sábado, 31 de janeiro de 2015

Nascer na pobreza 'prejudica ascensão social'


Estudo afirma que viver em um bairro pobre durante os primeiros 16 anos de vida afeta a renda por muitas décadas. Na hora de determinar nosso destino econômico, poucas coisas importam tanto como o bairro em que nascemos e crescemos.
Todos sabemos que viver em uma região mais pobre reduz as possibilidades materiais de seus habitantes. Por isso, muitos sonham ir para uma parte mais afluente da cidade onde vivem.

Mas um estudo recente dos pesquisadores americanos Douglas Massey, da Universidade de Princeton, e Jonathan Rothwell, do Instituto Brookings, vai além: traz novas evidências de que simplesmente se mudar de um bairro precário para um melhor não é suficiente.

De acordo com a pesquisa, o local específico da cidade onde uma pessoa passa os primeiros 16 anos de sua vida é determinante na renda que ela terá muitas décadas depois, mesmo que mude seu local de residência diversas vezes.

A conclusão é uma má notícia para os que acreditam na possibilidade de ascensão e mobilidade social. E pode fornecer mais argumentos às discussões sobre propostas polêmicas de vários países, incluindo alguns latino-americanos, de levar habitantes de bairros pobres para viver em regiões mais ricas das cidades.

"O bairro é o ponto crítico onde se bloqueiam as aspirações das pessoas para subir na vida", disse Massey à BBC.

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E vai crescendo


Crie um partido e ganhe R$ 600 mil por ano


Fundo partidário distribuiu 371,9 milhões de reais às legendas brasileiras em 2014. Só o PT ficou com 50 milhões de reais, 16% do valor a que os partidos têm direito
A legislatura que se inicia no domingo no Congresso Nacional será a mais fragmentada desde a redemocratização do Brasil, em 1990, com seus 594 representantes eleitos por 28 partidos diferentes — seis a mais que na eleição de 2010. Faltou espaço para quatro das 32 legendas existentes atualmente no Brasil frequentarem o Parlamento, mas outras 42 alimentam a pretensão de fazê-lo daqui a quatro anos.

Existem 42 partidos políticos em formação no Brasil, segundo os dados disponíveis no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre legendas com registro em pelo menos um dos 27 tribunais regionais do país. Desses projetos, o que causa mais expectativa atualmente no Congresso Nacional é a recriação do Partido Liberal (PL), que, depois de ser extinto em 2006 para dar origem ao PR, promete atrair de 20 a 30 parlamentares logo que ressurgir — o pedido de registro ao TSE deve ser apresentado após o Carnaval. Mas, se já existem 32, e nem todos conseguem eleger representantes para o parlamento, para que mais partidos?

A resposta pode estar no bolso. Os partidos políticos brasileiros dividiram 371,9 milhões de reais reunidos pelo Fundo Partidário em 2014. O fundo é composto por dinheiro público, previsto no orçamento da União (313,5 milhões de reais), e por multas eleitorais (58,4 milhões de reais), que foram tantas no ano passado que os partidos devem receber um "extra", ainda não calculado, em abril deste ano.

Esses valores são divididos de acordo com o número de deputados eleitos por cada partido, o que valeu ao PT, que tem a maior bancada da Câmara, 59,7 milhões de reais (16% do total) em 2014. Sem representação parlamentar, o Partido da Causa Operária (PCO) entra na disputa dos 5% do fundo a serem partilhados igualmente por todas as legendas e ficou com a menor parte do bolo (0,16%). Mesmo assim, recebeu 610.097,61 reais. Mas o dinheiro explica apenas uma parte do fenômeno de surgimento de novos partidos no país.

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Dica de uma lenda


Nossa liberdade como nação descansa na liberdade de imprensa
Ben Bradle, morto aos 93 anos no ano passado, foi o lendário editor do jornal Washington Post, que dirigiu a cobertura do escândalo do Watergate que culminou na queda do presidente americano Richard Nixon, em 1974

Trocar a diretoria? Ou Dilma pede para sair?


O governo Dilma produziu um déficit de 17 bilhões de reais em 2014. O Bradesco, no mesmo ano, apresentou lucro de 15 bilhões. Por mais que se exalte a livre concorrência, a prevalência do mercado, a excelência do sistema capitalista e tudo o mais que for, qual a conclusão? Que o banco foi bem administrado, e o país, não? Que os correntistas do Bradesco estão felizes, mas os brasileiros, não?

Tendo o ministro Joaquim Levy sido alto funcionário do Bradesco, presume-se que tenha levado para o governo a experiência da iniciativa privada e que, no final do ano, possa divulgar números compatíveis com a eficiência contábil. A solução seria transformar o país num grande banco?

Ironias à parte, os acionistas do Bradesco estão mais ricos, mas os sócios do Brasil S.A., no prejuízo. Optaram por Dilma, na última assembléia geral, mas ela demonstra não ser nenhum dr. Trabuco, tanto que o chefão do Bradesco rejeitou o convite para tornar-se ministro da Fazenda. O remédio foi convocar um de seus auxiliares, Joaquim Levy.

Por mais que a presidente da República proclame que nossas dificuldades devem-se à má conjuntura internacional, a verdade está aqui mesmo. É a diretoria que vem fracassando. Na empresa privada, quando isso acontece, trocam-se os diretores. No governo, há que esperar as eleições. Ou aguardar que os fracassados tomem a iniciativa.

A pergunta que se faz é se vai dar para esperar quatro anos. No parlamentarismo as mudanças acontecem à margem de prazos fixos. No presidencialismo, não. Mas como aguentar uma situação onde o déficit é apenas um dos fatores da bancarrota? Anos atrás, num plebiscito, o eleitorado optou por rejeitar o governo de gabinete. Só uma nova Constituição, quer dizer, apenas com a ruptura das instituições, seria possível mudar o sistema vigente. Recursos extremos, como o impeachment, parecem fora de cogitações. O velho Sobral Pinto, na sua última e magistral intervenção, lembrou que todo poder emana do povo. Pois está aí a solução: Dilma, ficando sem povo, perceber que deve e que precisa sair, pela impossibilidade de permanecer. Por mais estranho que pareça, conforme inconfidência das paredes do palácio da Alvorada, foi assim que ela explodiu esta semana, claro que por apenas dois fugazes segundos. Achou melhor aguardar o superávit…

Em 1985, na véspera da convenção do PDS que escolheria o candidato presidencial, Paulo Maluf e Mário Andreazza jogaram a cartada final. Ofereceram em dois clubes de Brasília monumentais jantares para os convencionais. O paulista conseguiu mais adesões do que o gaúcho, mas conta o folclore que muita gente jantou duas vezes.

Hoje, Eduardo Cunha e Arlindo Chinaglia promovem banquetes para os deputados que amanhã escolherão um deles presidente da Câmara. É bom ficar de olho nos cardápios.

Carlos Chagas

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Das pessoas que atingem posições elevadas

Das pessoas que atingem posições elevadas,
cerimônias, riqueza, erudição, e similares:
para mim tudo isso a que chegam tais pessoas
afunda diante delas — a não ser quando acrescenta
um resultado qualquer para seus corpos e almas —
de modo que elas muitas vezes me parecem
desajeitadas e nuas, e para mim
uma está sempre zombando das outras
e a zombar dele mesmo ou dela mesma,
e o cerne da vida de cada qual
(a que se dá o nome de felicidade)
está cheio de pútrido excremento de larvas,
e para mim muitas vezes esses homens e mulheres
passam sem testemunhar as verdades da vida
e andam correndo atrás de coisas falsas,
e para mim são muitas vezes pessoas
que pautam as suas vidas por um hábito
que a elas foi imposto, e nada mais,
e para mim é gente triste muitas vezes,
gente afobada, estremunhados sonâmbulos
tateando no escuro.
Walt Whitman (1819 – 1892)

'Eu não erro'



Parte dos efeitos da crise foi amenizada pelo modelo de desenvolvimento econômico que adotamos, com forte ênfase na inclusão social e nas políticas anticíclicas no que se refere ao crescimento econômico
 Dilma em discurso na III Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos

Dilma continua em campanha. A primeira reunião ministerial desse segundo mandato não foi mais do que outro palanque para requentar as proposições que dão ibope. Sabem o mundo e o universo que a presidente não erra. Os problemas, segundo o dilmês, são causados pelos outros: mercado externo, a oposição (sempre ela), a direita, Deus e agora até São Pedro. Freud explica essa necessidade de se afirmar superiora e eximir-se da responsabilidade. Perdeu a grande oportunidade de se chancelar como presidente. Passou a imagem de mera ocupante do cargo.

