domingo, 14 de dezembro de 2014

Aula


Armas


- Qual a mais forte das armas,
a mais firme, a mais certeira?
A lança, a espada, a clavina,
ou a funda aventureira?
A pistola? O bacamarte?
A espingarda, ou a flecha?
O canhão que em praça forte
faz em dez minutos brecha?
– Qual a mais firme das armas? –
O terçado, a fisga, o chuço,
o dardo, a maça, o virote?
A faca, o florete, o laço,
o punhal, ou o chifarote?
A mais tremenda das armas,
pior que a durindana,
atendei, meus bons amigos:
se apelida: – a língua humana.
Fagundes Varela

Como seria o país do PT sem oposição

Graça Foster, presidente da Petrobras, tenta se manter com a cabeça fora d’água. Se conseguir, pior para a estatal. As ações voltaram a despencar nesta sexta-feira. Sim, caiu o preço do barril do petróleo, como é sabido. É a razão da hora. A questão é saber onde estava a empresa brasileira quando veio esse fator conjuntural. Resposta: no fundo do poço. A agonia parece não ter fim, e Dilma, a nefelibata, finge que não é com ela. Só que é.

Nesta sexta, o comando da estatal resolveu agir como de costume. Diante das evidências — e evidências são — de que fora advertida das lambanças como diretora e como presidente da empresa, Graça mobilizou a sua turma para desqualificar a acusadora, Venina Velosa da Fonseca — que teria até ameaçado seus chefes porque perdeu um posto importante.

A questão aí não é “de quem”, mas “do quê”. Sim, é sempre bom saber o nome do autor de uma denúncia. A pessoa pode ter interesse objetivo quando faz uma acusação. Se uma grave ilegalidade está sendo apontada, no entanto, é ainda mais relevante saber se estamos diante de uma verdade ou de uma mentira.
Fato 1: a roubalheira na Petrobras aconteceu.
Fato 2: Venina advertiu Graça (pouco importam as suas intenções).
Fato 3: Graça não tomou nenhuma providência.

Nem ela nem o presidente que a antecedeu, José Sérgio Gabrielli, que vai se agigantando, a cada dia, como o chefe de uma casa de horrores. Que ironia! A Petrobras serviu de cavalo de batalha dos petistas nas eleições de 2002, 2006 e 2010. Lá vinha, invariavelmente, a mentira em tom de ameaça: “Os tucanos querem privatizar a Petrobras…”. Eis aí: essa Petrobras que temos é aquela privatizada pelo PT. O que lhes parece?

Se o preço do barril do petróleo cair mais um pouco — ou, vá lá, se vier a se estabilizar no atual patamar, a Petrobras estará ainda mais encalacrada do que hoje. Todo o chamado “Plano de Negócios” do pré-sal vai para a cucuia. Os males que o PT causou ao setor de energia no Brasil não serão corrigidos num tempo curto. O partido errou no diagnóstico, errou no prognóstico, errou na operação. E coroa a falta de competência com a evidência de que comandou, com certeza, a gestão mais corrupta da história da empresa. Procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato esperam ouvir Venina nos próximos dias.

Geleia geral brasileira


Hegemonia pressupõe o contrário do que será o ministério de Dilma – e o que foi o ministério de Lula.
 A reeleição, por motivos óbvios, dispensa os ritos de transição, em que um presidente passa a faixa a outro e equipes dos dois governos trocam informações para a sequência administrativa. Dilma, claro, não passará a faixa a Dilma.

Não obstante, o que se anuncia para seu próximo mandato, dada a mudança radical em postos-chaves do ministério – Fazenda, Planejamento, Desenvolvimento Industrial e Agricultura, já anunciados -, é como se outro partido o assumisse.

Sai o, digamos assim, heterodoxo Guido Mantega e entra o ortodoxo Joaquim Levy, discípulo de Armínio Fraga, o mesmo que a candidata Dilma satanizou, como inimigo dos pobres. Não se trata de cobrar coerência entre o que a candidata prometeu e o que a governante fará. Isso é inútil – e já foi feito.

Trata-se de saber como governará em tal ambiente, visto que as bases do PT já demonstraram que não aceitam a novidade.

A presidente, que não é exatamente um gênio político – nem sequer gosta da atividade -, terá que administrar um quadro esquizofrênico que exigiria uma habilidade Talleyrand, que não tem.

