quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O próximo!


Poema do Alegre Desespero


Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,

ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.

Compreende-se.

E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três
[impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado
[e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles,
[e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores
[de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam
[o Épiro e perdiam o Lácio,

e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,
e os poemas de António Gedeão.

Compreende-se.

Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.

Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.

E o nosso sofrimento para que serviu afinal? 
António Gedeão (1906-1997)

Fraudes e coincidências na reeleição


Uma das maiores surpresas dos brasileiros foi ligar a televisão no final da tarde e perceber que só estava ocorrendo apuração dos votos para governador nos Estados em que havia segundo turno. Nada de apuração da eleição presidencial.

Ninguém estava acostumado com isso. Nunca antes, na História deste país, isso tinha acontecido. Todos estavam acostumados àquela saudável e patriótica emoção de votos virem pingando de todo o país, até ocorrer o desenlace final.

Desta vez, não. As emissoras de TV ficaram embromando, fazendo debates entre intelectuais, enchendo linguiça e aguardando. E aguardando… Até que, depois da 20 horas, chegaram os primeiros resultados oficiais, que já vinham indicando a vitória de Dilma Rousseff, pois faltava apurar apenas 5% dos votos.

Como aconteceu isso? Ora, o estranho fenômeno eleitoral só ocorreu mediante uma série de “coincidências”.

1) O horário de verão, por decreto presidencial, começou dia 19 de outubro, às vésperas do segundo turno. Como atrapalhava a apuração (segundo o Tribunal Superior Eleitoral), bastava baixar um novo decreto adiando-o ou adiantando a hora no Acre, que só tem 500 mil eleitores e praticamente não influi nas eleições presidenciais. Mas por “coincidência”, o governo não fez uma coisa nem outra.

2) Sob esse ridículo argumento do horário da eleição no Acre, por “coincidência” o TSE do ministro petista Antonio Dias Toffoli criou a apuração secreta, que transcorreu numa sala reservada, à qual nem mesmo os ministros do TSE tiveram acesso, e sem fiscalização pelos partidos e pela Polícia Federal.

3) Nas eleições anteriores, os Tribunais Regionais Eleitorais iam transmitindo paulatinamente a apuração, diante da imprensa e sob fiscalização dos partidos e da Polícia local. Foi assim que em 1982 se descobriu a fraude do Proconsult para derrotar Brizola. O delegado Manoel Vidal, chefe da segurança da apuração, percebeu o golpe, simultaneamente denunciado também por nosso colega Pedro do Coutto, que cobria a apuração pelo Jornal do Brasil.

4) Mas nesta eleição estilo 2014, por “coincidência” (ou melhor, pelo efeito Acre), os TREs só divulgavam os votos para governador e iam enviando a apuração presidencial diretamente para a sala secreta do TSE.

5) Também por “coincidência” (digo, ainda pelo efeito Acre), os Estados onde não havia segundo turno para governador não divulgavam nada e também mandavam seus totais para a sala secreta do TSE.

6) E a grande “coincidência” foi saber que a vitória de Dilma Rousseff foi garantida pelos votos de Estados sem eleição para governador em segundo turno, onde não houve fiscalização dos partidos, nada, nada.

7) Foi também curioso e intrigante saber que Dilma estava perdendo para Aécio até 80% da apuração (às 19h32m) e de repente, no finalzinho, também por “coincidência”, ganhou por pequena margem, com base na votação em Estados sem segundo turno, cujos totais foram passados em bloco, diretamente para a sala secreta do TSE: Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Pernambuco e outros estados do Nordeste.

8) E por “coincidência”, foi instigante saber que Aécio perdeu até mesmo em Pernambuco, onde o mito Eduardo Campos conseguira fazer o governador no primeiro turno.

9) Ainda por “coincidência”, o dirigente petista Luiz Eduardo Greenhalg adiantou a “vitória”, alardeando-a em sua conta no Twitter e no Facebook às 19h26m,e não adianta dizer que foi erro por causa do horário de verão, porque ele escreveu “vamos aguardar o final da apuração”. Se estivesse escrevendo às 20h26m, jamais diria isso, pois Dima já estava “eleita”.

10) E na “coincidência”, o site do PT anunciou a vitória de Dilma às 19h35m, com precisão impressionante, dizendo que ela tivera (na verdade, teria) 51,57% dos votos. Um erro de apenas 0,7%, ou seja, precisão de fazer inveja a qualquer “instituto de pesquisa. E não dá para negar, está lá no site do PT.

'Sistema político brasileiro é convite à corrupção'

É um atraso a Câmara dos Deputados ser representada por cerca de 30 partidos, o que não acontece em democracias avançadas, onde predomina o bipartidarismo.
 O cientista político português João Pereira Coutinho define o sistema de coalizão brasileiro, que une partidos com ideologias tão diferentes, como um convite à corrupção.

É um atraso, segundo ele, a Câmara dos Deputados ser representada por cerca de 30 partidos, o que não acontece em democracias avançadas, onde predomina o bipartidarismo.

Nascido na cidade de Porto, Coutinho compara a elevada dívida pública brasileira com a portuguesa, que levou a economia dos patrícios à beira do colapso. “O verdadeiro sábio é aquele que aprende com os erros... dos outros”, diz.

A tradição “gelatinosa” do Brasil é uma originalidade – e um desastre.

Na opinião dele, o Brasil não compreendeu que a combinação entre descontrole dos gastos e baixo crescimento é a receita para o desastre.

Autor do livro “As ideias conservadoras”, Coutinho defende o combate à pobreza, mas alerta: o Estado não é babá dos cidadãos.

A urna segura e a totalização suspeita


O problema não é a urna, e sim a totalização dos votos, que supostamente pode ser adulterada por técnicos no TRE ou TSE no momento que em que recebe os discos.
O ano era de 2006. Eu era repórter político no Jornal do Brasil, no Rio, e fui procurado por um cidadão da Baixada Fluminense que tinha documentos nos quais mostrava boletins de urnas adulterados, e a cópia de um inquérito. Investiguei uma semana, acionei a assessoria da Polícia Federal, etc (ele mostrou, mas não deixou ficar com cópias). Havia indícios de fraude. No dia da eleição presidencial, o JB manchetou: 'PF investiga fraude na urna eletrônica'.

Por que digo que havia indícios de fraude?

Dois dias antes da manchete, fui chamado por três delegados à Superintendência da PF no Rio. Numa sala fechada, me disseram que a urna é segura. Mas confirmaram o inquérito e disseram que investigavam, sim, suspeita de fraude.

O problema não é a urna, e sim a totalização dos votos, que supostamente pode ser adulterada por técnicos no TRE ou TSE no momento que em que recebe os discos. Se souber trabalhar bem (evidente, isso significa não ultrapassar numa urna o nº de votantes, em caso de modificação).

Ou seja, eles concentravam as investigações nos técnicos do TRE Rio e do TSE. O disco com a totalização é o foco.