Pela enésima vez falou em ajuste de rumos para continuar o plano petista entronado há 12 anos. Mas que plano? Em 2005 foi jogado no lixo e se tornou estratégia de poder. O que se fez foi usar os pobres, os tais programas sociais, como massa de manobra, cortina de fumaça e cabide eleitoral para estabelecer uma dinastia em Brasília quiçá em todo o país.

Dilma na reunião demonstrou a arrogância de que fará o diabo custe o que custar ao povo, para transferir o cargo ao patrão. Não está nem aí para o sofrimento da população, em especial os pobres, com a desastrada administração. É como sempre afirma: “Eu não erro”.

Brasil de hoje


Sabedoria vegetal

Se as mangueiras atinavam com a escassez das chuvas, por que não sabiam os homens, aparelhados com tecnologias ultrassofisticadas?
Sou um especialista em “mangomancia”. Não sei se na literatura profética existe essa modalidade, mas aprendi, ainda criança, com os caboclos da colônia italiana de Rodeiro, a arte de adivinhar o regime de chuvas por meio da quantidade de frutos das mangueiras. E compartilho com o leitor esse conhecimento que acredito milenar, pois a manga, originária do sudeste asiático, já é citada em poemas clássicos indianos do século IV a.C. Antecipo também uma possível explicação lírico-científica para compreender o comportamento desse vegetal, e arrisco, enfim, uma moral, como aquelas encontradas nas fábulas antigas.

Viajei bastante nos últimos meses do ano passado pelo interior de São Paulo e de Minas Gerais, muitas vezes por rodovias secundárias, cruzando enormes áreas desabitadas. De vez em quando, surgia à beira da estrada uma casa simples, sempre no quintal um cachorro e uma galinha e sua ninhada, uma mangueira a protegê-los, os bichos e os moradores, do sol impiedoso – a temperatura facilmente ultrapassa, nesses lugares, os 30 graus. O carro avançava e por todos os lados a mesma desolação: as mangueiras, árvores exuberantes, mostravam-se anêmicas, com poucos e pequenos frutos em seus cachos.

Comentava então com os motoristas, Este ano será de pouca chuva. E eles, curiosos, indagavam, Como você sabe? Eu respondia, É só ler as mangueiras. Em ano de fartura de água, elas exibem cachos carregados com enormes pomos, que de tão pesados vergam os galhos mais robustos. Fica parecendo uma sombrinha de abas largas voltadas para o chão. Em época de escassez, lembram uma boca quase sem dentes ou a tosse intermitente de alguém enfermo ao longo da madrugada. Eles me miravam com um misto de desprezo e admiração. Assim são encarados os vaticinadores no século XXI...

Mas, talvez, a explicação para esse sortilégio seja bem mais pedestre. As mangueiras, como organismos vivos, necessitam de estratégias para garantir sua sobrevivência e conservar a espécie. Prospectando o futuro, com instrumentos por nós desconhecidos, percebem se o ano será de estio ou de umidade, definindo, a partir do resultado desse exame, a intensidade da floração. Se a perspectiva for de seca, a floração será minguada – se for de chuva, abundante. De nada adianta uma floração copiosa em tempos ruins, pois sem água não há vida – portanto, elas acumulam forças para tempos melhores... Essa é uma explicação lírico-científica...

Se as mangueiras atinavam com a escassez das chuvas, por que não sabiam os homens, aparelhados com tecnologias ultrassofisticadas? A eufemisticamente intitulada “crise hídrica” despontava no horizonte desde 2013, quando o regime de águas mostrou-se irregular. Mas, claro, em 2014, além de termos sucumbido traumaticamente à Copa do Mundo (e não estou falando de futebol, apenas), tivemos eleições. E os governantes, todos, trataram de camuflar a situação para garantir mais um mandato.

A “crise hídrica” não implica somente ausência de água em nossa residência – para beber, cozinhar, tomar banho, limpar a casa –, como impacienta-se nosso egocentrismo. A “crise hídrica”, para além da sensação de desconforto pessoal, significa inflação nos preços dos alimentos e dos serviços, e desemprego. Significa, principalmente, crise energética (90% da produção brasileira provém de geradores hidráulicos), que também, por sua vez, gera carestia e diminuição de postos de trabalho.

Por fim, a moral da história: as mangueiras não mentem jamais!

Luiz Ruffato

Vencerá a propaganda?

Do discurso da presidente, o único apelo que pode surtir algum efeito é o que conclamou os ministros a lutar para vencer “a batalha da comunicação"

Se a comunicação for entendida como propaganda, como foi na campanha eleitoral, o governo pode vencer de novo, com ajuda do alquimista João Santana.

E o País continuará perdendo.

Descaso pela educação é causa dos nossos males


A principal causa do abastardamento da “vida pública” no país, com uma ou outra exceção, resulta do descaso de todos os governos, não apenas pelo o ensino em si, mas pela educação, do primeiro e segundo graus à universidade. Além de sempre malremunerada, não há, hoje, profissão mais ingrata e difícil de ser exercida do que a de professor. O respeito entre mestre e discípulo acabou faz tempo, mas, ao que parece, ninguém se deu conta disso ou, então, concorda com isso.

Esse descaso pelo que deveria ser a primeiríssima preocupação de todos os governos leva ao desinteresse por nossa história. E o povo que não conhece sua história não tem como pensar nem encarar seu futuro. Ou, dizendo melhor: não tem projeto de futuro.

O slogan “Brasil, Pátria Educadora”, reeditado agora pela presidente Dilma Rousseff, cheira a achincalhe. Já nada inspirava quando foi criado e, agora, com a nomeação de alguém totalmente estranho ao setor, é mais uma confirmação de que a educação só serve mesmo como moeda de troca. Só pode merecer, portanto, o descaso!

Tanto isso é verdade que, mesmo eleita prioridade máxima deste segundo mandato, a educação foi duramente atingida pelo decreto presidencial, que valerá até a aprovação do Orçamento, com um corte de R$ 7 bilhões (dos R$ 22,7 bi já cortados). O decreto bloqueou, na realidade, um terço dos gastos administrativos das 39 pastas (um número absurdo, que só faz dificultar a administração pública). É essa, então, a prioridade das prioridades da recém-eleita presidente Dilma?

Se o corte na educação é mais uma prova do descaso que se tem por ela, a nomeação do novo ministro é outra zombaria. O ministério entregue a Cid Gomes é a contrapartida do apoio eleitoral que ele e seu irmão deram à presidente no Ceará. Diante das 529 mil redações que obtiveram nota zero no Enem, além de afirmar que “os estudantes estão lendo pouco” (que achado, hein?!), o próprio ministro concluiu: “Não dá para fugir, camuflar e dizer que o ensino público é bom. Está aquém do desejável. Estamos aqui para lutar para melhorar”.

Com que autoridade, porém, o novo ministro fará isso?

É evidente, caro leitor, que o histórico descaso pela educação nos levou à corrupção generalizada e sem limites que vivemos hoje. Embalada pelo princípio do “salve-se quem puder: dinheiro público não tem dono”, tomou conta, praticamente, de todos os nossos órgãos estatais. Os agentes públicos, por sua vez, com honrosas exceções, se transformaram em intermediários de negócios criminosos. A revolta surda que isso tem provocado entre os brasileiros, se não abrirmos os olhos, transformar-se-á numa avalanche, que, mais dia, menos dia, desencadeará reações fratricidas, como sempre ocorreu no mundo todo.