De um lado, estão o mercado e a opinião conservadora, cuja expressão estatística já deu mostras de que não é pequena. De outra, a base ruidosa da militância de esquerda, que faz crer que é maior do que é. Essa base, a que faz coro o presidente do PT, Rui Falcão, empenhou-se em trocar a candidata por Lula no início da campanha. Não conseguindo, engoliu-a a força.

Ela quer de Dilma o que não está politicamente em condições de entregar. A censura à imprensa, por exemplo. E o plebiscito pela Constituinte exclusiva (como será isso?) para, nos termos da proposta do PT, tornar a “sociedade hegemônica”.

Hegemonia pressupõe o contrário do que será o ministério de Dilma – e o que foi o ministério de Lula. Supõe um governo uniforme, com discurso único, sob a égide uma mesma ideologia. O ministério Dilma é plural, vai da direita à esquerda, passando pelo centro, subsolo e sobreloja. É o que, em política, se chama de saco de gatos, de que o PMDB é símbolo.

Há dias, o ministro Gilberto Carvalho, indagado sobre a presença da senadora Kátia Abreu, presidente da CNA, no futuro Ministério da Agricultura, disse não estar preocupado com quem comandará aquela pasta, mas com quem comandará o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Aquela, sim, é importante, na visão dele, pois é lá que se agregam o MST e os ativistas de esquerda que combatem o agronegócio. Uma pasta neutraliza a outra, é o que ficou implícito. Essa simples formulação vale um tratado a respeito do que têm sido os governos do PT, que, sob a mesma estrela vermelha, reúnem invasores e invadidos.

Funcionou até aqui, argumentam os petistas, mas (se é que funcionou) a pergunta é: até quando? A economia vai mal, os escândalos atingem níveis estratosféricos, a presidente tem dificuldades em completar a escalação do ministério, receosa de que algum escolhido seja citado na Operação Lava-Jato.

Impunidade, seu nome é Brasil

Na iminência da divulgação pelo procurador-geral da República da nova lista de envolvidos no escândalo da Petrobras, agora referente a deputados e senadores, emerge o fantasma da impunidade. Ninguém garante que os possíveis acusados já não se tenham blindado através de competentes advogados, prontos para apresentar uma só defesa. No caso, o reconhecimento de terem recebido das empreiteiras e de seus asseclas vultosas quantias, mas para ajudá-los nas campanhas eleitorais. Ignoravam sua origem e, em especial, que provinham de desvio de recursos públicos, do superfaturamento e de aditivos de contratos celebrados com a estatal petrolífera.

O argumento, apesar de falso, faz sentido e poderá ser admitido pelo relator do processo, ministro Teori Savaski, e os demais ministros do Supremo Tribunal Federal. Nessa hipótese, as denúncias assinadas por Rodrigo Janot não seriam aceitas, a menos que o procurador-geral dispusesse de provas concretas sobre a participação de parlamentares na lambança. Afinal, doações eleitorais feitas por empresas privadas são permitidas por lei. Até as campanhas de Dilma Rousseff e Aécio Neves foram aquinhoadas com milhões de reais por parte das empreiteiras. Evidenciar que parlamentares e partidos ajudaram na concessão de contratos fajutos não parece fácil. Será a palavra dos delatores contra a suposta indignação dos parlamentares.

Esse nó precisa ser desatado, pois apesar das expectativas, vem impedindo a divulgação da lista. Provas testemunhais, como a dos dois bandidos beneficiados pela delação premiada, não substituem provas documentais. E essas não se resumem a anotações em folhas sem timbre nem assinaturas, como as apreendidas nas sedes de algumas empreiteiras. Uma folha de papel, já se disse, aceita tudo, desde a poesia mais bonita até a mais execrável das mentiras, bastando que se disponha de um lápis.

Não deixa de ser vergonhosa essa argumentação, superada pela evidência dos fatos e pela indignação nacional, mas, infelizmente, é o cenário que se desenha. Os corruptos estão temerosos, por certo, mas também confiantes em que escaparão das condenações, das cassações e da prisão. Impunidade, seu nome é Brasil! A menos que a Providência Divina e o Supremo Tribunal Federal venham em nosso socorro.