sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

'É uma onda do mar...'


Árvore, trânsito, Petrobras e Macadâmias


É Natal, bimbalham os sinos, o mundo gira e a Lusitana roda — mas, nem por isso, as informações sobre a roubalheira na Petrobras deixam de nos surpreender. Ou, como gosta de dizer a “presidenta”, de nos estarrecer. Assisti à entrevista que a Venina deu à Glória Maria, e fiquei estarrecida. Não com as denúncias — afinal, eu precisaria ser mais ingênua do que Dilma e Graciosa juntas para acreditar que nem uma nem outra sabiam do que se passava na empresa — mas comigo mesma por, paradoxalmente, não mais me estarrecer diante do que ouvia.

Sinto que nada do que eu possa vir a saber sobre a Petrobras ou sobre o governo poderá, jamais, me estarrecer; a minha capacidade de estarrecimento está esgotada.

A única coisa que ainda me causa algum espanto em relação à Petrobras é o profundo silêncio dos seus 85 mil funcionários. Cadê os protestos? Cadê as passeatas? Cadê a vergonha na cara?

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Em Nova York, a filha do dono da Korean Air mandou um avião da empresa voltar ao portão de embarque depois que lhe serviram macadâmias num pacotinho, em vez do prato de porcelana que esperava. Por causa disso, o voo teve um atraso de 11 minutos, a Coreia do Sul entrou em polvorosa, as vendas de macadâmias dispararam, e a moça pediu perdão em público pelo piti. Seu pai, o poderoso CEO da companhia, reuniu a imprensa para curvar-se num pedido de desculpas ainda mais elaborado, em que reconheceu que não soube educar a filha; a gravata que usava quase tocou o chão.
Há lugares no mundo em que os envolvidos em escândalos pedem desculpas.

Paisagens Brasileiras

Lida diária, arredores de São Paulo (1895), Antônio Ferrigno 

Dieta de Dilma



Está em toda a rede e virou um sucesso de acessos. Para ficar fininha e esbelta no dia da pose presidencial, junto com os ministros, Dilma está cortando na carne e fechando a boca.

Quem dera que também fizesse dieta no governo, cortando a corrupção e fechando de uma vez a boca para não falar bobagem - em que é emérita - nem sair por aí se mostrando a vovó sabe tudo.

Que bem faria uma presidente que não enchesse a boca de farofa, não engordasse os caixas, não alimentasse a voracidade mórbida da politicagem, nem sequer tivesse sobrepeso de ministros. Teria-se uma administração enxuta, esbelta, com corpinho de 20 e não mais a jamanta que atropela o país.

No entanto o que se prevê é uma buchada das mais incrementadas com sérias consequências físicas e mentais para a população, que vai ter um porre de corrupção e de abrigo da safadeza. Na lista dos já anunciados, pode-se ver gente com processo na Justiça, absolvidos pelas bênçãos presidenciais da campeã anticorrupção, um bom monte de pastéis de vento, sem contar os “azeitonas” para enfeitar o empadão presidencial. Tudo, enfim, uma farofa velha e rançosa. Indigesta até não poder, tudo para garantir mais uma vez a imagem da toda poderosa.

A dieta, que entra também na agenda positiva, sem dúvida, deve ser outra recomendação do doutor Santana para o "governo novo, novas ideias, presidente de cara nova". Só que o país continua cada vez mais envilecido por essa mania de recorrer a marketing para mostrar que tudo vai bem, quando o país vai bem mal, para desgraça dos homens e mulheres que dão duro para fazer deste um lugar melhor no mundo. Enfim, vivem sob as leis e com honestidade, o que não entra na dieta de Dilma.

Financiando para outros lucrarem


O Porto de Mariel não é um investimento. Obras que se realizaram no Porto foram empreendidas por companhias brasileiras com financiamento majoritário do governo brasileiro. Trata-se de financiamento de exportação de serviços. Não será o Brasil ou qualquer empresa brasileira que operará Mariel, mas uma companhia de Cingapura

Presentes que Papai Noel deixou


Papai Noel veio direto do Polo Norte para Brasília, na noite de quarta para quinta-feira. Só abandonou o trenó quando ia sobrevoar o palácio da Alvorada, preferindo trocá-lo por um tanque de guerra: preparou-se para receber os petardos que Dilma costuma arremessar sobre auxiliares, integrantes de sua base parlamentar e quantos buscam instruções a respeito de como ajudá-la a governar. Por conta da Babel em que se transformou a atual administração, deixou como presente um sofisticado telefone celular, daqueles capazes de traduzir idiomas variados para os interlocutores. O aparelho evitará o constrangimento de a presidente não falar a mesma língua de seus ministros, prevenindo desentendimentos e conflitos no segundo mandato.

No palácio do Jaburu, morada do vice-presidente Michel Temer, precisou descer para conter a multidão de filiados ao PMDB, cobrando mais vagas no ministério.

O velhinho passou sobre o Congresso, levando lembranças para deputados e senadores, mas frustrou-se ao verificar que não havia um só deles nas amplas dependências. Deixou na portaria exemplares do manual de sobrevivência na selva, endereçados aos novos parlamentares. Despachou cópias do Código Penal, pelo Sedex, para serem entregues no começo de 2015 na penitenciária da Papuda, aos integrantes da lista do procurador-geral da República, que lhe havia enviado dias antes. Nos escritórios da Petrobrás e nas representações das principais empreiteiras, preferiu deixar catálogos com instruções sobre como dormir no chão em celas superlotadas.

Na Esplanada dos Ministérios, distribuiu montes de caixas de Lexotan para quantos atuais ministros se encontram à beira de um ataque de nervos, ainda sem saber se continuam ou serão mandados embora.

No pátio do Supremo Tribunal Federal espalhou fotografias do ex-ministro Joaquim Barbosa com os dizeres “ele voltará!”. Como o atual presidente Ricardo Lewandowski estava de plantão, preferiu colocar em sua antessala um tratado sobre a arte de enxugar gelo e ensacar fumaça.

Tentou aproximar-se do palácio do governador de Brasília e não conseguiu, tendo em vista monumental e permanente caos no trânsito. A festa foi para suas renas, que comeram capim à vontade, crescido nos jardins e à beira das avenidas. O jeito foi presentear Agnelo Queirós com uma tesoura de cortar grama.

Passando pelo monumental e abandonado estádio “Mané Garrincha”, fez cair no gramado sacos de sementes de trigo e soja, sua contribuição para recuperar o agronegócio na capital federal. Sobre o Lago Paranoá depositou uma canoa em cujo casco estava escrito: “Nova Sede do Ministério da Pesca”.

Papai Noel deixou Brasília no meio da madrugada com uma indagação: a cidade ainda estará aqui no próximo Natal?

Carlos Chagas