O brasileiro não é nenhum songamonga, incapaz de reagir aos constantes ataques a seus direitos, a seu dinheiro e a sua respeitabilidade, como, às vezes, pode dar a entender. A raiva perigosa e crescente que tem demonstrado por meio, sobretudo, das redes sociais, é assustadora. E, como se sabe, a raiva é inimiga terrível que se cozinha em fogo brando e provoca reações imprevisíveis, quase sempre trágicas. Nunca foi fácil controlar o desespero de ninguém. É ele que nos obriga a cometer atos que, em sã consciência, jamais seriam imaginados. É nessa hora que o ser humano se transforma em animal irracional.

Os exemplos estão na nossa cara!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Austeridade palaciana


A vaca está tossindo




Gostaria que essa matéria recebesse o título “Falta alguém em Nuremberg”, como a série de reportagens e o livro do jornalista David Nasser, sobre as atrocidades cometidas pela polícia política da ditadura Vargas, chefiada por Filinto Müller. Quando puder, vou escrever o “fora” que dei certa vez, quando o mesmo Filinto, na época senador e presidente da Arena, me telefonou para obter uma informação e o mandei para aquele lugar, pensando que era um trote do amigo Orlando Vaz, useiro e vezeiro nesse procedimento. Fiz isso e depois quase morri de medo...

E por que “Falta alguém em Nuremberg”? Porque toda essa confusão que se espalha em nosso país tem no ex-Luiz o único responsável. Então: ele não tem nada a ver com mensalão, petrolão, dívida externa, corrupção endêmica e lasciva, enriquecimento ilícito. Descaradamente, nunca sabe de nada. Pai político de Dona Dilma, que também nada sabe, mas não seria capaz de fazer sozinha metade da confusão em que o Brasil está metido, não fosse ela parte complementar, como o décimo dedo (ou o primeiro, de lá pra cá). E o ex-Luiz ainda não foi processado?

Zé Dirceu está preso, mas fazendo reunião política para enquadrar os dois, ex-Luiz e Dona Dilma, nos termos do PT que eles, os presos e alguns soltos, como Palocci, Vaccari et caterva, querem. Ainda não desconfiou que voltar a “fazer o que fizeram em 12 anos” só com outra revolução... Imagino o quanto deve ser horrível ganhar e não levar uma eleição, mas...

Há mais de 30 dias, Dona Dilma não se digna a falar. Sumiu. Mas deixar de ir a Davos, onde estão os principais líderes do mundo, para falar, além de economia, sobre o problema maior, que é o clima do mundo, para ir à Bolívia prestigiar a posse do cocaleiro Evo Morales é menosprezar nosso país, ainda que hoje mais pareça um malcheiroso pântano de corruptos.

Ainda bem que Deus escreve certo por linhas tortas: de tanto falar dos militares e das eleições indiretas das ditaduras, o PT se viu obrigado a aceitar um governo de fato e a perder o de direito, exercido, para nossa sorte, pelo ilustre ministro Joaquim Levy, da Fazenda, indicado pela cúpula do poder econômico do país.

Dona Dilma nem sabe o que está acontecendo, ou talvez saiba demais que o governo está fazendo justamente o contrário do que ela e seus asseclas garantiram, durante sua campanha, que não fariam “nem que a vaca tossisse”, lembram?

Bem, já aumentaram os impostos, os ladrões ainda estão soltos, a Indonésia está morrendo de medo de nós, viúvas ou viúvos não poderão mais receber pensão pela morte dos cônjuges, funcionários das embaixadas estão sem receber e vivendo de favor e constrangimentos, São Pedro está p. da vida com os brasileiros, que, mesmo sabendo que a vaca ia tossir, votaram no PT, e por aí vai... Enfim ou ao fim, “quem pariu Mateus que o embale”, né?

Sylo Costa

Poderoso até cair

Este é um dos pecados dos poderosos: subestimam a inteligência alheia. De tão arrogantes, acham que conseguirão enganar os outros por muito tempo. Ou por todo o tempo. Até que se esborracham

Se Marta contar o que sabe, Brasil vira Indonésia


Várias metáforas dilatadas permeiam o jornalismo na questão das fontes. Há quem diga que boa notícia não nasce no convento. Para outros, boa notícia é como flor de lótus: é linda, mas para ser colhida há que se encharcar na lama do pântano, onde ele vivifica. Outros dirão que boa notícia só se colhe usando escafandro. Este blog prefere a metáfora do âmbar-gris. Trata-se de uma concreção, uma pedra, a habitar o intestino dos cachalotes. Estes, quando comem lulas gigantes, não lhes conseguem digerir o bico. E este, daí, vira um tumor, instalado no aparelho excretor do bicho grande.

Baleeiros se matam para ver quem atinge primeiro os países baixos do cachalote: afinal é lá que está o âmbar gris. Uai: para que lutar para se atingir uma pedra que é um tumor brotado de uma lula, e que está “dans le cu” de um cachalote? Porque o âmbar gris é a base dos perfumes mais caros do planeta.

Como deus é irônico, não? A base de confecção de nossas fragrâncias mais sedutoras é um câncer que nasce naquele lugar de um bicho que vive de devorar lulas gigantes.

Gostou do tema? Em Moby Dick, reportagem que Herman Melville levou 14 anos apurando (e travestiu de romance) há todo um capítulo sobre o âmbar gris. Pois bem: Marta Suplicy virou o âmbar gris da imprensa.

De ontem para agora conversei com quatro grandes repórteres: todos aviam sido pautados para colarem na Marta, porque dela pode vir a grande bomba de neutrons a matar apenas os petistas, mas deixar em pé a estrutura do partido.

Esse é um raro axioma seguido pelos repórteres: dê um grude no cidadão machucado que ele fará bem para a cidadania. Está disposto, pelas chagas que sofreu, a melhorar o país: nem que isso o faça explodir todas as pontes políticas pavimentadas ao longo de sua vida.

Luiz da Costa Pinto, então em Veja, grudou no Pedro Collor e este lhe ajudou a derrubar o irmão presidente. Xico Sá, então na Folha, grudou no PC Farias e ganhou um Esso. Hoje meio mundo gruda nos advogados de Youssef e Costa, para ver se tiram uma casquinha.

Assim que meu velho amigo Romeu Tuma Junior deixou a secretaria de Justiça do ex-presidente Lula, passamos a conversar. Nosso livro ficou 20 semanas seguidas em primeiro lugar na lista dos mais vendidos.

Pois bem: até agora ninguém sabe em que grau Marta Suplicy vai falar. Mas o reportariado sabe que, se ela contar tudo o que sabe, a República fica de quatro e Dilma vai acordar, no outro dia, num outro país…

Marta, quem diria, virou o âmbar gris da oposição. Seu artigo na Folha foi apenas um tiro de aviso. Se ela resolver não ser política ao extremo, e não negociar o seu silêncio sobre os trambiques e sinecuras que viu, um novo pelotão de fuzilamento vai chocar a brasilidade. Os repórteres sabem disso: e esta semana só pensam em Marta enquanto respiram…

Claudio Tognolli

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Os 'cobra grande'

Político é como cobra grande: quer engolir todo mundo. Os políticos nacionais não querem saber de proteger a natureza. Eles querem usar o subsolo. Tem o político pequeno, fraco, que não tem dinheiro. Esses querem proteger. Os grandes não 

O Haiti é aqui?


Ao congregar sob um só comando Estado, governo e administração, na figura onipotente da presidência da República, nosso modelo institucional produz um grave déficit democrático e um enorme ônus aos pagadores de impostos. Essa fusão só pode dar confusão. A função governo, que é transitória, deve ser partidária. Nisso andamos certos. Mas constitui um completo disparate partidarizar e aparelhar, simultaneamente, o Estado e a administração. Estes, são permanentes.

