam “nem que a vaca tossisse”, lembram?

Bem, já aumentaram os impostos, os ladrões ainda estão soltos, a Indonésia está morrendo de medo de nós, viúvas ou viúvos não poderão mais receber pensão pela morte dos cônjuges, funcionários das embaixadas estão sem receber e vivendo de favor e constrangimentos, São Pedro está p. da vida com os brasileiros, que, mesmo sabendo que a vaca ia tossir, votaram no PT, e por aí vai... Enfim ou ao fim, “quem pariu Mateus que o embale”, né?

Sylo Costa

Poderoso até cair

Este é um dos pecados dos poderosos: subestimam a inteligência alheia. De tão arrogantes, acham que conseguirão enganar os outros por muito tempo. Ou por todo o tempo. Até que se esborracham

Se Marta contar o que sabe, Brasil vira Indonésia


Várias metáforas dilatadas permeiam o jornalismo na questão das fontes. Há quem diga que boa notícia não nasce no convento. Para outros, boa notícia é como flor de lótus: é linda, mas para ser colhida há que se encharcar na lama do pântano, onde ele vivifica. Outros dirão que boa notícia só se colhe usando escafandro. Este blog prefere a metáfora do âmbar-gris. Trata-se de uma concreção, uma pedra, a habitar o intestino dos cachalotes. Estes, quando comem lulas gigantes, não lhes conseguem digerir o bico. E este, daí, vira um tumor, instalado no aparelho excretor do bicho grande.

Baleeiros se matam para ver quem atinge primeiro os países baixos do cachalote: afinal é lá que está o âmbar gris. Uai: para que lutar para se atingir uma pedra que é um tumor brotado de uma lula, e que está “dans le cu” de um cachalote? Porque o âmbar gris é a base dos perfumes mais caros do planeta.

Como deus é irônico, não? A base de confecção de nossas fragrâncias mais sedutoras é um câncer que nasce naquele lugar de um bicho que vive de devorar lulas gigantes.

Gostou do tema? Em Moby Dick, reportagem que Herman Melville levou 14 anos apurando (e travestiu de romance) há todo um capítulo sobre o âmbar gris. Pois bem: Marta Suplicy virou o âmbar gris da imprensa.

De ontem para agora conversei com quatro grandes repórteres: todos aviam sido pautados para colarem na Marta, porque dela pode vir a grande bomba de neutrons a matar apenas os petistas, mas deixar em pé a estrutura do partido.

Esse é um raro axioma seguido pelos repórteres: dê um grude no cidadão machucado que ele fará bem para a cidadania. Está disposto, pelas chagas que sofreu, a melhorar o país: nem que isso o faça explodir todas as pontes políticas pavimentadas ao longo de sua vida.

Luiz da Costa Pinto, então em Veja, grudou no Pedro Collor e este lhe ajudou a derrubar o irmão presidente. Xico Sá, então na Folha, grudou no PC Farias e ganhou um Esso. Hoje meio mundo gruda nos advogados de Youssef e Costa, para ver se tiram uma casquinha.

Assim que meu velho amigo Romeu Tuma Junior deixou a secretaria de Justiça do ex-presidente Lula, passamos a conversar. Nosso livro ficou 20 semanas seguidas em primeiro lugar na lista dos mais vendidos.

Pois bem: até agora ninguém sabe em que grau Marta Suplicy vai falar. Mas o reportariado sabe que, se ela contar tudo o que sabe, a República fica de quatro e Dilma vai acordar, no outro dia, num outro país…

Marta, quem diria, virou o âmbar gris da oposição. Seu artigo na Folha foi apenas um tiro de aviso. Se ela resolver não ser política ao extremo, e não negociar o seu silêncio sobre os trambiques e sinecuras que viu, um novo pelotão de fuzilamento vai chocar a brasilidade. Os repórteres sabem disso: e esta semana só pensam em Marta enquanto respiram…

Claudio Tognolli