quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Própria para delinquentes


Lobo em pele de ovelha


Assim ofuscados pelo cetro, pelas insígnias reais, por seu cortejo, títulos fulgurantes de sereníssimo, clementíssimo, alto e poderoso senhor, reverenciamos num príncipe uma espécie de divindade terrestre, de natureza mais que humana. Mas abre esse anti-sileno e não encontrarás mais que um tirano, quer dizer, um inimigo mortal dos cidadãos, que detesta a paz interior e está disposto a suscitar a discórdia e perseguir as pessoas de bem, flagelo das leis, destruidor das cidades e devastados da Igreja, ladrão sacrílego, incestuoso, em suma, como diz o provérbio grego, um amontoado de todos os vícios

Erasmo de Roterdã

Lição para o Brasil de hoje


“Era uma bela manhã de agosto. O vento era suave. Uma tripulação contente e satisfeita levantava a vela, disparava uma saudação, e navegava para fora do local onde hoje fica Slussen (nota: a área da eclusa que separa o lago Mälaren do Mar Báltico, no centro de Estocolmo).

Milhares de moradores contemplavam o orgulho da superpotência, um dos maiores e mais fortemente armados navios de guerra, o que faria a guerra contra os católicos no continente.

Em vez disso, eles viram o Vasa dar uma violenta guinada assim que saiu do abrigo. O navio se endireitou, mas foi  logo empurrado para baixo por uma rajada. Desta vez tão fortemente que a água começou a jorrar para dentro das aberturas dos canhões.

O maior navio da frota adernou rapidamente, virou e afundou em 10 de agosto de 1628, após uma viagem de 1300 metros.

Neste domingo, faz 50 anos que o Vasa foi resgatado pelo engenheiro naval Anders Franzén, depois de uma longa luta contra aqueles que queriam explodir os destroços e com eles fazer móveis de madeira.

Isso deu à Suécia seu mais impressionante museu, com os mais bem conservados restos de um naufrágio dos anos 1600 que o mundo já viu.
Como bônus, nós também temos um permanente lembrete sobre o perigo do autoritarismo e do pensamento de grupo - partidos, organizações e empresas deveriam fazer visitas regulares ao Museu Vasa, para sempre lembrar-se dos riscos que correm.

Para os responsáveis, o naufrágio do Vasa não foi uma surpresa. Os interrogatórios revelaram mais tarde que eles provavelmente suspeitavam de que as coisas não iam bem, mas cada um culpava o outro.

Ninguém se atreveu a informar o rei de que seus planos forçados não eram factíveis.  O Almirante de Esquadra alegou que o Capitão deveria ter protestado, e o Capitão disse que era o Almirante Clas Fleming quem deveria ter feito isso.
O Rei Gustav II Adolf havia exigido um navio poderoso e o queria imediatamente. O projeto não foi testado e o barco tinha não apenas mais canhões na parte superior, como também menos peso na parte inferior, do que o habitual. Já no porto o defeito era óbvio.

Na primavera de 1628, a estabilidade do Vasa foi testada por 30 marinheiros correndo para trás e para frente no convés. O Vasa começou a balançar violentamente.

O Almirante Fleming reagiu imediatamente, interrompendo o teste e fingindo que tudo estava em ordem. Ele era um dos homens mais talentosos da frota, mas ele também queria agradar, ele não queria criar problemas e decepcionar o chefe.

Soa um pouco como algum local de trabalho perto de você? Em 400 anos, a construção de navios conseguiu se transformar, mas o ser humano continua o mesmo”.

***
O texto acima é de Johan Norberg, publicado originalmente em sueco no jornal Metro de Estocolmo, em 20 de abril de 2011, sobre o fim do Vasa, único navio de guerra do século XVII existente no mundo. Com 95% do casco original do barco preservado é um tesouro artístico único e uma das maiores atrações turísticas do mundo. Afundou no dia do lançamento ao mar, após percorrer apenas 1 milha náutica (menos de 2 km). Graças às condições especiais das águas do Báltico, foi recuperado mais de 330 anos depois, praticamente intacto. O navio encontra-se exposto num museu especialmente edificado para acolher o navio, em Estocolmo.

O texto foi traduzido por Sandra Paulsen no artigo O Vasa -Lições para o Brasil de hoje 

'Aos que vierem depois de nós'


                        I

Realmente, vivemos tempos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes,
em que é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.

                        II

Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

                        III

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.
Bertolt Brecht

Desperdício em sala de aula 'drena' investimentos


Na América Latina e no Brasil, perde-se 1 dia de aula por semana por conta do desperdício de tempo, diz Banco Mundial
Alunos brasileiros perdem em média um dia de aula por semana por conta de desperdício de tempo em sala de aula, gasto com atrasos, excesso de tarefas burocráticas (fazer chamada, limpar a lousa e distribuir trabalhos) e em aulas mal preparadas pelo professor - tempo este que deixa de ser gasto com o ensino de conteúdo.

Essa foi uma das principais conclusões de um estudo recém-lançado pelo Banco Mundial que analisou o trabalho de professores na América Latina e seu impacto sobre a qualidade do aprendizado, a formação dos alunos e o desempenho desses países em rankings internacionais de educação.

A pesquisadora Barbara Bruns, uma das autoras do estudo, lembra que o tempo de interação entre aluno e professor é o momento para qual se destinam, em última instância, todos os investimentos em educação. "Nada desse investimento terá impacto na melhoria do aprendizado, a não ser que impacte sobre o que ocorre na sala de aula", diz ela.

O Banco Mundial avaliou 15,6 mil salas de aula, mais da metade delas no Brasil (classes dos ensinos fundamental e médio em MG, PE e RJ), e calcula que, em média, apenas 64% do tempo da classe seja usado para transmissão de conteúdo, 20 pontos percentuais abaixo de padrões internacionais.