A partidarização do Estado, vou ficar com este fio do problema, tem determinado as grandes trapalhadas da nossa política externa. Aponto, entre muitos outros, os casos com Honduras, Paraguai, Bolívia, Israel, Itália, Cuba, Irã e Indonésia. Em todos esses, e em muitos outros, ou o Brasil transpassou, varou, o princípio constitucional de respeito à soberania das demais nações ou foi na contramão das melhores tendências internacionais. Isso para não falar na magnanimidade dos governos petistas para com ditadores africanos e sul-americanos, malbaratando recursos nossos em nome da ambicionada cadeira no Conselho de Segurança da ONU.

Andando por esses descaminhos ideológicos, seguindo a cartilha do Foro de São Paulo, o Brasil foi parar no Haiti. Corria o ano de 2004 e a ONU criara o MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para estabilização do Haiti). Transcorreu uma década, o Brasil comanda a missão, e já enviamos ao Haiti mais de 30 mil homens. E agora? Bem, agora a recíproca revelou-se verdadeira. Agora, o Haiti é aqui.

Vinte mil haitianos aparecem no Acre. No Acre? Sim, o governador do Acre é petista. A revista Veja, em 2/02/2014, assim descreve a rota dos haitianos: “Até cruzar a fronteira do Brasil, os haitianos viajam dias a partir da República Dominicana, país vizinho ao Haiti. De lá, embarcam para o Panamá e para o Equador, que não exige visto de entrada. Alguns permanecem no país por algum tempo até juntar dinheiro para o resto da viagem. De Quito (Equador), cruzam o Peru até a cidade de Puerto Maldonado, onde atravessam de carro a fronteira do Brasil e chegam à cidade de Assis Brasil (AC). A corrida de táxi até Brasileia custa 20 reais.”

Do Acre, os haitianos dirigem-se, preferentemente, para São Paulo, não por acaso, cidade administrada pelo PT, o que deixa essa longa história, do início ao fim, sob orientação de certa diretriz partidária. Todas as informações que se têm sobre a recepção aos haitianos não permitem um louvor à dedicação humanitária de quem lhes abriu nossas portas. Se o país os acolhe num gesto humanitário, não é correto tratá-los miseravelmente. E eles estão submetidos a condições inumanas de recepção e encaminhamento.

O governo já anunciou que está em elaboração uma Lei de Migrações, para substituir o Estatuto do Estrangeiro, atualmente em vigor. Mas parece que antes de sair a lei já sepultou o Estatuto, segundo o qual a “imigração objetivará, primordialmente, propiciar mão-de-obra especializada aos vários setores da economia nacional, visando à Política Nacional de Desenvolvimento em todos os aspectos e, em especial, ao aumento da produtividade, à assimilação de tecnologia e à captação de recursos para setores específicos“.

Nada justifica acolher os haitianos para, depois, jogá-los à própria sorte, dispersos num país de proporções continentais. Os petistas administram as questões internacionais com o mesmo desleixo com que tratam das questões nacionais.

Queda de braço


Dilma fez como Ali Babá e reuniu 40 ministros


Um ministro anuncia uma coisa, logo é desmentido pelo Planalto ou por outro ministro. A confusão é geral é só faz aumentar. Ainda não satisfeita em ter 39 ministros, a maioria sem a menor expressão ou importância, a presidente Dilma Rousseff já elevou este número para 40, porque o assessor especial Marco Aurélio Garcia, tido como consultor da Presidência para Assuntos Internacionais, conquistou assento permanente junto aos demais e participa das reuniões ministeriais.

Mas esse espantoso número passa a 41 quando se entende que o marqueteiro João Santana também merece idêntica qualificação de ministro sem pasta. Na verdade, deveria até ser considerado como principal ministro, uma espécie de Rasputin imberbe, pois é o único que consegue ser escutado com atenção por Dilma Rousseff, que acata sem discutir todas as sugestões dele, embora algumas tenham sido inteiramente idiotas, como vazar para a mídia que a presidente Dilma costumava andar sozinha de motocicleta por Brasília, à noite.

No dia seguinte, vergonhosamente o Planalto teve de desmentir a falsa notícia, porque Dilma não tem habilitação nem sabe dirigir motocicleta. Foi patético, porque, na tentativa de desfazer a mancada de Santana, a Secretária de Comunicação Social então inventou que a presidente andava de carona na moto do então secretário-executivo da Previdência Social, Carlos Gabas, que amavelmente se apressou a confirmar a veracidade da informação. E todos puderam imaginar a cena daquela volumosa senhora esforçando para subir na garupa de uma motocicleta para se abraçar fortemente a um jovem funcionário do governo, pelo simples prazer de dar um passeio pela capital…

Santana é um excepcional marqueteiro, mas se alimenta muito da criatividade alheia, ao imitar ideias e situações. No caso do passeio de moto, por exemplo, ele copiou descaradamente o jornalista Said Farah, que era ministro da Comunicação do general João Figueiredo. Para popularizá-lo, Farah espalhou a notícia de que o então presidente gostava de andar de moto sozinho em Brasília, à noite, e divulgou até uma foto dele, a caráter.

Depois, Santana imitou também Ulysses Guimarães e fez Dilma se referir ao “Velho do Restelo”, o personagem de Luís de Camões que tentou evitar a viagem de Vasco da Gama. A presidente da República absurdamente aceitou a sugestão e tentou aparecer como conhecedora das Lusíadas, como se realmente tivesse esse tipo de cultura literária, vejam a que ponto os marqueteiros chegam.

Em outra ocasião, Santana inventou que Lula passara a ler livros e teria até adorado a tradução da biografia de Abraham Lincoln escrita por Doris Kearns Goodwin. Lula gostou da ideia e deu declarações sobre a obra, destacando um episódio em que Lincoln estava numa estação de telégrafo. Só que, ao fazê-lo, Lula disse que o presidente americano estava usando o “telex”, ao invés de telégrafo. Mas o pior da estória é que esta cena não existe no livro, mas apenas no filme de Steven Spielberg, e foi criada pelo roteirista Tony Kushner. Ou seja, Lula apenas viu o filme, foi tirar uma onda de que teria lido a biografia e quebrou a cara.

Esses episódicos erros de Santana são desqualificantes, mas nada consegue reduzir o prestígio do marqueteiro no Planalto e no Instituto Lula, porque ele realmente funciona no que é mais importante – vencer eleição.

Quanto ao outro ministro sem pasta Marco Aurélio Garcia, é o contrário do marqueteiro, pois tudo que o assessor de Assuntos Internacionais faz dá errado. É da inspiração dele, por exemplo, a abertura de embaixadas e consulados em países e cidades sem importância. Com isso, aumentou os gastos do Itamaraty inutilmente, fazendo os diplomatas passarem vergonha no exterior, com credores batendo à porta a todo momento e a imagem no Brasil denegrida no plano internacional.

Quem aceita um assessor desse nível decididamente nem precisa de inimigos. Mesmo assim, a presidente Dilma continua ouvindo os conselhos de Garcia e lhe dá assento nas reuniões ministeriais.

Como todas as anteriores, a primeira reunião ministerial do segundo mandato da presidenta Dilma foi totalmente improfícua. A governante (ou seria governanta, como sugere a comentarista Teresa Fabricio?) demonstra tanta consideração com os ministros que marcou a reunião para as 16 horas, para que tivesse a menor duração possível. Isso significa que praticamente só quem falou foi ela, a quase totalidade dos ministros fez como figurante de novela, que entra em cena mudo e sai calado.

Reunir 39 pessoas (na verdade 40, contando com o “ministro sem pasta” Garcia) é de uma inutilidade constrangedora. Se tivesse o mínimo de conhecimento de técnicas de Administração, a suposta “doutora” pela Unicamp saberia que os ministros precisam ser reunidos por grupos. O mais importante deles seria formado por Fazenda, Planejamento, Desenvolvimento e Banco Central. Dependendo do tema, poderia incluir Agricultura, Relações Exteriores, Turismo, Micro e Pequena Empresa e até Transportes e Portos, em função da importância crescente da logística no desempenho da economia.

