domingo, 7 de dezembro de 2014

Fidelidade


Justiça é cega, mas sente cheiro

É tempo de por as barbas de molho. O Petrolão, o maior escândalo de corrupção num país dito democrático, está prestes a se tornar muito em breve, quando sair das portas da Polícia Federal, em Curitiba, em um anoréxico Mensalinho 2.

Poucas cabeças serão cortadas para “acalmar as massas” e muitos mais nomes serão blindados em definitivo, particularmente aqueles que mais próximos estiverem do PT, a fortaleza dos quadrilheiros.

Basta acompanhar o noticiário. O Congresso está de cócoras, o país refém e o tribunal recheado de petistas de toga, o que se repete em estados e municípios. O único poder imune e impune eternamente é o Legislativo, blindado por suas virtudes de democracia popular, metáfora de uma ditadura partidária.

No Petrolão, aos poucos vai-se minando as investigações com soltura dos meliantes, a mando superior. Duque, sob a alegação de que não é crime ter dinheiro no exterior – mesmo que provenha de corrupção, está livre, leve e solto. E assim deve ficar imune devido a ostentar o título nobiliárquico de representante do PT na Petrobras. Isso basta para inocentar qualquer crime de uns trocadinhos ilegais a milhões de dólares.

As provas de dinheiro da corrupção abastecendo o partido até são refutadas em nível de ministério. Um daqueles absurdos de um ministro de governo sair em defesa do seu partido, postura que deveria ser da administração partidária. Mas como o governo é o PT, e não a presidente como supõem os inocentes, está claro que seus ministros devem sair mais em defesa partidária do que defender o cidadão. 

Outro caso da ingerência petista é o de Vaccari, já incriminado por um prontuário criminal, também é outro a quem o chamado braço da Justiça nem se atreve a apontar em sua direção. A blindagem do tesoureiro é total. Sequer ainda foi encontrado para se apresentar à Justiça para responder por crimes passados, que dirá sobre a Petrobras.

O braço da justiça brasileira também está ficando curto para outros casos de aliados envolvidos em crimes. E assim vai se encurtando cada vez mais e crescendo para cima de quem se atrever a denunciar que os petistas são marginais.

Com uma Justiça dessas fica fácil cometer o crime que se quiser, desde que leve no peito a senha da Estrela Guia.

Leia!


Congestão cívica

O PT perdeu o monopólio das ruas e conta agora apenas com a possível eficácia do aparelhamento das instituições.
 Um mérito não se pode negar ao PT: ao exacerbar a níveis impensáveis vícios que estão na origem e formação política do país – corrupção, populismo, impunidade, patrimonialismo, fraude eleitoral -, provocou uma espécie de congestão cívica.

O organismo nacional habituara-se a conviver com tais mazelas em graus, digamos, homeopáticos. Não estava preparado para uma overdose. O resultado é a diarreia institucional a que se assiste. O PT funciona como um purgativo que, no processo de desenvolvimento político do país, será um dia reconhecido como necessário para a cura de infecções imemorialmente instaladas.

Se se mantivessem os padrões anteriores de assalto aos cofres públicos e privatização do Estado, o partido teria contribuído para preservá-los. Não teria, numa palavra, feito a diferença. Ao levá-los ao paroxismo, com o propósito de perpetuar-se no poder – ou, como diz o texto de sua reforma política, de “tornar hegemônica a sociedade” -, sacudiu o espírito de tolerância da população.

Fez com que o cidadão comum – que paga impostos e mantém o Estado – obedecesse o que lhe pediu (com outra intenção, óbvio) o próprio Lula: que tirasse “a bunda do sofá” e fosse às ruas reclamar. O que se tem, neste momento, não é exatamente, como se pensava em junho do ano passado, uma insatisfação difusa. Hoje, tem nome e CNPJ: o PT.

Há, sim, desarticulação e ausência de líderes, mas a insatisfação não é difusa: é infusa. Transbordou, depois de mais de uma década de expectativas contrariadas. Paulo Roberto Costa disse, na CPMI, que sempre houve nomeações políticas na Petrobras. Com certeza. E o propósito de colocar políticos – ou apadrinhados de políticos - em uma empresa de natureza técnica não tinha propósitos técnicos. Isso é também óbvio.

Mas jamais nenhum deles colocou em risco a própria sobrevivência da empresa, baixando-a do quinto lugar no ranking mundial para a 120º posição. Supor que a quantidade não faz diferença é como equiparar um homicídio ao genocídio, uma guerra entre policiais e bandidos à bomba de Hiroshima.


A sociedade brasileira acostumou-se a ter governantes desonestos. Uns roubavam, mas faziam; outros não roubavam, mas deixavam roubar. Nenhum, porém, ousou chegar à casa do bilhão; nenhum concebeu uma ação sinérgica, que envolvesse toda a máquina pública, sem exceção. O PT sabe disso.

Paisagens brasileiras

Chegada da noite, Vinícius Silva  

Vitória amarga

O que foi dito durante a campanha eleitoral não se compaginava com a realidade
Raras vezes houve vitória eleitoral tão pouco festejada. Nem mesmo o partido da vencedora, tonitruante e dado a autocelebrações, vibrou o suficiente para despertar o país da letargia. Os mais espertos talvez tenham percebido que seus quadros minguaram, com graves perdas de entusiasmo e adesão na juventude e certo rancor em setores do empresariado mais moderno.

A reeleita possivelmente saboreie o êxito com certo amargor. É indiscutível a legalidade da vitória, mais discutível sua legitimidade. O que foi dito durante a campanha eleitoral não se compaginava com a realidade. Só mesmo seu ministro da Fazenda, que coabita com o novo ministro designado, pôde dizer de cara lavada que a economia saíra da estagnação e que os males que a assolam vêm da crise mundial.

Recentemente, fazendo coro a esta euforia de encomenda, diante de dados que mostram um “crescimento” de 0,1% do PIB no trimestre passado, houve a repetição da bobagem: finalmente a economia teria saído da “recessão técnica”, de dois ou mais trimestres seguidos. Palavras, palavras, palavras, que não enganam sequer aos que as estão pronunciando.

Na formação do novo gabinete, a Presidenta começou a atuar (escrevo antes que a tarefa esteja completa) no sentido de desdizer o que pregara na campanha. Buscou um tripé “de direita” para o comando da economia. Na verdade, o adjetivo é despiciendo: a calamidade das contas públicas levou-a a escolher quem se imagina possa repô-las em ordem, pois sem isso não existe direita nem esquerda, mas o caos. Menos justificável, senão pela angústia dos apoios perdidos, é a composição anunciada do resto do ministério de cunho mais conservador/ clientelístico. Esperemos.


A Presidenta, com esta reviravolta, deve sentir certa constrangedora falta de legitimidade. Foi a partir da ação dela na Casa Civil, e daí por diante, que se implantou a “nova matriz econômica”: mais gastança governamental e mais crédito público, à custa do Tesouro. Foi isso que não deu certo, e serviu de alavanca para outros equívocos que levaram o governo do PT a perder a confiança de metade do país. Sem falar da quebra moral.