segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Computa, computador


O poder do carro no país



Desde 2009, os incentivos ao carro somaram R$ 56,4 bilhões — mais de dois anos de Bolsa Família
O Brasil escolheu o carro. Governo após governo dedica parte de sua arrecadação para beneficiar essa indústria. A crise de 2008 provocou uma nova onda de incentivos. Somente no ano passado, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e o subsídio da gasolina, uma espécie de “bolsa carro”, somaram R$ 19,38 bilhões. O valor é quase o dobro do montante destinado a melhorar o transporte público nas cidades: R$ 10,2 bilhões em 2013. Enquanto isso, a população se espreme em metrôs, trens e ônibus superlotados. Em série de reportagens multimídia que começa a ser publicada hoje, O GLOBO percorre as maiores metrópoles do país para ver como anda a mobilidade urbana para milhões de brasileiros e mostra as consequências da opção por um Brasil motorizado e individualista.Leia mais
No BNDES, a indústria automotiva também foi privilegiada. De 2008 a 2013, os desembolsos para o setor foram de R$ 32 bilhões, enquanto os projetos de mobilidade urbana levaram R$ 9 bilhões.
 

Combate à corrupção? Dilma adia

Para quem insiste no chavão gasto de que combaterá a corrupção “doa a quem doer”, editar uma MP para adiar a vigência de uma lei moralizadora não é um bom remédio.
 Quatro dias depois de ser reeleita, a presidente Dilma Rousseff adiou por seis meses a entrada em vigor da lei das ONGs, que estabelece regras mais rígidas para a contratação de entidades sem fins lucrativos. Fora o absurdo de sustar a vigência de uma lei aprovada pelo Congresso com uma Medida Provisória, que constitucionalmente só poderia ser editada em casos de relevância e urgência, o ato é mais uma demonstração da distância abissal entre as palavras da presidente e suas ações. Incluso aí o combate à corrupção.

Estudo realizado pelo Ipea revela que, entre 2003 e 2011, a União repassou quase R$ 30 bilhões a 10 mil entidades sem fins lucrativos, 15% do total das transferências feitas no período. Atualmente, 3.500 contratos estão em execução, sendo que só neste ano o desembolso já bate em R$ 900 milhões.

O volume de recursos associado a leis frouxas estimula a corrupção e denigre a imagem das ONGs sérias.

A fartura é tanta que a ONG Articulação Semiárido Brasileiro custeou a ida de 99 ônibus para um comício de Dilma em Petrolina (PE).  Favor barato para quem recebeu repasses de R$ 587,3 milhões em quatro anos, R$ 172,8 milhões em 2014.

As relações entre o governo e as ONGs são uma caixa preta. Foram alvo de CPI inconclusa em 2009 e de dezenas de denúncias de corrupção. Também foram falcatruas envolvendo ONGs que deceparam as cabeças dos ministros Carlos Lupi (Trabalho), Pedro Novais (Turismo) e Orlando Silva (Esporte), no primeiro ano de Dilma, quando foi aconselhada a se travestir de faxineira.

Precisou denúncia para sair

João Vaccari Netto, tesoureiro do PT, que agora pediu demissão, ficou como conselheiro de Itaipu por 11 anos e 10 meses, desde janeiro de 2003. Seu "trabalho" tinha a remuneração de R$ 20.804,13 para pagar seis reuniões ordinárias por ano e, excepcionalmente, reuniões extraordinárias. Vaccari só saiu devido ao envolvimento com a gangue da Petrobras.

A democracia brasileira


Não há razão para temor em relação ao amanhã. A divisão das urnas é o mais eficaz antídoto contra o autoritarismo.
O Brasil que sai das urnas mostra ser um dos maiores laboratórios da democracia contemporânea. Os nossos 142 milhões de votantes posicionam o país no quarto degrau do ranking eleitoral, cujos três primeiros lugares são ocupados pela Índia, com 815 milhões de eleitores, os Estados Unidos, com cerca de 215 milhões,  e a Indonésia, com 187 milhões.

O termo laboratório aponta para um sistema democrático em fase de consolidação, não significando, portanto, uma democracia plena, nos termos do Índice Democrático, criado pela prestigiada revista The Economist por meio de pesquisa feita em 167 países.

Nessa planilha – que leva em consideração categorias como o processo eleitoral e o pluralismo, as liberdades civis, o funcionamento do governo, a participação popular e a cultura política – ocupamos a 45ª posição, ao lado de países de democracia imperfeita, dentre os quais,  pasmem, estão democracias de forte tradição como a francesa (29ª), a italiana (31ª) e a grega (32ª). A Índia, por exemplo, está na mesma faixa do Brasil, ocupando o 39º lugar. 

São visíveis os sinais de que temos dado vigorosos passos no caminho do aperfeiçoamento, bastando considerar que há 50 anos o país entrava na escuridão de um  golpe militar que durou  21 anos, tendo fixado as linhas mestras de sua democracia apenas a partir de 1988, com a chamada Constituição cidadã, que veio atender as demandas da sociedade organizada.

Sob uma pletora de liberdades, direitos e deveres, garantidos pela CF, realizou-se o pleito mais competitivo das últimas décadas. A animação da vida cívica que se viu constitui expressiva amostra da efervescência inerente às democracias incipientes. Não há motivo para assombro.