Outro grupo seria formado por Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, Esporte e Desenvolvimento Social. Mais um grupo, integrado por Defesa, Relações Exteriores, Assuntos Estratégicos, Aviação Civil e Segurança Institucional, incluindo os três comandantes das Forças Armadas.

E por aí em diante. Mas quem se interessa por governar de uma forma racional e eficiente?

Carlos Newton

Comperj: duas versões do mesmo ex-secretário

Por falta de vergonha na cara, os políticos brasileiros não passam fome. Sobrevivem a qualquer cataclisma, desastre atmosférico, sobrenadam em alagamentos e têm piscinas cheias quando da seca. Qualquer assunto é motivo para tirarem o sustento de aparecerem nas páginas dos jornais, nas homepages, como homens (ou mulheres) dedicados à causa pública, defensores incondicionais do povo. A cara de pau é lustrada com óleo de peroba importado.

“Já falta água hoje, imagina com o Comperj? É certo que irá faltar muita água. Imagina com as centenas de milhares de pessoas que estão chegando em Itaboraí, São Gonçalo, Magé e outras, devido ao complexo? ”,

A declaração acima é um exemplo dessa cretinice política. Revela o deputado estadual do Rio de Janeiro, Carlos Minc (PT), criticando o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, ao pedir que a população do estado economize água.

Segundo Minc, em 2008, foi encomendada uma avaliação ambiental estratégica da licença do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), e foi constatado que para resolver o problema de recursos hídricos na região, a capacidade do sistema Imunana/Laranjal deveria aumentar 70%, passando de sete pra 12 metros cúbicos por segundo, já esquecida. A construção do reservatório deveria ser feita pelo governo. No entanto, ainda de acordo com Minc, então secretário estadual, as conversas caíram no esquecimento.

O que não lembrou em sua grande defesa da população é que foi por duas vezes secretário do Meio Ambiente, na gestão Cabral, e ministro do mesmo setor, desde 2009, no governo Lula. Na época defendia o mesmo complexo com ferocidade petista. Minc declarava que “o licenciamento ambiental da obra, feito pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente, é considerado modelo. Ocorreram cinco audiências públicas e o impacto ambiental foi avaliado de maneira adequada”. Em nenhum momento, como governo, advertiu sobre o prejuízo do Comperj às populações.

A crítica de agora é uma forma de se eximir de qualquer culpa quando era governo ou mesmo se esconder no emaranhado de crimes perpetrados contra a população como a atual da seca. Como um ex-ministro e duas vezes secretário no Rio de Janeiro não sabia o que acontecia nos reservatórios cada vez mais vazios? Minc não teria informações privilegiadas de que estavam corretas as previsões de queda no volume de chuvas desde 2012? E as suas declarações bombásticas anunciando, por exemplo, saneamento em Maricá, em 2013, quando sequer existe estação de tratamento ou rede de esgotos? Portanto, como governo, também escondeu do contribuinte informações importantes e sequer avisou que estávamos em situação crítica.

O petista esquece do seu passado no meio ambiente fluminense, que não teve qualquer ação contra o péssimo abastecimento da Cedae? E o que falar das defesas constantes que fez da administração municipal concedendo licenças ambientais para construção de inúmeros condomínios numa região sem água e esgoto?

As declarações de agora são mais uma cortina de fumaça, típica da demagogia, para esconder o passado tenebroso de atitudes nada favoráveis à população, mas que no momento serviam aos interesses tanto governamentais quanto da Petrobras. Afinal o Comperj é mais um daqueles elefantes brancos típicos da ditadura mais para angariar popularidade de abertura de empregos do que efetivo desenvolvimento, porque o estrago ao redor é maior do que o benefício.  

Vídeo divulgado em 2013 com o então secretário do Meio Ambiente, mas que agora o Google informa: "Os comentários estão desativados para este vídeo"

Lula pretende a revolução cultural?


Anuncia o Lula a intenção de promover uma reforma estrutural no PT. Começa pelo cumprimento efetivo das quotas de participação, ou seja, a obrigatoriedade de serem escolhidos para funções de direção nos municípios, estados e no plano federal, 50% de mulheres, 20% de jovens e 20% de negros. O ex-presidente critica a direção centralizada e pretende a renovação dos quadros.

Significa o quê, esse posicionamento? Primeiro, uma declaração de guerra a Dilma Rousseff. Se o PT precisa de reformas é porque a presidente, cujo governo domina mais da metade dos companheiros, impõe diretrizes que isolam o ex-presidente. Nunca é demais buscar lições na História. Na China, Mao-Tsetung estava isolado, afastado das decisões, mera figura decorativa. O poder repousava nas mãos de Liu-Xaochi, Teng-Xiauping e outros moderados. Mao criou a Revolução Cultural, virou o país de cabeça para baixo e voltou a exercer o comando. Liu foi degradado, Teng refugiou-se num comando militar do interior e, por sinal, voltou com toda força depois da morte de Mao, para sepultar a Revolução Cultural.

Guardadas as proporções, o Lula ainda não perdeu de todo o poder, mas se não reagir, como agora parece estar fazendo, torna-se apenas um mito reverenciado mas ultrapassado. Daí a ênfase que pretende dar à renovação dos dirigentes do partido, manobra capaz de atingir o verdadeiro objetivo, no caso, reconduzir o PT às suas origens. Quais? A defesa de reformas socializantes em condições de bater de frente com a linha neoliberal e conservadora adotada pela sucessora.

Na verdade, o que precisa mudar no PT é o seu conteúdo.A legenda ficou igual às demais, um aglomerado de petistas buscando ocupar cargos, funções e espaços que os beneficiem pessoalmente, sem fazer conta dos ideais um dia proclamados de mudar a sociedade através das reformas envolvendo a justiça social, a igualdade, a extirpação da miséria e da pobreza, o fim dos privilégios das elites e sucedâneos.

Se o Lula obterá a vitória, como Mao a obteve, é um ponto de interrogação, até sob o risco dos monumentais excessos e retrocessos que a China enfrentou com seus Guardas Vermelhos, afinal contidos. Uma evidência, porém, sobressai entre outras: vem por aí uma luta de foice em quarto escuro entre ele e Dilma.

Carlos Chagas 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A violência mais perigosa

O mais grave da violência é que nos acostumemos a conviver com ela como se fosse uma triste fatalidade
Já não é segredo para ninguém que o Brasil é hoje um dos países mais violentos do mundo. Os meios de comunicação se encarregam de dar os números que crescem a cada dia. Os assassinatos já superam os 53.000 anuais, a maioria de jovens negros ou mulatos e pouco escolarizados. Por isso chamam menos a atenção?

Há, no entanto, uma violência ainda pior: que nos acostumemos a conviver com ela como se fosse uma fatalidade.

Os cidadãos percebem a violência na pele, em seu cotidiano. No Rio, em oito dias, as balas perdidas causaram sete mortes, principalmente de crianças. Na mítica praia de Copacabana, as autoridades tiveram de levantar torres de observação para vigiar a formação de arrastões, bandos de jovens que chegam para assaltar os banhistas.

Nos ônibus que levam as pessoas dos subúrbios às praias nobres do Rio, a polícia está agindo de surpresa para deter suspeitos que poderiam ir até elas para assaltar os turistas. Os mais vigiados continuam sendo os mais pobres, identificados como violentos potenciais.

As pessoas de bem da nobre zona sul das praias cariocas chegaram a pensar em isolar essas praias, obrigando a pagar para poder desfrutar delas, em uma tentativa de afastar as classes mais baixas.

E não só no Rio. Hoje, mesmo em balneários até ontem tranquilos no nordeste do país, em praias paradisíacas e isoladas, a violência está chegando. Como em Búzios, meca do turismo internacional, onde aumentam os assaltos a pessoas e residências e onde a polícia agora vigia praias nas quais até agora parecia impossível pensar em ser assaltado.

A violência é contagiosa e qualquer um pode receber dois tiros mortais de um policial como resultado de uma simples discussão na rua.

Se a violência física (sobretudo nas grandes metrópoles) continua crescendo, existe no entanto uma violência mais perigosa, que é a de considerá-la parte da vida dos cidadãos, quase sem assombro, até com resignação. “Só espero que não chegue até mim”, dizia uma senhora bem de vida de São Paulo. É como uma loteria ao contrário. Jogamos todo dia para que não nos alcance.

Nenhum presente melhor para os que governam o país do que essa espécie de vacina contra a indignação diante de tanta violência gratuita.

Leia mais o artigo de Juan Arias

Sem preço

Não tem preço ver petistas da gema estupefatos. Sem voz. Como Dilma
Ricardo Noblat

O ministério da soneca


Entre uma campanha e outra, Napoleão fez mais pela França com a pena do que com a espada. Diante da confusão de regulamentos e leis regionais, decidiu botar ordem nas relações entre os cidadãos e entre eles e o Estado. Reuniu uma comissão de notáveis para preparar o Código Civil unificado. Depois de pronto, com 2.281 artigos, foi denominado de Código Napoleônico, exemplo até hoje seguido por muitas nações modernas. Por ironia, eram 39 os participantes da monumental tarefa, que o Imperador presidia de manhã, à tarde e quase sempre à noite, quando exauridos e fatigados, muitos cochilavam. Mola mestra dos trabalhos, o Corso não perdoava, exortando-os com um apelo: “Vamos, cavalheiros, ainda não ganhamos os nossos salários…”

Reúne-se hoje pela primeira vez o novo ministério da Dilma, por ironia contando com 39 ministros. Vão trabalhar pela manhã, presume-se que de tarde também, mas de noite, nem pensar. O que não impede que muitos tirem sua soneca vespertina, embalados pelas palavras da chefona e, com certeza, de alguns condenados escolhidos para expor planos e programas. Parece impossível que os 39 disponham de tempo para se fazer ouvir, hipótese que levaria a reunião ministerial até o dia seguinte. Com a natural tendência ao sono, quantos não resistirão? Até porque, ao contrário dos notáveis de Napoleão, a maioria dos presentes da reunião já em andamento nada teria a relatar ou sugerir, convocados por injunções partidárias fisiológicas, sem maior intimidade com os temas afetos aos respectivos ministérios. Essas contradições fluem para uma única semelhança entre a Brasília de hoje e a Paris de ontem: quantos dos presentes à reunião ministerial poderão dizer que estão ganhando os próprios salários?

Em toda a crônica recente jamais se viu um grupo tão heterogêneo, insosso, amorfo e inodoro. Excetuando-se aqueles aos quais a presidente da República penalizou com a missão impossível de consertar a economia e as finanças públicas sem arcar com a impopularidade, os demais apenas ornamentam a paisagem. Por isso, sem dúvida, será razoável o número dos que estarão cochilando. Sem ter ganho os salários, vale repetir…

Para ficar na referência a Napoleão, importa registrar uma de suas máximas fundamentais: “um governante deve ser mais temido do que amado”. Será essa a diretriz adotada pela presidente Dilma? Saberemos se a reunião ministerial de hoje tiver sido televisada ou ao menos aberta à imprensa. Caso contrário, pela inconfidência dos presentes, quinze minutos depois.

Redução da pobreza estagnada em 2014


Segundo a Cepal, percentual de pessoas em condições de pobreza ficou estável em 28%, enquanto miséria aumentou
A pobreza na América Latina está estagnada há dois anos, segundo dados divulgados ontem pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Destes, 71 milhões, ou 12% dos habitantes da região, estão na extrema pobreza. De acordo com o estudo, 28,1% dos habitantes da região — o equivalente a 167 milhões de pessoas — ainda viviam em condições de pobreza no ano passado, mesmo percentual registrado em 2012.

Já a extrema pobreza na América Latina aumentou de 11,7%, em 2013, para 12%, em 2014. Segundo a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, a alta dos preços dos alimentos e a desaceleração econômica da região são alguns dos fatores para essa estagnação.

— A pobreza persiste sendo um fenômeno estrutural e, desde 2012, a redução da pobreza estancou-se.

Para Alicia, a recuperação da crise financeira internacional “não parece ter sido aproveitada suficientemente para o fortalecimento de políticas de proteção social que diminuam a vulnerabilidade diante dos ciclos econômicos.” Segundo ela, em um cenário de possível redução dos recursos fiscais disponíveis na região, são necessários mais esforços para assegurar as políticas sociais.

No Brasil, de acordo com o organismo regional, a pobreza caiu de 18,6% da população, em 2012, para 18%, em 2013. Já a extrema pobreza aumentou: de 5,4% para 5,9%.

Segundo o diretor do escritório da Cepal no Brasil, Carlos Mussi, dos cerca de 34 milhões de brasileiros que estão na pobreza, 11 milhões estão em situação de extrema pobreza.

— O aumento dos preços dos alimentos tem impacto forte na indigência no Brasil e na América Latina. Ainda que o mercado de trabalho brasileiro tenha seu dinamismo, este vem diminuindo — disse Mussi.

Leia mais a reportagem

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

E se os governantes deixassem Deus em paz?


Toda vez que os governantes, por exemplo na América Latina, se veem em apuros e não sabem como resolver um problema (muitas vezes criados por eles mesmos) invocam a Deus para que lhes facilite as coisas. Ou melhor, tentam convencer os cidadãos de que, no fim, será a providência divina quem irá tirar o pai da forca.

Na mesma semana, fizeram isso o recém-empossado Ministro de Minas e Energia do Brasil, Eduardo Braga, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Só porque o crescimento está à beira da recessão, como confessou com realismo em Davos o ministro da Economia, Joaquim Levy, é que o Brasil ainda não sofre racionamento de luz.

No entanto, o novo ministro Braga tranquilizou o país com essas palavras: “Deus é brasileiro e vai fazer chover e aliviar a situação”. Ao que parece, os técnicos de seu ministério “ficaram de cabelo em pé” ao ouvir o ministro, como escreveu um jornal brasileiro.

Em seus escritórios e dormitórios, os políticos são livres para cultivar suas devoções religiosas. O ideal, no entanto, é que deuses e santos fiquem ali, na intimidade

Quase lhe fazendo eco, na Venezuela o presidente Maduro, diante do problema da queda dos preços do óleo cru que tanto está afetando a já martirizada população, pediu aos venezuelanos que não se preocupem, pois “Deus proverá. Ele jamais faltou à Venezuela”.

Diante desse uso político do religioso por parte dos governantes incapazes de resolver eles mesmos os problemas de seu país, seria o caso de perguntar: por que não deixam Deus em paz?

Deus, para os que nele creem, não pode ser um coringa, sempre disposto a resolver os erros e incapacidades dos políticos.

Essa não é a função da fé e também não corresponde aos ensinamentos básicos do cristianismo, no qual tanto o ministro brasileiro como o presidente venezuelano se inspiram.

Ambos poderiam recordar que, nas Escrituras, Jesus respondeu a quem tentava envolvê-lo nos assuntos profanos da política com a frase que se tornaria célebre: “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Que os governantes se preocupem em resolver os problemas para os quais foram nomeados sem refugiarem-se nos braços de uma divindade e que deixem Deus em paz, pois sua missão nada tem a ver com os problemas dos políticos e menos ainda com suas insuficiências, erros e corrupções.

A fé dos que creem e a não fé dos agnósticos e ateus é muito mais importante, séria e pessoal do que os jogos do poder temporal.

Leia mais o artigo de Juan Arias

Precisa-se


Precisa-se de uma bola de cristal
que mostre um futuro grávido de paz:
que a paz brilhe no escuro
com o brilho especial que algumas
palavras possuem
mas que seja mais do que a palavra,
mais do que promessa:
seja como uma chuva que sacia a sede da terra.
Roseana Murray

O paredão hídrico


O brasileiro está refém da água. Tem que economizar devido ao volume baixo, baixíssimo, dos reservatórios; e tem que reduzir os gastos de energia, em pleno calor senegalesco, porque as usinas estão com reservatórios em baixa. Sem ela, não se bebe, mas também não se tem energia para encher as caixas de água.

No paredão, o brasileiro nem sabe a quem rezar. Deus tem mais o que fazer do que fabricar água para a glória dos governos brasileiros, que há anos se lixam para os empreendimentos em hidrelétricas e reservatórios. Passaram no mínimo dois anos garantindo, com a falta de transparência costumeira, metáfora para descaso com a população, que tudo estava sob controle. Jogavam com as eleições e falta de água seria um gol contra em suas pretensões.

Agora pedem, com a sempre solícita ajuda da mídia, para que o brasileiro economize, quando políticos e governos nada fizeram nem revelaram os verdadeiros dados dos sistemas hídricos. E o pior é ouvir, ler e ver as imagens das inteligentes reportagens apontando o verdadeiro culpado da crise: o consumidor. É a ele que agora imputam a necessidade de economizar para não faltar. Copmo se esse fosse o caminho mais rápido para um país que não tem plano B para coisa alguma.
É bom acordar de vez. O meio ambiente no Brasil é assolado pelos políticos, que tratam o setor ainda como modismo ou meio de angariar votos entre os idealistas. A falta de seriedade com o problema provocará prejuízos maiores do que todo o rombo do petrolão, pagos durante muito tempo. Medidas urgentes sequer foram pensadas ou postas no papel, o que se vê é um governo federal silencioso diante da crise, quando até comentou execução de traficante. E os estaduais preparam-se para novamente levar com a barriga.
O aquecimento global não é mais uma marolinha que podem empurrar para frente, não dar bola ou mesmo maquiar em ano eleitoral. O anúncio da Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos serve para colocar as barbas de molho. O passado 2014 foi o ano mais quente desde 1880 e dezembro também marcou uma temperatura média na superfície da Terra e dos oceanos sem precedentes nos últimos 134 anos para este período. Para o ano, a temperatura média se situa entre 0,69 °C acima do média do século 20, superando as marcas prévias de 2005 e 2010, de 0,04 °C .
O prejuízo da incúria governamental, que adora falar em desenvolvimento, palavra mágica para os imbecis, está ainda com apenas um dígito de bilhão, mas vai para dois dígitos rapidinho. Não será registrado, porque não interessa aos governantes, o custo do sacrifício da população infinitamente muito maior, em particular entre os mais pobres, aqueles a quem o governo Dilma se oferece como madrasta.

Do túnel do tempo

Este país é um verdadeiro paraíso: a terra produz abundantemente frutas de todas as espécies, o ar é puro e as minas de ouro e pedras preciosas são numerosas. Falta, no entanto, um bem mais precioso que todos os referidos: a liberdade
Evariste-Desiré Parny, relato sobre estada no Rio de Janeiro, em 1773 

A abolição da escravatura e o boicote à educação


Em sua fala de abertura dos trabalhos no Parlamento, em 1888, a princesa Isabel disse que o Brasil precisava ser uma pátria livre da escravidão. Logo depois o governo encaminhou a proposta que viria a ser a Lei Áurea. O deputado Joaquim Nabuco passou a ser o principal articulador da aprovação da proposta, ainda que o governo da época fosse liderado por um partido diferente do seu, e o chefe do governo, o deputado João Alfredo, fosse seu maior adversário em Pernambuco. Essa postura moral de Nabuco lhe dá uma grandeza ainda maior do que a própria luta pela abolição.

Se a princesa tivesse dito que seu lema seria “Brasil: pátria sem escravidão”, sem o governo apresentar o projeto da Lei Áurea, sua mensagem teria atendido a crescente consciência nacional da necessidade de abolir a escravidão, mas sem transformar o lema em um ato realizador.

O lema “Brasil: pátria educadora” tem o mérito de explicitar a posição que, depois de décadas de luta por alguns, começa a ganhar corpo na sociedade brasileira: a importância da educação para o progresso do país. Mas, sem um conjunto de leis, a definição dos recursos e a articulação de uma base de apoio, a ideia ficará apenas como lema.

Dizer que a pátria educadora será constituída graças aos royalties do pré-sal é insuficiente. Porque, se a Petrobras superar suas dificuldades financeiras, se a engenharia for eficaz para extrair o petróleo daquela profundidade, se o preço do petróleo voltar ao patamar de US$ 100 por barril, se a crise ambiental não forçar a substituição do combustível fóssil por outras fontes, mesmo assim, em 2034, o pré-sal só conseguirá gerar R$ 35 bilhões em recursos, cerca de 5,5% do montante necessário para o Brasil virar uma pátria educada.

Prometer que a nação educada será financiada pelo pré-sal é menos seguro do que se a princesa tivesse dito que os escravos seriam alforriados graças aos royalties obtidos pela exploração de café em novas áreas a serem abertas em regiões ainda não desbravadas.

Ao aumentar o piso salarial do professor em 13,01%, elevando-o para R$ 1.917,78, o governo da presidente Dilma não demonstra firmeza de cumprir seu lema. Além de ser um valor insuficiente, o lema não ganha consistência devido à opção do seu governo em deixar a responsabilidade pela educação sobre os ombros de pobres e desiguais prefeituras e Estados. Não há como fazer do Brasil uma nação educada se a educação não for uma questão nacional, com a adoção das escolas pelo governo federal, ao longo dos próximos anos.

Ao apresentar seu compromisso de construir um Brasil sem escravidão, a princesa sancionou a lei da abolição. Se quiser levar a sério sua ideia de construir uma pátria educada, a presidente Dilma deve apresentar o conjunto de ações necessárias para a adoção da educação básica pela União – a PEC 32/2013 é um exemplo. Se fizer isso, todos devem seguir o exemplo de Nabuco e dar o apoio necessário.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Desigualdade

Dentro dos países em desenvolvimento, apesar de os pobres terem melhorado, os ricos ficaram ainda mais ricos, o problema está dentro dos países. Isso é o que chateia as pessoas, a falta de dinheiro e principalmente o estigma social diante da falta de condições básicas
Hans Rosling, especialista em desigualdade do Instituto Karolinska 

Nota zero do Enem é um alerta


Mais de 500 mil candidatos, para ser preciso 529.374 (8,5% do total de inscritos), zeraram a nota da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para tirar zero, segundo os coordenadores do Enem, é preciso escrever menos de sete linhas, copiar textos de terceiros ou escrever sobre um assunto completamente alheio ao tema – no último exame, realizado em 2014, a proposta era “publicidade infantil”.

O ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), inclusive, chegou a julgar a pouca familiaridade dos estudantes com a questão como um dos fatores principais para um resultado tão ruim. Mas seria importante o MEC promover uma leitura mais ampla para o desempenho pífio dessa edição do Enem.

Não é apenas senso comum a queda qualitativa do ensino e público e privado, como também um menor apego das gerações mais novas à leitura e à escrita formal diante de um mundo imperativo de imagens e comunicações abreviadas e superficiais. Em 2013, a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), iniciativa do próprio governo federal lançada um ano antes para mapear a qualidade do ensino no país, revelou um nível “baixo” de leitura em crianças com menos de 10 anos nas escolas públicas de 22 Estados brasileiros.

A situação não é melhor entre os adultos. Pesquisa da Pró-Livro divulgada em 2012 mostrava uma diminuição significativa do público considerado leitor entre os anos de 2007 e 2011. O percentual de quem leu pelo menos um livro a cada três meses havia caído no período, de 55% para 50% da população. Dentro desse contexto, há ainda aquela parcela não mensurada capaz de ler, mas com dificuldade de interpretar os textos.

Ou seja, apesar das estatísticas oficiais e da importância real do maior número de pessoas nas escolas e universidades brasileiras, a qualidade do ensino e da formação de pessoas minimamente críticas caminha em sentido oposto.

Para escrever uma redação, bem ou mal, com erros ou não de ortografia, é necessário compreensão do tema proposto, raciocínio lógico, associação de ideias e conexão de parágrafos. E essas faculdades estão sendo deixadas de lado não só pela escola formal, mas também por um modo de vida superficial e imediatista comum a jovens, adultos e idosos.

Os brasileiros, que estão entre os líderes de usuários de redes sociais, estão se especializando em ler títulos, em replicar matérias sem ao menos compreendê-las. É como se soubéssemos nada sobre tudo. As discussões, as opiniões emitidas são formadas e esquecidas na mesma velocidade da atualização de uma página no Facebook.

Por essas razões, o resultado da redação do Enem não é surpreendente, mas é altamente preocupante.

Heresia ministerial


“Deus é brasileiro, temos também que contar que ele vai trazer um pouco de umidade, um pouco de chuva, para que a gente possa ter mais tranquilidade ainda”.
O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, sem ter como poder explicar os quatro anos em que o sistema elétrico brasileiro esteve entregue ao sucateamento e à corrupção (lembre de Paulo Roberto Costa revelando na CPI que a corrupção era generalizada e estava também na Eletrobras), resolveu conclamar a ajuda divina para trazer água.
Esquece o ministro parlamentar, com alguns quiprocós na justiça, que a palavra já conclamava: "Faça por onde que te ajudarei". Resta se perguntar quando o governo Dilma ou o de Lula fizeram por onde para que possam contar com o auxílio dos céus? Deus pode até fazer milagres, mas não faz nada quando o homem cruza os braços, ou os governos desprezam as próprias obrigações.

Bula

CORROMPIX

NOME GENÉRICO: Semancolina

APRESENTAÇÃO:

Caixa contendo 28 supositórios tamponados em tamanho megatronic.

USO ADULTO EM POLÍTICOS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS EM MARACUTAIAS.

COMPOSIÇÃO:

Cada supositório contém Semancol, Vergonhol (em solução), Neutralizador de Óleo de Peroba e mais Semancol.

AÇÃO ESPERADA DO MEDICAMENTO:

CORROMPIX deve ser guardado em lugar onde não receba luz, calor e verbas provenientes de Caixa 2. Em alguns casos, os sinais de melhora surgem rapidamente, fazendo com que o político corrupto, venal e hipócrita, transforme-se num Tiradentes em questão de horas. Em outros casos é necessário um período maior de aplicação do produto para que se dê o efeito esperado. Este medicamento só pode ser administrado no momento em que o político estiver sendo amamentado por uma autarquia, empresa privada ou órgão ligado ao Judiciário.

A interrupção repentina do tratamento com os supositórios tamponados é ALTAMENTE DESACONSELHÁVEL. O paciente em estado de corrupção aguda poderá voltar a prevaricar, ficando resistente à Semancolina e ao Vergonhol, o que o tornará um picareta crônico ou, em estados mais graves, um consultor para depósitos em dólar no Exterior.

POSOLOGIA:

Está demonstrado que 90% dos pacientes com corruptite estão infectados por uma bactéria de nome Real avida e que a sua erradicação reduz o índice de aparições dos estados de canalhice ou vontade incontrolável de se apropriar do patrimônio alheio.

Na prática, iniciar o tratamento com um supositório megatronic ao dia. Se o desejo de se locupletar prosseguir, deve-se ir aumentando as inserções, aos poucos, sem nunca exceder 17 supositórios/dia.

A duração do tratamento será de acordo com o efeito terapêutico, devendo prosseguir enquanto a porção retal do paciente oferecer condições satisfatórias de operacionalidade.

REAÇÕES ADVERSAS:

As reações adversas relacionadas com o uso de Semancolina aliada ao Vergonhol mais frequentemente relatadas foram discreta dor no local de aplicação e vermelhidão. Foram descritos raros casos de surto de benevolência, em que pacientes corruptos entregaram seus patrimônios a instituições de caridade e asilos. Mas a incidência desses casos é de 1 em cada 3.783.000 de indivíduos velhacos submetidos à medicação.

OUTRAS INDICAÇÕES:

CORROMPIX está indicado para corruptos que estejam passando por processos criminais, de acareação, renúncia de cargo, quebra de sigilo bancário ou investigação junto ao FBI.

CONTRAINDICAÇÕES:

Este medicamento não deve ser ministrado a laranjas, esposas, cunhados e parentes de políticos corruptos nem a marqueteiros ligados ao paciente.

SUPERDOSAGEM:

Em caso de superdosagem, o corrupto em tratamento com CORROMPIX deve procurar a Delegacia da Polícia Federal ou a Promotoria da República mais próxima e se entregar munido de uma lista com todos os nomes de pessoas envolvidas em seus cambalachos.

VENDA SOB PRESCRIÇÃO JURÍDICA.
MANTENHA AO ALCANCE DE POLÍTICOS.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Mediocridade que nos assola

Eu tenho uma dificuldade intrínseca de existir no mundo (…) dada a fragmentação com que vivemos nossas vidas. Somos todos pequenos atores de pequenas aventuras absolutamente irrelevantes. Já não existem grandes revoluções, grandes aventureiros, grandes estadistas. Nossa vida se inscreve hoje nesse gigantesco bric-à-brac do cotidiano. A grande autobiografia, hoje, seria aquela que desse conta da crescente mediocrização a que estamos sujeitos, seja através do embotamento do espírito crítico, da razão ou dos próprios sentimentos.
Jamil Snege (1939-2003) 

O PT à beira do precipício


Parece que o PT acordou. Pelo menos uma pequena parte, com a Fundação Perseu Abramo à frente. A maioria dos companheiros finge estar dormindo, mas sonhando, mesmo, só os invertebrados, aqueles que se amoldam apenas às benesses do poder. O partido, com um todo, não aguenta mais a abertura à direita empreendida pela presidente Dilma. Começam a pipocar os reclamos, um dia capazes de transformar-se em indignação.

Afinal, foi para apoiar uma política neoliberal e conservadora que o PT foi criado? Juros na estratosfera, beneficiando investidores estrangeiros, aumento de impostos e taxas, supressão de direitos sociais, desemprego – essa receita foi praticada nos tempos de Fernando Henrique. Como adotá-la agora, diante dos aplausos das elites e do silêncio dos companheiros? O primeiro grito de protesto foi dado, débil e pequeno, mas significando estar contido na garganta da imensa maioria petista. Como aceitar a transformação da presidente Dilma, um exemplo a mais de subserviência frente ao modelo universal de mandar a conta das crises econômicas para os menos favorecidos?

A explicação é clara: ela jamais foi do PT. Ingressou em suas fileiras por ambição e esperteza. Iludiu o próprio Lula, hoje afastado da tutela que chegou a exercer, com a evidência de que ele também prestava muito mais atenção no fisiologismo e na ocupação de espaços do que no ideário do partido.

Está o PT numa luta pela própria sobrevivência. Acatando o modelo adotado pelo governo, acabará tornando-se mais um partidinho desses que alugam a legenda para obter compensações individuais para seus líderes. Por conta da iminência do desastre, uns poucos petistas decidiram alertar a massa silenciosa. Seguir o caminho do arrocho equivalerá a chegar à beira do precipício. Para demonstrar a existência de alternativas é que o partido se formou, batalhou e acabou vencendo as eleições. Aderir às diretrizes do passado exprime a negação de sua razão de ser.

Junte-se a tal perplexidade o domínio da corrupção incrustada no governo e se terá a receita de como um movimento puro misturou-se com a sujeira da manipulação do poder. Tivesse a presidente Dilma anunciado na campanha eleitoral que optaria pelas iniciativas celeradas postas em marcha pela nova equipe econômica e seria outro o inquilino do palácio do Planalto, tanto faz se Aécio Neves ou Marina Silva.

Carlos Chagas